quarta-feira, 30 de novembro de 2016

NINFAS, SONHOS E DESÂNIMOS



Tentando fugir dessa panela de pressão em que se transformou o Brasil, com golpes e golpistas, provocações fascistas e pedidos de retorno da Ditadura Militar, ele foi procurar sossego numa área verdejante na periferia de cidade.


Sentado num toco de árvore, jogando pedrinhas nas águas do rio, dele se aproximou, de repente, uma ninfa.


Ninfas para os gregos antigos, eram espécies de espíritos da natureza. Seres que habitavam florestas e campos, montes e vales, costas marinhas e rios, enfim, preenchiam os espaços naturais.


Nada de ter medo que as ninfas eram de boas... normalmente.


Aliás uma das traduções da palavra “ninfa” era noiva e isso, tanto pode acalmar os ânimos como trazer desespero.


A ninfa que surgiu em sua frente era uma Dríade, espírito que habita as florestas.


Chegou fumando uma erva estranha e gingando as cadeiras cheia de male molejo.


Trajava apenas uns trapos de seda que mal cobriam seu corpo escultural.


Como todo homem decidido e guapo, ele ficou parado de boca aberta e pensando em sexo...


Abrindo seus lábios tentadores e rubizados ela disse “que houve, está fugindo da bronca? ”


Bronca? Balbuciou abobalhado...


Sim, do “Fora Temer”, da PEC 241 ou 55, dos juízes parciais e suas equipes amestradas?


Por alguns instantes os pensamentos sobre sexo esvaneceram e ele tomado de repentina melancolia respondeu: “pois é... as vezes dá vontade de fugir”.


A Dríade franziu o cenho e colocando um dedo a frente dos lábios murmurou “na na ni na não... nada disso, o desânimo é para os fracos, a luta continua companheiro”.


O pobre já estava pronto para replicar quando materializa-se diante dele, um novo vulto, uma Náiade, ninfa das águas doces.


Deixe o pobre homem em paz sua Dríade provocadora, falou a recém-chegada. Não vê que ele está mais pra urubu do que pra louro?


E as duas, começaram uma discussão que encheu a floresta de gritos estridentes e xingamentos.


Ninfas são assim, competitivas e ciumentas.


Algum tempo depois as duas lembraram do homem que as olhava, ainda sentado no toco da árvore com uma cara de “dãããããã”... e aproveitando o súbito silêncio ele perguntou “e sexo não rola”.


- Não disse a dupla em uníssono. Só depois que o Temer cair... trate de participar do bom combate.


E sumiram tão misteriosamente como apareceram deixando no ar o cheiro de erva estranha.


E o pobre homem ficou lá pensando que já não existem ninfas como antigamente, se valia à pena antecipar o pagamento de IPTU e que não é bom comer demais à noite para não sonhar com ninfas, sexo e “fora Temer”.



Prof. Péricles





segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O HOMEM QUE VOTOU NO TRUMP



Por João Marcos Aurore Romão



Quem é este homem que votou no Donald Trump?


Sim eu o vejo na Rússia, na Hungria, na Alemanha, na Polônia, na Argentina, nos EUA, no Brasil, e para onde eu olhar, é um homem, em geral precarizado no mundo do trabalho, que perdeu todos os direitos que possuía ao perder o trabalho seguro que tinha.


Este homem que rumina toda tarde diante da televisão, com uma cerveja ao lado, destila no saco um ódio, a todos os vizinhos, mexicanos, muçulmanos, negros, estrangeiros, mulheres, gays, que ele imagina, terem ocupado o seu lugar e serem as causas de sua desgraça e perda, do poder que tinha em um mundo em ordem, num passado distante.


Este é o homem que sai nas ruas da Alemanha contra refugiados.


Este é o homem que na Rússia sai na rua para espancar gays.


Este é o homem que nos EUA destila o ódio contra todo o resto do mundo que não mais reconhece a sua supremacia imperial americana.


Este é o homem que aplaude os esquadrões da morte no Brasil e nas Filipinas.


Este homem frustrado e ressentido descobriu o voto.


Descobriu o mesmo voto que os lutadores pelos direitos civis descobriram na década de sessenta.


O voto agora mudou de mão.


O voto voltou de volta para as mãos dos homens, que tinham a supremacia da voz antes dos movimentos de libertações dos diferentes do mundo.


Me preparava para ir ver o mar.


No ponto de ônibus da minha esquina está impossível chegar.


O tiroteio discriminatório recomeçou.


