domingo, 8 de junho de 2014

FERNANDÃO


A história não se restringe ao seu contexto oficial. Existem muitas histórias e muito jeito de contá-las.

Toda história é importante e todas estão interligadas.

A história do futebol, e de seus times, é das mais significativas para milhões de brasileiros que fazem do futebol o palco maior de sua liturgia, e não é por se tratar de um segmento esportivo que deve ser menosprezada.

A história de seu clube é também a história de sua paixão, de seus mais intensos sentimentos que variam da euforia indescritível à frustração imensa e dolorosa.

Existem vitórias e derrotas tão marcantes que quando mencionadas nos “levam” imediatamente ao que fazíamos e onde estávamos quando aconteceu, e isso, muito mais do que outras referências, reconta a nossa própria história individual.

Por isso, a morte de um ídolo como Fernandão, mexe com todos os que gostam de futebol, sejam eles torcedores do seu clube, no caso, o Internacional, ou de seus adversários.

Nunca conversei com Fernandão. Não o conhecia pessoalmente. Mas ele, muitas vezes entrou na minha casa, me entristeceu com suas habilidades a serviço do rival, e foi embora depois dos 90 minutos, para voltar no jogo seguinte.

Jamais tomamos um cafezinho e conversamos sobre política, mundo, ou sobre mulher, mas, de certa forma, éramos íntimos.

Não me venham dizer que não posso me emocionar pela morte de um desconhecido. Eu o conhecia. Nos víamos em todas as rodadas. Fazia parte da família.

Lembro de sua intensa e comovedora liderança entre seus companheiros. Aprendi que nenhum time, por mais qualificado tecnicamente é campeão sem líderes como ele era, dentro do gramado e, especialmente, fora dele.

Foi numa entrevista de Fernandão que, muito antes de Yokohama, temi que o Inter conseguisse o sonhado campeonato.

Admirei quando após abandonar o futebol foi, humildemente, ocupar um banco escolar de treinador de futebol.

Ao contrário de muitos que por terem jogado já se consideravam conhecedores de tudo, foi estudar. Tem como não admirar uma pessoa assim?

O mundo do futebol perde prematuramente um de seus personagens mais encantadores. O Rio Grande do Sul, em especial, e a torcida colorada, em especial.

Mas perdem, sobretudo, todos aqueles que admiram as pequenas ações, os gestos mais simples e a humildade de saber ganhar.

Como gremista jamais me senti desmerecido por esse atleta, pois nunca ouvi de sua boca, uma frase menor de soberba ou de deboche.

Apesar de vocacionado à grandeza, como ser um dos símbolos da conquista do mundial, essa mesma conquista começou, com certeza, com um pequeno gesto de apoio, um olhar, uma crítica fraterna e furtiva, uma mão estendida pelo seu capitão.

Bola pra frente. A vida é assim e Fernandão agora é uma estrela do mundo do futebol, que brilhará para sempre para todos aqueles apaixonados colorados, de todas as gerações.

E para os jovens, muito jovens de hoje, ou os futuros colorados que ainda não nasceram, haverá sempre a história, a testemunha mais importante para cada um de nós, para resgatar sua lembrança.

Prof. Péricles

quarta-feira, 4 de junho de 2014

SEM-VERGONHA


Por Marcelo Zero

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha do meu país.

Não sinto vergonha dos 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair da pobreza extrema, graças a programas sociais como o Bolsa Família. Na realidade, me alegro muito disso. Sei que eles se libertaram daquilo que Gandhi chamava de a “pior forma de violência”, a miséria. Agora, eles podem sonhar mais e fazer mais. Tornaram-se cidadãos mais livres e críticos. Isso é muito bom para eles e muito melhor para o Brasil, que fica mais justo e fortalecido. E isso é também muito bom para mim, embora eu não me beneficie diretamente desses programas. Me agrada viver em um país que hoje é um pouco mais justo do que era no passado.

Também não sinto vergonha dos 42 milhões de brasileiros que, nos últimos 10 anos, ascenderam à classe média, ou à nova classe trabalhadora, como queiram. Eles dinamizaram o mercado de consumo de massa brasileiro e fortaleceram bastante a nossa economia. Graças a eles, o Brasil enfrenta, em condições bem melhores que no passado, a pior crise mundial desde 1929. Graças a eles, o Brasil está mais próspero, mais sólido e menos desigual. Ao contrário de alguns, não me ressinto dessa extraordinária ascensão social. Sinto-me feliz em tê-los ao meu lado nos aeroportos e em outros lugares antes reservados a uma pequena minoria. Sei que, com eles, o Brasil pode voar mais alto.

Não tenho vergonha nenhuma das obras da Copa, mesmo que algumas tenham atrasado. Em sua maioria, são obras que apenas foram aceleradas pela Copa. São, na realidade, obras de mobilidade urbana e de aperfeiçoamento geral da infraestrutura que melhorarão a vida de milhões de brasileiros. Estive no aeroporto de Brasília e fiquei muito bem impressionado com os novos terminais e com a nova facilidade de acesso ao local. Mesmo os novos estádios, que não consumiram um centavo sequer do orçamento, impressionam.

