quinta-feira, 29 de novembro de 2012
PERIGOS DA URNA ELETRÔNICA
“Quem vota não decide coisa alguma. Quem conta os votos decide tudo”
Joseph Stalin
Se Stalin disse ou não disse, não posso garantir. A frase virou folclore. Para que alguma eleição signifique alguma coisa, os que contam os votos têm de ter mais respeito pela integridade da democracia, do que ânsia de poder.
Dos tempos de Stalin até hoje, a tecnologia mudou. Com máquinas de votar eletrônicas, que não deixam marcas impressas e são programadas por programas proprietários, o resultado de uma eleição pode ser decidido de véspera. Os que controlam o programa podem programar as máquinas para elegerem (as máquinas, não os eleitores) o candidato que o programador deseje eleger. As máquinas eletrônicas de votar não são transparentes. Quando se vota em máquina eletrônica, não se sabe em quem se está votando: só a máquina sabe.
Os mesmos que podem roubar a eleição podem facilmente meter “especialistas” nas televisões, que se porão a explicar que a divergência entre as pesquisas de boca de urna e os votos contados está “na margem de erro”, ou “não tem significado estatístico” ou, então, aconteceu porque as pesquisas de boca de urna ouviram mais (ou menos) mulheres, ou mais (ou menos) uma ou outra minoria racial ou mais (ou menos) membros de um ou do outro partido.
Em artigo fascinante para Harper’s Magazine (26/10/2012), Victoria Collier observa que, com o advento da moderna tecnologia “emergiu todo um bravo novo mundo de falcatruas eleitorais”.
A velha fraude de urnas era localizada e de curto alcance. As máquinas eletrônicas, hoje, permitem fraudar eleições em escala estadual e nacional. Além disso, em votações eletrônicas não há urnas cheias de votos a serem encontradas em fundos de quintal na Louisiana. Com programas proprietários, os proprietários dos programas decidem: a contagem dos votos indicará o número previsto no programa proprietário.
As duas primeiras eleições presidenciais nos EUA no século 21 têm história vergonhosa. A vitória de George W. Bush sobre Al Gore foi decidida pelos Republicanos na Suprema Corte dos EUA, que mandaram suspender a recontagem de votos na Florida.
Em 2004, George W. Bush venceu na contagem de votos, embora as pesquisas de boca de urna indicassem vitória de John Kerry.
A era do roubo eletrônico de votos, diz Collier, “começou com Chuck Hagel, milionário desconhecido que concorreu a uma cadeira no Senado, por Nebraska, em 1996. Hegel começou muito atrás, na disputa com o popular governador Democrata, eleito dois anos antes por uma avalanche de votos. Três dias antes das eleições, contudo, o jornal Omaha World-Herald mostrou eleição apertadíssima, com 47% dos eleitores preferindo cada um dos candidatos. David Moore, então editor-gerente do Instituto Gallup, disse ao jornal que Não é possível prever o resultado”.
A vitória de Hagel na eleição geral, sempre referida como “uma reviravolta”, garantiu a cadeira no Senado aos Republicanos, pela primeira vez em 18 anos.
Poucos norte-americanos sabiam, até poucos dias antes das eleições, que Hagel fora presidente da empresa fornecedora das urnas eletrônicas que, a seguir, estariam contando votos para ele mesmo: a Election Systems & Software (então chamada American Information Systems). Hagel deixou a empresa duas semanas antes de declarar-se candidato. Mas não se desfez de milhões de dólares em ações do McCarthy Group, grupo proprietário da empresa ES&S. E Michael McCarthy, fundador da empresa parceira, trabalhava como tesoureiro de campanha de Hagel.
Quando a Suprema Corte Republicana impediu a recontagem de votos na Florida e decidiu a eleição entre George W. Bush e Al Gore nas eleições presidenciais em 2000, a resposta dos Democratas foi não protestar, para não abalar a confiança dos norte-americanos na democracia. John Kerry também aceitou e calou em 2004, apesar da vasta diferença entre as pesquisas de boca de urna e os votos acumulados em meio eletrônico. Mas como os norte-americanos poderemos confiar na democracia, se nem há votos para ver e contar e a eleição não é transparente?
Vejam só! Por todo o planeta, transações de trilhões de dólares acontecem diariamente, e raramente há algum problema. Se se pode contar dinheiro onlineaté os centavos, claro que se podem contar votos online. O único problema é que há interesses políticos gigantescos “programados” em cada urna ou máquina de votar eletrônica.
Em 2005, a Comissão Federal para Reforma Eleitoral não partidária, concluiu que a integridade das eleições estava comprometida pela ação de quem controlou a programação. A propriedade privada da tecnologia de votação é absolutamente incompatível com eleições transparentes.
País sem eleições transparentes é país sem democracia.
Paul Craig Roberts – Institute for Political Economy
“U.S. Elections: Will the Dead Vote and Voting Machines be Hacked?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
domingo, 25 de novembro de 2012
EDUCARE
Faz-se grande confusão entre educação e conhecimento formal.
Talvez a maioria das pessoas quando fala em educação pense apenas no professor, no giz, quadro negro, horários, etc.
Nada mais confuso do que essa visão.
Educação é muito mais do que rotinas estudantis.
O filósofo Sócrates falava em “educare”, termo que deu origem à “educação”, num sentido bem diferente do tradicional.
Educare queria dizer “tirar de si, fazer brotar”. Ou seja, a educação se realiza através de um processo que tem incentivadores, mas que vem de dentro do educando e não de fora pra dentro.
Aquela imagem do professor que despeja seu enorme saber num depósito vazio que é a cabeça dos alunos é uma imagem tosca e distante do verdadeiro educare.
Nesse contexto a família é o principal fator da promoção da educação. Os parentes, amigos, a escola, a sociedade, a vida. Tudo é educação. Uma piada, uma frase, um exemplo, tudo promove a formação da pessoa. Tudo conspira para sua construção como indivíduo.
Aqui no Rio Grande do Sul, uma importante rede de televisão está promovendo uma campanha em que questiona o porquê de termos uma educação de tão baixa qualidade, classificada como a 88ª no cenário de todos os países. Questiona como se estivesse de fora, apenas transmitindo dúvidas das pessoas, e apontando o dedo inquisidor numa completa impessoalidade.
É importante campanhas assim, sem dúvida, mas seria mais interessante se o próprio veículo de comunicação iniciasse questionando a si mesmo, a qualidade de sua programação o comprometimento dela no processo educativo.
Qualquer professor seria capaz de escrever um livro sobre a influência da televisão sobre seus alunos.
Muitas vezes, todo um trabalho sobre, por exemplo, combate à intolerância é destruído em questão de segundos numa piada ou num bordão.
Aulas inteiras contra posturas de valor reprovável, bulling, homofobia, são arrasadas por um filme ou uma cena de novela.
Faz apenas algumas semanas, num programa televisivo noturno de final de domingo desenvolveu-se uma série de informações sobre como ampliar os efeitos do crack absolutamente inútil e contraproducente.
Educar é fazer brotar qualidades e valores que já existem na pessoa. É favorecer o encaminhamento dessas qualidades e desses valores na construção da cidadania, da liberdade e da felicidade da pessoa.
O conhecimento formal faz parte, mas que não é de forma isolada, a educação. É um complemento.
Ao professor de história, por exemplo, que pretenda também ser um educador interessa muito mais favorecer o despertar no aluno o gosto pela realidade dos fenômenos que compõem a história da humanidade e de seu país, do que, simplesmente avaliar sua capacidade de memória para guardar informações sobre o conteúdo.
Somos todos educadores e somos todos discípulos.
Não são apenas os professores os chamados a esse desafio. Somos todos nós.
E você, está fazendo algo pela educação?
Prof. Péricles
sábado, 24 de novembro de 2012
PINTORES DA NOITE
Ela olhou pra mim como quem está prestes a fazer uma grande revelação e disse “sabe, eu nunca te contei, mas, detesto cachorros”.
Comecei a rir baixinho distraído. Mas o riso foi crescendo e ela, escorando a cabeça no meu ombro foi me acompanhando, e quando vimos as gargalhadas já não podiam ser contidas.
Ergui os olhos pras estrelas e perguntei pra uma delas: mas do que mesmo estou rindo?
Do fato de estar pendurado no alto de um poste numa dessas madrugadas de Porto Alegre?
Ou da escada velha que rangia e que ainda por cima, teve que ser inclinada entre o muro da calçada e o poste por dentro do terreno?
Talvez fosse dos dois cachorros furiosos que babavam de ódio por não poder nos alcançar e que ansiavam por nossa queda?
Ou do jeito de madame daquela guria com tinta nos ombros e na testa me sussurrando ter medo de cachorros?
Até hoje não sei.
Eram tantas coisas que precisavam de respostas e tantas respostas que não valiam à pena naqueles tempos.
Só sei que nossas gargalhadas calaram os cachorros como se nem eles entendessem, afinal, qual era a graça da situação grotesca.
Quando paramos de sacolejar de tanto rir, a escada diminuiu seu rangido, e continuamos a gloriosa tarefa de prender no poste, com arame pouco resistente, mais uma placa pintada à mão com a sigla de nosso partido.
Não só uma sigla, não senhor! Muito mais que isso. Um sentimento de resistência materializado na forma de três letras recém pintadas no quintal da casa de algum companheiro de sonhos.
Descemos altivos diante da indignação dos cachorros e recolhemos o material restante, pois era preciso ter pressa, pois outros postes nos esperavam, outros cachorros talvez, e com certeza, o sol, não demoraria.
A polícia odeia a hora entre o fim da madrugada e o início da manhã, e chamávamos esse momento de, a hora boa.
Os cachorros odeiam escadas e ela odiava cachorros. E eu achava graça. Uma graça que carecia de argumentos mas que transbordava de dor e de energia.
Que nos importam os vadios da madrugada que vagueiam embriagados?
Não estavam, com certeza, mais embriagados do que nós, em nossos desatinos.
Lá, em cima do poste, vendo a cidade “do alto” a gente desafiava a repressão, os medos, os ventos do inverno, os cachorros e o destino.
As vezes, virávamos artistas e pintávamos muros.
Muros estreitos e largos. Inteiros e lascados. Muros simpáticos e carrancudos. De casas, de cemitérios, de colégios. Muros de ruela e de avenidas.
Tinta vermelha de cheiro forte, artesanal, feita por nós mesmos, em balde que abraçávamos para que não derramasse enquanto a velha kombi sacudia sobre as ruas de uma Porto Alegre adormecida. "Cuidado gente, a tinta é cara"...
Pintávamos palavras de ordem. Pintávamos ultimatos. Pintávamos desafios de forma altiva, e imaginávamos Picasso pintando Guernica.
Ela, como ninguém desenhava nossos símbolos.
Ao contrário de Picasso, não podíamos assinar nossas obras. Mas no outro dia... ah no outro dia ninguém podia impedir o orgulho que sentíamos ao ver expostas nos muro da cidade em cores fortes com a tinta que ainda nos fedia, o nosso trabalho noturno. Depressa, dizia em silêncio ao mundo, leiam antes que eles apaguem.
Talvez seja assim mesmo.
Quando nos tiram os livros inventamos arte.
Quando nos tiram as montanhas, escalamos escadas que rangem.
Quando nos tiram oportunidades descobrimos talentos, e somos Picassos que pintam Guernicas com tinta barata em muros estreitos.
Quando nos tiram a graça rimos de nós, rimos a sós, e rimos das dores.
Mas nunca... nunca jamais, deixamos de rir, pois, muitas vezes, em nosso riso, mais do que em mil manifestos, está a força de nossa resistência.
