terça-feira, 21 de abril de 2015
AS PEQUENAS PEÇAS DE AUSCHWITZ
Meu nome é Oskar Gröning, tenho 93 anos.
Perdi minha mãe muito cedo, com apenas 4 anos de idade.
Meu pai me criou sozinho.
Era um nacionalista fanático que não se conformava com a derrota da Alemanha na I Guerra Mundial. Dizia que o país fora traído pelos judeus e que eles eram os responsáveis por nossa ruína.
Meu pai, entrou num grupo paramilitar, o “Der Stahlhelm” que era de um anti-semitismo tão latente que seu lema era “E quando o sangue judeu correr pelas nossas facas, tudo ficará bem novamente”.
Desde que me conheço por gente aprendi a odiar os judeus.
Eu era fascinado por música. E por fardas também. Por isso, ainda muito jovem me aliste nas SS, a tropa de elite do Partido Nazista.
Tinha apenas 18 anos quando a Segunda Guerra Mundial começou e aos 21 cheguei em missão administrativa a Auschwitz, o maior dos campos de concentração, localizado no sul da Polônia ocupada pelo Terceiro Reich.
Trabalhei lá de 1942 até 1944.
Minha tarefa era recolher e enviar para Berlin o dinheiro dos prisioneiros. Mais tarde passei também a recolher as bagagens dos recém-chegados para que os seguintes não a vissem e não se apercebessem imediatamente do destino.
Sou, portanto, um dos que chamam de “executores” e graças ao negacionismo que a Alemanha desenvolveu, negando-se a reconhecer a culpa dos cúmplices, preferindo julgar como criminosos apenas os mandantes e dirigentes, nunca fui julgado por meus atos.
De fato, não fui responsável direto pela execução de ninguém. Mas tenho e assumo minha parcela de culpa.
Eu só percebi a real extensão da tragédia, numa ocasião em que me aproximei da área das câmaras de gás. Vi e ouvi coisas e gritos que mesmo hoje, 70 anos depois, ainda me perseguem à noite. Acordo muitas vezes com os gritos tão vivos que chego a pensar que as vítimas estão dentro do meu quarto.
Eu juro que acreditava em Hitler e em meu pai quando diziam que era dever da Alemanha destruir o judaísmo. Foi isso e acreditar que assistíamos a uma guerra limpa, de métodos avançados, que me manteve em pé, cumprindo minha missão.
Eu estava lá. Era uma pequena peça da engrenagem, um insignificante parafuso. Mas estava lá. Se se considerar isso culpa, sou culpado
Hoje, sinto uma dor que me queima a alma e gostaria muito de pedir perdão ao povo judeu, aos seus mortos, aos seus filhos. Acho que devo sim ser julgado e punido assim como todos que apenas cumpriam funções menores, mas estavam cientes do massacre.
Meu nome é Oskar Gröning e me chamam de “o contabilista de Auschwitz”.
Ao longo de décadas, Gröning respondeu apenas perante a sua consciência. Porém, ao contrário da maioria, nunca escondeu sua responsabilidade.
Depois de décadas sem que fosse abordado pela justiça, o julgamento tornou-se possível com a jurisprudência criada pela condenação, em 2011, a cinco anos de prisão, de John Demjanjuk, antigo guarda do campo de Sobibor. Foi a primeira vez que a justiça alemã condenou alguém por cumplicidade. Antes, só tinha havido condenações de dirigentes, em Nuremberg, e, depois, de comprovadamente envolvidos no extermínio.
Por motivos "legais e de prova", as acusações que o levam ao tribunal de Luneburgo, Sul de Hamburgo, dizem apenas respeito a dois meses do seu tempo de Auschwitz, na Polónia ocupada: de Maio a Julho de 1944, o período da Operação Hungria, quando chegaram "cerca de 425 mil pessoas", 300 mil das quais foram mortas nas câmaras de gás.
De certa forma, seu julgamento será também o julgamento da própria Alemanha e da postura de minimizar os crimes do nazismo, esquecendo as pequenas peças da monstruosa engrenagem responsável pelo massacre premeditado de milhões de criaturas.
Prof. Péricles
Fontes:
Jornal Hannoverische Zeitung
BBC News.
Die Welt
Huffington Post
Diário Bild
segunda-feira, 20 de abril de 2015
DA ARTE DE NASCER E VIVER
Por Annibal Augusto Gama
Você está instalado confortavelmente no ventre da mãe, que lhe provém de tudo, no morno entorno do útero, e ainda assim, de vez em quando lhe dá uns coices.
Você começou de um ovo, com a união do espermatozóide com o óvulo. A princípio, era uma coisa insignificante, e chegou a ser quase um peixe, com guelras. Foi evoluindo para a forma humana, enquanto a barriga da mãe também estufava cada vez mais.
Até que nove meses depois (ou menos, para alguns apressadinhos), começaram em torno de você uns empurrões para botá-lo para fora, quando não sabia ainda que havia um fora, mas só um dentro. Os empurrões tornaram-se insuportáveis, até que você botou a cabeça para fora, e alguém o agarrou pelo pescoço e pelos ombros e o arrancou do lugar onde você estava antes tão bem.
Este parteiro, ou parteira, ainda por cima, segurando-o pelos pés, dá-lhe umas palmadas na bunda, para que você chore e respire. Foi a primeira agressão que você sofreu, das muitas que receberá ainda durante o resto da vida. Cortaram-lhe então o cordão umbilical e o amarraram, para que você se desligasse de sua mãe, que estava inundada de suor e gemia. Limpado, foi embrulhado e posto nos braços da mãe, que logo lhe ofereceria os seios túrgidos, para que você mamasse.
Mais alguns dias, e você já mama com furor, o leite escorrendo da boca, e ainda dá umas cabeçadas naqueles seios, para que saia mais leite. Depois, outra palmadinha nas costas, e você arrota. É um menino! Ou é uma menina! Gritaram as pessoas em torno. E você quase imediatamente recebe um nome que não escolheu, e tão desastrosamente às vezes escolhido, que você o carregará com vergonha pelos anos a fora.
Principia então suportar a burocracia em que estará envolvido durante anos e anos: você vai ser registrado no Cartório das Pessoas Naturais, e batizado numa igreja e numa religião de que nunca ouviu falar.
Ainda bem que, nos primeiros meses, você apenas mame, dorme, chore e desperte. E começa então a enxergar. Vê vultos ao seu redor, e que logo se delinearão, e você reconhece primeiramente a sua mãe, pelo seu cheiro, e pelo calor de seu corpo.
Escuta barulhos, estouros e, para acalmá-lo, metem-lhe um bico de borracha na boca, até, que já mais crescidinho, retiram-lhe o bico, e você vai aprendendo confusamente que a vida é uma negação das coisas de que gostava.
As pessoas então começam a ensiná-lo a falar a sua língua, as palavras. Você aprende o alemão, o francês, o italiano, ou o português, conforme o lugar em que nasceu. Aprende também palavrões, mas imediatamente o repreendem ou lhe dão palmadas, se os repetir.
Você já se arrasta pelo chão e, logo mais, começará a ficar de pé, como os outros.
Enquanto isso, inábil, leva tombos.
Já enxerga, fora, as árvores, os passarinhos; vê a chuva que cai; sente o calorão do Verão e o frio do Inverno. Vestem-no de roupa.
Familiariza-se com os bichos, com o cachorro, com o gato, com as galinhas e com o galo. Também, já está comendo, às colheiradas, papinhas, pois o leite dos seios da mãe vai sendo cortado. Recebe presentes, como o ursinho de pelúcia. Recebe também beliscões inexplicáveis. É-lhe imposto saber que existem regras a ser observadas, e que você não o fez. É proibido mijar na cama.
Alguns anos a mais, você é levado à escola, para aprender besteiras. Mais tarde ainda, ouvirá falar do Binômio de Newton, e da hipotenusa. E terá de se defender dos meninos mais crescidos, que o agridem.
Já então, sabe ler e escrever, e escreve nos muros.
De calças compridas, admoestam-no de que é preciso trabalhar, para viver. E se você recalcitra, exclamam: “Vá trabalhar, vagabundo!” E chegam a botá-lo para fora de casa.
Terá então sabido que existe o sexo. Que você tem um pênis ou uma vagina. Que há o tal de orgasmo, e que é assim também que se fazem os filhos.
Você encontrou uma sociedade já constituída, e um Estado. Está sujeito a ele, à polícia, ao patrão. A ordem é obedecer.
Há também o pecado e outras restrições. Ameaçam-no com o inferno. E há doenças inevitáveis, e o envelhecimento.
E você afinal morre, sem ter aprendido muito bem esta dura arte de viver.
sábado, 18 de abril de 2015
HITLER, O VERDADEIRO FINAL
A verdade.
Hitler apercebeu-se da derrota iminente e engendrou um plano de fuga aproveitando-se de um acordo celebrado com os Estados Unidos para facilitar a saída dos cientistas americanos que estavam ao serviço do nazismo.
Hitler se mudou para Espanha e depois para a região argentina da Patagônia, onde ficou com a companheira Eva Braun num submarino protegido pelo presidente da Argentina e pelo ministro da guerra do país naquela época.
Depois, quando Juan Perón chegou ao poder e durante os dois primeiros mandatos do argentino, Hitler passou a esconder-se numa fazenda em Bariloche com o nome Adolf Schütelmayor. Mas esta fazenda foi destruída, o que obrigou Hitler a refugiar-se no Paraguai, então sob a alçada do ditador Alfredo Stroessner.
Quando morreu, o corpo foi enterrado num bunker.
O ditador tinha ligações com o ocultismo e com entidades internacionais que o guiaram durante a guerra.
Hitler não pertencia diretamente às sociedades ligadas à ciência do oculto, como a Thule. Mas muitos membros do seu governo faziam parte desse universo. Eles não tomaram a guerra como uma contenda entre duas partes, mas como um grande episódio de transmutação da humanidade".
A sociedade Thule dedicou-se ao estudo das raízes alemãs e apoiou o Partido Trabalhista Alemão, mas dissolveu-se quando Hitler chegou ao poder. Ainda assim, estas relações estão por trás da sobrevivência do ditador a muitos dos atentados, sorte que muitos dizem ter sido um "pacto com o diabo".
Esta é a teoria de Abel Basti, um escritor e jornalista argentino que se tem dedicado a criar a série histórica “O homem que venceu a morte”, centrada na figura de Hitler no final da II Guerra Mundial.
Para realizar esta série, Abel Basti estudou muitas obras não ficcionais sobre o dirigente nazi. Segundo o escritor, Hitler considerava-se um ser divino. Algo que está espelhado no comentário que o ditador proferiu em 1925:
"A obra que Cristo começou e não pode acabar, eu - Adolf Hitler - vou levá-la a seu termo".
Prof. Péricles
quinta-feira, 16 de abril de 2015
MORTE, UM CASO DE VITÓRIA
Por Liszt Rangel
Apesar de fazer muito tempo... Eu nunca mais esqueci de dona Juliete, 68. Ela chegou e se apresentou após uma palestra. Pelos olhinhos inquietantes, estava querendo muito falar. Mas depois que começou a sua narrativa, o seu rosto pesou e foi visível a sua tristeza. Fora diagnosticada com câncer na tireoide, um tumor do tamanho de um pequeno limão. Os médicos não lhe deram mais do que entre 4 e 8 meses, após tratamento. Foi aí que ela me perguntou:
- Que faço?
Eu lhe respondi: - o melhor!
Ela me disse: - Não sei o que é o melhor?
Eu lhe esclareci: - Aquilo que nos faz bem, que nos deixa leves, livres...
- Mas não há mais tempo, - obtemperou ela.
Eu lhe respondi sorrindo, para provocá-la (sim, porque, muitas vezes, as pessoas precisam ser provocadas através de um choque), - A senhora ainda tem quatro meses, e eu posso ter apenas doze horas!
- Como assim? - indagou ela.
- Posso sair daqui e sofrer um acidente de carro ou infarto, esclareci.
- Meu Deus, que horror! Falou ela
- A diferença entre nós dois, dona Juliete, é que a senhora já comprou o bilhete do trem e daqui há quatro meses se o trem não atrasar, a senhora vai viajar. Quanto a mim... não sei quando vou, serei pego de surpresa e isto não é bom, porque chegamos na estação sem mala alguma.
Ela pôs-se a chorar. Quando parou, disse-me que tinha duas grandes mágoas da vida.
"Eis o problema, - pensei comigo - guardamos comida podre na geladeira e depois perguntamos porque adoecemos. É claro comemos coisas estragas por muito tempo, o que há de se esperar?"
Então, perguntei:
- Quais mágoas?
A primeira foi relacionada ao marido que a traía com a sua melhor amiga! Durou mais de 30 anos.
A segunda mágoa era da filha que a maltratava em casa...
