quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
O GALO DESAFINADO
Um amigo, nos tenebrosos anos da ditadura militar, passou por momentos terríveis.
Logo após a decretação do “Pacote de Abril”, em 1977, no governo pendular do General Geisel (pendular porque oscilava entre medidas de abertura política e retrocessos) ele foi, literalmente sequestrado, quando saía do colégio onde fazia o segundo grau e era líder do grêmio estudantil, lá pelas 23 hs de uma quarta-feira.
Jogado ao solo de um carro, foi imobilizado sob a mira de um trezoitão, como se dizia naquela época, sendo levado para algum ponto da periferia de Porto Alegre. Durante o trajeto não pode levantar a cabeça e foi ameaçado de morte o tempo todo.
Quando o carro finalmente parou, foi jogado para dentro de uma pequena casa de material, com telhadinho clássico, onde passou imediatamente a ser brutalmente agredido por três e às vezes quatro agressores simultaneamente, enquanto outros dois apenas assistiam. Quando as agressões paravam, um dos “assistentes” fazia perguntas que ele não sabia e outras que ele não queria responder.
Sofreu uns cem números de socos, tapas e telefones, que eram golpes dados com as mãos espalmadas ao mesmo tempo em ambos os ouvidos que davam uma sensação difícil de definir de tão angustiantes (às vezes com saco na cabeça que não lhe permitia ver nada, nem se “encolher” ante o golpe iminente).
A boca ficou tão inchada que adormeceu de forma que ele achava que estava com todos os dentes quebrados, mas não conseguia verificar se era verdade.
Os rins foram tão atingidos por chutes e pisões com o salto de botas que até hoje carregam sequelas.
Seu padecimento durou dias. As pancadarias eram realizadas a qualquer hora e quando ele não estava apanhando era trancado num cubículo totalmente vazio e sem luz onde ficava por um tempo indefinido, imaginando quando seria a próxima sessão de torturas.
Certa feita, lá pela terceira madrugada, sua atenção foi despertada pelo cantar de um galo. Ele lembrou do galo vermelho cantador de sua vó e riu por entender que esse, cantava algo que desafinado. Ficou pensando quem era ela para ser crítico do canto dos galos.
Estabeleceu-se, então, uma estranha relação entre ele e aquele galo desafinado de quem só ouvia o canto. De certa forma, tornou-se seu amigo invisível, como definem as crianças os seus amigos imaginários.
Aquele cantador da madrugada era o único elo de sua razão que ameaçava abandona-lo com o mundo além daquelas paredes lúgubres que, naquele momento, pareciam ser seu túmulo.
A partir de então, até mesmo quando estava apanhando pensava no “seu amigo” e que, mais tarde, ouviria o seu canto novamente e então poderia julgar se estava afinado ou não.
Foi a forma que encontrou para distrair a mente, manter-se calado e não enlouquecer.
Finalmente, sem aviso, foi carregado, já que não conseguia caminhar, até o mesmo veículo que o trouxera, e novamente circulou sem que soubesse para onde iria. Imaginou que seria fuzilado em algum lugar ermo.
Mas, não foi isso que aconteceu. O carro freou em determinado ponto de uma Porto Alegre adormecida na madrugada, e foi jogado na calçada, onde permaneceu semiconsciente, sonhando embolado com a mãe, com o galo, com a avó, a namorada, o mar e outras coisas confusas, sentindo gosto de sangue na boca, até o sol despontar, quando foi visto por transeuntes e alguma alma piedosa pediu socorro, sendo, então, levado para o hospital.
Hoje ele já esqueceu a cara dos agressores e até mesmo o tom maligno de suas vozes, mas não esqueceu o cantar do galo amigo.
Diz que foi sua âncora que o prendeu a realidade e salvou sua lucidez.
Atualmente, predomina uma ciranda de cretinices espalhadas pelos meios reais e virtuais que transformou-se em uma inédita tortura aos que acreditam na justiça social, na solidariedade e no respeito às dores alheias.
São tantos os cânticos de ódio, os hinos ao preconceito, tão absurdas as agressões aos valores mais fraternos e democráticos que necessita-se, urgentemente, de elos e âncoras que finquem as relações saudáveis ao terreno da lucidez política.
Num mundo em que a morte de alguém é comemorada com escárnio é vital renovar a interação com o que é certo e errado e lembrar que o ódio pode enlouquecer.
