sábado, 26 de março de 2016

O ESCRAVO FUJÃO


A atual crise política nos remete à memória histórica de fatos passados no Brasil.

Não me refiro às óbvias semelhanças com a crise no governo João Goulart e ao Golpe de 64, mas outras, não menos dolorosas.

Por exemplo, ao escravo fujão.

Os donos de escravos, de nossa aristocracia rural, costumavam ficar furiosos quando um escravo, no legítimo direito de preservação, fugia de sua fazenda.

O escravo era perseguido por todos os cantos.

Pagava-se espaço nos jornais para descrever o fugitivo e prometer recompensa por qualquer informação.

Liderados pelo feitor, grupos procuravam nas vizinhanças e em todos os lugares possíveis, qualquer pista que levasse à captura.

Se não encontrado não era deletado da memória dos feitores e uma futura vingança sempre era possível.

Se encontrado era tremendamente torturado, alguns até a morte.

Não era pelo dinheiro investido que o latifundiário se enfurecia, porque, se fosse, teria todo o cuidado para não matar o escravo quando capturado. Era por ódio, por se sentir desafiado.

A elite brasileira é assim, usa as maiores barbaridades para se perpetuar no poder, mas não aceita reclamação, que costuma tratar como insurgência.

Afinal o brasileiro é um povo pacífico, não é mesmo?

Na crise atual a elite atua como no caso do escravo fujão.

Só que dessa vez não é o escravo, mas um partido e um metalúrgico que ousou contrariar sua vontade e vencê-la 3 vezes nas urnas.

São também os eleitores "dessa gente" que ousa derrota-la ha mais de 14 anos.

Elementos da senzala que agora exigem direitos trabalhistas, respeito e ganhos reais em suas vidas, irritam os eternos senhores da Casa Grande.

Onde já se viu filho de pobre em colégio particular? Na faculdade? Comprando carro e viajando de avião?

Os novos feitores não podem mais usar a chibata e o tronco, mas bem que gostariam.

Então, movidos pelo mesmo ódio usam a infâmia, as acusações levianas forjadas e disseminadas pela mídia como verdades absolutas, para agredir.

Sua fúria por ser desafiada é tão grande que ameaça botar fogo na senzala se os subordinados não baixarem o topete.

Devido ao ódio em sua perseguição não restava ao escravo fujão outra saída que não fosse procurar um quilombo e lutar pela vida.

Da mesma forma, talvez não reste outra saída ao povo brasileiro que não seja criar seus próprios quilombos.

Que comunidades, associações de bairro e profissionais, tornem-se os quilombos modernos na luta pela liberdade.

A elite precisa entender que depois de conhecer a liberdade o escravo fujão jamais aceitará os grilhões do passado.

Assim como, em nome da paz e da justiça "não haverá golpe, haverá luta”.





Prof. Péricles

Nenhum comentário: