quarta-feira, 10 de junho de 2015

TRABALHADORAS DE TURNOS DIFERENTES



Por Prof. Maria Alice Mendes


Quando eu volto para casa, à noite (e encerrando mais um dia de trabalho) eu volto pela Avenida Farrapos.

E os meus olhos se enchem de luzes vermelhas e mulheres quase nuas. E eu as vejo com tanta frequência, que já existe uma intimidade entre nós.

Eu olho para elas e percebo que elas entendem o meu olhar. Eu percebo que elas percebem que eu não estou nem reprovando, nem julgando.

Elas sabem que eu estou voltando, cansada, de mais uma jornada. Que eu estava trabalhando, ganhando o pão de cada dia, usando dos recursos que a vida me deu, dos talentos que me foram confiados. Das oportunidades que tive. Dos diplomas que conquistei.

Elas sabem tanto quanto eu sei: eu sei que elas também estão ali, lutando. E enfrentando o desconhecido.

Somos trabalhadoras, que trabalhamos em turnos diferentes. Mas somos a classe operária do Brasil.

É claro que há uma diferença fundamental entre nós - e a diferença está no risco.

Eu sei o que me espera, quando entro na sala de aula. Elas não sabem o que as espera, quando o cliente entra e bebe e paga pelo serviço que será prestado.

E não é piedade o sentimento que me invade, no momento em que nossos olhares se cruzam. Eu tento fazê-las ver que sou solidária. Que carrego outras cruzes, também pesadas.

Que tenho cicatrizes na alma. Que já fui humilhada, que já estive em várias encruzilhadas, acuada, que fiz escolhas erradas. Que já vivi tantos anos (e tantos enganos) que eu posso entender que a vida não é assim, tão simples, tão fácil, tão perfeitamente calculada.

Que há muitas pedras no meio do caminho e que "o mundo é um vasto mundo e que se eu me chamasse Raimundo, seria só uma rima, não seria solução."

Não, não há uma grande distância entre nós.

Mulheres são mulheres e mulheres se viram, mulheres sobrevivem e vivem conforme dá para viver.

Mas a Farrapos, a Farrapos é a minha rua noturna. Eu volto pela Farrapos. E hoje (eu nem sei por que motivo mudei a minha rota) hoje eu fui pela Farrapos.

Às quinze horas, eu estava numa Farrapos que eu não conhecia: cheia de sol, um céu muito azul, e essa árvore imensa, linda, de raízes profundas e antigas.

Então eu pensei nas operárias da noite (que certamente estariam dormindo, esgotadas). E parei no meio da avenida. E fotografei a vida. A outra face da vida.

Existem, sim, faces permitidas e faces proibidas.

Existem, sim, dívidas contraídas.


Maria Alice é professora de Português e Redação do Curso Vigor, de Porto Alegre.
Minha querida colega, das mais amadas de nosso meio.

sábado, 6 de junho de 2015

O VAIDOSO, A ARGILA E O ETERNO



Qin Shi Huang Di, desde menino tinha verdadeira obsessão pela eternidade. Morrer, definitivamente, não estava nos seus planos.

Costumava dizer que achava humilhante ter que morrer.

Já adulto, Qin tornou-se um poderoso político e terrível militar.

Foi o primeiro imperador da China, unindo todos os reinos beligerantes no ano de 221 a.C.

Padronizou pesos e medidas, ordenou o uso de apenas um idioma oficial e enfim pode se sentir senhor de um só império.

Antes, porém, agiu com extrema violência, massacrando todos os levantes contra sua autoridade e executando todas as lideranças que ameaçassem seu poder.

Qin queimou livros e mandou executar todos os sábios da China que pudessem questionar sua autoridade.

Quando, aparentemente, já não havia qualquer oposição viva ao Imperador da China, ele finalmente sossegou.

Então recrutou cerca de 700 mil operários, chefiados por um número indeterminado de engenheiros.

Na busca de uma imortalidade possível, Qin Shi Huang Di, determinou a construção da mais extraordinária tumba já imaginada.

A tumba deveria ser em tudo semelhante a uma cidade e guardada por um exército de milhares de soldados moldados em terracota, material constituído por argila cozida no forno, de cor laranja acastanhado.

O trabalho artesanal foi de uma feitura fantástica, sendo cada figura original e diferente das outras. Oito mil guerreiros, 520 cavalos e 130 carruagens de bronze em metade do tamanho natural, além de inumeráveis outras figuras como funcionários, músicos e acróbatas em companhia de valiosos artefatos de seda, linho, jade e osso. Tudo reconstituído com uma veracidade espantosa.