Creio, que mesmo sem tiroteios, como um homem negro, também não sairia de casa hoje na Flórida, nem em um bairro pobre da Saxônia.


Este homem ressentido e cheio de ódio, acaba de ser fortalecido em cada esquina do mundo.


Os dois caveirões que vejo pela fresta de minha janela, só confirmam este poder da morte do vizinho, que acaba de ser elevado ao poder mundial.


Vale xingar a mãe e cuspir na cara.



João Marcos Aurore Romão, jornalista, sociólogo e ativista pela Anistia, pelos direitos humanos e do movimento negro década de 70. Coordenador da Rede Rádio Mamaterra Brasil Alemanha. Coordenador da iniciativa Sos Racismo Brasil.

sábado, 26 de novembro de 2016

HASTA SIEMPRE COMANDANTE


Não se preocupe comandante, estaremos contigo como sempre estivemos.


E não somos poucos. Somos milhões e milhões.


Estamos juntos, como sempre tivemos antes.


Quando você nasceu, comandante, em agosto de 1926, nós estávamos lá, mas você só percebeu realmente, a nossa presença, quando estudante, quando voltou seu olhar muito além dos livros, para enxergar seu povo sofrido e humilhado com os olhos marejados de liberdade.


Estávamos ao seu lado quando convidou os primeiros companheiros para a luta. E quando convidou os últimos também.


Quando atacou o Quartel de Moncada em julho de 1953, comandante, num ato estrategicamente falho, mas pleno de amor à causa da liberdade, estávamos lá, ombro a ombro, também fomos feridos e fomos juntos para o cárcere miserável da prisão militar.


Assistimos à execução sumária de muitos revolucionários e ao seu julgamento, comandante, de cabeça erguida diante da arrogância dos poderosos.


Não conseguimos conter a emoção quando ao se defender afirmou diante dos juízes “a história me absolverá”.


Fomos juntos ao exílio e ao encontro de outros gladiadores.


Estivemos juntos no olhar de Ernesto, de Raul, de Camilo e no olhar de todos aqueles que se alistaram ao esforço quase suicida de voltar à Ilha e enfrentar um exército bem treinado e armado pelos Estados Unidos.


Estávamos na mesma fileira, nas matas de Sierra Maestra, em cada disparo e grito de dor.


Também passamos fome e tivemos medo.


Mesmo opacos, estávamos também nos porões da ditadura de Batista, onde tantos combatentes heroicos capturados, foram mortos sob tortura, mas, pode ter certeza, ainda os acalentamos em seus últimos suspiros.


Sim comandante, entramos triunfantes em Havana naquele janeiro de 1959. Assim como lutamos juntos quando reacionários financiados pela CIA tentaram recuperar o poder na Baia dos Porcos.


Nossos olhares brilharam quando você anunciou o mergulho de Cuba na experiência da igualdade, proclamando a Ilha um estado socialista.


Lembramos bem o ódio nas faces dos que perderam milhões na exploração do trabalho alheio e na cara de ódio dos ianques que consideravam ter perdido seu quintal.


Foram tantas dores, rimos juntos, choramos juntos. Nossas esperanças se misturaram e criaram vida ao longo desses 57 anos.


Por isso, comandante, nesse 26 de novembro, com sua morte anunciada, não sinta medo do grande mergulho na eternidade. Continuaremos juntos outra vez, e como sempre.


Nós somos milhões Fidel Castro. Somos milhões de sonhos de igualdade e de fraternidade.


Somos milhões de mulheres e de homens, de velhos e de crianças. Nós somos milhões de sonhos que foram sonhados juntos, em coletividade, nos calabouços, nas florestas, que da Ilha de Cuba se espalharam pelo mundo.


Muitos outros milhões já sonharam o mesmo sonho e outros milhões ainda esperam seu Fidel.


Seu comandante um passo além da prudência, mais próximo da loucura da ação do que da segurança da teoria.


Somos milhões que não morreram nas praias, nem morreram de fome, que não foram abandonados ao frio e que sorriem ao ouvir suas palavras "Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana".


Descanse guerreiro da utopia alcançada.


Descanse nos braços de tantos que junto contigo criaram a nação livre, que mesmo boicotada pelo mundo, isolada das outras nações, odiada por milhões que nem a conhecem, persiste na busca de um mundo menos egoísta.


Um mundo de menos capital e mais humanidade. De menos privilégios e mais saúde para todos. Onde a propriedade privada de alguns seja substituída pelo bem-estar de milhões.


Nada será escrito em tua lápide pois guerreiros não são presos às catacumbas.


