Por João Pedro Stedile
No dia 31 de agosto consolidou-se o golpe judicial/midiático também no Congresso Nacional.
A burguesia concluiu a primeira etapa da conspiração, que vem desde outubro de 2014, para empossar, de qualquer maneira, um governo totalmente subserviente e capaz de jogar todo o peso da crise econômica sobre os ombros da classe trabalhadora.
Agora, está em curso a etapa de acelerar a implementação de medidas neoliberais, que só interessam ao capital financeiro e ao grande capital, aumentando a exploração do trabalho, diminuindo salários, aumentando o desemprego e aplicando um programa de privatizações e ajustes fiscais que envergonham até o FMI.
Todos os dias são anunciadas medidas estapafúrdias que rasgam a CLT, a Constituição e os direitos sociais conquistados a duras penas, por décadas de lutas sociais.
Porém, o gostinho da vitória parlamentar durou pouco. O golpe não conseguiu legitimar-se, nem na opinião pública, nem para o povo e desmoralizou-se até a nível internacional.
O presidente impostor foi humilhado na reunião do G-20, em que os demais governantes nem sequer o chamaram por presidente. E ele teve que aproveitar a viagem para ir comprar sapatos num Shopping Center qualquer. Tadinho!
Do ponto de vista jurídico, a farsa caiu quando os senadores não tiveram coragem de imputar a perda de direitos para a presidenta Dilma, revelando assim que não houve crime. E pior, três dias depois, os mesmos senadores aprovaram projeto que legaliza as pedaladas fiscais. Ora, não era crime?
Mas a mais dura resposta veio das ruas. No domingo 4 de setembro, menos de uma semana depois do golpe, mais de cem mil jovens paulistas foram às ruas protestar, levantando as bandeiras de FORA, TEMER, DIRETAS JÁ e NENHUM DIREITO A MENOS. Sem o estímulo de nenhuma rádio ou televisão, totalmente servis aos golpistas.
Depois, no dia 7 de setembro, repetiram-se centenas de manifestações em todo o Brasil, com milhares de brasileiros/as, em torno do “Grito dos Excluídos”, com as mesmas bandeiras.
E culminou com a classe média dando uma sonora vaia de cinco minutos na abertura das Paralimpíadas no Maracanã.
O que será desse governo, ninguém sabe. Do lado da burguesia eles também tem dúvidas. O governo golpista não consegue dar unidade política às forças conservadoras. Seu plano neoliberal não vai tirar o país da crise econômica e política; ao contrario vai agravá-la, trazendo consequências graves para toda população. Os sinais de corrupção de seus membros contradizem com o discurso e os interesses da chamada “Republica de Curitiba”. Por isso o Advogado Geral da União foi demitido sumariamente.
Até quando a mídia e o poder judiciário vão esconder as delações dos empresários, das propinas ilegais que envolvem ilustres ministros e inclusive o presidente impostor?
O governo golpista poderá vir a ser um governo em crise permanente, que só vai desgastar os partidos que o sustentam, como foram os últimos anos do caótico governo Sarney (1985-89). Ou então a burguesia poderá trocá-lo pela via indireta a partir de janeiro de 2017 e colocar algum impostor de maior habilidade e confiança do poder econômico.
De nosso lado, da classe trabalhadora, o tempo de vida útil desse governo deveria ser o mínimo possível. Mas na política, os fatos e a correlação de forças não dependem da vontade e desejos. Depende de força acumulada de cada lado.
E o tempo de sua permanência vai depender de nossa capacidade de mobilizar a classe trabalhadora para assumir essas bandeiras. Até agora ela ficou parada, assistindo apenas, como se o jogo político, não fosse com seu time.
As próximas semanas…O governo golpista acelerou sua ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora. Os anúncios quase diários da perda de direitos, da reforma da previdência, da política de subordinação ao capital estrangeiro, com privatizações e venda de terras, da entrega do pré-sal, do gasoduto, da BR distribuidora, e outras riquezas nacionais, estão despertando uma parcela cada vez maior da população e da classe trabalhadora.
Diante disso, várias categorias no campo e na cidade aumentaram suas mobilizações e lutas nacionais, como vem acontecendo com os trabalhadores rurais, os camponeses, os bancários, os metalúrgicos, os professores, os trabalhadores do correio e os servidores públicos.
E num processo de maior articulação dessas lutas setoriais, as centrais sindicais conclamaram a uma paralisação nacional para o próximo dia 22 de setembro. Haverá um esforço não só do movimento sindical, mas de todos os movimentos da FRENTE BRASIL POPULAR E DA FRENTE POVO SEM MEDO, para que essa paralisação seja, de fato, vitoriosa e paralise as atividades da produção, de transporte, do serviço público, do comércio e das escolas.
E como alertam os sindicalistas, isso tudo será um ensaio geral para a deflagração de uma GREVE GERAL contra o governo golpista.
Ao mesmo tempo, em São Paulo, e em um número cada vez maior de cidades, se multiplicam as manifestações, em geral aos domingos, às vezes até auto-convocadas, quase espontâneas, majoritariamente pela juventude e por movimentos das mulheres, clamando cada vez mais alto a necessidade do FORA, TEMER; de DIRETAS JÁ, como uma proposta generosa de que a ordem democrática somente voltará, se o povo tiver o direito de escolher seus representantes nas urnas; por NENHUM DIREITO A MENOS, ou seja contra as medidas do plano neoliberal em curso.
Como vêem, os tamborins estão esquentando, e a luta será cada vez mais intensa…
Vamos à luta, companheiros e companheiras.
João Pedro Stedile é líder do MST, economista graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e pós-graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México.
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