Prof. Péricles
Comecei a rir baixinho distraído. Mas o riso foi crescendo e ela, escorando a cabeça no meu ombro foi me acompanhando, e quando vimos as gargalhadas já não podiam ser contidas.
Ergui os olhos pras estrelas e perguntei pra uma delas: mas do que mesmo estou rindo?
Do fato de estar pendurado no alto de um poste numa dessas madrugadas de Porto Alegre?
Ou da escada velha que rangia e que ainda por cima, teve que ser inclinada entre o muro da calçada e o poste por dentro do terreno?
Talvez fosse dos dois cachorros furiosos que babavam de ódio por não poder nos alcançar e que ansiavam por nossa queda?
Ou do jeito de madame daquela guria com tinta nos ombros e na testa me sussurrando ter medo de cachorros?
Até hoje não sei.
Eram tantas coisas que precisavam de respostas e tantas respostas que não valiam à pena naqueles tempos.
Só sei que nossas gargalhadas calaram os cachorros como se nem eles entendessem, afinal, qual era a graça da situação grotesca.
Quando paramos de sacolejar de tanto rir, a escada diminuiu seu rangido, e continuamos a gloriosa tarefa de prender no poste, com arame pouco resistente, mais uma placa pintada à mão com a sigla de nosso partido.
Não só uma sigla, não senhor! Muito mais que isso. Um sentimento de resistência materializado na forma de três letras recém pintadas no quintal da casa de algum companheiro de sonhos.
Descemos altivos diante da indignação dos cachorros e recolhemos o material restante, pois era preciso ter pressa, pois outros postes nos esperavam, outros cachorros talvez, e com certeza, o sol, não demoraria.
A polícia odeia a hora entre o fim da madrugada e o início da manhã, e chamávamos esse momento de, a hora boa.
Os cachorros odeiam escadas e ela odiava cachorros. E eu achava graça. Uma graça que carecia de argumentos mas que transbordava de dor e de energia.
Que nos importam os vadios da madrugada que vagueiam embriagados?
Não estavam, com certeza, mais embriagados do que nós, em nossos desatinos.
Lá, em cima do poste, vendo a cidade “do alto” a gente desafiava a repressão, os medos, os ventos do inverno, os cachorros e o destino.
As vezes, virávamos artistas e pintávamos muros.
Muros estreitos e largos. Inteiros e lascados. Muros simpáticos e carrancudos. De casas, de cemitérios, de colégios. Muros de ruela e de avenidas.
Tinta vermelha de cheiro forte, artesanal, feita por nós mesmos, em balde que abraçávamos para que não derramasse enquanto a velha kombi sacudia sobre as ruas de uma Porto Alegre adormecida. "Cuidado gente, a tinta é cara"...
Pintávamos palavras de ordem. Pintávamos ultimatos. Pintávamos desafios de forma altiva, e imaginávamos Picasso pintando Guernica.
Ela, como ninguém desenhava nossos símbolos.
Ao contrário de Picasso, não podíamos assinar nossas obras. Mas no outro dia... ah no outro dia ninguém podia impedir o orgulho que sentíamos ao ver expostas nos muro da cidade em cores fortes com a tinta que ainda nos fedia, o nosso trabalho noturno. Depressa, dizia em silêncio ao mundo, leiam antes que eles apaguem.
Talvez seja assim mesmo.
Quando nos tiram os livros inventamos arte.
Quando nos tiram as montanhas, escalamos escadas que rangem.
Quando nos tiram oportunidades descobrimos talentos, e somos Picassos que pintam Guernicas com tinta barata em muros estreitos.
Quando nos tiram a graça rimos de nós, rimos a sós, e rimos das dores.
Mas nunca... nunca jamais, deixamos de rir, pois, muitas vezes, em nosso riso, mais do que em mil manifestos, está a força de nossa resistência.