Eu fiquei calado, pensando o que diria àquela mulher que podia ser minha mãe. Sabe, não é fácil falar a quem está perdendo na vida, porém admito que o pior é não mostrar ao outro o quanto ele está perdendo, o desafio é maior, é tentar apresentar a ele uma nova perspectiva de vitória, aprender a se tornar melhor com a dor ao invés de arrastar toda a família para uma crise existencial e repetitiva de doenças. Para mim, é tudo ou nada! Não aceito pessoas indiferentes! Como diria o estranho Paulo de Tarso, "quente ou frio, nunca morno!" Então, não dá para ficar assistindo e ainda aplaudindo o espetáculo do horror! Ela estava doente e não importava agora a origem de sua dor, apesar de haver a possibilidade na mágoa, na simbologia do "nó preso na garganta" estar relacionada à doença. Segundo, a psicossomática esta energia retida, traumatiza o corpo, adoece e pode matar!
Então, tomei coragem e lhe perguntei: - a senhora acredita em algo em sua vida? Ela me disse que sim, que acreditava em uma vida além da morte. As pessoas precisam ser respeitas em suas crenças e convicções, até porque muitas vezes foi nelas que elas se agarraram e até se alienaram.
Aproveitando esta deixa, falei:
- Bem, para a senhora, se a vida continua o que nos interessa agora e no além não é porque a senhora sofre, mas como a senhora vai enfrentar a dor e a morte. Porque sejamos honestos dona Juliete, aqui ou acolá a senhora deve se preocupar com o COMO e não com o porquê. Se eu e a senhora vamos morrer, então como ficaremos no mundo dos mortos é o que nos interessa. A senhora não acha? Ela balançou positivamente a cabeça...
Agora foi a vez dela me perguntar:
- E como devo então me livrar deste peso da mágoa?
- Primeiramente, respondi-lhe, dialogue com quem lhe magoou. Exponha a quem lhe fez mal, suas queixas para dar ao outro a oportunidade de seu arrependimento e de sua tranquilidade ao abrir-se para o perdão. Caso ele não lhe perdoe, o problema será dele, mas a senhora seguirá mais leve. É preciso se perdoar, dar-se uma chance de verdade para ser feliz e não aquela pela metade em que se fica sabotando.
Ela então, me deixou em uma encruzilhada ao me dizer:
- Mas meu marido já morreu!
- Então, se a senhora sabe que a morte não existe, está na hora das preces e orações que a senhora faz, e nelas começar a dialogar com ele, não ruminando o passado, mas tentando uma reconciliação, um diálogo honesto, com seu coração transparente.
Este é um grande problema que temos. Maliciosos, não somos mais como as crianças, transparentes. Estamos acostumados a ser vistos com crítica e com isso, passamos a representar. Então, lhe dei um reforço na ação:
- Converse com seu Antônio, dona Juliete, pois será melhor que a senhora fale com ele agora do que após a morte. E ele se apresentar na estação para receber a senhora descendo do trem...?
Ela sorriu e me disse, Deus me livre...
Porém ela prometeu se esforçar... Iria dialogar com a filha problemática, falar-lhe das mágoas..., ou seja, ela iria libertar-se das amarras do ressentimento. E eu fiquei torcendo por ela. Porque torcer pela vitória do outro, é torcer pela nossa, pois ele em sua capacidade de superação pode nos ensinar e muito.
Porém dona Juliete, sumiu...
Cinco meses depois ela entrou no salão em que eu acabara de realizar uma palestra. Tomei um grande susto, pois já havia passado o prazo de validade de vida dela e eu a estava vendo. Apavorei-me, achando que ela tinha vindo me cobrar algo do além...
Ela me abraçou e me disse bem feliz, o tumor sumiu! Os exames mostram isso.
Eu chorei ao seu lado. Nos abraçamos demoradamente... E antes que ela se fosse, me disse que havia ficado livre das mágoas, e que agora eram apenas cicatrizes da vida. Então, eu lhe disse:
- Certa feita eu conheci um médico que escreveu um livro maravilhoso e gostaria de lhe dar de presente.
Eu lhe ofereci o livro do Dr. Marco Aurélio, intitulado, "Quem ama não adoece".
Mas na saída lhe disse:
O Dr. Marco Aurélio, adoeceu e morreu, viu dona Juliete!
Ambos sorrimos. Acho que sorrimos do inevitável. A morte! Às vezes é bom dar uma gargalhada para ela... mostrar-lhe que ela não nos assusta.
