Já faz algum tempo que esse blog denuncia o perigo do retorno do fascismo, não apenas no Brasil, como no mundo.
Esse horror que separa as pessoas, discrimina, excluí e provoca guerra entre nações, já mostra sua cara e vontade de retornar desde o final dos anos 90 quando em países como Grécia, Áustria e França, entre outos, formaram partidos poderosos.
Como sempre, o fascismo precisa do ódio, das acusações e calúnias, do preconceito, e, principalmente, do medo para se apresentar como uma opção válida.
Atualmente, o golpismo no Brasill e a saída do Reino Unido da União Européia (Brexit), escancaram essa triste realidade.
Sobre a saída do Reino Unido, leia com atenção o texto abaixo, onde Mauro Santayana, de forma muito clara, nos fala sobre as causas mais escondidas e as consequências mais temidas do "Brexit.
Prof. Péricles
Mauro
Santayana
Depois
de intestina disputa que rachou a sociedade inglesa, cujo ápice foi o
emblemático assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um fanático fascista
que, ao atacá-la a tiros, gritou “a Grã Bretanha primeiro!”, slogan inspirado,
assim como o de “o Brasil acima de tudo!”, no “Deutschland Uber Alles!”, do
hino nazista, o Reino Unido cada vez
mais desunido - votou, finalmente, por sua saída da União Europeia.
O
resultado provocou terremotos internos e externos. As bolsas caíram em todo o
mundo. O primeiro-ministro David Cameron já marcou data para se afastar do
cargo.
E pode
levar à desagregação do país, já que a Irlanda do Norte e a Escócia anunciaram
que pretendem convocar plebiscitos próprios para decidir, a primeira, se
continua na União Européia, e a segunda, se vai unir-se à República da Irlanda.
Além
disso, a libra já caiu mais de 10% com relação ao dólar e ao euro, e os
alimentos e as viagens para o exterior ficarão mais caras, porque em alguns
produtos, como leite e manteiga, e certos vegetais, por exemplo, mais de 50% do
que é consumido na Inglaterra vem do continente, no outro lado do canal.
Comandada
pela direita e pela extrema direita, e provocada principalmente pela ignorância
característica dos dias de hoje - milhares de britânicos entraram no Google
para perguntar, às vésperas do plebiscito, o que era “União Européia” - e pelo
medo e a aversão aos imigrantes, a vitória do “Brexit” é mais um poderoso
exemplo do comportamento burro, deletério e ilógico do fascismo.
Com a saída da UE, a Inglaterra tende a
perder influência na Europa; a enfraquecer-se frente a eventuais adversários
extracomunitários; a empobrecer economicamente, diminuindo seu acesso a um dos
maiores mercados do mundo; além de aumentar seu isolamento no âmbito
geopolítico e sua histórica dependência dos Estados Unidos.
Uma
situação que deveria servir de alerta, no Brasil, para aqueles que querem
acabar com a UNASUL e o Mercosul a qualquer preço e substituí-lo por “acordos”
de livre comércio desiguais com países e grupos de países altamente
protecionistas, como a própria União Europeia, que contam com capacidade de
pressão muito maior que a nossa.
Decepcionada
e frustrada com os resultados das urnas, a juventude inglesa reclamou que seu
futuro foi cortado, lembrando que os jovens britânicos perderam, entre outras
coisas, a chance de trabalhar em 27 diferentes países, e engrossou um
manifesto de 3 milhões de assinaturas que pede a realização de novo plebiscito
- hipótese improvável, praticamente impossível de avançar neste momento, diante
da indiferença e do egoísmo dos vitoriosos.
Nunca
é demais lembrar que o fascismo, também em ascensão na Inglaterra de hoje,
rejeita e despreza - apaixonadamente - o futuro.
Mesmo
quando se disfarça de "novo" e disruptivo, como ocorreu com a
Alemanha Nazista, ele está profundamente preso ao passado, como mostrou
claramente Mussolini - e também Hitler com seus monumentos, estátuas, bandeiras
e desfiles - ao tentar emular, canhestramente, a cultura greco-romana e
repetir - nesse caso, na forma de tragédia, com as seguidas derrotas
militares italianas - a glória perdida da Roma Imperial.
O
fascismo - ao contrário do que muitos pensam - não é glorioso, mas
medroso.
Fascistas
temem, paradoxalmente, aqueles que consideram mais fracos, e por isso são
“apolíticos”, homofóbicos, eugenistas, antifeministas, racistas, intolerantes,
discriminatorios, xenófobos, anti-culturais e contrários ao voto
obrigatório e universal.
A
suástica, girando sobre seu eixo, reproduz o movimento concêntrico de
alguma coisa que se encerra em si mesma, repelindo tudo que venha de fora, como
uma tribo ignorante e primitiva, um molusco que fecha velozmente sua concha, ou
um filhote de porco espinho ou de tatú que se enrola, tapando a cabeça, ao
primeiro sinal de ruído ou de aproximação.
Da
mesma forma que faziam, patologicamente, os soldados nazistas, educados
no temor da “contaminação” judaica, cigana ou bolchevique, que se comportavam
como diligentes técnicos de dedetização tentando conter uma epidemia,
fechando-se a qualquer razão ou sentimento, ao matar récem nascidos e crianças
de três, quatro, cinco, seis anos de idade, escondidas debaixo da cama, ou
trancadas na derradeira escuridão das câmaras de gás, da forma mais fria e
repulsiva, como se estivessem exterminando, simplesmente, pulgas, percevejos e
ratos, ou esmagando ovos de barata.
O
Brexit - a saída da Inglaterra da União Européia - é mais um perigoso aviso,
entre os muitos que estão se repetindo, nos últimos tempos - como sinais
proféticos - do próximo retorno de um fascismo alucinado e obtuso.
Um
retorno que se dá, e se torna possível, mais uma vez, pela fraqueza e indecisão
da social democracia, a existência de uma pretensa massa de “defensores” do
Estado de Direito e da liberdade, amôrfa, apática, inativa; e de uma esquerda
que apenas espera, de braços cruzados, também encerrada, em muitos países do
mundo, em seus próprios sites e grupos, disfuncional, estrategicamente confusa,
passiva, inerme e dividida, sem reagir ou defender-se quando atacada, nem mesmo
institucionalmente, como um letárgico bando de carneiros pastando ao sol.
O medo
fascista está de volta.
E não
se limitará à Inglaterra.
Se não
for contido o avanço de sua imbecilidade ilógica, por meio do recurso ao bom
senso e à inteligência, outros países da UE, tão xenófobos quanto racistas,
seguirão o reino de Sua Majestade em seu caminho de intolerância,
isolamento e fragilidade.
Porque
o fascismo só avança com a exploração do medo e do egoísmo.
O medo
de quem se assusta com o outro, repele o que é diferente e rejeita o futuro e a
mudança.
O
egoísmo daqueles que preferem erguer muros no lugar de derrubá-los; que se
empenham em separar no lugar de unir; que escolheriam, se pudessem decidir,
matar a fecundar, saudando a morte, como fazem em muitos países do Velho
Continente e em outros lugares do mundo, jovens e antigos neonazistas de
coração estéril, com a artrítica, tremente, mão espalmada levantada, no
ressentimento raivoso de uma velhice amarga, que cultiva e adora o deus do ódio
no lugar de celebrar a vida, o amanhã, a alegria, o encontro e a diversidade.