Nesses tempos complicados que estamos
vivendo, de uma coisa a gente não pode se queixar: a falta de aprendizagem.
Poucos momentos foram tão pródigos em
lições e descobertas.
Por exemplo, juro que não sabia que o
cargo mais poderoso do Brasil fosse o de Presidente da Câmara de Deputados.
Imaginava que o Presidente fosse o agente político mais poderoso, ou o vice talvez, mas nunca imaginei que presidente da câmara fosse
o único a manter os poderes absolutistas que eu até julgava que não existissem
mais.
O presidente da câmara faz o que bem
quer. Bota em votação, tira de votação, decide como se vota, quem vota, mexe na
fila de espera, prende e arrebenta.
Grande surpresa! O presidente cheio de
limitações aos seus poderes e o Presidente da Câmara dá as cartas e joga de
mão.
Outra coisa que eu não imaginava: um
processo de impeachment pode ser aberto
contra a autoridade sem nenhuma acusação real.
Eu sempre pensei que o presidente respondesse
ao “impedimento” se houvesse indícios fortes e concretos de prática de algo
ilícito ou improbo. Afinal, a CPI do PC Farias somente incluiu a figura do
presidente Fernando Color quando apareceu um cheque que o ligava diretamente a um carro Fiat Elba envolvido em fato corrupto. Só aí, com o fato
concreto, Color passou foi “impitchmado”.
Agora aprendemos que não precisa.
Basta que o Presidente da Câmara, aquele cara mais poderoso do Brasil queira e
pronto, está iniciado o processo.
Isso é assustador pois todos nós
sabemos que o simples fato de responder a uma coisa dessas tráz desgaste à honra
do acusado, independente de culpabilidade.
É como se eu ou você respondêssemos por
roubo ou furto sem absolutamente nada indicar a nossa autoria. Mesmo inocentes o “peso” jamais sairá da nossa história.
Tudo bem, talvez eu seja mesmo
ingênuo, mas também não imaginava que a mídia pudesse criar as notícias, ou,
pelo menos, mascará-las dando ênfase a umas e ignorando outras.
Na minha santa ignorância eu
acreditava que, por ser uma concessão, a mídia estivesse obrigada por algum
código legal a transmitir todas as notícias.
Descobrimos que a mídia, que já foi
chamada de “quarto poder”, no Brasil, é o primeiro poder.
Finalmente. Eu não sabia que dignidade
e vergonha na cara pudessem ser “administradas” de acordo com as simpatias e
interesses das pessoas.
Explico melhor. Eu não sabia que gente
que se diz de bem e honrada pudesse apoiar um bandido, reconhecida e
comprovadamente bandido, desde que ele ameace alguém que não é de sua simpatia. Tipo, apoiar o traficante do bairro se esse for inimigo do teu desafeto.
Onde será que essa gente de bem guarda sua ética.
Estúpido que eu sou. Acreditava nas gentes de bem.
Tempos tristes. Tempos tensos e de
decepções.
Mas, definitivamente, tempos de
descobertas.
Prof. Péricles