A fé de que o homem seja majoritariamente bom e que os imbecis são minoria, deve ser a âncora que assegure a sobrevivência da razão sobre o sentimento de vingança.
Todos, os que acreditam no poder do bem, estão precisando de um galo desafinado, para suportar os golpes da prepotência e da covardia e para não esquecer que os que agridem hoje são, os mesmos que agrediram ontem.
Quanto ao galo desafinado, ainda aparece nos sonhos do meu amigo e seu canto enternece como fonte de coragem e esperança.
Muito obrigado, galo desafinado.
Prof. Péricles
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
PRECISAMOS FALAR SOBRE A MISS CANADÁ
Por Nathali Macedo
No século da diversidade, há alguma coisa mais antiquada do que concursos de beleza? Pior: Há algo que faça menos sentido do que eleger apenas uma mulher que represente uma “beleza universal” que simplesmente não existe?
O Miss Universo, maior deles, é mais obsoleto que aparelho de fax. Mais cafona que os quadros de Romero Britto. Mais desnecessário que os tweets de Janaína Paschoal.
Mas a indústria da moda insiste, e esses concursos atravessam os anos, invictos, e se mantêm como um pedaço horrendo de tempos que já deveriam estar superados: Os tempos em que promover a futilidade, a competição feminina e a ditadura da beleza não é só aceito – é lucrativo.
Este ano, o vexame não poderia ter sido maior: A Miss Canadá Siera Bearchell foi duramente criticada nas redes – e pelos apresentadores da Band, Cássio Reis e Renata Fan, é bom ressaltar – por estar supostamente acima do peso. “Ela não tem corpo de miss”, repetiam insistentemente.
Que os concursos de beleza não dão visibilidade a mulheres gordas de verdade nós já sabemos, mas dizer, em pleno século XXI, que uma mulher indiscutivelmente magra está acima do peso é um golpe na jugular. Beira o insano. (Um parêntese: meu manequim é 44 e eu me sinto maravilhosa).
Ter “corpo de miss”, lamento, está fora de moda. A ressignificação da beleza é um sintoma do empoderamento feminino, quer queira a indústria da moda, quer não.
A indústria da moda e a indústria da beleza são, aliás, unha e carne, são quase uma coisa só. Uma colabora com a outra e ninguém sai perdendo – ninguém além de todas nós, é claro.
Quanto, em números, vale a nossa autoestima para a indústria da beleza?
Quantos bilhões ela deixaria de lucrar se todas as mulheres acordassem amanhã se sentindo fabulosas? Quantos shakes milagrosos seriam jogados no lixo, quantas cintas modeladoras teriam de ser incineradas, quantos centros de estética iriam à falência?
Penso, não sem algum pesar, que é esta a lógica cruel da indústria da beleza: Quanto mais nos sentirmos gordas, feias e insuficientes, mais seremos lucrativas. Não importa se isso custa vidas de mulheres anoréxicas/bulímicas, ou das que morrem em procedimentos estéticos mal feitos. Não importa se isso custa a felicidade de quem vive todos os seus anos buscando uma beleza fictícia.
Permitam-me repetir o óbvio: O padrão de beleza não existe na realidade – é criado na mídia, retocado no photoshop e endossado pelos concursos de beleza e blogueiras fitness.
A beleza plástica reverenciada por estes concursos é uma fraude: As mulheres reais – que pagam contas, vão ao supermercado, buscam o filho na creche – nunca chegarão lá, não importa o quanto se esforcem, e não importa o quanto a indústria da beleza procure convencê-las de quem basta que se esforcem. Não basta.
Não basta ser linda, tem que ter barriga de tanquinho e espaço entre as pernas. Concursos de beleza são cruéis demais para aceitarem menos que a perfeição. São verdadeiras máquinas de opressões – que o digam Melissa Gurgel, Miss Brasil 2014, linchada nas redes por ser nordestina, ou Lupita Nyong, vítima de ataques racistas ao ser eleita a mulher mais bonita do mundo pela Revista People no mesmo ano, e, agora, Siera Bearchell.
Quando acordarmos para o fato de que podemos simplesmente recusar este lugar de bibelôs que desde sempre nos impuseram, quando nos convencermos de que beleza não se resume a barrigas chapadas e rostos perfeitos, talvez a “indústria da beleza” compreenda finalmente que somos mais que uma casca.
