sábado, 14 de setembro de 2013

FESTA NO OLIMPO


Numa dessas noites em que fantasias e realidades fazem folias no coração, um sonho mítico se apossou da alma.

Subia um monte, de pedras irregulares e de cores variadas, quando fui atraído pela mais bela voz já ouvida por qualquer mortal. Seguindo aquela voz maviosa cheguei até uma moça lindíssima, sentada a uma pedra e de posse do sorriso mais puro.

Ela me disse se chamar Calíope, uma das nove filhas de Zeus denominadas de Musas.

As musas (de onde deriva a palavra Museu) eram entidades invisíveis aos olhos dos mortais que inspiravam os homens ao gosto e prática das artes e do conhecimento. Calíope, a musa da Bela voz, inspirava a prática da eloqüência.

Ela me indicou uma estrada e sua firmeza foi tão eloqüente, que só se poderia obedecer e prosseguir.

Próximo ao pico do monte, havia um castelo. Em sua soleira duas irmãs de Calíope, Euterpe inspiradora da música e Clio, a senhora dos historiadores. Ambas se afastaram para que eu pudesse entrar.

Dentro do Castelo, um verdadeiro seminário de seres celestiais: vi uma ninfa, jovem que espalhava a alegria e a felicidade conversando com Hércules, herói eterno e descrente; vi sereias e centauros além da Medusa, nervosa, escovando seus cabelos de serpentes.

Num canto, Atena, a Deusa da Sabedoria, acalmava uma discussão entre Ares, deus da guerra irrequieto e Hefesto, divindade do fogo.

Ouvi Cronos, que nunca gostou de perder tempo, chamando a atenção de Hermes, o mais rápido dos mensageiros que, segundo Cronos, havia se atrasado para a festa.

Maravilhado com toda aquela visão extraordinária, nem percebi a chegada de um senhor barbudo e de olhos grandes que se aproximou de mim com uma taça na mão.

- Linda essa decoração, não acha? Foi feita pelo próprio Apolo, deus das artes, disse apontando para a abóbada mais formosa, amparada por pilares de cores múltiplas e tranqüilas. Linda sim, pensei, mas ainda em construção...

Lendo meus pensamentos ele continuou:

- Aqui no Olimpo não temos pressa de acabar qualquer coisa porque somos eternos, como você bem sabe, e estamos sempre em construção, como todos os homens, disse, enquanto levava a taça à boca.

Mas, isso é uma loucura falei... o Olimpo não existe... vocês não existem.

O barbudo deu uma risada tão saborosa quanto seu vinho.

- Não existimos? Tem certeza?

Claro, vocês são apenas mitos e...

- E o que são mitos? São mentiras?

Não, não são mentiras, mas...

- Mitos não existem?

Sim, existem, mas...

- Mitos, meu pobre rapaz, são as únicas verdades do infinito. São o que de você sobrevive ao tempo e à sua morte.

Abri a boca, mas achei que qualquer coisa que eu dissesse seria ridícula.

O senhor barbudo percebendo minha hesitação bateu gentilmente em meus ombros, sorveu mais um gole da taça que jamais seca, e concluiu...

- Mito é tudo que você cria para suportar a vida e para se convencer que realmente é diferente de todos os outros, é único e melhor.

- Mortais criam mitos todos os dias para se justificarem em suas pequenezas, em suas insanidades e fraquezas. Criam mitos para preencher os vazios de tudo aquilo que não faz sentido e explicar porque seu amor é tão frágil, sua paixão tão curta e sua juventude tão velha...

Enquanto Helena, a mais bela, trazia num pote o néctar dos deuses, a ambrosia, e a oferecia as divindades, Zeus foi se afastando de mim com um sorriso cansado, porém eterno dizendo: E você diz que nós não existimos? Ou será que quem não existe é você? O que seria você sem seus mitos de infância, de adolescência, de crença e de preconceitos? Seria, talvez, muito menos real do que nós, os deuses do Olimpo.

E enquanto despertava amparado por Morfeu, o deus dos sonhos, navegando em águas revoltas do universo de Posseidon, trazia na mente a pergunta que agora me inquieta: afinal, temos uma história real, ou nossa realidade são apenas mitos que criamos?

Despertei ainda ouvindo distante a voz do deus dos deuses: “Nós somos aquilo que acreditamos ser. Somos o mito que escolhemos”.



Prof. Péricles


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