domingo, 18 de novembro de 2012

MENTIRA EM NOVA BRÉSCIA



Nova Bréscia é uma pequena cidade gaúcha de colonização italiana com pouco mais de 3 mil habitantes, localizada a poucos quilômetros de Porto Alegre.

Além de ser famosa como a terra dos melhores churrasqueiros do Estado é conhecida também por organizar o Festival da Mentira.

Todo o ano se realiza esse festival, levando grande público à cidade e distribuindo prêmios, que podem ser um porco, um boi e até mesmo dinheiro.

Os participantes são julgados, não apenas pelas mentiras que contam (que deve ter algo de real e algo de humor) como também pela postura e pela forma de tentar convencer os jurados de que está dizendo a verdade.

Pois, uns cinco anos atrás assisti um desses festivais. E não esqueço, até hoje, a apresentação do vencedor.

Começou falando pra indiada de Nova Bréscia que por volta do século VI a V AC (eles riram achando que era mentira que primeiro vinha o 6 e depois o 5), numa cidade baguala de outras querências (coisa longe mesmo, mais ou menos quatro meses de cavalo) chamada Atenas surgiu uma forma de viver em grupelho chamada de Democracia.

A tal democracia tinha nos miolo a idéia de que todos as criaturas dos deuses (sim, eles acreditavam em mais de um, na verdade em muitos e muitas porque tinha deusas também) tinham os mesmos direitos. Assim, tudo que era importante pros índios era votado em praça pública, que eles chamavam de Eclésia.

A platéia arregalou os óios de surpresa. Um deles, um macanudo mais velho, empurrou o chapéu pra cima da testa e me perguntou “mas e funcionava essa cosa”?
Em cima a resposta, mas claro paisano, funcionava, todos eram iguais e podiam votar menos as prendas. E quem não era filho de um deles também. Ah e os escravos porque tinha escravos por lá.

Pra que... Caíram na risada que foi um barulhão.

Mas continuou o causo...

Pois não é que a tal democracia foi pulando no tempo daqui e dali se aperfeiçoando até que teve uma recauchutagem loca de buena lá pelas bandas de uma tal de França. Mas foi uma peleia daquelas. Um maleva de um rei, um tal de Luiz 16 não queria saber da dita e esperneou que nem porco antes da castração... e aí, tiveram que cortar a cabeça dele, como faziam os maragatos... mas valeu a pena.

(Risadas)

- Valeu à pena matar o rei?
Pois foi. E depois que apearam o rei do trono, um bando de defensores da democracia, os Jacobinos se acamparam no poder...

- e daí as prenda puderam votar né?

Bem... ainda não. Mas defenderam a democracia e a liberdade como bugio defendendo a cria.

Imagina que tiveram que matar só em um ano mais de 3 mil na guilhotina, uma adaga pesada que caia no pescoço do condenado e zap....

- Mataram 3 mil pela liberdade?

Isso mesmo, se o cuera não fosse democrático zap...

(Mais risadas)

E foi a democracia e a liberdade que rechearam a Constituição dos chimangos lá do norte, os Estados Unidos, só que mantiveram a escravidão...

- Mas me conta índio velho, essa tal de democracia já veio pro Brasil?
Mas claro, vocês não sabiam? Claro que veio, só que demorou um bocadito...

- Demorou?

Sim, primeiro teve 67 anos de monarquia que o rei nunca apeava do poder só se morresse, depois uma tal de República Véia que durou 40 anos em que os coronéis trapaceavam com voto de cabresto, fraudes, compra de votos, curral eleitoral e usavam até jagunço pra não perder eleição.

- Coronel? Mas aqui no Rio Grande não tem esse Coronel...

Não, mas aqui tinha os caudilhos que é quase a mesma cosa, que ganhavam todas as eleições democráticas mesmo que tivessem que degolar a indiada inimiga à moda gravata colorada em nome da democracia.

- Bueno, mas depois veio o Getúlio e a democracia, certo?

Não é bem assim. Primeiro Getúlio e mais 15 anos sem nenhumazinha eleição pra presidente... Getúlio até criou um tal de Estado Novo no lugar.

- Ala-puxa tchê e quando afinal chegou a tal de democracia pra esses pagos do Patrão Velho?

Bem, teve o Jânio, mas ele renunciou e aí devia democraticamente assumir o vice, João Goulart, mas esse os milicos não queriam.

- E daí?

E daí os milicos chutaram os baldes puxaram os trabucos e fizeram o povo virar manada na tal de Ditadura Militar que durou mais uns 20 anos sem eleição.

(Risadas e mais risadas)

Foi então que o patrão do CTG deu um murro na tabua do galpão e disse:

Pois chega gaudério, chega, o prêmio é teu, mas para de contar tanta mentira que ninguém agüenta mais. Desde quando pode ter democracia que quase ninguém vota, tem escravos e o povo vira gado e ainda mata mais de 3 mil?

E foi essa a mentira vencedora!

Embora seja verdade.

Vocês acreditam em democracia não é?

Prof. Péricles

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