A finalidade de todo o impressionante exército de terracota era proteger e servir o governante em sua vida após a morte, que, inevitável, aconteceu no ano 210 a.C.

Antes de sua morte, Qin Shi ordenou a execução de todos os artesãos, engenheiros, militares, concubinas e escravos que tivessem participado dos trabalhos ou conhecesse seus segredos.

As esculturas, foram descobertas em 1974 por agricultores locais no Distrito de Lintong, em Xi'an, na província de Shaanxi.

Historiadores e arqueólogos chineses temem perturbar a delicada estrutura que de forma singular imita a vida da China nos tempos de seu primeiro imperador e escavaram relativamente pouco, e por isso, acredita-se que ainda existam sobre as terras e no fundo de poços artificialmente criados, muitos segredos e mistérios.

O corpo do déspota, ainda não foi encontrado, e algumas superstições camponesas afirmam que ele ainda está vivo saindo apenas a noite para contemplar sua obra.

Qin Shi Huang Di, o Imperador que tentou enganar a morte.


Prof. Péricles

quinta-feira, 4 de junho de 2015

QUANDO O HORROR ENLOUQUECE



Era 29 de abril de 1945.

Um destacamento da 20º Divisão Blindada do 7º Exército norte-americano marcha em direção a Dachau, um campo de concentração localizado a 20 quilômetros de Munique.

Já próximo do objetivo, encontram um comboio de 39 vagões abandonado. As margens da estrada de ferro jazem cerca de 800 corpos. Eram prisioneiros que haviam sido transferidos do campo de Buchenwald e que não sobreviveram à viagem.

O quadro é terrível. Alguns corpos mantinham os olhos abertos e neles se podia ler o horror dos últimos momentos. Todos, esqueléticos e maltrapilhos.

Percebe-se a indignação e o ódio tomando conta de todos os combatentes.

O destacamento segue em frente, agora com os ânimos predispostos à vingança.

Ao entrarem em Dachau, a primeira imagem é de um homem amarrado a um porte, sendo devorado por três dobermann, famintos. O homem já está morto, com as vísceras expostas, além de órgãos vitais como os pulmões e o coração.

Horrorizados, os soldados matam os cães a tiros.

Numa rápida revista, encontram câmaras de gás e fornos prontos para queimar os cadáveres.

Esses fatos horripilantes foram relatados pelo médico-anestesista comandante Willey, então com 30 anos, através de carta à sua esposa escrita em 08 de maio de 1945 e recentemente descoberta por sua filha Clarice no sótão da casa de seus pais.

A carta foi reproduzida na íntegra pelo Daily Mail e o ABC.

Além de relatar seu mal estar pessoal (teve vômitos ao ver o homem sendo devorado), Willey relata ainda, a histeria que se abateu sobre os militares.

Segundo ele, enquanto o coronel Felix Sparks manteve os nervos no lugar e tentou fazer seus homens agirem com naturalidade e profissionalismo, a maioria, liderada pelo comandante Bill Walsh, perdeu completamente o sangue-frio, provocando um verdadeiro massacre dos homens da SS que estavam no campo e caíram prisioneiros.

"Vamos apanhar aqueles cães nazis! Não façam prisioneiros! Não deixem nenhum SS vivo!" teria dito Walsh.

Segundo o médico, foi um massacre sem sobreviventes.

Num determinado momento, 50 soldados da SS foram alinhados numa parede. O Coronel Sparks ordenou aos seus homens que apontassem as metralhadoras, mas que não abrissem fogo. Mas de repente, um dos americanos disparou, contrariando as ordens do superior. Sparks arrastou-o da zona de fogo e questionou o soldado sobre o porquê de ter desobedecido às suas ordens. "Eles estavam a tentar fugir", mentiu o soldado. Mais tarde, veio a descobrir-se que o soldado havia seguido as ordens de Walsh, o comandante descontrolado.

Tudo foi assistido pelos sobreviventes daquele campo - que tinham sido transferidos de Auschwitz no início de 1945 - que aplaudiram a tudo e até participaram em alguns assassinatos.

O médico afirma que um soldado americano, chorando muito, disparou durante quatro minutos sobre corpos mortos dos soldados alemães.