Teu corpo será cinzas que se espalharão pelo solo liberto de Cuba, que tanto amastes.


Tuas cinzas retornarão à Sierra Maestra e alcançarão teus companheiros.


Deixemos ao vento a tarefa de murmurar teu nome, eternamente.


E continuaremos juntos. Você e sua obstinação pela defesa dos desvalidos e nós, os sonhos de liberdade que são sonhados no mundo.


Revolucionários como Ernesto, como Camilo e tantos outros, te esperam na curva do tempo para continuarem a luta, agora, transformados em ondas de um oceano de esperanças.


Hasta siempre Comandante!




Prof. Péricles



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

RESPEITO E TAPA NOS BEIÇOS

Criança peralta quando pega fazendo traquinagem costuma ficar sem jeito. Carinha de anjo, mãos para trás, faz aquele jeito único que a gente entende como “envergonhada” e acaba achando bonitinho embora mantendo uma faixada de austeridade.


Carregamos isso pela vida e costumamos sentir aquele mal-estar envergonhado quando percebemos que estamos no lugar errado ou cometendo gafes.


A esquerda brasileira sempre se sentiu muito bem no papel de oposição. Afinal, nesses pouco mais de 500 anos de história o país sempre foi governado pelas elites e para as elites.


Seu maior representante, o Partido Comunista Brasileiro, em seus 94 anos de existência esteve mais de 60 anos na clandestinidade.


Sim, teve o período final do governo Vargas e a aproximação dos sindicatos com Jango em seu curto governo como presidente de fato da república, mas, sabemos bem como esses períodos históricos terminaram... tentativas de golpes, simulação de atentados e golpes que impossibilitaram os avanços populares que se pretendia.


Nos 14 anos de governo PT a grande novidade foi essa, apesar de não se caracterizar objetivamente como esquerda tradicional e seus anseios históricos, o PT, definitivamente, significava a coisa mais à esquerda que já chegou ao poder no Brasil um dia.


Talvez o maior problema dos governos petistas tenha sido justamente a falta de prática em ser situação. Apesar de Lula dizer que é muito bom ser presidente esses governos nunca se sentiram realmente à vontade no poder.


Jamais se viu uma preocupação em responder com a mesma força as agressões sofridas pela mídia, por exemplo.


Se reproduz, de certa forma, o imaginário que considera o “doutor” digno de todo o respeito, mas pobre...


A falta de uma resposta à altura não foi apenas uma opção de elegância dos governantes de esquerda, foi falta de uma política voltada à divulgação para o que se estava fazendo e a quem isso incomodava.


Até hoje ainda se trata a maior emissora golpista do país com uma generosa dose de relação democrática e respeito de apenas uma mão.


Os abusos verbais e simbólicos cometidos por aqueles que jamais fariam isso com os senhores da Casa Grande, nunca receberam por parte das forças dirigentes a resposta devida.


Nunca se exigiu respeito.


Lula foi e é tratado até hoje como um zé ninguém, as vezes até como um marginal, e nem a expressão “ex-presidente” é utilizada quando falam do seu nome.


Respeito é uma coisa que se exige entre os poderes. Não é favor de ninguém, nem pauta a ser trabalhada por qualquer jornalista de plantão.


No Rio Grande do Sul, de forma popular, se diz que respeito e tapa nos beiços coloca tudo nos eixos.


Faltou respeito e nunca teve tapa nos beiços por parte dos governos do PT.


Sobraram luvas de pelica e faltou Brizola nas reações da esquerda brasileira.


De certa forma os governos do PT, de esquerda ou centro-esquerda, agiram, durante toda a crise, como crianças pegas no lugar que não deveriam estar, e, sem jeito, baixaram os olhos e pediram desculpas.



Prof. Péricles

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

TRUMP PODE APERTAR O BOTÃO DO APOCALIPSE

Por Cristina Pereda, para o El País da Espanha


Cerca de 42% dos estadunidenses afirma que sentiram “medo” após a vitória de Donald Trump nas eleições, com relação ao que poderia acontecer durante o seu mandato, segundo pesquisa do instituto Gallup.


Efetivamente, a partir do dia 21 de janeiro, Trump terá acesso a uma enorme lista de poderes presidenciais, que incluem os códigos nucleares e até a possibilidade de derrubar as grandes reformas de seu antecessor, Barack Obama – e o empresário assegurou que eliminará umas 20 medidas adotadas pelo atual mandatário.