Lembro-me de velhos estádios imundos, inseguros, desconfortáveis e caindo aos pedaços. Me agrada saber que, agora, os torcedores vão ter a sua disposição estádios decentes. Acho que eles merecem. Me agrada ainda mais saber que tudo isso vem sendo construído com um gasto efetivo que representa somente uma pequena fração do que é investido em Saúde e Educação. Gostaria, é claro, que todas as obras do Brasil fossem muito bem planejadas e executadas. Que não houvesse aditivos, atrasos, superfaturamentos e goteiras. Prefiro, no entanto, ver o Brasil em obras que voltar ao passado do país que não tinha obras estruturantes, e tampouco perspectivas de melhorar.

Tranquiliza-me saber que o Brasil tem um sistema de saúde público, ainda que falho e com grandes limitações. Já usei hospitais públicos e, mesmo com todas as deficiências do atendimento, sai de lá curado e sem ter gasto um centavo. Centenas de milhares de brasileiros fazem a mesma coisa todos os anos. Cerca de 50 milhões de norte-americanos, habitantes da maior economia do planeta e que não têm plano de saúde, não podem fazer a mesma coisa, pois lá não há saúde pública. Obama, a muito custo, está encontrando uma solução para essa vergonha. Gostaria, é óbvio, que o SUS fosse igual ao sistema de saúde pública da França ou de Cuba. Porém, sinto muito orgulho do Mais Médicos, um programa que vem levando atendimento básico à saúde a milhões de brasileiros que vivem em regiões pobres e muito isoladas. Sinto alívio em saber que, na hora da dor e da doença, agora eles vão ter a quem recorrer. Sinto orgulho, mas muito orgulho mesmo, desses médicos que colocam a solidariedade acima da mercantilização da medicina.

Estou também muito orgulhoso de programas como o Prouni, o Reuni, o Fies, o Enem e os das cotas, que estão abrindo as portas das universidades para os mais pobres, os afrodescendentes e os egressos da escola pública. Tenho uma sobrinha extremamente talentosa que mora no EUA e que conseguiu a façanha de ser aceita, com facilidade, nas três melhores universidades daquele país. Mas ela vai ter de estudar numa universidade de segunda linha, pois a família, muito afetada pela recessão, não tem condição de pagar os custos escorchantes de uma universidade de ponta. Acho isso uma vergonha. Não quero isso para o meu país. Alfabetizei-me e fiz minha graduação e meu mestrado em instituições públicas brasileiras.

Quero que todos os brasileiros possam ter as oportunidades que eu tive. Por isso, aplaudo a duplicação das vagas nas universidades federais, a triplicação do número de institutos e escolas técnicas, o Pronatec, o maior programa de ensino profissionalizante do país, o programa de creches e pré-escolas e o Ciência Sem Fronteiras. Gostaria, é claro, que a nossa educação pública já fosse igual à da Finlândia, mas reconheço que esses programas estão, aos poucos, construindo um sistema de educação universal e de qualidade.

Tenho imenso orgulho da Petrobras, a maior e mais bem-sucedida empresa brasileira, que agora é vergonhosamente atacada por motivos eleitoreiros e pelos interesses daqueles que querem botar a mão no pré-sal. Nos últimos 10 anos, a Petrobras, que fora muito fragilizada e ameaçada de privatização, se fortaleceu bastante, passando de um valor de cerca de R$ 30 bilhões para R$ 184 bilhões. Não bastasse, descobriu o pré-sal, nosso passaporte para o futuro. Isso seria motivo de orgulho para qualquer empresa e para qualquer país. Orgulha ainda mais, porém, o fato de que agora, ao contrário do que acontecia no passado, a Petrobras dinamiza a indústria naval e toda a cadeia de petróleo, demandando bens e serviços no Brasil e gerando emprego e renda aqui; não em Cingapura. Vergonha era a Petrobrax. Pasadena pode ter sido um erro de cálculo, mas a Petrobrax era um crime premeditado.

Vejo, com satisfação, que hoje a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outros órgãos de controle estão bastante fortalecidos e atuam com muita desenvoltura contra a corrupção e outros desmandos administrativos. Sei que hoje posso, com base na Lei da Transparência, demandar qualquer informação a todo órgão público. Isso me faz sentir mais cidadão. Estamos já muito longe da vergonha dos tempos do “engavetador-geral”. Um tempo constrangedor e opaco em que se engavetavam milhares processos e não se investigava nada de significativo.

Também já se foram os idos vergonhosos em que tínhamos que mendigar dinheiro ao FMI, o qual nos impunha um receituário indigesto que aumentava o desemprego e diminuía salários. Hoje, somos credores do FMI e um país muito respeitado e cortejado em nível mundial. E nenhum representante nosso se submete mais à humilhação de ficar tirando sapatos em aeroportos. Sinto orgulho desse país mais forte e soberano.

Um país que, mesmo em meio à pior recessão mundial desde 1929, consegue alcançar as suas menores taxas de desemprego, aumentar o salário mínimo em 72% e prosseguir firme na redução de suas desigualdades e na eliminação da pobreza extrema. Sinto alegria com esse Brasil que não mais sacrifica seus trabalhadores para combater as crises econômicas.