Prof. Péricles
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
PIADAS INFAMES NA AULA DE HISTÓRIA
01) Certa noite, desesperado, um prisioneiro polonês de um campo de concentração nazista, tenta fugir e é perseguido de perto por um guarda alemão.
O prisioneiro polonês começa a escalar uma cerca de arame farpado enquanto o guarda alemão calmamente faz pontaria. O prisioneiro já está quase no topo da cerca e o guarda com o fuzil engatilhado prestes a disparar quando ouve uma voz que vem “de cima”.
- Não atire soldado, não atire. Esse polonês que estás prestes a alvejar um dia será o Papa da Igreja Católica.
Sem tirar o olho da mira o soldado retruca:
- E eu com isso? O que eu ganho?
E a voz cansada responde:
- Ok, ok. você será o Papa depois dele.
02) Viajam no mesmo vagão de trem, Reagan, Clinton e George Bush. De repente a locomotiva pára no meio do nada. Ronald Reagan acusa os funcionários de fazerem parte do eixo do mal e demite a todos.
Evidentemente o trem não se move.
Então Clinton, chama todas as estagiárias da companhia e promete promoção se fizerem o trem andar.
Mais uma vez, o trem permanece imóvel.
Então Bush levanta, fecha as cortinas da janela e anuncia.
- Pronto, o trem está andando.
03) Durante a Segunda Guerra Mundial, um navio português tinha que passar pelo estreito de Gibraltar. O problema é que de um lado do estreito tropas britânicas armadas até os dentes vigiavam a praia e do outro lado, na África, tropas nazistas apontavam seus canhões. E agora, o que fazer?
Foi então que o capitão português teve uma brilhante idéia: mandou pintar a bombordo a bandeira da Inglaterra e a estibordo a bandeira da Alemanha.
E assim fez, e assim ultrapassou o perigoso estreito. Houve uma estrondosa saudação de ambos os lados. Aplausos e elogios.
Emocionado, sem conter a euforia do sucesso, e desejando ouvir mais aplausos o capitão ordena “alto... meia volta volver, vamos passar novamente ora pois”.
Dizem que até hoje procuram restos do navio.
04) Durante uma revolta estudantil no Vaticano pedindo por uma Igreja mais progressista e menos conservadora, um Bispo olha pra outro e diz:
- Olha lá aquele jovem querendo deturpar nossa moral e tradição.
- Qual (pergunta o outro)
- Aquele bonitinho com corpo de atleta.
Prof. Péricles
terça-feira, 20 de novembro de 2012
IDENTIDADE INDÍGENA
No período pré-colonial, a bebida era mais um entre tantos aspectos que faziam parte do abismo cultural que separava os índios dos europeus que pisavam em terras brasileiras. "As festas nativas, repletas de embriaguez, eram um espaço fundamental para a expressão das visões de mundo indígenas e para a realização de eventos importantes, como celebração de casamentos ou vitórias de combates. Tais práticas contrastavam completamente da forma como os europeus acreditavam ser o correto relacionamento com o álcool e com autocontrole. Eram dois mundos etílicos completamente diferentes, com lógicas mentais e práticas sociais desenvolvidas ao longo de milênios", conta o pesquisador João Azevedo Fernandes, autor de Selvagens Bebedeiras: álcool, embriaguez e contatos culturais no Brasil Colonial (séculos XVI-XVII).
No livro, o pesquisador compara o significado da bebida para as populações européias e para os indígenas brasileiros, mostrando a distância entre ambos. Em 1751, por exemplo, o inglês William Hogarth fazia clara distinção entre o "bom álcool", representado pela cerveja, consumida pelos ingleses há séculos e considerada como tornando as pessoas saudáveis, amistosas, felizes e produtivas, e a "catástrofe provocada pela popularidade das bebidas destiladas, no caso o gim, de péssima qualidade, entre as massas urbanas".
