Na reta final da eleição presidencial americana, que se realiza sempre na terça-feira seguinte à primeira segunda-feira de novembro, há três possibilidades: vitória apertada de Hillary Clinton, vitória apertada de Donald Trump e vitória por enxurrada de Hillary Clinton.
A única hipótese que não acontecerá é a de uma vitória por enxurrada (que os americanos chamam de “landslide”, ou avalanche) de Donald Trump.
E isto tem muito a ver com sua personalidade. Donald Trump, um desonesto homem de negócios que, entre outras coisas, fraudou investidores e se recusa a revelar seu Imposto de Renda, tem se apresentado como um homem intolerante, racista, anti-imigrantes e xenófobo.
Por causa disto, seu apelo está fortemente concentrado na população masculina branca, sobretudo a de menor poder aquisitivo e menor índice de educação.
Isto parece contraditório: como pode um bilionário defensor da classe privilegiada encontrar apoio entre pessoas de menor poder aquisitivo?
A explicação está em que este é o eleitorado (também eleitorado de menor nível educacional) “blue collar”, que se sente mais prejudicado pela presença de imigrantes de outras raças, como latinos e asiáticos, na disputa por empregos em fábricas, indústrias e manufaturas em geral. O salário médio desta população está há muito tempo estagnado.
A economia americana mudou radicalmente nas últimas décadas, com indústrias de larga tradição, a exemplo da siderúrgica e da automobilística, perdendo terreno para competidores estrangeiros.
Restam e são cada vez mais importantes, as atividades de colarinho branco em tecnologia de ponta, informática e investimentos, que exigem alto poder de especialização e instrução. Este eleitorado não é favorável a Trump.
Outra camada de apoio a Trump é encontrada entre conservadores brancos religiosos, que vêm nele um obstáculo ou ao menos um freio na crescente secularização do país e na admissão de direitos humanos como casamentos de homossexuais e acesso a abortos.
Tais características poderiam indicar que a base eleitoral de Trump é pequena e ele está fadado a uma contundente derrota.
Em seu favor, porém, Trump conta com a falta de confiança que o público americano em geral, aí incluídos eleitores democratas, deposita em Hillary Clinton, desde suas atividades em negócios imobiliários ao tempo em que seu marido era governador de Arkansas até seu mais recente desempenho como Secretária de Estado, quando usou uma conta pessoal para e-mails secretos, em vez de usar o sistema governamental, e supostamente favoreceu governos e empreendimentos que investiram na Fundação Clinton.
Ela tampouco ganhou a admiração do público feminino ao acobertar os desmandos sexuais de Bill Clinton, inclusive no famoso caso de Monica Lewinsky, para não prejudicar suas próprias ambições políticas.
Não é exagero dizer que esta eleição reúne os dois piores candidatos possíveis.
Há um número de imponderáveis em ação, como os dois candidatos “pequenos”: o libertário Gary Johnson e o verde Jill Stein.
É bom lembrar que Al Gore, além de ter sua eleição roubada pelos juízes republicanos na Suprema Corte, foi também prejudicado na disputa no ano 2000 pela presença do candidato verde Ralph Nader.
É muito mais provável que democratas desgostosos com Hillary Clinton optem por candidatos como Gary Johnson e Jill Stein do que republicanos o façam.
É também muito mais provável que democratas desgostosos com Hillary Clinton resolvam ficar em casa no dia da eleição do que republicanos o façam.
A maioria do povo americano – como ficou claro na eleição de 2000 quando Al Gore ganhou a disputa “popular” embora tenha perdido a de “votos eleitorais” de acordo com a Suprema Corte – prefere os democratas.
Os democratas tem mais estados “fiéis”, num total de 242 votos em geral “garantidos” no Colégio Eleitoral, contra apenas 102 dos republicanos.
Por isto, é possível que Hillary Clinton derrote Donald Trump por enxurrada.
Mas a percepção negativa que o público em geral tem dela pode nestas últimas semanas levar a uma vitória apertada para Donald Trump.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
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