Quase dois anos depois, recebi a notícia da morte de dona Juliete. Foi dormindo, uma parada cardíaca. Ela se foi e nunca mais a esqueci. Para mim, ela venceu não apenas a doença, mas a morte, pois tornou mais bela e digna a sua vida e tornou tranquilo o seu morrer!
Dona Juliete antes de curar o corpo, curou a alma...
terça-feira, 14 de abril de 2015
OPINIÕES ALUCINADAS
(Departamento de Criatividade Coxinha)
Você gosta de Jiló?
Você apóia o presidente da Síria Bashar al-Assad ou torce para que os rebeldes o derrubem?
Por falar em rebeldes, você queria a queda de Muamar Kadaff da Líbia ou torcia por ele?
Você não acha as Ilhas Seicheles mais bonitas que Serra Leoa?
Você acha que o golpe de 1964 e a Ditadura que ele gerou se justifica para que fosse afastado o Presidente João Goulart que levaria o Brasil ao comunismo?
Será que o Brasil terá que racionar energia ou não?
Opinião, é preciso ter. É justo ter.
Mas em tempos de comunidades sociais, vivemos a síndrome da opinião fastfood.
Opiniões rápidas e passageiras, muitas vezes sem base ou baseadas em achismos.
Nos recentes protestos de rua que foram um fracasso e finalizaram o terceiro turno das eleições, duas opiniões fastfood chamar a atenção.
Numa um cartaz dizia que sonegação não é corrupção e concluía com um “Fora Dilma”.
Ora, Impostos são recursos das pessoas que contribuem para a sociedade e revertem para a mesma sociedade em investimentos estatais. Se sonegar impostos através de fraudes e omissões não é corrupção, o que, então, é corrupção?
Evidentemente a moça queria defender o PSDB de Aécio Neves envolvido na operação Zelotes que apura sonegações gigantescas e apontam para tucanos históricos e empresas defensoras da moral e dos bons costumes.
Melhor seria “Corrupção só que envolva o PT é que vale”.
Já num depoimento colocado no face uma mulher acusa o governo Dilma pelas perdes trabalhistas que envolvem a aprovação do projeto de terceirização.
Mas como, se o PL 4330 é de autoria dos tucanos e se todos os deputados do PT votaram contra?
Isso sem falar naquele outro que diz que intervenção militar é constitucional.
Deixando de lado as “opiniões” mal intencionadas, causa assombro as opiniões alucinadas.
A maioria das pessoas que diz não gostar de Jiló, nunca comeram jiló.
Grande número de pessoas odeia Bashar al-Assad e clama pela intervenção da OTAN para derrubá-lo, da mesma forma que queria que derrubassem Kadaff, sem nunca ter estado na Síria ou na Líbia, não conhecerem suas ações de governo e se aquilo que se diz na Platinada é verdade ou não.
Quase que a unanimidade considera Seicheles (a terra que ricos e podres de ricos passam veraneiam enquanto lavam dinheiro) linda e Serra Leoa horrível sabendo apenas que uma é rica e a outra é miserável, mas sem conhecer suas paisagens geográficas.
Um número considerável de brasileiros concorda que João Goulart tornaria o país comunista, mas jamais leram ou ouviram um só de seus discursos políticos e desconhecem completamente o que seria suas “reformas de base”.
Muitos apostam no apagão sem se informarem dos investimentos e do planejamento do setor.
A formação da opinião da grande maioria das pessoas, na sociedade contemporânea, se dá através da opinião divulgada, sugerida, sutil ou declarada da mídia.
E isso é perigoso, num mundo em que, cada vez mais a mídia desce da arquibancada querendo participar do jogo.
Numa realidade cada vez mais dinâmica, de informação instantânea e de comunicação virtual, as pessoas buscam estar bem informadas, o que é válido, mas se apressam em ter opiniões definitivas, o que é temerário.
Sempre é bom lembrar que, às vezes, o mais inteligente é reconhecer que não sabe o suficiente para formar uma opinião.
Ser esperto não é ter opinião sobre tudo, é ter opinião consolidada a partir do conhecimento dos diferentes ângulos de uma questão, das variedades de ponto de vista e do amadurecimento das idéias.
Fornecer a informação necessária para que as pessoas possam consolidar opiniões, esse sim, é o papel da mídia.
Não temos obrigação de saber tudo.
