terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
TEVE GOLPE, CADÊ A LUTA?
Numa histórica reunião no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no dia 2 de abril de 1964, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, o general chefe da III Exército, Ladário Pereira Telles, o Prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise e o Presidente da República João Goulart, ficou decidido, por imposição do presidente, que não haveria resistência armada contra o golpe militar que estava em andamento.
Brizola e o General Ladário defenderam a ideia da resistência, sendo que, naquele momento, só poderia ser ali, no Rio Grande do Sul que se poderia reverter o golpe deflagrado no dia 31 de março.
Jango, entretanto, foi inflexível, desautorizou qualquer resistência em seu nome e, às 11:45 daquele mesmo dia, partiu para o exílio, no Uruguai.
Sem o presidente que estava sendo deposto tornou-se impossível para Brizola e o General Ladário resistir.
Ainda hoje essa decisão provoca debates.
Deveria Jango ter lutado contra o golpe? Foi correta sua decisão de desistir sem luta?
Os que defendem a posição do presidente afirmam que ele sabia, mais do que qualquer outro, as consequências de sua decisão. Que ele tinha enorme receio de quanto sangue correria numa luta de brasileiros contra brasileiros.
Os Estados Unidos haviam enviado navios com marines prontos para “ajudar” os golpistas em caso de resistência na chamada Operação Brother San, que isso deveria ser do conhecimento de Jango, que temia, a presença militar estrangeira no país e suas implicações futuras.
E, finalmente, poderia se argumentar ainda que, o comando de Ladário não era aceito pela totalidade do III Exército, havendo discordâncias em Santa Maria, Alegrete e todo o Estado do Paraná.
Já os que acreditam que Brizola e Ladário estavam corretos, afirmam que, a falta de luta não trouxe reconhecimento algum por parte dos golpistas e até tornou a repressão futura contra os adversários da Ditadura mais sangrenta, pelo desprezo dos “vencedores” diante da apatia dos “derrotados”.
Membros do exército já afirmaram que os militares respeitariam muito mais uma resistência armada e heroica do que uma desistência sem luta.
Refletindo essa discussão nos tempos atuais, deve causar espanto para os elementos da esquerda militante, a apatia e falta de luta por parte do governo do PT deposto com Dilma em agosto passado.
O discurso politicamente correto de defesa da democracia e da ordem não se encaixa diante das inúmeras demonstrações de desrespeito praticado pelos que defendem o uso de qualquer arma para derrubar a presidenta.
O ministro da Justiça do governo Dilma variou entre a passividade e a mediocridade diante dos desmandos de uma Polícia Federal que deveria estar subordinada a ele.
Hoje, o presidente ilegítimo convida um advogado de Aécio Neves para o cargo de Ministro.
No governo Lula-Dilma as indicações para ministro do STF, uma obrigação constitucional da presidência, eram movidas por critérios técnicos, colocando no maior Tribunal do país verdadeiros agentes inimigos, em nome da ética.
Hoje, o governo Temer indica, segundo alguns, um ex-advogado do PCC e seu próprio ministro da Justiça para ocupar a função, sem nenhuma vergonha e nenhuma preocupação com a ética ou critérios técnicos.
Para o discurso democrático pregado por Lula-Dilma, a democracia foi atacada e a ordem constitucional agredida, mas, cadê a resistência?
Onde estão as forças populares capazes de fazer ver aos golpistas, que a verdadeira maioria não aceitará passivamente uma infâmia como a cometida?
Alegam alguns que o pessoal da esquerda teme confrontos de rua e suas consequências inesperadas. Entretanto, os agentes do golpe convocam multidões com a maior facilidade e falta de escrúpulos.
Observa-se uma intensa revolta, entre boa parte da população, divulgada através das redes sociais. Mas trazer essa revolta para as ruas é tarefa das lideranças políticas, sindicais, comunitárias. Onde estão essas lideranças?
Talvez a mais importante lição deixada pelos momentos decisivos do golpe de 64 seja exatamente essa: sem luta a democracia é espezinhada e a minoria passa a se considerar maioria, invertendo a verdade dos fatos.
Não existe remorso por parte de nenhum setor que hoje agride a verdade sem a menor cerimônia.
Seria interessante não misturar respeito à ética com covardia, até porque, como vimos depois de 1964, a direita costuma considerar covardes, e não democratas, aqueles que não lutam.
Prof. Péricles
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