Acho que não dá para deixar de se orgulhar desse novo país mais justo igualitário e forte que está surgindo. Não é ainda o país dos meus sonhos, nem o país dos sonhos de ninguém. Mas já é um país que já nos permite sonhar com dias bem melhores para todos os brasileiros. Um país que está no rumo correto do desenvolvimento com distribuição de renda e eliminação da pobreza. Um país que não quer mais a volta dos pesadelos do passado.

Esse novo país mal começou. Sei bem que ainda há muito porque se indignar no Brasil. E é bom manter essa chama da indignação acessa. Foi ela que nos trouxe até aqui e é ela que nos vai levar a tempos bem melhores. Enquanto houver um só brasileiro injustiçado e tolhido em seus direitos, todos temos de nos indignar.

Mas sentir vergonha do próprio país, nunca.

Isso é coisa de gente sem-vergonha.


sábado, 31 de maio de 2014

SUMÉRIOS, OS FILHOS DE NIBIRU




Um dos povos mais fascinantes da história das civilizações são os sumérios.

Mais antigo entre os povos da mesopotâmia, suas origens se perdem no tempo, remontando a bem mais de 3 mil anos antes da nossa era.

Sua origem, verdadeiramente, é indeterminada, existindo lacunas jamais respondidas.

Com certeza possuíam uma cultura superior aos povos de seu tempo e foram fontes de inspiração e ensinamentos aos demais habitantes do Crescente Fértil.

Quando buscavam o contato com seus deuses os procuravam nos cumes das montanhas, e, se não houvessem montanhas faziam aterros e morros artificiais.

Possuíam um conhecimento astronômico absurdo para sua época. Faziam cálculos perfeitos, até para nossos padrões, dos ciclos lunares.

Na cidade de Nipur, a 150 quilômetros de Bagdá, capital do Iraque, foi encontrada uma biblioteca sumeriana inteira, contendo cerca de 60.000 placas de barro com inscrições cuniformes (a escrita cuneirforme, que, rivaliza com os hieróglifos dos egípcios em antiguidade, foi criada pelos sumerianos).

Nessas tábuas encontramos um conhecimento inexplicável sobre o Sistema Solar, inclusive com riquezas de detalhes sobre as composições físicas e químicas de Plutão, o mais distante planeta e que só foi descoberto pelos astrônomos modernos em 1930.

Para eles a nossa Lua era um “pote de chumbo” e seu núcleo um jarro de ferro. Durante o programa Apolo, a NASA confirmou que a Lula tem um núcleo composto de ferro e que predomina o chumbo em suas calotas exteriores.

Sabiam que planetas giram em volta de estrelas (informação só comprovada recentemente) e faziam desenhos demonstrando as órbitas desses planetas.

Segundo os Sumérios, um grande dilúvio exterminou com a raça humana e foram eles e seus reis que suportaram os enormes dissabores pós-dilúvio, reconstruindo a Terra num tempo de 24.510 anos, 3 meses e dias e meio..

No mais antigo escrito cuneiforme já encontrado, Noé é chamado de Ziusudra e morava em Shuruppak, e lá construiu sua arca.

Os sumérios sempre aguardaram o retorno de seus deuses, que, segundo eles, retornariam um dia, vindos do céu.

Segundo esse povo extraordinário, a Terra teve origem na colisão de dois corpos celestes. Dessa colisão surgiu ainda um outro planeta chamado Nibiru.

Ainda segundo eles, seus deuses vieram de Nibiru, um planeta que completa uma translação sobre o sol a cada 3.600 anos. Rezam suas escritas que nós somos os chamados “filhos dos deuses”, uma mistura (genética?) dos deuses com os primatas da terra.

Outros desenhos sumerianos provocam ainda mais assombro. Num deles temos a representação do que seria a explosão de uma bomba atômica e mostra alguém sendo protegido por um abrigo subterrâneo anti-nuclear.

Na antiga cidade de Tepe Asiab foram encontrados túmulos e instrumentos de pedra com data anterior a 13 mil anos. Na mesma região foram encontrados excrementos petrificados ainda não identificados, mas, com certeza, não humanos.

Os Sumérios foram os professores de raças posteriores, e desde épocas imemoriais seus mistérios desafiam nossa mais prodigiosa imaginação.

Prof. Péricles

quarta-feira, 28 de maio de 2014

TAPAS EM MOLEQUE


Por Paul Craig Roberts


Memorial Day é o dia no qual os EUA comemoram seus mortos na guerra. Como o 4 de Julho, o Memorial Day está transformando-se em glorificação da guerra.

As pessoas que perderam familiares ou amigos queridos para a guerra não conseguem suportar a ideia de que morreram em vão. Então a guerra torna gloriosos os atos daqueles nobres soldados, que sacrificaram a vida lutando pela verdade, pela justiça e pelo modo americano de ser. Inflamados, patrióticos discursos nos reafirmam o quanto devemos àqueles que deram a vida para que os EUA permaneçam livres!

