Os fatos ou períodos
históricos costumam ter uma “cara” que fica registrada no imaginário popular.
Por exemplo, impossível
falar sobre o apartheid sem lembrar a cara de Mandela.
No Brasil, é impossível
falar sobre a Era Vargas sem lembrar a cara do dito cujo.
Desde a Revolução de 30
até seu suicídio em 1954 a presença marcante é a cara do velho caudilho de São
Borja, muitas vezes com seu charuto. Tudo bem, às vezes acompanhada da cara sorridente
e otimista de JK ou os olhos esbugalhados de Jânio Quadros, mas aí já estamos
no pós-Vargas.
Já a Ditadura Militar
tem a cara de Médici.
Sei, muitos lembram de
Castelo Branco e sua cabeça colada aos ombros quase sem pescoço, mas a cara
mais marcante e sinistra é mesmo a de Médici, e para alguns de boa memória,
fazendo balõezinhos com uma bola de futebol.
Na transição da ditadura
militar para a redemocratização misturam-se caras como de Figueiredo e de
Tancredo, ou mesmo de Sarney, o primeiro presidente civil já que Tancredo fez a
sacanagem de morrer antes de assumir.
Já a crise criada no
Brasil após as eleições de 2014 andava meio que “sem cara”.
São tantos os arquitetos
do golpe que não aparecem... Como seria a cara de uma rede de televisão? Seu
logotipo ou a cara de Willian Bonner?
Seria a cara do “japonês
da federal” a cara do golpe? Ou o beiço de buldogue com caxumba do Gilmar
Mendes?
Talvez o aspecto
sinistro de mordomo de Drácula de Michel Temer?
Maior dúvida... Mais eis
que, de repente, surge a mais fiel cara do golpe.
E não poderia deixar de
ser esquisita como o seu tempo. Mas, faça-se justiça, uma cara cheia e rica em
simbolismos do momento.
Janaína Conceição Paschoal
é advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo. Sendo coautora da ação que deu início ao processo de
impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi apelida de “Musa do Impeachment”.
Alguns lembram dela como
a defensora de Mayara Petruso, a estudante que iniciou uma onda preconceituosa
e violenta contra os nordestinos no Twitter logo após a vitória de Dilma nas
eleições.
Mas, através de um vídeo
que se tornou febre na internet, ao fazer a defesa do impedimento da
presidenta, a moça mostrou para todos a cara do golpe.
Os olhos esbugalhados,
os cabelos revoltos em todas as direções retratam como ninguém o ódio fascista.
O andar, não para os
lados, mas para frente e para trás, carregando uma bandeira nacional e
esganiçando palavras às vezes incompreensíveis realçam a pirotecnia para
convencer na falta de argumentos.
Chega lembra Hitler em
seus discursos atraindo o olhar com movimentos histéricos na tentativa de,
impressionando os sentidos, fazer esquecer a falta de lógica.
As ameaças proferidas
com acentuação crescente parecem reviver Mussolini e suas ameaças de por fogo
na Itália com seu blefe de uma hipotética “Marcha sobre Roma”.
O uso de expressões
agressivas e figuradas no lugar de nomes, designando a presidente de “cobra”
lembram as ordens esotéricas secretas tão ao gosto do führer.
A reação das pessoas ao
vídeo vai do espanto ao sorriso.
Janaina vai do ridículo
ao assustador.
Alguns, dizem não levar
a sério seu surto que chega a ser definido como “engraçado”. Mas, é bom lembrar
que quando Hitler apareceu no cenário político alemão com seus discursos
teatrais, também foi definido como “coitado e possuído” ou de “engraçado”,
porém, o “engraçado” poria fogo na Europa sendo o principal artífice da maior
guerra que o mundo já viu.
Claro que a moça não tem
tanto “talento”, mas, o que ela representa é bem conhecido.
É a cara do fascismo, e
o fascismo, todos sabem ou deveriam saber... é muito feio.
Prof.
Péricles