Comece uma revolução: Ame o seu corpo.
sábado, 4 de fevereiro de 2017
O ESCÂNDALO DO MASSACRE DOS PRESOS
Por José Ribamar Bessa Freire
Mais uma “pérola” acaba de ser atirada aos “porcos”, após o massacre de 56 presos, mortos durante a rebelião que eclodiu no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, 1º de janeiro, Dia da Fraternidade Universal.
O escândalo comoveu o mundo inteiro, até o papa Francisco, em Roma, manifestou sua dor. Mas o governador do Amazonas José Mello Merenda achou a preocupação exagerada, afinal entre os mortos “não tinha nenhum santo. Eram estupradores, matadores”, minimizou o governador em declaração à mídia.
Essa justificativa implícita do massacre foi suficiente para empoderar os “porcos”, que começaram a chafurdar sobre a “pérola” em chiqueiros das redes sociais. Um deles aplaudiu o governador Melo-Merenda, acrescentando que “são 60 bandidos a menos, fora de circulação, o que com certeza, traz mais segurança para a cidade“. Uma jovem “porca”, embora dizendo ser contrária às mortes, curtiu e compartilhou, confessando que “cada criminoso preso ou morto diminui os riscos que correm nossos filhos, porque são menos marginais soltos nas ruas”. Será?
A retórica nauseabunda do melo-merendismo joga todo seu peso epistemológico na aparência das coisas. O raciocínio – digamos assim – pretende ser convincente, mas é bem simplório: se não houvesse nenhum assassino, ninguém seria assassinado. Numa sociedade que tem cem assassinos, se sessenta deles morrem, reduz em 60% a possibilidade de homicídios. Os bandidos mortos, afinal, colheram o que plantaram. “É melhor que morram eles, que têm culpa no cartório, do que os nossos filhos, que são inocentes” – postou uma auxiliar de enfermagem.
O Secretário Nacional da Juventude, um tal de Bruno Júlio (PMDB) escolhido para o cargo por Michel Temer, escancarou, aloprou e declarou em sua página pessoal do Facebook aquilo que Temer, Melo Merenda e Alexandre Moraes pensam, mas por enquanto ainda têm vergonha de assumir publicamente: “Tinham que ter matado mais presos, deveria haver uma chacina por semana”. Menos bandidos, mais segurança.
É terrível ser desgovernado nacionalmente e estadualmente por duas figuras execráveis, que investem na aparência das coisas quando garantem que construir mais penitenciárias aumentará a segurança do “cidadão de bem”, que – coitadinho! – acredita naquilo que vê: o sol dando volta em redor da terra.
Essa justificativa implícita do massacre foi suficiente para empoderar os “porcos”, que começaram a chafurdar sobre a “pérola” em chiqueiros das redes sociais. Um deles aplaudiu o governador Melo-Merenda, acrescentando que “são 60 bandidos a menos, fora de circulação, o que com certeza, traz mais segurança para a cidade“. Uma jovem “porca”, embora dizendo ser contrária às mortes, curtiu e compartilhou, confessando que “cada criminoso preso ou morto diminui os riscos que correm nossos filhos, porque são menos marginais soltos nas ruas”. Será?
A retórica nauseabunda do melo-merendismo joga todo seu peso epistemológico na aparência das coisas. O raciocínio – digamos assim – pretende ser convincente, mas é bem simplório: se não houvesse nenhum assassino, ninguém seria assassinado. Numa sociedade que tem cem assassinos, se sessenta deles morrem, reduz em 60% a possibilidade de homicídios. Os bandidos mortos, afinal, colheram o que plantaram. “É melhor que morram eles, que têm culpa no cartório, do que os nossos filhos, que são inocentes” – postou uma auxiliar de enfermagem.
O Secretário Nacional da Juventude, um tal de Bruno Júlio (PMDB) escolhido para o cargo por Michel Temer, escancarou, aloprou e declarou em sua página pessoal do Facebook aquilo que Temer, Melo Merenda e Alexandre Moraes pensam, mas por enquanto ainda têm vergonha de assumir publicamente: “Tinham que ter matado mais presos, deveria haver uma chacina por semana”. Menos bandidos, mais segurança.