Apesar da boa intenção das falas, esse tipo de discurso apenas cria uma realidade falsa que apoia mais e mais guerras. Digam o que disserem os discursos, nenhuma das guerras travadas pelos EUA teve nada a ver com nos manter livres. Ao contrário, essas guerras estão acabando com nossas liberdades civis, nos tornando escravos.

Jornalistas e editores do norte do país foram detidos e encarcerados por Ordem Executiva emitida pelo então presidente Lincoln. Além disso, fechou 300 jornais do norte e ordenou a prisão de 14.000 prisioneiros políticos. Clement Vallandigham, representante dos EUA por Ohio e crítico da guerra, foi preso e exilado para a Confederação. A Iª Guerra Mundial foi o pretexto usado pelo presidente Woodrow Wilson para cercear a liberdade de expressão. Já a IIª Guerra Mundial serviu para que o presidente Franklin Delano Roosevelt prendesse em campos de concentração 120.000 descendentes de japoneses, sob o argumento de que a raça os tornava automaticamente suspeitos. O maior perigo já enfrentado pela liberdade americana, segundo conclusão do professor Samuel Walker, o presidente George W. Bush, ao usar a “guerra ao terror” para tomar de assalto todas as liberdades civis dos EUA.

Os direitos dos Estados foram destruídos por Lincoln para todo o sempre, mas a suspensão do habeas corpus e da liberdade de expressão, usados da mesma forma nas três maiores guerras enfrentadas pelos EUA, só durou até o fim dos conflitos. Acontece que a revogação pura e simples da Constituição, pela qual é responsável George W. Bush não apenas foi ampliada pelo presidente Barack Obama: foi codificada e transformada em lei pelo Congresso dos EUA e por Ordens Executivas. Os nossos bravos soldados que morreram na “guerra ao terror”, longe de defender nossas liberdades, morreram para que o presidente dos EUA possa prender por tempo indefinido os cidadãos americanos, sem processo legal, ou assassiná-los por meras suspeitas, sem que haja lei que o obrigue a responder pelas prisões e pelos assassinatos.

Conclusão inevitável: as guerras que os EUA guerreiam não protegem nossas liberdades. É o contrário: elas as destroem. Como disse Alexander Solzhenitsyn, “o estado de guerra serve apenas como desculpa para a tirania doméstica”.

A secessão do Sul ameaçou o império de Washington? Certamente sim, mas não ameaçou o povo americano. Os alemães da antiga Primeira Guerra Mundial ou os alemães e japoneses da antiga Segunda Guerra Mundial também não representaram qualquer risco para os EUA. Qualquer historiador pode afirmar claramente que a Alemanha não começou a Primeira Guerra Mundial nem a lutou com ambições de expansão territorial. A ambição japonesa na guerra era a Ásia. Hitler absolutamente não queria travar a guerra contra a França ou a Inglaterra. A ambição territorial de Hitler era principalmente restaurar por saque as províncias tomadas da Alemanha, violando as garantias dadas pelo presidente Wilson. Todas as demais ambições de Hitler só tinha a ver com o oriente. Nenhum dos dois países tinha qualquer intenção, por mais remota, de atacar os EUA. O ataque dos japoneses a Pearl Harbour deu-se mais para remover um obstáculo aos seus planos para a Ásia, que como preparação para uma invasão dos EUA.

Os países devastados por Bush e Obama no século XXI – Iraque Afeganistão, Líbia, Somália, Síria, Paquistão e Iêmen – certamente não representavam qualquer tipo de ameaça para os EUA. Na verdade, essas guerras foram usadas como pretexto para que se instalasse nos EUA um “Estado Stasi” que hoje está em plena existência nos EUA, implantado por um executivo tirano.

É duro encarar a verdade, mas os fatos são muito claros. O motivo que levou os EUA a guerrear todas essas guerras foi aumentar o poder de Washington, o lucro dos banqueiros e dos fabricantes de armamentos e a fortuna das suas companhias corporativistas. Smedley Butler, General da Marinha disse:

(...) eu servi em todos os postos, de 2º tenente a general. Durante todo esse tempo, operei como leão de chácara musculoso para as grandes negociatas, para Wall Street e para os banqueiros. Em resumo: nunca passei de delinquente a serviço do capitalismo.

Não dá para comemorar os mortos na guerra sem glorificá-los. Não dá para glorificá-los sem glorificar as guerras que travaram.

Em todo o século XXI, os EUA têm estado empenhados em alguma guerra. Mas não se trata da guerra convencional, contra outros exércitos ou contra as “ameaças à nossa liberdade”: são guerras contra civis, contra mulheres e crianças, contra anciãos de aldeias e contra nossa própria liberdade. As elites, que têm enorme interesse nessas guerras, querem nos convencer de que as guerras devem continuar por pelo menos mais 20 ou 30 anos, antes de que seja possível derrotar a “ameaça terrorista”. É evidente imbecilidade, falta de senso.

As ameaças terroristas só começaram depois que Washington começou a criar terroristas (grifo nosso [NT]) mediante ataques militares insanos contra populações de muçulmanos, baseados em mentiras.

