quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
IRREVERSÍVEL
Sinto uma profunda tristeza ao ler que o estado de D. Marisa é gravíssimo e irreversível.
Irreversível.
Isso quer dizer, sem volta, sem retorno. Não é possível reverter.
Ou, sem esperança de voltar.
Lembro de sua história humilde e de seu sorriso simples nas poucas vezes que apareceu publicamente como primeira-dama, até porque, a mídia detestava divulgar a sua imagem.
Uma mulher do povo que como o seu povo não se sentia inteiramente à vontade circulando nos palácios do poder, nas luzes da ribalta.
Lembro da frase de Lula quando do episódio da sua quase prisão ao dizer inconformado “um pedalinho que ela comprou porque queria dar para os netos”.
Um pedalinho para os netos, no centro do poder, com seu próprio dinheiro. Coisas típicas do nosso povo.
Irreversível. Não volta. Como os pingos da chuva que já caiu. Chuva já chovida.
É tão doloroso quando nos tiram a esperança.
Eu me pego pensando quantas coisas são irreversíveis nesse país.
Por exemplo, o ódio fruto da intolerância, pois, toma conta de todo o ser e se reflete de múltiplas formas em todas as ações do sujeito, sempre criando justificativas para o injustificável. Será irreversível?
Talvez irreversível seja a consciência adquirida pelo povo depois desses 14 anos. Nenhum golpe conseguirá apagar da memória das pessoas que elas possuem direito à felicidade, à educação, à vida digna. Essa consciência tal qual aconteceu no Araguaia depois da guerrilha, jamais poderá ser extirpada por decreto.
E será irreversível o preconceito estampado no olhar daquele deputado racista e homofóbico e de seus seguidores que acham engraçado perseguir pessoas por suas escolhas e origens?
Ou a hipocrisia dos que dizem seguir a doutrina de um homem que foi perseguido e condenado sem provas em Jerusalém e hoje repetem seus carrascos.
Prefiro acreditar que o quadro de D. Marisa não é irreversível e sim, irretocável.
Poucas coisas são realmente irreversíveis...
Humanamente tudo o que acontece agora se reverterá sim, um dia, em poesia, flores e cantos em nome daqueles que dedicaram à vida pela causa dos mais frágeis.
Até mesmo os pingos da chuva evaporam e sobem aos céus para se tornarem chuva novamente. Chuva que será chovida.
A memória de D. Marisa, um dia, quando o golpismo for apenas páginas nos livros de história, se reverterá sim, em canções de luta e na multiplicação de lendas populares.
Se reverterá em gotas de luz na passagem dos espíritos que se preocupam com a dor alheia, para a outra dimensão da existência.
Irreversível, mesmo, só o sentimento de perda e de injustiça que deve preencher os corações de todas as pessoas de bem desse país, com a perda de uma grande mulher do povo.
Prof. Péricles
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