O sistema constitucional estadunidense está baseado na separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário. A presidência de Trump supõe então um desafio sem precedentes a esse equilíbrio, por estar acompanhada das maiorias republicanas na Câmara de Representantes e no Senado, um caminho livre para nomear juízes conservadores no Tribunal Supremo e expandir os poderes presidenciais herdados desde as medidas adotadas neste sentido pela administração de George W. Bush depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

A seguir, repassamos o que poderá e o que não poderá fazer o presidente eleito Trump quando após a sua chegada à Casa Branca:


Pode apertar o “botão da bomba atômica”?


O “botão da bomba atômica” é, na verdade, um cartão com os códigos para ativar o lançamento das armas. O presidente dos Estados Unidos está sempre acompanhado de algum alto comandante das Forças Armadas, que leva uma maleta com toda a informação necessária para tomar uma decisão. Esse militar viaja com o mandatário no Air Force One, no veículo presidencial e se hospeda no mesmo hotel ou residência quando não está na Casa Branca, e também é protegido pelo Serviço Secreto. A maleta inclui um manual com todas as opções de ataque, um mecanismo para verificar a identidade do mesmo, caso ele decida ativar o lançamento, e os bunkers onde se pode protegê-lo.

Os Estados Unidos possuem cerca de 900 ogivas nucleares, que são entre 10 e 20 vezes mais poderosas que as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, e que estão prontas para serem ativadas. Segundo Bruce G. Blair, especialista em segurança nacional da Universidade de Princeton, “basta uma ligação telefônica para que o comandante-chefe tenha um poder ilimitado para ativar as armas nucleares a qualquer momento”. Blair assegura que o presidente não precisa de conselhos ou da aprovação do Senado, nem será questionado pelo Tribunal Supremo por qualquer decisão. O processo, entretanto, passa por uma série de mecanismos, nos quais estão envolvidos os líderes do Pentágono, encarregados de alertar o presidente sobre qualquer ameaça e preparar depois a resposta que ele – no caso Trump – considere adequada.

Pode construir um muro na fronteira?


Trump contemporizou a respeito da promessa de construir um muro na fronteira com o México. Desde a vitória nas eleições, ele passou a admitir que, em algumas zonas, será “somente uma cerca”. Para isso, necessita que o Congresso aprove o orçamento multimilionário necessário para se completar a construção. O presidente também necessitaria do apoio legislativo para alterar a política de segurança na fronteira, por exemplo, incrementando o número de agentes destinados às zonas, porque careceria de um aumento das verbas destinadas a este objetivo.

Pode deportar três milhões de imigrantes indocumentados?


A política de deportações depende do Departamento de Segurança Nacional e o presidente tem a prerrogativa de decidir como esta se aplica. Assim como Obama ordenou que se desse prioridade à deportação de indocumentados com antecedentes penais – como agora promete Trump –, o presidente eleito pode estrear no cargo pedindo que se aplique a ordem de deportação de qualquer indocumentado. O republicano também poderia anular o decreto pelo qual Obama concedeu uma licença temporária de residência e emprego a jovens sem documentos que estudaram nos Estados Unidos. Somente necessitaria aprovar uma ordem executiva que rescinda a normativa atual.


Pode desfazer a reforma da saúde de Obama?


O fato de que a lei conhecida como Obamacare (o sistema de saúde público de Obama) tenha sido aprovada pelas duas casas legislativas deveria significar que, para derrubá-la completamente, os republicanos necessitam de uma supermaioria no Senado, ao menos 60 votos – e alcançaram 51 após as últimas eleições. Isso dificulta a tarefa de eliminá-la, mas os republicanos podem sim fazer desaparecer alguns aspectos específicos do plano, como as ajudas para pessoas que vivem abaixo do limite da pobreza, ou os subsídios que ajudaram milhões de estadunidenses de classe média a adquirir apólices do novo seguro de saúde.


Pode reinstituir o uso de métodos de tortura em interrogatórios?


Trump prometeu durante a campanha que “aprovaria uma lei para permitir novamente o uso de técnicas de afogamento simulado” e até mesmo “coisas muito piores”. A administração de Obama assinou um tratado que proíbe a tortura e outros castigos degradantes, considerados ilegais pela legislação estadunidense e internacional. Em 2009, o atual presidente assinou uma ordem executiva que abolia o uso de métodos considerados abusivos e que foram usados durante o governo de George W. Bush. Trump pode impulsar um decreto similar assim que assumir o poder, determinando exatamente o contrário.


Pode ampliar Guantánamo?