É terrível ser desgovernado nacionalmente e estadualmente por duas figuras execráveis, que investem na aparência das coisas quando garantem que construir mais penitenciárias aumentará a segurança do “cidadão de bem”, que – coitadinho! – acredita naquilo que vê: o sol dando volta em redor da terra.
Não divulgam as estatísticas que os presídios abrigam cerca de 10% de homicidas e que o restante é formado por ladrão de galinha, vendedores de maconha e outros delitos equivalentes. Só ficam de fora os que desviam recursos da merenda escolar e da saúde.
Por isso, é conveniente destacar a conclusão do desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Verani. Numa postagem, escreveu:
“Por uma Sociedade Sem Prisões! O massacre no presídio de Manaus não será o último. Outras mortes virão, pois a finalidade da pena privativa de liberdade é exatamente a produção da degradação humana, até o aniquilamento da pessoa. A prisão é irreformável e inumanizável, é uma instituição incompatível com a condição humana. Enquanto não ocorrer a sua abolição, o Poder Judiciário e o Ministério Público poderiam contribuir para reduzir esse grande encarceramento”.
“A maior parte das condenações à pena privativa de liberdade poderia ser evitada, sem mencionar as prisões preventivas decretadas sem qualquer fundamentação jurídica. Os juízes e promotores poderiam despojar-se da sua ideologia punitivista, além de garantir os direitos dos presos. Se a prisão não cumpre as garantias da Constituição Federal, do Código Penal, do Código de Processo Penal, da Lei de Execução Penal, torna-se ilegal a prisão, e o preso deve ser solto. Abaixo a ideologia da repressão! Por uma sociedade sem prisões!”.
Dois dias após a postagem do desembargador Sergio Verani e horas após Michel Fora Temer declarar que “não há chances de novas rebeliões em presídios”, ocorreu dia 6, Dia dos Reis Magos, outro “acidente”, outra chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, com 31 mortos, entre os quais presos provisórios que não haviam sido condenados em instância final de julgamento.
Tal como desejado pelo Secretário Nacional da Juventude, o tal do Bruno Júlio, investigado por agredir a mulher em Belo Horizonte.
Por isso, é conveniente destacar a conclusão do desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Verani. Numa postagem, escreveu:
“Por uma Sociedade Sem Prisões! O massacre no presídio de Manaus não será o último. Outras mortes virão, pois a finalidade da pena privativa de liberdade é exatamente a produção da degradação humana, até o aniquilamento da pessoa. A prisão é irreformável e inumanizável, é uma instituição incompatível com a condição humana. Enquanto não ocorrer a sua abolição, o Poder Judiciário e o Ministério Público poderiam contribuir para reduzir esse grande encarceramento”.
“A maior parte das condenações à pena privativa de liberdade poderia ser evitada, sem mencionar as prisões preventivas decretadas sem qualquer fundamentação jurídica. Os juízes e promotores poderiam despojar-se da sua ideologia punitivista, além de garantir os direitos dos presos. Se a prisão não cumpre as garantias da Constituição Federal, do Código Penal, do Código de Processo Penal, da Lei de Execução Penal, torna-se ilegal a prisão, e o preso deve ser solto. Abaixo a ideologia da repressão! Por uma sociedade sem prisões!”.
Dois dias após a postagem do desembargador Sergio Verani e horas após Michel Fora Temer declarar que “não há chances de novas rebeliões em presídios”, ocorreu dia 6, Dia dos Reis Magos, outro “acidente”, outra chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, com 31 mortos, entre os quais presos provisórios que não haviam sido condenados em instância final de julgamento.
Tal como desejado pelo Secretário Nacional da Juventude, o tal do Bruno Júlio, investigado por agredir a mulher em Belo Horizonte.
O país pode, no entanto, ficar tranquilo, porque o ministro Alexandre de Moraes jura que “a situação nos presídios não saiu do controle”. Não explicou do controle de quem.
É esse lixo que governa hoje o país.
José Ribamar Bessa Freire, professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio).
José Ribamar Bessa Freire, professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio).
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
IRREVERSÍVEL
Sinto uma profunda tristeza ao ler que o estado de D. Marisa é gravíssimo e irreversível.
Irreversível.
Isso quer dizer, sem volta, sem retorno. Não é possível reverter.
Ou, sem esperança de voltar.
Lembro de sua história humilde e de seu sorriso simples nas poucas vezes que apareceu publicamente como primeira-dama, até porque, a mídia detestava divulgar a sua imagem.
