quarta-feira, 18 de maio de 2011

CASTELO NO AR

“…as Forças Armadas não fazem democracia. Mas garantem-na. Não é possível haver democracia sem Forças Armadas que a garantam.”


Essa frase enérgica, que nega às forças armadas o papel de origem da democracia, mas sim, de seu mantenedor, foi escrita pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, em seu ensaio “A Guerra” de 1962.

Cearense, nascido em 20/09/1900, militar de profissão, estrategista, intelectual e político, Castelo Branco muitas vezes esteve ao lado da democracia.

Foi um dos tenentes da Revolução de 30 que levaram Getúlio Vargas ao poder e da era Vargas saiu tenente-coronel, em 1943.

Foi chefe de seção de operações da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Escreveu livros sobre estratégia, lembrando o talento de um parente distante, José Alencar.

Em 1955, apoiou o movimento militar chefiado pelo ministro da Guerra, general Henrique Lott, que garantiu a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek quando Carlos Lacerda e sua falange tentaram mais um golpe ao estado de direito.

Nomeado chefe do Estado-Maior do Exército pelo então presidente da República João Goulart, em 1963, o mesmo presidente que ajudaria a depor em 1964.

Tendo Castelo Branco como líder, é, por isso, compreensível porque muitos brasileiros acreditaram que o golpe militar de 1964 daria origem a um movimento brando, sem maiores marcas.

Para muitos, esse foi o significado de sua posse em 15/04/1964, após rápida eleição indireta, que o confirmou no cargo com 361 votos contra 72 corajosas abstenções.

Os que temiam a “ameaça comunista” de Jango, construíram castelos de esperanças num Brasil depurado, retomando o caminho da democracia em breve. Afinal, o marechal assumia, para concluir o mandado de João Goulart que se concluiria em 31 de janeiro de 1966. Por que não acreditar até mesmo nas eleições presidenciais previstas para 03 de outubro de 1965?

Quando será que os castelos começaram a ruir?

Terá sido apenas em 22 de julho daquele mesmo ano, apenas 3 meses depois da posse, quando a Emenda Constitucional nº 09 prorrogou os mandatos do Presidente até 15/03/1967?

Ou quando foram abolidos todos os 13 partidos políticos existentes no Brasil, através do Ato Institucional número 2 (AI-2)?

Talvez, os alicerces tenham balançado em outubro de 1966, quando o Congresso foi fechado, para reabrir em 1967 e extraordinariamente aprovar a nova Constituição brasileira, proposta por decreto (Decreto-Lei 200). Essa mesma Constituição forjada que entraria em vigor no dia da posse do seu sucessor Costa e Silva, em 15 de março de 1967.

Castelo Branco sonhou fazer seu sucessor na figura do General Ernesto Geisel, companheiro no pensamento do “movimento curto”. Porém, não conseguiu se sentir forte o suficiente para fazê-lo. Temeu por um rompimento interno das Forças Armadas. Sucumbiu diante do blefe da Linha Dura de um possível confronto sangrento e acabou deixando o cargo para Artur da Costa e Silva, digno representante da Linha Dura, que, como sabemos, patrocinaria o horror em forma de AI-5, em dezembro de 1968.

Onde o castelo contruído de ilusões se desfez sob os fortes ventos dos tacões dos tempos da Guerra Suja?

Quem sabe?

Sabemos apenas que o velho Marechal morreria, logo após deixar o poder, em um acidente aéreo, mal explicado nos inquéritos militares, ocorrido em 18 de julho de 1967. Um caça T-33 da FAB atingiu a cauda do Piper Aztec PA 23, no qual Castelo Branco viajava, fazendo com que o PA-23 caísse deixando apenas um sobrevivente.

As ilusões não sobrevivem a crueza da realidade de seu tempo, e se é verdade que o hábito faz o monge, no caso de Castelo Branco, a farda fez o Ditador.

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