Obama ordenou fechar a prisão localizada na base militar estadunidense em Cuba, que ainda mantém 60 pessoas presas em seu interior. Trump não só indicou que pretende reverter essa decisão como prometeu “enchê-la de caras maus”. Neste caso, conta com o apoio das mesmas maiorias no Congresso que se opuseram à iniciativa do mandatário democrata.

Pode lançar ataques com drones sem autorização do Congresso?


Trump terá em suas mãos o programa de luta antiterrorista que, por iniciativa do presidente Obama, aumentou a quantidade de ataques com drones em territórios estrangeiros, incluindo os que têm como objetivo a cidadãos estadunidenses. O republicano poderá utilizar as mesmas prerrogativas legais para decidir em favor dos ataques sem precisar da aprovação do Congresso (alegando que atua em favor da segurança nacional do país), e até ir além, já que pode se apoiar em mecanismos internos do Executivo, não em normativas impulsadas pelo Poder Legislativo.



Tradução: Victor Farinelli



sábado, 19 de novembro de 2016

NÃO PASSARÃO


Uma das mais extraordinárias batalhas da Primeira Guerra Mundial foi a “Batalha de Verdun” quando a França resistiu à invasão alemã (que acabaria acontecendo na Segunda Guerra Mundial) entre os meses de fevereiro a dezembro de 1916. Nessa batalha decisiva para o destino da França na Guerra e da própria guerra, morreram quase 1 milhão de pessoas (976 mil baixas).

Sabendo que o futuro de seu país se decidia ali, e, num momento em que tudo parecia perdido, o general francês Robert Nivelle pronunciou a frase “on ne passe pas” traduzida como “não passarão”.

Essa expressão de resistência se tornaria lema da esquerda na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) quando fascistas do General Franco e forças democráticas se engalfinharam numa guerra desigual, visto que os fascistas de Franco foram alimentados, armados e fortalecidos pelos nazistas e sua força aérea. Num momento em que Madri estava sendo cercada pelas tropas do terror fascista, Dolores Ibárruri Gomez, líder do Partido Comunista Espanhol a adotou na versão “no pasarán”.

“No Pasarán” também foi adotado como lema pelos revolucionários Sandinistas em sua guerra contra a ditadura de Anastásio Somoza na Nicarágua, quando o ditador protegido pelos aliados norte-americanos acabou vencido pelas forças populares.

Dessa forma “Não Passarão” adquiriu cores de heroísmo e de resistência democrática contra as forças fascistas e imperialistas no mundo.

Atualmente, no Brasil, um golpe orquestrado pela direita fascista brasileira imediatamente após sua derrota nas urnas, ameaça ser plenamente vencedor.

A presidenta eleita democraticamente por mais de 54 milhões de votos foi derrubada através de um impeachment ilegítimo, visto não conter fato de ilícito praticado pela autoridade.

Um vice-presidente sem apoio popular governa o país e, numa pressa que delata os verdadeiros interesses em derrubar a presidenta, anuncia medidas de âmbito neoliberal assim como políticas que afastam o país das decisões do BRIC e do MERCOSUL para recoloca-lo, servil, na órbita dos interesses do império norte-americano.

Os investimentos estatais ameaçam serem comprometidos por vinte anos, assim como é grande a ameaça aos direitos históricos dos trabalhadores brasileiros.

O próprio patrimônio público está em xeque diante da fome privatista e entreguista voltada até contra a Petrobras e o pré-sal.

E, se tudo isso não bastasse, grupos fascistas sentem-se tão à vontade que ousam invadir o Congresso Nacional exigindo a volta da Ditadura Militar.

Diante de tudo isso sente-se, cada vez mais, falta do “não passarão”.

Onde está o grito de resistência das organizações sociais?

Em que canto dorme distraída a força dos sindicatos dos trabalhadores brasileiros?

Por que estão inertes as forças mais populares beneficiadas diretamente pelas políticas de urgência contra a fome extrema e a desigualdade?

Está faltando a garra tradicional das militâncias populares e, especialmente, está faltando o grito de guerra e resistência “não passarão” no combate às arbitrariedades cometidas e aos, até aqui, impunes ataques à ordem constitucional tão arduamente conquistada depois da Ditadura Militar.

Está faltando povo nas ruas do Brasil.

Assim como as forças democráticas da espanha anunciavam que Madri seria a tumba do fascismo, devemos anunciar que as ruas brasileiras serão o túmulo das idéias racistas, fascistas e homofóbicas em nosso país.

Diante do avanço da direita, das forças neopetencostais militantes e fanatizadas, dos heróis da intolerância e do flagrante abuso de autoridade, falta o “Não Passarão”! 



Prof. Péricles