No Brasil colonial, a cerveja era feita, basicamente, da fermentação da mandioca e do milho, principalmente entre os tupinambás. O modo de fermentação, entretanto, era um tanto peculiar: cabia às mulheres da tribo mascar as raízes, que eram cuspidas em uma vasilha. A massa mascada era mais tarde colocada para ferver com água e a mistura era guardada em outras vasilhas, enterradas para a fermentação.
Segundo João Fernandes, a relação das mulheres com a fermentação e a produção da bebida não era apenas um privilégio, mas também uma relação com sua sexualidade e seu papel na gestação. Conforme explica, entre esses indígenas, o cauim podia ser comparado ao sêmem. "Para os tupi araweté, o sêmen dos homens ‘fermenta’ na barriga das mulheres, produzindo as crianças. Isso mostra a grande importância que a bebida fermentada tinha em sua estrutura sociológica. A fermentação era vista como uma operação mágica, capaz de transformar alimentos em substâncias que alteravam a consciência humana."
O fato de serem as mulheres as responsáveis por essa tarefa especial lhes conferia uma aura de respeito: afinal, tratava-se de uma função importante, pois as bebidas eram parte essencial dos rituais, desde casamentos a funerais. "O cauim era, por exemplo, fundamental nas cerimônias matrimoniais, que, para os homens era considerado como uma modificação de status, que os transformava em adultos completos." Segundo o pesquisador, a bebida alcoólica também tinha um papel privilegiado, sendo oferecida até ao inimigo aprisionado, que mais tarde seria morto e devorado pela tribo, numa prática de canibalismo ritual.
Mas festas regadas a bebida alcoólica dos nativos acabaram sendo um obstáculo ao domínio do colonizador. "Durante e após as cauinagens, os europeus percebiam que seus mecanismos de controle iam sendo desafiados pelos índios que, quando embriagados, pareciam, aos olhos dos europeus, possuídos por alguma espécie de força demoníaca, originada das jarras e cuias onde as bebidas espumavam", conta o pesquisador. Como forma de dominação, os colonos europeus dirigiram primeiramente seus esforços em eliminar essas festas. "E também se utilizaram das próprias festas, valendo-se da bebedeira dos índios, para instigá-los uns contra os outros. Infiltrados entre os índios e bebendo com eles, os portugueses os incitavam a guerrear contra seus inimigos tradicionais."
Junto com as ações dos missionários, que lutavam contras as cauinagens, pretendendo tornar o índio civilizado, a introdução de outras bebidas, como a cachaça, por exemplo, foi, pouco a pouco, enfraquecendo os antigos rituais indígenas. "O fim dessa história todos já conhecemos bem: os índios tiveram suas tradições, e com elas suas bebidas, atacadas e praticamente deixadas de lado. Com tudo isso, eles foram finalmente lançados ao mundo moderno, não como homens civilizados, mas como ícones de uma diferença extrema, distantes de sua realidade e símbolo da vida a que foram submetidos", finaliza o pesquisador.
Fonte: FAPERJ - Danielle Kiffer
domingo, 18 de novembro de 2012
MENTIRA EM NOVA BRÉSCIA
Nova Bréscia é uma pequena cidade gaúcha de colonização italiana com pouco mais de 3 mil habitantes, localizada a poucos quilômetros de Porto Alegre.
Além de ser famosa como a terra dos melhores churrasqueiros do Estado é conhecida também por organizar o Festival da Mentira.
Todo o ano se realiza esse festival, levando grande público à cidade e distribuindo prêmios, que podem ser um porco, um boi e até mesmo dinheiro.
Os participantes são julgados, não apenas pelas mentiras que contam (que deve ter algo de real e algo de humor) como também pela postura e pela forma de tentar convencer os jurados de que está dizendo a verdade.
Pois, uns cinco anos atrás assisti um desses festivais. E não esqueço, até hoje, a apresentação do vencedor.
Começou falando pra indiada de Nova Bréscia que por volta do século VI a V AC (eles riram achando que era mentira que primeiro vinha o 6 e depois o 5), numa cidade baguala de outras querências (coisa longe mesmo, mais ou menos quatro meses de cavalo) chamada Atenas surgiu uma forma de viver em grupelho chamada de Democracia.
