Você, alguma vez, andando à noite pelas ruas de Porto Alegre, se sentiu vigiado? Essa sensação não tinha qualquer razão de ser?
Cuidado. Talvez seja Gumercindo que te observe...
Gumercindo Saraiva é considerado um dos maiores estrategistas da Revolução Federalista (1893/1895) ocorrida no Rio Grande do Sul. Certamente, o mais destacado militar entre os Maragatos.
Após uma batalha vencida pelos lenços vermelhos, Gumercindo, como estrategista que era, passou em revista o campo de batalha. Sozinho, no lombo de seu cavalo, percorreu o terreno onde se dera o entrevero, buscando entender, o que fizera de correto e o que poderia ter sido feito melhor.
Um pouco além as forças dos Chimangos batia em retirada. Haviam perdido o confronto, mas ainda assim, levavam consigo alguns prisioneiros. Um desses prisioneiros, olhando para trás, reconhecendo a figura quase mítica de seu líder, exclamou, baixo, porém audível, “o general”!
Os Chimangos estancaram. Quem? O prisioneiro não repete, nega a informação involuntária, mas é tarde. Os federalistas já sabiam que, aquele senhor montado a cavalo, absolutamente sozinho, era Gumercindo Saraiva, responsável pela resistência e pelas vitórias maragatas.
Fiel ao ódio e a total falta de cavalheirismo, que caracterizaram aquele conflito, um atirador de elite foi enviado o mais próximo possível do homem a cavalo. Na distância de um tiro, o soldado chimango fez pontaria, calma e demoradamente e então, atirou.
O tiro atingiu o velho caudilho. Ele se curvou para a frente, mas agarrou a crina de sua montaria, e não caiu. Enquanto o atirador se afastava, sorrateiro, Gumercindo foi alcançado por suas ordenanças. O pânico se estabeleceu. O ferimento era gravíssimo.
Sendo a estratégia federalista (maragatos), o deslocamento constante, para evitar o certo dos republicanos (chimangos) em número muito maior, ao meio da tarde já se encontravam longe de onde acontecera a batalha, o General perdia muito sangue e também a consciência. Ao cair da noite, entre revoltados e desesperados, seus homens perceberam que o Patrão Velho o chamara para os Pagos celestes. Gumercindo Saraiva estava morto.
Seu corpo foi enterrado numa cova à beira da estrada, em local não identificado. Foi coberto com terra entre soluços disfarçados de seus guerrilheiros (pois Maragato não chora), que inconscientemente percebiam que a guerra estava sendo perdida ali. Em seguida, partiram como o General teria ordenado, mas agora, numa montaria muito mais solitária, acompanhada apenas, pelo clarão da lua. Não puderam nem mesmo colocar uma cruz na sepultura improvisada, para não chamar a atenção do inimigo.
O inimigo, reforçado por outras tropas, chegou naquele ponto na manhã seguinte, logo no primeiro canto do Quero-Quero. Seguiam a pista deixada pelos cavalos dos maragatos, e sabiam do grave ferimento de seu comandante. Olhos atentos em qualquer indício de parada, ou movimento estranho. Foi então que um batedor percebeu a terra remexida, numa curva do caminho.
Excitados pela possibilidade do que poderiam encontrar, desenterraram a cova, com as próprias mãos. Ao retirar o último punhado de terra que recobria o rosto do morto, urraram de prazer.
Impulsos sádicos e cruéis animaram a Revolução Federalista. Até hoje os gaúchos se arrepiam com seus detalhes e a própria historiografia do estado, por muito tempo, tentou esquecê-la.
Impulsos sádicos e cruéis levaram a que se decapitasse a cabeça de Gumercindo, que foi, em seguida, colocada numa caixa de chapéu. Um emissário, usando o mais rápido cavalo disponível, voou para Porto Alegre. Missão: entregar a carga macabra ao Presidente do estado e líder máximo republicano: Júlio de Castilhos. Em dois dias no lombo do tordilho o mensageiro atinge o Palácio governamental.
A coisa que Júlio de Castilhos mais queria, era saber da prisão ou morte de Gumercindo, ciente do seu valor como líder político e militar. Porém, Júlio de Castilhos, homem educado, jornalista e político positivista, não pertencia às batalhas que eram dirigidas pelo seu estado-maior. Portanto, não se contaminara com a barbárie e pelo sadismo daquela guerra. Sua civilidade estava intacta. Por isso, longe de se rejubilar com o “presente”, se horrorizou diante da visão bestial e jogou para distante a caixa com a cabeça, já em decomposição. Em seguida, recuperado do susto, ordenou a seu secretário que levasse dali aquele inominável “troféu” e o enterrasse com todo o respeito que o falecido merecia.
A partir daqui, os fatos se confundem com as lendas. A cabeça do comandante, jamais foi enterrada, ou se foi, o local de seu repouso, jamais foi revelado. Dizem os velhos a beira do fogo de chão nas mateadas, que Gumercindo ressurgiu da morte devido à grave ofensa que seu corpo insepulto sofrera. Dizem os sobreviventes daqueles tempos de ódio, que o Maragato vaga pelas noites de Porto Alegre, procurando sua cabeça e vingança.
Por isso, forasteiro ou porto-alegrense distraído, observe o silêncio das ruas do centro antigo. Da Duque de Caxias ao Mercado Público, da Praça D. Feliciano ao Gasômetro. Nos Altos da Bronze, na Salgado Filho, na Caldas Júnior ou na Borges de Medeiros (ex-Rua da Ponte). Se a sensação de ser observado acelerar teu coração, ou se um arrepio, sem motivo aparente, percorrer a tua espinha... evite olhar para trás. Se o fizer, talvez veja, entre as brumas noturnas que vem do Guaíba, um homem, com um chapéu na mão e encoberto por um velho ponche. Não estranhe se ele estiver sem cabeça. Nesse caso, não corra, nem grite. Faça a saudação dos maragatos e tente seguir o seu caminho... talvez consiga.
Prof. Péricles
5 comentários:
Oi, queria mandar este link da história do dia 1º de maio, Dia do Trbalhador! Vais gostar!
http://vimeo.com/23105830
Abraço, Helena.
eae professor...
Muito Legal essa história!!!
Um abraço!
Felipe Barth (EsSa Noite)...
eae péricles ta muito bom o blog!!!
falouwwwwwww!!! DALE INTER!!!!!!!!!!!!
Está parecendo as lendas aqui do Nordeste. Tem muita gente afirmando que Lampião não morreu em 1938, Onde morreu? ninguém sabe informar!!!!
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