Era um burburinho terrível. Ele suado com a camisa “Fora Temer” amarrotada velha de guerra.
A caminhada seguia firme na direção do centro da cidade para se unir a outras caminhadas na esquina democrática da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros.
Nova ação. Novo capítulo no movimento que promete não parar até atingir seus objetivos. Gente determinada e guerreira.
Foi então que seus olhos cruzaram.
Oh céus! Ele era capaz de jurar que ouviu até uma trilha sonora quando enxergou seus olhos.
Ela estava dentro do ônibus e o olhava... sim, era para ele que aqueles olhos azulados miravam.
Ele sentiu aquela pressão no peito que desde garoto o acometia diante do olhar de mulher bonita de olhos azulados.
Procurou alguma definição filosófica para interpretar o que sentia naquele instante, mas a única coisa que lhe veio à cabeça foi “uau”!
Ela era a mulher de sua vida, com certeza. E se não fosse deveria ser.
Por alguns instantes abandonou a luta política e esqueceu os companheiros que continuaram caminhando e cantando enquanto ele ouvia a canção.
Ficou estático, apenas olhando aquelas duas safiras azuladas por detrás daquele vidro do busão.
Era o seu momento mágico. A sua visão do Olimpo.
Fora Temer. Fora Porto Alegre. Fora tudo.
Foi então que ela ergueu um pouco mais a cabeça e lhe sorriu... Minha Nossa Senhora Protetora dos Embasbacados... o sorriso lhe arrancou um arrepio na espinha e uma coceira na orelha direita, outro sinal de apaixonite que tinha desde criança.
Ela continuou sorrindo e... começou a se erguer, sim, ela estava se erguendo para lhe olhar melhor... talvez.... e então...
Ela esticou sua própria camisa onde ele pode ler “Tchau Querida”!
Pelos deuses! O mundo lhe caiu sobre a cabeça e congelou.
O ônibus lentamente começou a se mover e ele ainda viu seu quase amor erguer a mão lhe apontando apenas o dedo médio.
Sim, uma desilusão amorosa dói companheiro!
Viu o ônibus se afastar e levar a sua deusa-demoníaca enquanto ouvia ao longe a voz dos amigos lhe chamavam à realidade.
Juntou sua dignidade caída na calçada e disse para si mesmo “é isso, a luta continua, oras se continua”.
As desilusões que esperem melhor momento.
As safiras azuladas devem ser falsas e o busão tomara que estrague.
E saiu gritando com a força da indignação: “Fora Temer”, “Não Vai ter golpe, vai ter luta”.
Prof. Péricles
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