Washington teve tanto sucesso em suas guerras de mentiras, ao ponto de a audácia, a húbris arrogante de Washington, fazê-la fazer mais e pior do que desejava.

Com a derrubada do governo democraticamente eleito na Ucrânia, os EUA puseram-se em posição de confronto com a Rússia. Essa confrontação pode acabar mal para todos. Talvez para Washington e talvez para o mundo inteiro. Por que Washington supõe que a Rússia se renderá a Washington, se Gaddafi, se Assad, nunca se renderam? Só porque deram uns tapas em moleque no jardim de infância, os EUA pensam agora que podem encarar zagueiro adestrado em time de várzea.

Os regimes de Bush e Obama destruíram a reputação dos EUA com suas incessantes mentiras e a violência recorrente contra outros povos. O mundo vê Washington como a mais grave ameaça a pesar contra todos.

Memorial Day é o dia no qual os EUA comemoram seus mortos na guerra. Como o 4 de Julho, o Memorial Day está transformando-se em glorificação da guerra.

As pessoas que perderam familiares ou amigos queridos para a guerra não conseguem suportar a ideia de que morreram em vão. Então a guerra torna gloriosos os atos daqueles nobres soldados, que sacrificaram a vida lutando pela verdade, pela justiça e pelo modo americano de ser. Inflamados, patrióticos discursos nos reafirmam o quanto devemos àqueles que deram a vida para que os EUA permaneçam livres!

Apesar da boa intenção das falas, esse tipo de discurso apenas cria uma realidade falsa que apoia mais e mais guerras. Digam o que disserem os discursos, nenhuma das guerras travadas pelos EUA teve nada a ver com nos manter livres. Ao contrário, essas guerras estão acabando com nossas liberdades civis, nos tornando escravos.

Jornalistas e editores do norte do país foram detidos e encarcerados por Ordem Executiva emitida pelo então presidente Lincoln. Além disso, fechou 300 jornais do norte e ordenou a prisão de 14.000 prisioneiros políticos. Clement Vallandigham, representante dos EUA por Ohio e crítico da guerra, foi preso e exilado para a Confederação. A Iª Guerra Mundial foi o pretexto usado pelo presidente Woodrow Wilson para cercear a liberdade de expressão. Já a IIª Guerra Mundial serviu para que o presidente Franklin Delano Roosevelt prendesse em campos de concentração 120.000 descendentes de japoneses, sob o argumento de que a raça os tornava automaticamente suspeitos. O maior perigo já enfrentado pela liberdade americana, segundo conclusão do professor Samuel Walker, o presidente George W. Bush, ao usar a “guerra ao terror” para tomar de assalto todas as liberdades civis dos EUA.

Os direitos dos Estados foram destruídos por Lincoln para todo o sempre, mas a suspensão do habeas corpus e da liberdade de expressão, usados da mesma forma nas três maiores guerras enfrentadas pelos EUA, só durou até o fim dos conflitos. Acontece que a revogação pura e simples da Constituição, pela qual é responsável George W. Bush não apenas foi ampliada pelo presidente Barack Obama: foi codificada e transformada em lei pelo Congresso dos EUA e por Ordens Executivas. Os nossos bravos soldados que morreram na “guerra ao terror”, longe de defender nossas liberdades, morreram para que o presidente dos EUA possa prender por tempo indefinido os cidadãos americanos, sem processo legal, ou assassiná-los por meras suspeitas, sem que haja lei que o obrigue a responder pelas prisões e pelos assassinatos.

Conclusão inevitável: as guerras que os EUA guerreiam não protegem nossas liberdades. É o contrário: elas as destroem. Como disse Alexander Solzhenitsyn, “o estado de guerra serve apenas como desculpa para a tirania doméstica”.

A secessão do Sul ameaçou o império de Washington? Certamente sim, mas não ameaçou o povo americano. Os alemães da antiga Primeira Guerra Mundial ou os alemães e japoneses da antiga Segunda Guerra Mundial também não representaram qualquer risco para os EUA. Qualquer historiador pode afirmar claramente que a Alemanha não começou a Primeira Guerra Mundial nem a lutou com ambições de expansão territorial. A ambição japonesa na guerra era a Ásia. Hitler absolutamente não queria travar a guerra contra a França ou a Inglaterra. A ambição territorial de Hitler era principalmente restaurar por saque as províncias tomadas da Alemanha, violando as garantias dadas pelo presidente Wilson.

Todas as demais ambições de Hitler só tinha a ver com o oriente. Nenhum dos dois países tinha qualquer intenção, por mais remota, de atacar os EUA. O ataque dos japoneses a Pearl Harbour deu-se mais para remover um obstáculo aos seus planos para a Ásia, que como preparação para uma invasão dos EUA.

Os países devastados por Bush e Obama no século XXI – Iraque Afeganistão, Líbia, Somália, Síria, Paquistão e Iêmen – certamente não representavam qualquer tipo de ameaça para os EUA. Na verdade, essas guerras foram usadas como pretexto para que se instalasse nos EUA um “Estado Stasi” que hoje está em plena existência nos EUA, implantado por um executivo tirano.