Enquanto o Coronel Sparks, ia de um lado para outro tentando impedir os assassinatos, o anestesista a tudo assistia como que incapaz de reagir. Segundo ele “Deus me perdoe, mas vi aquilo sem que a emoção me perturbasse depois de saber das ações que as bestas da SS tinham feito".

Em outro trecho ele conta que os soldados americanos obrigaram alguns membros da SS a permanecerem durante horas na posição de saudação nazi antes de dispararem a queima-roupa, matando a todos.

O alto comando das forças norte-americanas reconheceu o massacre de Dachau e muitos oficiais foram expulsos do exército depois da guerra. Não foi o caso do Coronel Sparks que teve seu esforço para impedir o massacre reconhecido.

O comandante Bill Walsh não foi punido, pois, exames posteriores revelaram estar em estado de histeria e descontrole emocional.

A carta do médico, descoberta e divulgada tantos anos depois dos fatos, serve, para, além de mais uma vez exemplificar as atrocidades cometidas pelos nazistas, demonstrar que massacres ocorreram dos dois lados.

Mas, diante das circunstâncias que envolviam os fatos, quem somos nós para julgar. Não é mesmo?


Prof. Péricles

sábado, 30 de maio de 2015

CONFISSÃO DIGITAL




Por José Ribamar Bessa Freire


Todos nós, agora, podemos ser perdoados, inclusive os senadores do PMDB. Estão absolvidos José Sarney – com um maranhão de pecados mortais, e Eduardo Braga – com um solimões de peso superfaturado na consciência. Até o prefeito de Manaus Amazonino Mendes (PTB), que se confessou pela última vez em 1947, vai ser absolvido da pororoca de pecados cabeludos cometidos de lá pra cá, sem necessidade de encarar no confessionário o mau hálito do vigário de Eirunepé. Basta clicar na tecla enter, pela Internet.

Esse clique mágico, depois de um ato de contrição digital, é suficiente para que qualquer pecado, venial ou mortal, municipal ou federal, seja perdoado, mesmo os da presidente Dilma e do ex-governador José Serra, que na campanha eleitoral demonstraram fervorosa devoção a Nossa Senhora Aparecida e uma fé inabalável nos dogmas da igreja. Basta, para tanto, comprar por dois dólares o novo aplicativo da Apple para iPhone, iPad e iPod Touch.

Já pedi a Maria Luiza da Matta – minha assessora para assuntos digitais – que me oriente no uso do aplicativo Confession. Aproveitei para confessar três pecados cabeludos que estavam engasgados – aqui oh! – e atormentavam minha consciência. O primeiro deles: nunca terminei a leitura sequer do primeiro tomo de O Capital. O segundo: não li Derrida, Lacan e Deleuze. O terceiro: citei-os aqui e ali, dando a entender que conheço suas respectivas obras. Felizmente a descolada Malu descobriu um atalho para diminuir o tamanho da penitência. Que o velho Marx me perdoe!

Como foi possível inventar o perdão digital? Tudo começou em maio de 2010, no Dia Mundial da Comunicação, quando o Papa Bento XVI deu uma de moderninho e recomendou aos fiéis o uso das novas tecnologias, em sua mensagem “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra”.

A Apple, empresa multinacional que atua no ramo da informática, entendeu a mensagem como um sinal verde e investiu na fabricação de um novo aplicativo – o “Confession: a Roman Catholic App” – que torna obsoleto o confessionário. A geringonça, aprovada oficialmente por um bispo nos Estados Unidos, foi criada com a consultoria de dois padres especialistas no
tema e com a legitimidade de quem já produziu o macintosh.

O aplicativo começa com um exame de consciência personalizado para cada usuário e traz uma lista de possíveis pecados. Seu uso no Brasil é problemático, porque o programador não suspeitou que pudessem existir faltas tão cabeludas e inusitadas – das quais até o diabo duvida – como as cometidas por Sarney, Eduardo Braga e Amazonino. Por isso, tais faltas não constam explicitamente na lista, obrigando os pecadores a entrarem na janela com a denominação genérica de “pecados que bradam aos céus e pedem a Deus vingança”.

O aplicativo apresenta todos os passos do processo: exame de consciência, arrependimento, firme propósito de emenda, confissão, absolvição e até a penitência. O pecador internauta também pode contar os seus pecados, digitando-os um a um, usando uma senha protetora para evitar a quebra do segredo inviolável da confissão. Esse é o problema.

