quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

ERA UMA VEZ


Por Robson Sávio Reis Souza


Num país de faz-de-conta um bando tomou de assalto o poder. Retiraram do governo uma mulher honesta e entronaram no seu lugar um bode-velho (casado com uma donzela arranjada), cercado por uma camarilha de ladrões. Inquisidores midiáticos e nos tribunais abençoaram o golpe, regado por dinheiro de empresas de patos amarelos. O tio dos bandoleiros, conhecido como "tio-sam", ajudou (e muito) nas estratégias da empreitada...

A corja, com farta representação nos três poderes, tem milhares de bobos da corte: alguns, que se autointitulam do "movimento do país livre", gostam de bater panelas para defender seus heróis-bandidos; outros promovem passeatas contra os direitos sociais; detestam a ideia de justiça e igualdade e pregam o ódio em relação ao outro, porque se acham superiores, acima do bem e do mal, cidadãos de ben$.

Não percebem que cavam para si um precipício; acham que o buraco é para os outros.

Usando da velha política do "panis et circenses", os golpistas entopem a mídia com dinheiro público para entreter o povo. Até cientistas da academia dos escolarizados dizem em programas globais que as instituições funcionam plenamente.

O bando imprime uma política recessiva: de propósito, provocam o desemprego em massa para atender ao clamor das empresas do século 19 com o objetivo de derrubar a massa salarial e criar as condições objetivas para estuprarem a constituição que garante direitos. Dizem que precisam fazer "reformas".

De fato querem derrubar a casa para construir uma choupana. Afinal, entendem que são os donos do pedaço e que pobre existe para mendicar ou viver de favores. Isso agrada o espírito cristão dos golpistas.

Aliás, com o apoio da teologia da prosperidade, que prega um deus que abençoa os endinheirados, os golpistas também têm as bênçãos de religiões-mercado. Por isso, não parece um escândalo o fato de líderes religiosos fazerem selfies com o bode-velho.

O país de faz-de conta está em convulsão: as polícias, os presídios, o sistema de seguridade social estão à beira de um colapso. Mas o rei e seu ministro plagiador, que gosta de uma barco intitulado de "boate do amor", acham que resolvem tudo com o báculo militar.

No país de faz-de-conta não há limites morais e éticos: bandoleiros são altas autoridades e governantes; juízes são deuses; mídia é tribunal; sonegadores e corruptos de carteirinha são conselheiros do rei. Tudo funciona normalmente...

Agora, quando de aproxima a "festa da carne" só sobrará ao povo o recurso da velha ironia para zombar da corja. Afinal, no país de faz-de-conta a educação, cumprindo sua missão docilizadora de mentes e corações, sempre ensinou o povo a se limitar à ironia momesca e nunca questionar sua condição de vida com vistas a transformar a realidade...


Robson Sávio Reis Souza, doutor em Ciências Sociais e professor da PUC Minas.


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