quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

HOMENAGEM MAIS QUE JUSTA


Por Mário Augusto Jakobskind

Hoje há quase unanimidade quanto à ausência de líderes do porte de Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro por duas vezes e uma no Rio Grande do Sul.


Polêmico, Brizola foi sempre combatido pela mídia conservadora, em particular pelo jornal O Globo.


Tanto assim que uma semana antes da morte do líder trabalhista, o diretor executivo da Rede Globo, Ali Kamel divulgava artigo no jornal mais vendido do Rio de Janeiro culpando Brizola pela onda de violência na cidade do Rio de Janeiro.

Kamel, por sinal, é uma das carreiras mais ascendentes e rápidas do jornalismo brasileiro. Pode-se imaginar o motivo. Em 1982, por ocasião da primeira eleição de Brizola como governador do Estado Rio de Janeiro, Kamel era estagiário na rádio Jornal do Brasil e participou da cobertura da emissora da eleição, tendo comprovado a tentativa de fraude eleitoral no episódio conhecido como Proconsult,

Com o tempo, Kamel deixou para trás essa participação e foi galgando postos até chegar ao cargo atual.

Mas voltando a Brizola, o governador do Estado do Rio de Janeiro foi responsável, junto com Darci Ribeiro, pelo projeto dos CIEPS, combatido por setores da direita e mesmo da esquerda que a direita gosta.

Se o projeto fosse levado adiante, possivelmente nos dias atuais boa parte dos jovens da época poderia ter a oportunidade de encontrar caminhos que possivelmente o levariam a ter um destino diferente da marginalidade.

Mas o tempo passou e logo em seguida ao governo Brizola, Moreira Franco assumiu o Palácio da Guanabara e sepultou o projeto educacional dos CIEPS, contando nesse sentido com o apoio de O Globo e particularmente de Roberto Marinho.

É conhecido por inúmeros jornalistas as pautas de O Globo para combater Brizola.

O próprio Marinho cobrava diariamente dos editores fatos negativos contra o Governador. Chegou ao ponto de um dia o próprio Roberto Marinho ter exigido que o jornal pautasse dessa forma, mesmo que nada houvesse para criticar o Governador.

Brizola ficou em terceiro lugar na primeira eleição presidencial depois do fim da ditadura civil militar que assolou o país durante 21 anos. Brizola colocava sempre em pauta a questão das perdas internacionais, deixando furiosos não apenas o empresário Roberto Marinho, como economistas que posteriormente se tornaram apologistas do modelo neoliberal fortalecido a partir do governo do então Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Brizola, sem dúvida, marcou época na política brasileira, antes e depois de 1964, mesmo tendo sido na prática linchado pelas Organizações Globo, tendo à frente figuras como Ali Kamel e outros do gênero.

Onze anos e meio depois de sua morte, a Presidente Dilma Rousseff com muita razão o colocou na lista dos Heróis da Pátria, o que tem provocado irritação de alguns setores, que não se conformam com o fato.

Muitos não têm coragem de aparecer como opositores da medida, preferindo apenas destilar a contrariedade dando continuidade ao sectarismo contra Dilma Rousseff.

Chegou ao ponto de opositores preverem o fim do governo que venceu a eleição presidencial em outubro de 2014.

Nesse sentido surgiram defensores radicais do impeachment, jogando do mesmo lado que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que poderá, por decisão do Supremo Tribunal Federal, perder o cargo que exerce envergonhando o Brasil.

O que Dilma Rousseff enfrenta hoje em termos de oposição sectária, guardando-se as devidas proporções, de alguma forma remete ao que Brizola enfrentou quando exercia cargos públicos depois de eleito pelo povo.

Por estas e muitas outras fez muito bem Dilma Rousseff em colocar Brizola no rol dos Heróis da Pátria.


Mário Augusto Jakobskindjornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha.


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