É duro encarar a verdade, mas os fatos são muito claros. O motivo que levou os EUA a guerrear todas essas guerras foi aumentar o poder de Washington, o lucro dos banqueiros e dos fabricantes de armamentos e a fortuna das suas companhias corporativistas. Smedley Butler, General da Marinha disse:

(...) eu servi em todos os postos, de 2º tenente a general. Durante todo esse tempo, operei como leão de chácara musculoso para as grandes negociatas, para Wall Street e para os banqueiros. Em resumo: nunca passei de delinquente a serviço do capitalismo.

Não dá para comemorar os mortos na guerra sem glorificá-los. Não dá para glorificá-los sem glorificar as guerras que travaram.

Em todo o século XXI, os EUA têm estado empenhados em alguma guerra. Mas não se trata da guerra convencional, contra outros exércitos ou contra as “ameaças à nossa liberdade”: são guerras contra civis, contra mulheres e crianças, contra anciãos de aldeias e contra nossa própria liberdade. As elites, que têm enorme interesse nessas guerras, querem nos convencer de que as guerras devem continuar por pelo menos mais 20 ou 30 anos, antes de que seja possível derrotar a “ameaça terrorista”. É evidente imbecilidade, falta de senso.

As ameaças terroristas só começaram depois que Washington começou a criar terroristas (grifo nosso [NT]) mediante ataques militares insanos contra populações de muçulmanos, baseados em mentiras.

Washington teve tanto sucesso em suas guerras de mentiras, ao ponto de a audácia, a húbris arrogante de Washington, fazê-la fazer mais e pior do que desejava.

Com a derrubada do governo democraticamente eleito na Ucrânia, os EUA puseram-se em posição de confronto com a Rússia. Essa confrontação pode acabar mal para todos. Talvez para Washington e talvez para o mundo inteiro. Por que Washington supõe que a Rússia se renderá a Washington, se Gaddafi, se Assad, nunca se renderam? Só porque deram uns tapas em moleque no jardim de infância, os EUA pensam agora que podem encarar zagueiro adestrado em time de várzea.

Os regimes de Bush e Obama destruíram a reputação dos EUA com suas incessantes mentiras e a violência recorrente contra outros povos. O mundo vê Washington como a mais grave ameaça a pesar contra todos.



Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate.

domingo, 25 de maio de 2014

SAÚDE, BRASIL - PARTE 2



Após a segunda Guerra Mundial o mundo do capital ficou preocupado com a melhoria de vida dos povos sob regime comunista e desenvolveram melhorias sociais com o objetivo de contrapor os avanços sociais “do inimigo”. Assim, ocorreu o que chamamos de “o estado de bem estar”.

Entre outras coisas, isso implicou na troca do seguro social pela seguridade social, que deixava de ter um caráter de individualidade para beneficiar um coletivo de pessoas, além de maiores investimentos com assistência médica. Essa mudança, claro, deveria ser patrocinada pelos respectivos governos.

No Brasil, em 1960 é proposta a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que propunha a unificação de todos os IAPs e estendia assistência médica a toda à população trabalhadora, mas isso não obteve grande aceitação, pois os IAPs mais fortes e que já tinham hospitais próprios, por exemplo, o IAPTEC, se sentiam prejudicados.

Cresce no Brasil os serviços médicos contratados por empresas insatisfeitas com o atendimento prestado pelos IAPs (ou não prestados). Além disso, a saúde é pensada unicamente em termos de assistência hospitalar, esquecendo-se da prevenção e da atenção primária. Crescem os convênios privados.

Entre as famosas Reformas de Base, propostas pelo presidente João Goulart defendia-se uma reforma sanitária consistente e inovadora, mas Jango e suas reformas foi violentamente derrubado do poder pelo golpe militar de 1964 que daria início a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

Durante os governos militares, cristalizaram-se relações autoritárias, mercantilizadas e tecnocratas na área da saúde. Foi o período áureo do complexo médico-hospitalar com lucros exorbitantes a partir de um sistema que pagava bem por procedimentos desordenados, que não resolviam os problemas de saúde das pessoas, mas enriqueceram interesses de multinacionais.

Foi também o período de criação da imagem de um médico que, consciente ou inconscientemente, reproduzia a imagem do ditador que tudo sabia, tudo podia e que não precisava dividir qualquer conhecimento.

Em 1966, ainda no governo do General Castelo Branco, todos os IAPs foram fundidos dando origem a um gigante, o INPS (Instituto Nacional da Previdência Social). Enquanto se alegava estar dando fim ao populismo getulista dos Institutos comandados pelos sindicatos, manteve-se o assistencialismo pois tudo vinha do governo “preocupado com a saúde e a previdência do cidadão”.

Enquanto se pagava caro pela saúde a laboratórios, fornecedores de equipamentos e hospitais que vendiam atendimento, novas epidemias vieram demonstrar a precariedade do sistema sanitário nacional. Uma delas, a Epidemia de meningite na década de 70, tentou ser escondida, tendo a censura impedido a divulgação, fundamental para os cuidados que requeria, para não demonstrar o fracasso no coração do “milagre brasileiro”.