Uma mulher do povo que como o seu povo não se sentia inteiramente à vontade circulando nos palácios do poder, nas luzes da ribalta.
Lembro da frase de Lula quando do episódio da sua quase prisão ao dizer inconformado “um pedalinho que ela comprou porque queria dar para os netos”.
Um pedalinho para os netos, no centro do poder, com seu próprio dinheiro. Coisas típicas do nosso povo.
Irreversível. Não volta. Como os pingos da chuva que já caiu. Chuva já chovida.
É tão doloroso quando nos tiram a esperança.
Eu me pego pensando quantas coisas são irreversíveis nesse país.
Por exemplo, o ódio fruto da intolerância, pois, toma conta de todo o ser e se reflete de múltiplas formas em todas as ações do sujeito, sempre criando justificativas para o injustificável. Será irreversível?
Talvez irreversível seja a consciência adquirida pelo povo depois desses 14 anos. Nenhum golpe conseguirá apagar da memória das pessoas que elas possuem direito à felicidade, à educação, à vida digna. Essa consciência tal qual aconteceu no Araguaia depois da guerrilha, jamais poderá ser extirpada por decreto.
E será irreversível o preconceito estampado no olhar daquele deputado racista e homofóbico e de seus seguidores que acham engraçado perseguir pessoas por suas escolhas e origens?
Ou a hipocrisia dos que dizem seguir a doutrina de um homem que foi perseguido e condenado sem provas em Jerusalém e hoje repetem seus carrascos.
Prefiro acreditar que o quadro de D. Marisa não é irreversível e sim, irretocável.
Poucas coisas são realmente irreversíveis...
Humanamente tudo o que acontece agora se reverterá sim, um dia, em poesia, flores e cantos em nome daqueles que dedicaram à vida pela causa dos mais frágeis.
Até mesmo os pingos da chuva evaporam e sobem aos céus para se tornarem chuva novamente. Chuva que será chovida.
A memória de D. Marisa, um dia, quando o golpismo for apenas páginas nos livros de história, se reverterá sim, em canções de luta e na multiplicação de lendas populares.
Se reverterá em gotas de luz na passagem dos espíritos que se preocupam com a dor alheia, para a outra dimensão da existência.
Irreversível, mesmo, só o sentimento de perda e de injustiça que deve preencher os corações de todas as pessoas de bem desse país, com a perda de uma grande mulher do povo.
Prof. Péricles
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
O SEGREDO DE LULA
O segredo da força de Sansão, conforme as antigas escrituras, estava em seus cabelos. Num belo dia, sua guria, Dalila, indignada zaaap... cortou seus cabelos e o pobre Sansão virou Sansinho.
A força do deus nórdico Thor estava em seu martelo, do Popeye no espinafre e do He-Man na sua espada mágica.
Parece que todos os fortes possuem um ponto específio, algo mágico em que resida sua força. Pelo menos é assim que se costuma pensar quando não se entende a força alheia.
Lula é um forte. Mas que isso, Luis Inácio é um campeão de carisma e votos, e parece que a turma da "Ponte para o Futuro", por não entender sua força, se pergunta onde afinal está o seu segredo.
Como entender que depois do maior massacre público já organizado contra a figura política de alguém, após centenas e centenas e centenas de capas de revistas e reportagens "bombásticas" dirigidas e francamente contrárias e milhares de horas televisivas, além de incontáveis boatos e acusações sem provas, Lula ainda apareça na liderança da intenção de votos em todas as pesquisas eleitorais?
Isso supera qualquer lógica. Onde está afinal força desse homem que já deveria estar execrado e coma prisão pedida pelo próprio povo, que, ao contrário, impede sua prisão?
Parece que não é nos cabelos, nem no espinafre ou em qualquer espada mágica.
Uma boa dica para o entendimento desse mistério pela turma da "Ponte do Futuro" é a origem do objeto.
Martelo, espinafre, espada, são, digamos assim, objetos exteriores ao indivíduo. Despojado o indivíduo dessas exterioridades ele enfraquece.
Mas, a força do sindicalista pernambucano que se tornou presidente não está na exteriorização, e se assim o fosse já estaria despojado pelo STF.
A força de Lula está em algo além dele mesmo, anterior e interior à sua personagem.