Na última quarta-feira, os jornais noticiaram que o aplicativo já está à venda na loja virtual da Apple.A notícia causou um rebucetê no mundo religioso e, no dia seguinte, um porta-voz do Vaticano, o padre Frederico Lombardi, divulgou comunicado esclarecendo que o programa de smartphone não foi criado para substituir confissões presenciais, mas para ajudar católicos no exame de consciência, que o sacramento continua exigindo a presença do padre e que o segredo da confissão é inviolável.

Idêntica reação teve o Vaticano no século XVI, com as inovações criadas no Brasil pelos jesuítas na confissão dos índios e, no século XX, nos Estados Unidos, com a missa drive-in, celebrada pela primeira vez, em 1953, na praia Daytona, na Flórida. Foi um escândalo. Mas depois as coisas se acomodaram.

Hoje milhares de fiéis assistem missa dominical, instalados dentro de seus carros, sintonizando o rádio do veículo para ouvir o padre. Na hora da comunhão, os celebrantes levam a hóstia consagrada de carro em carro. O produto é – digamos assim – consumido dentro do próprio carro, como se fosse um sanduíche de uma dessas redes de fast-food. Se a missa drive in foi liberada, a confissão no iPhone certamente também será. O problema é como contornar a quebra do segredo inviolável do sacramento.

Malu, minha assessora, adverte que qualquer hacker vagabundo ou ciberpirata pode invadir um computador, se apropriar da senha e revelar os podres do pecador-internauta, como fez meu primo Caio com sua própria mãe, a tia Ernestina, usando para isso o telefone. Ele imitava a forma de falar do vigário da Paróquia de Aparecida, um redentorista americano – o padre
Tomé – que parecia até o Mangabeira Unger falando português. Um dia, o ‘canalha’ telefonou pra sua mãe:

- Óh, dona Arnastina, aqui é padre Thóme, da Piroca de Aprrrecida.

A imitação foi tão perfeita, mas tão perfeita, que a titia sentiu até o bafo de alho que o Thomé tinha no confessionário. Ela caiu como um patinho. Contou ao telefone seus pecados, que felizmente não bradavam aos céus. Titia se livrou, porque anos depois Thomé largou a batina pra se casar, levando com ele para a vida laica todos os pecados do bairro e deixando os paroquianos em pânico. Felizmente, sua esposa, dona Edna, era mulher virtuosa e nunca revelou os podres de ninguém, o que seria um verdadeiro wikileaks manauara.

Violar o segredo da confissão já criou a maior celeuma no século XVI, quando os primeiros jesuítas, que desconheciam a língua dos índios, começaram a usar um intérprete nas confissões realizadas em aldeias do Rio de Janeiro e da Bahia. Os intérpretes eram, em geral, “meninos da terra”, ou seja, filhos de índias com portugueses, que dominavam as línguas tanto do pai quanto da mãe.

- Tive grande consolação – diz o padre Fernão Cardim – em confessar muitos índios e índias por intérprete: são candidíssimos e vivem com muito menos pecados que os portugueses. Dava-lhes uma penitência leve, porque não são capazes de mais, e depois da absolvição lhes dizia, na língua ‘xe rair tupã toçõ de hirumano’, que quer dizer ‘Vai com Deus, meu filho’.

O padre Serafim Leite, em sua obra magistral – História da Companhia de Jesus no Brasil (essa eu juro que li de cabo a rabo, quero ver a Aurelinha mortinha no inferno se estou mentindo) – comenta que usar um intermediário para contar os pecados criava o perigo das inconfidências e até do escândalo. Por isso, o bispo D. Pedro Sardinha proibiu o uso de intérpretes no confessionário, “mui perigoso, pernicioso e prejudicial à majestade deste santo sacramento”.

Os jesuítas recorreram ao Vaticano, que lhes deu razão e derrubou a proibição do bispo Sardinha, que seria depois jantado pelos índios. A prática dos jesuítas foi legalizada e sancionada pela igreja, sendo legitimada pelo Direito Canônico, no Canon 903, tanto para a confissão de mulheres na igreja, como para a confissão dos homens na portaria dos Colégios – que eram os dois lugares onde o intérprete atuava.

Às vezes – narra o padre João Daniel, outro jesuíta que viveu na Amazônia – a porrada comia solta e a penitência podia ser dada ANTES mesmo do pecado ser cometido. Foi o caso de um índio no Pará, que transgrediu o primeiro mandamento da Igreja: “ouvir a missa inteira aos domingos e festas de guarda”. Na hora da missa, ele foi pescar, quando voltou foi açoitado publicamente. Pediu, então, ao confessor: “padre, já que estou ferido, pode me açoitar mais, por conta do próximo pecado, porque domingo que vem vou pescar outra vez. Assim, já fico perdoado antecipadamente”.

