sábado, 9 de maio de 2015

GRÉCIA, QUEM É O CREDOR?



Quando alguém pede dinheiro emprestado a outro, é de se esperar que o emprestador faça algumas exigências para garantir o retorno do dinheiro emprestado.

É exatamente isso que faz a Alemanha, quando países parceiros da União Europeia, principalmente os mais pobres, como Portugal ou Grécia, pedem socorro diante da crise mundial.

Só que a Alemanha exagera. Exige dos governos devedores cortes profundos em seus gastos, especialmente naqueles denominados de gastos com a “dívida pública”.

A dívida pública é contraída pelos países quando lançam título no mercado que são comprados por grandes investidores internacionais. Esse dinheiro é investido onde, pela lógica do capitalismo, não haverá lucro: nas políticas públicas.

Com certeza investimentos em escolas públicas (para os mais pobres), saúde pública (para os que não podem pagar), habitação (idem), previdência, não geram dividendos e, por isso não recebem capitais privados e são classificados de dívida - a dívida pública.

Como sempre, quem paga a conta não são os grandes empresários e banqueiros e suas falcatruas capitalistas. Quem paga a conta são os mais pobres, os trabalhadores pois são os investimentos estatais que os beneficiam que são cortados, por exigência dos credores.

Como resultado, os empréstimos chegam sim, mas multiplica-se o número de desempregados, abandonados, carentes e desassistidos.

É por isso que teve cidadão grego, já de pijama, aposentado, que foi surpreendido em casa pela comunicação da anulação de sua aposentadoria e convocação para trabalhar no dia seguinte. Por isso, também, escolas e hospitais, fecharam.

Dessa vez, porém, veio da Grécia um recado diferente aos credores da nem tão unida “União Europeia”.

Acontece que, nas eleições de 25 de janeiro desse ano, o partido “Syriza” de extrema-esquerda, do líder Alexis Tsipras, derrotou o “Nova Democracia” e assumiu o governo do país.

A esquerda trouxe um novo olhar sobre toda essa questão e surpreendeu o mundo com seus argumentos para justificar uma drástica mudança de postura.

Para Alexis Tsipras, não é a Grécia que deve à Alemanha, mas, ao contrário, a Alemanha que deve à Grécia, e para entendermos suas justificativas devemos recordar a II Guerra Mundial.

No final de outubro 1940 Mussolini em mais uma de suas incompetentes ações de guerra, invadiu a Grécia. Os gregos se defenderam bem e em pouco tempo Mussolini estava à beira de uma derrota humilhante. Para impedir que isso acontecesse a seu aliado, e ainda, pelo apoio que os britânicos deram aos gregos, Hitler invadiu a Grécia em abril de 1941.

Segundo muitos especialistas, a Grécia foi saqueada e devastada pelos alemães como nenhum outro país. Até o Ministro alemão Walter Funk, costumava dizer que a Grécia sofreu como nenhum outro país, o peso da dominação militar que se deu até 1944.

Só, para se ter uma ideia, 250 mil gregos morreram durante a ocupação, e, coisa terrível, a maioria de fome.

Os alemães se apropriaram de tudo que era valioso em sua estadia na Grécia: alimentos, produtos industriais, equipamento industrial, mobiliário, objetos artísticos provenientes de coleções valiosas, pinturas, tesouros arqueológicos, relógios, joias, e até os puxadores das portas de algumas casas. (Mazower p.24).

É famosa uma afirmação de Mussolini de que “Os alemães roubaram até os cordões dos sapatos aos gregos ”.

No ano 2000, a Suprema Corte grega decidiu que a Alemanha deveria pagar 28 milhões de euros (mais de R$ 92 milhões em valores atuais) aos familiares dos mortos de Distomo (massacre), apesar de a decisão não ter sido aplicada e a disputa ter chegado a um impasse nas cortes internacionais nos anos seguintes.

O vice-ministro das Finanças grego, Dimitris Madras, incluiu na dívida supostos 10 bilhões de euros por um empréstimo que os nazistas forçaram o Banco da Grécia pagar.

Em 1960, o governo alemão pagou 115 milhões de marcos alemães para o governo grego como compensação pela ocupação na guerra. Foi apenas uma parte do que o governo grego exigiu, mas foram esses os termos de um acordo entre os países.

Agora, diante das duras exigências dos alemães e oprimidos pelo sofrimento de seu povo, o governo esquerdista de Alexis Tsipras quer virar o jogo.

Segundo ele, o acordo de 1960 foi feito sob condições obscuras e o valor pago pelos alemães não cobre o mínimo que poderia se considerar como aceitável.

Ainda, segundo os gregos, estão na Guerra, na ocupação e exploração criminosa dos alemães, as raízes dos problemas atuais, visto que a economia grega, que nunca foi poderosa, jamais conseguiu se recuperar plenamente dos prejuízos.

Tsipras e seus pares afirmam que Grécia não deve nada aos alemães, e seu povo não deve ter cortes em sua assistência para que a suposta dívida seja paga.

Segundo eles a Alemanha é que deve cerca de R$ 1 trilhão à Grécia.

E você, o que pensa disso? Quem é, afinal, o Credor?



Prof. Péricles
Fonte: aventar.eu; Correio do Brasil.

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