Os aumentos dos gastos e das fraudes forçaram a extinção do INPS em 1978 e a criação do SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social), cujo filho pródigo seria o INAMPS (Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social). Julgavam que, com a criação de uma autarquia menor e mais ágil, seria possível diminuir custos e combater as fraudes na área da saúde.

O INAMPS jamais foi um sistema de saúde. Na verdade, era um sistema de doença, que atuava como repositório de gente doente e que não via a pessoa na sua integralidade, mas, por suas partes necessitadas de ação médica.

Centralizada na esfera federal surda e onipotente, a política do INAMPS se processava de acordo com os ventos políticos não sendo a assistência ao cidadão a sua prioridade.

O atendimento era restrito apenas a quem tivesse “carteirinha do INAMPS” e essa carteirinha só era confeccionada mediante análise da carteira profissional devidamente assinada e contribuição sindical em dia. A margem da assistência oficial o desempregado (e esses foram tempos de índices recordes de desemprego devido à recessão econômica) ficava sujeito apenas às ações de filantropia.

Mas a grande noite da Ditadura Militar, mesmo que lentamente, chegou ao fim em 1985, e a volta para a normalidade democrática, atingiu todos os setores do país com a elaboração de uma nova Constituição.

Como toda Constituição promulgada “democraticamente”, nossa atual se deu a partir de trabalhos e debates amplos realizados em Assembléia Nacional Constituinte. A luta por um sistema de saúde novo se transferiu para esse fórum.

Em 1986, na cidade de Brasília, realizou-se a 8ª Conferência Nacional da Saúde, culminância de outras conferências municipais e estaduais. Essa Conferência contou com a participação de trabalhadores, políticos de vários matizes, usuários e prestadores de serviços de saúde. Nessa Conferência nasceu a proposta da criação de um sistema de saúde único, descentralizado, democrático, participativo e de atendimento a todos os brasileiros.

Tal proposta foi levada para a Constituinte. Seus defensores tiveram que enfrentar outras vertentes, cujas propostas mais significativas eram, de um lado, manter o sistema existente, porém com reformas e melhorias para evitar fraudes e gastos exagerados e de outro, a proposta de adoção de um sistema parecido com o modelo norte-americano do seguro-saúde.

Depois de ampla discussão que contou com a participação de inúmeros grupos de interesses, concretizou-se a idéia da saúde no Brasil com uma visão totalmente nova.

O SUS (Sistema Único de Saúde) tem sua certidão de nascimento no Artigo 196 da Constituição Federal que dispõem “A Saúde é direito de todos e dever do estado”. Frase simples, mas preciosa, que em si mesma abarca mais de 100 anos de lutas, desde os tempos em que doente era confundido com bandido e atenção sanitária vista caso de polícia, contando com pé na porta do barraco e vacinação obrigatória.

Os princípios do SUS são hoje, inspiração para a maior parte dos povos do planeta pois defende a Universalidade do atendimento (para todos), a equidade (igualdade na assistência, sem privilégios), Integralidade (considera o todo, a inserção da saúde ou falta dela em contexto amplo de existência), a hierarquização (atenção à saúde conforme quadro específico de gravidade, sem massificação), a descentralização (trazendo o gerenciamento para perto do cidadão) e a participação social.

Países como a África do Sul e o próprio Estados Unidos (pelo menos o Partido Democrata), entre muitos outros, consideram o SUS o melhor modelo de saúde pública do mundo e ambicionam criação similar.

Num país de 190 milhões de pessoas que vivem em fronteiras imensas de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, sua implantação, execução e controle é um enorme desafio, que, só terá sucesso com a participação popular cúmplice e totalmente interessada em que o sistema dê certo.

Os desafios são imensos.

Grupos que com o modelo antigo lucravam de forma exacerbada ainda estão atuantes em busca de um retorno ao passado.

O desconhecimento da própria população brasileira do que seja o SUS potencializam os problemas existentes e criam outros imaginários.

Ao pensar saúde lembrando INAMPS as pessoas não se desfazem do passado, identificam qualidade a partir de critérios ultrapassados desconhecendo novos conceitos como prevenção e insistem com a idéia paternalista de um estado que deve fazer tudo, prover tudo, enquanto vê a si mesmo apenas como objeto da atenção e não como veículo de ação.

Para isso a mídia, dirigida por pessoas que definitivamente não precisam dos serviços do SUS, mas que, ao contrário, identificam no fracasso da saúde pública, o fracasso de um governo a que fazem oposição, contribui com a exposição apenas do que está errado, difícil ou incompleto, não divulgando os acertos e os avanços.

Coisas de uma sociedade ainda convalescendo da grave doença do autoritarismo que por 20 anos relegou o cidadão a um papel de mero espectador da sua própria vida.

O SUS não é de um governo, de uma mente, de um pensador. O SUS é o ápice de uma longa estrada, doloroso e difícil caminho, mas alimentado por sonhos e utopias de uma sociedade igualitária.

Saúde, Brasil.

Prof. Péricles

sábado, 24 de maio de 2014

SAÚDE, BRASIL - PARTE 1



A história da saúde pública no Brasil é dolorosa, e coerente com uma história escrita pelas elites no exercício do poder.