Para quem era castigado dessa forma, que importância tinha violar o segredo da confissão? Afinal, eram apenas pecados de índios e não sigilo bancário dos Sarney da época.




José Ribamar Bessa Freire é professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de doutorado e mestrado e da Faculdade de Educação da UERJ, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indigenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).

quarta-feira, 27 de maio de 2015

ATUALIDADES - MUDANÇAS NO TABULEIRO



Mudanças políticas estão no ar.

O cheiro é forte, embora alguns façam de conta não perceber.

Estados Unidos e OTAN (leia Europa Ocidental) após alguns êxitos militares questionáveis no Iraque e na Líbia, empacaram na Síria.

China, e principalmente Rússia, ergueram em Damasco um muro intransponível.

Impossível derrubar Bashar al-Assad sem ter que bater em Putim.

Depois, a metade fascista do lado oeste da Ucrânia, derrubou o presidente eleito usando até a suástica como símbolo e o lado leste não gostou da brincadeira.

A Criméia fez plebiscito e mais de 90% aderiram a idéia da separação da pátria-mãe e anexação à Rússia.

Logo em seguida, outras regiões vizinhas da Criméia decidiram a mesma coisa.

A Ucrânia do oeste, transformada em fantoche da OTAN rugiu como podia e foi a guerra. Uma guerra impossível de vencer pois o lado leste recebeu apoio total de Putim.

Então, numa ação que demonstra a prepotência de quem se acha donos do mundo, determinaram uma espécie de “bloqueio” à Rússia, tentando isolar a velha pátria dos Czares do resto do planeta.

Se deram mal.

Em pouco tempo velhas potências descobriram que precisam mais dos investimentos russos do que poderiam admitir.

O isolamento virou piada e o feitiço se voltou contra o feiticeiro.

Os avanços das tropas ucranianas atolaram e seu presidente (que ninguém sabe direito quem é), passou a ameaçar bombardear cidades civis do leste sem que ninguém se preocupe com isso.

Num ato de pirotecnia diplomática, a OTAN voltou atrás e suspendeu o “isolamento”.

Realmente as mudanças geopolíticas são impossíveis de deter.

Isso sem falar no Irã.

O país dos aiatolás deu início a um programa nuclear de enriquecimento de urânio.

Israel, que possui um arsenal de mais de mil artefatos nucleares, ficou histérico.

Exigiu providências da ONU, de Washington, de Javé, para impedir um programa que colocaria em risco a sua segurança.

Ahmedinejah, então presidente do Irã, ironizou: “seria muita burrice nossa atacar Israel com um artefato nuclear quando eles possuem mais de mil”. Mesmo assim, criou-se um clima de guerra contra o pequeno país do Oriente Médio.

A Turquia e o Brasil, do presidente Lula, propuseram uma saída negociada que foi rechaçada por Israel e ridicularizada por elementos médios da classe média, não acostumados a ver o Brasil envolvido e respeitado em questões diplomáticas internacionais.

O Irã, fez eleições, um novo presidente foi empossado, mas as pretensões de um programa nuclear voltado à fabricação de equipamentos médicos não foram abandonadas.

Diante da persistência iraniana, do apoio russo e de outros parceiros de Teerã, a OTAN-EUA fizeram mais uma acrobacia diplomática em Lousane na Suíça e, decidiram que o Irã, tem direito a exercer o seu programa.

Israel, esse país pacifista acostumado a bombardear cidades cheias de mulheres e crianças, criticou a decisão. Acha que o Irã é muito violento para ser creditado.

Os Estados Unidos convivem hoje com a certeza de que a Rússia assumiu o papel de liderança que lhe compete e ruminam temores da construção do banco dos BRICS que ameaçam a hegemonia mundial do dólar.

Quais serão os próximos lances nesse tabuleiro onde se disputa o poder?

Veremos, mas, uma coisa é certa, os Estados Unidos entenderam que não estão jogando sozinhos, como imaginaram depois da Guerra Fria e que um lance em falso pode significar a queda do rei.

Prof. Péricles

sábado, 23 de maio de 2015

EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA



Por Luiz Fernando Veríssimo


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.

Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.

Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.


O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.

E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.

Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!

Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.

Chame os amigos junto com os seus pais.

Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau!

Viva a vida com bom humor!!!