Vem dos ideais de fraternidade e na crença da construção de uma sociedade mais justa e esses ideais não são propriedade ou exclusividade dele, ao contrário, são utopias acalentadas por milhões.
Quando algo reside no exterior é mais fácil, afasta-se o indivíduo desse algo e acabou, mas, como afastar Lula do imaginário de igualdade de milhões de miseráveis que com ele descobriram que também são cidadãos e que seus filhos também merecem e podem estudar?
Era nisso que residia a força de Getúlio Vargas, de Jango, de Brizola, de Fidel Castro, de Hugo Chaves, de Mandela.
O segredo de Lula está no povo, e, infelizmente para os autoritários que precisam manter as aparências de uma democracia, é o povo que decide uma eleição presidencial.
Parece que depois de tantas esforços a galera golpista começa a entender isso e é justamente isso que faz que aumente sensivelmente o perigo em torno de Lula, pois, geralmente os donos do poder se equivocam achando que eliminando a pessoa conseguirão eliminar as idéias.
Prof. Péricles
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
O MINISTRO MORTO E O AVISO
Assassinatos políticos são muito complicados, e perigosos.
O atentado que não dá certo pode denunciar seus autores e não apenas destrui quem o organizou mas afetar diretamente os interesses políticos e econômicos que lhe deram causa.
Por isso, apesar das teorias da conspiração, o assassinato político, é um recurso extremo, usado apenas por grupos que têm tanto a perder com a atuação de seus alvo que até vale à pena arriscar e isso, em política, onde inúmeros são os corredores que podem ligar amanhã os que hoje são rivais, é relativamente raro.
O suicídio de Vargas até hoje tem crentes em um assassinato.
Mas, politicamente isso seria totalmente improvável.
Vargas estava isolado, sem apoios significativos, sofrendo até ultimato dos militares para renunciar. Matar Vargas seria como gastar pólvora em caça morta. Arriscar tudo num jogo que já estava ganho.
Já o assassinato por briga na prisão de seu secretário e amigo particular, Gregório Fortunato, alguns anos depois, sim, tem as cores fortes de uma queima de arquivo, já que sua delação poderia arruinar muita gente que havia participado da farsa da Rua Toneleros e não tinha outra maneira de impedir o “Anjo Negro” de falar.
O assassinato político não é um assassinato de bandidos que brigam no botequim. Não é um ato impulsivo.
Interessante mesmo é a morte de João Goulart no exterior.
Jango estava numa situação complexo que justificaria um assassinato assim como não justificaria o risco.
Os donos do Brasil preparavam-se para escancarar o projeto inevitável de abertura política pondo fim à execrável ditadura militar. Jango, voltando, seria uma pedra no sapato dos que buscavam controlar essa abertura, mas, na ocasião não se poderia arriscar até onde essa pedra no sapato poderia ferir ou ser insignificante.
Mistério.
Agora, com a morte do ministro do STF novamente se discute se o acidente fatal foi mesmo um acidente ou se foi um atentado premeditado.
Além de fazer força para levar a sério as investigações que virão as perguntas que se devem formular é: havia algo que o ministro pudesse fazer que atingisse o interesse direto de grupos e que esses grupos não pudessem evitar de outra maneira?
Quem, no meio político poderia se sentir ameaçado pelo ministro? Havia nos processos de que era relator potencial para atingir interesses maiores, digamos mesmo, internacionais? Quais? Ele poderia levar adiante esse potencial ou era “negociável”?
No caso da morte do Ministro, a sociedade deve exigir uma investigação rigorosa, pois há elementos de potência para um crime político.
E se toda a aparência for de um acidente comum é bom lembrar Marx quando dizia “Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária”.
Para inviabilizar um governo e derrubar uma presidenta eleita, forças poderosas usaram de recursos imensos que prejudicaram até aliados, arruinaram grupos econômicos poderosos como o das construtoras e fabricaram uma crise econômica que teve a colaboração de muita gente.
Talvez o acidente seja apenas e tão somente, um aviso.
Correntes silenciosas movem-se no mar de lama que a política brasileira tem se transformado e vozes silenciosas as vezes gritam, mas é preciso ouvidos apurados para ouvi-las.
Ressentidas por 14 anos sem o poder, que consideraam uma propriedade sua, elas nos avisam: Não esqueçam de quem manda nessa maloca.
Prof. Péricles
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