A tal democracia tinha nos miolo a idéia de que todos as criaturas dos deuses (sim, eles acreditavam em mais de um, na verdade em muitos e muitas porque tinha deusas também) tinham os mesmos direitos. Assim, tudo que era importante pros índios era votado em praça pública, que eles chamavam de Eclésia.
A platéia arregalou os óios de surpresa. Um deles, um macanudo mais velho, empurrou o chapéu pra cima da testa e me perguntou “mas e funcionava essa cosa”?
Em cima a resposta, mas claro paisano, funcionava, todos eram iguais e podiam votar menos as prendas. E quem não era filho de um deles também. Ah e os escravos porque tinha escravos por lá.
Pra que... Caíram na risada que foi um barulhão.
Mas continuou o causo...
Pois não é que a tal democracia foi pulando no tempo daqui e dali se aperfeiçoando até que teve uma recauchutagem loca de buena lá pelas bandas de uma tal de França. Mas foi uma peleia daquelas. Um maleva de um rei, um tal de Luiz 16 não queria saber da dita e esperneou que nem porco antes da castração... e aí, tiveram que cortar a cabeça dele, como faziam os maragatos... mas valeu a pena.
(Risadas)
- Valeu à pena matar o rei?
Pois foi. E depois que apearam o rei do trono, um bando de defensores da democracia, os Jacobinos se acamparam no poder...
- e daí as prenda puderam votar né?
Bem... ainda não. Mas defenderam a democracia e a liberdade como bugio defendendo a cria.
Imagina que tiveram que matar só em um ano mais de 3 mil na guilhotina, uma adaga pesada que caia no pescoço do condenado e zap....
- Mataram 3 mil pela liberdade?
Isso mesmo, se o cuera não fosse democrático zap...
(Mais risadas)
E foi a democracia e a liberdade que rechearam a Constituição dos chimangos lá do norte, os Estados Unidos, só que mantiveram a escravidão...
- Mas me conta índio velho, essa tal de democracia já veio pro Brasil?
Mas claro, vocês não sabiam? Claro que veio, só que demorou um bocadito...
- Demorou?
Sim, primeiro teve 67 anos de monarquia que o rei nunca apeava do poder só se morresse, depois uma tal de República Véia que durou 40 anos em que os coronéis trapaceavam com voto de cabresto, fraudes, compra de votos, curral eleitoral e usavam até jagunço pra não perder eleição.
- Coronel? Mas aqui no Rio Grande não tem esse Coronel...
Não, mas aqui tinha os caudilhos que é quase a mesma cosa, que ganhavam todas as eleições democráticas mesmo que tivessem que degolar a indiada inimiga à moda gravata colorada em nome da democracia.
- Bueno, mas depois veio o Getúlio e a democracia, certo?
Não é bem assim. Primeiro Getúlio e mais 15 anos sem nenhumazinha eleição pra presidente... Getúlio até criou um tal de Estado Novo no lugar.
- Ala-puxa tchê e quando afinal chegou a tal de democracia pra esses pagos do Patrão Velho?
Bem, teve o Jânio, mas ele renunciou e aí devia democraticamente assumir o vice, João Goulart, mas esse os milicos não queriam.
- E daí?
E daí os milicos chutaram os baldes puxaram os trabucos e fizeram o povo virar manada na tal de Ditadura Militar que durou mais uns 20 anos sem eleição.
(Risadas e mais risadas)
Foi então que o patrão do CTG deu um murro na tabua do galpão e disse:
Pois chega gaudério, chega, o prêmio é teu, mas para de contar tanta mentira que ninguém agüenta mais. Desde quando pode ter democracia que quase ninguém vota, tem escravos e o povo vira gado e ainda mata mais de 3 mil?
E foi essa a mentira vencedora!
Embora seja verdade.
Vocês acreditam em democracia não é?
Prof. Péricles
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