Sua evolução sempre obedeceu à ótica do avanço do capitalismo internacional.

A saúde, ao menos a pública, nunca ocupou o lugar central das políticas oficiais.

Nossos governantes, se preocupavam com as epidemias pelo potencial prejuízo a seus governos e à política externa do país, mas deixavam de se preocupar quando as epidemias tornavam-se endemias, pois, os males crônicos, vistos como doenças de pobre não tinham o mesmo potencial de desgaste de suas administrações.

Em 1789, ano da implosão da inconfidência mineira em março e da queda da Bastilha na França, em julho, havia, no Rio de Janeiro, capital da colônia, apenas quatro médicos.

As primeiras duas escolas de medicina só foram construídas quando a família real portuguesa veio para cá, o Colégio Médico-Cirúrgico no Hospital Militar de Salvador e a Escola de Cirurgia no Rio de Janeiro.

Até 1850 as atividades de saúde pública se limitavam as atividades sanitárias das juntas municipais e ao controle de navios e saúde dos portos.

Já na República Velha, o Presidente Rodrigues Alves (1902 a 1906), preocupado com a péssima imagem do Brasil na Europa, que retratavam o país como um gigantesco foco de doenças, que, entre outros prejuízos dificultava sua política de atrair imigrantes europeus para trabalhar aqui, resolveu combater as epidemias, e para isso designou o sanitarista Oswaldo Cruz como comandante em chefe de uma verdadeira campanha militar – combater os vírus que infestavam as zonas mais pobres do Rio de Janeiro, especialmente as favelas.

Os comandados de Oswaldo Cruz invadiam as “regiões inimigas” e usavam de enorme virulência para vacinar as pessoas mesmo sem seu consentimento e queimar colchões e trastes que pudessem servir de incubadora dos insetos transmissores.

A esse sistema violento e autoritário de intervenção sanitária chamamos de “Modelo Campanhista” e uma de suas conseqüências mais graves foi a “Revolta da Vacina”, quando o cidadão se armou do que pode e passou a se defender dos homens do “papa-rato” que era como chamavam Oswaldo Cruz.

Por três dias a capital do Brasil ardeu numa febre de guerra, caótica e insana.

A ordem pública foi recuperada e os bons resultados da vacinação se fizeram sentir, mas o povo não esqueceria facilmente o fato de não ser visto como vítima, e sim, como um inimigo, o causador da péssima imagem do Brasil lá fora.

Em 1920 Oswaldo Cruz foi substituído por Carlos Chagas que reestruturou o Departamento Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça e introduziu a propaganda e a educação sanitária, inovando a forma de ver saúde.

Criaram-se órgãos especializados na luta contra algumas moléstias como as doenças venéreas. Expandiram-se as atividades de saneamento para outros estados, além do Rio de Janeiro e criou-se a Escola de Enfermagem Anna Nery.

Isso em se tratando de saúde pública, pois, no campo da assistência individual, os filhos das classes dominantes continuavam assistidos pelos “médicos de família”, enquanto o povo era atendido pela filantropia de hospitais mantidos pela Igreja.

Com as mudanças trazidas pelo pós-I Guerra Mundial (1914-1918) e ao crescimento do sindicalismo, foi promulgada em 1923 a Lei Eloy Chaves. A partir de então nasce a Previdência Social no Brasil e, a saúde, permanecerá desde então atrelada à previdência.

Nesse primeiro momento, advindo da Lei Eloy Chaves, serão criadas as CAPs (Caixas de Aposentadorias e Pensões). O governo não participa do rateio que é gerado pela contribuição vinculada ao faturamento das empresas, num acordo entre empregadores e empregados.

O tempo de existência do modelo CAPs foi relativamente curto para uma análise mais abrangente, pois, as mudanças que ocorreram em todos os setores da vida pública, trazidas pela revolução de 30, também ocorreram na área da previdência, e, a reboque, na atenção à saúde pública.

Coerente com suas características centralizadoras que sempre buscavam o controle do processo político, o Getulismo daria origem aos IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões, sistema totalmente submetido ao controle dos sindicatos e dependente do Imposto Sindical. Desde seu nascimento os IAPs significaram o apoio tácito dos sindicatos a Getúlio Vargas e seu governo. Com uma mão o presidente fortalecia essas organizações, mas exigia que a outra fosse beijada, configurando a imagem amplamente difundida na história do Brasil dos “sindicatos pelegos”.

Para ratificar essa submissão, os IAPs eram dirigidos por um presidente indicado pelo chefe do executivo, no caso, Getúlio Vargas.

A quarta letra, posterior aos IAP designava o setor econômico-sindical que representava. Um dos mais famosos, o IAPI, por exemplo, era o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários. O IAPM era o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos, IAPTEC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Estivadores e Transportes de carga, e assim por diante.

Em 1953, depois de derrubado como ditador, mas ressurgir das urnas como presidente eleito, o gaúcho de São Borja criou o Ministério da Saúde, desmembrando-o do Ministério da Educação.


Prof. Péricles