Por falar nisso, você é contra ou a favor da atual política dos royalties do petróleo brasileiro?
Prof. Péricles
Você gosta de Jiló?
Você apóia o presidente da Síria Bashar al-Assad ou torce para que os rebeldes o derrubem?
Por falar em rebeldes, você queria a queda de Muamar Kadaff da Líbia ou torcia por ele?
Você não acha as Ilhas Seicheles mais bonitas que Serra Leoa?
Você acha que o golpe de 1964 e a Ditadura que ele gerou se justifica para que fosse afastado o Presidente João Goulart que levaria o Brasil ao comunismo?
Será que o Brasil terá que racionar energia ou não?
Opinião, é preciso ter. É justo ter.
Mas em tempos de comunidades sociais, vivemos a síndrome da opinião fastfood.
Opiniões rápidas e passageiras, muitas vezes sem base ou baseadas em achismos.
Nos recentes protestos de rua que foram um fracasso e finalizaram o terceiro turno das eleições, duas opiniões fastfood chamar a atenção.
Numa um cartaz dizia que sonegação não é corrupção e concluía com um “Fora Dilma”.
Ora, Impostos são recursos das pessoas que contribuem para a sociedade e revertem para a mesma sociedade em investimentos estatais. Se sonegar impostos através de fraudes e omissões não é corrupção, o que, então, é corrupção?
Evidentemente a moça queria defender o PSDB de Aécio Neves envolvido na operação Zelotes que apura sonegações gigantescas e apontam para tucanos históricos e empresas defensoras da moral e dos bons costumes.
Melhor seria “Corrupção só que envolva o PT é que vale”.
Já num depoimento colocado no face uma mulher acusa o governo Dilma pelas perdes trabalhistas que envolvem a aprovação do projeto de terceirização.
Mas como, se o PL 4330 é de autoria dos tucanos e se todos os deputados do PT votaram contra?
Isso sem falar naquele outro que diz que intervenção militar é constitucional.
Deixando de lado as “opiniões” mal intencionadas, causa assombro as opiniões alucinadas.
A maioria das pessoas que diz não gostar de Jiló, nunca comeram jiló.
Grande número de pessoas odeia Bashar al-Assad e clama pela intervenção da OTAN para derrubá-lo, da mesma forma que queria que derrubassem Kadaff, sem nunca ter estado na Síria ou na Líbia, não conhecerem suas ações de governo e se aquilo que se diz na Platinada é verdade ou não.
Quase que a unanimidade considera Seicheles (a terra que ricos e podres de ricos passam veraneiam enquanto lavam dinheiro) linda e Serra Leoa horrível sabendo apenas que uma é rica e a outra é miserável, mas sem conhecer suas paisagens geográficas.
Um número considerável de brasileiros concorda que João Goulart tornaria o país comunista, mas jamais leram ou ouviram um só de seus discursos políticos e desconhecem completamente o que seria suas “reformas de base”.
Muitos apostam no apagão sem se informarem dos investimentos e do planejamento do setor.
A formação da opinião da grande maioria das pessoas, na sociedade contemporânea, se dá através da opinião divulgada, sugerida, sutil ou declarada da mídia.
E isso é perigoso, num mundo em que, cada vez mais a mídia desce da arquibancada querendo participar do jogo.
Numa realidade cada vez mais dinâmica, de informação instantânea e de comunicação virtual, as pessoas buscam estar bem informadas, o que é válido, mas se apressam em ter opiniões definitivas, o que é temerário.
Sempre é bom lembrar que, às vezes, o mais inteligente é reconhecer que não sabe o suficiente para formar uma opinião.
Ser esperto não é ter opinião sobre tudo, é ter opinião consolidada a partir do conhecimento dos diferentes ângulos de uma questão, das variedades de ponto de vista e do amadurecimento das idéias.
Fornecer a informação necessária para que as pessoas possam consolidar opiniões, esse sim, é o papel da mídia.
Não temos obrigação de saber tudo.
Por falar nisso, você é contra ou a favor da atual política dos royalties do petróleo brasileiro?
Prof. Péricles
domingo, 12 de abril de 2015
INTOLERÂNCIA
Por Leonardo Boff
O assassinato dos chargistas franceses do Charlie Hebdo recentemente e a última eleição presidencial no Brasil trouxeram à luz um preconceito latente no mundo e na cultura brasileira: a intolerância.
A intolerância no Brasil é parte daquilo que Sergio Buarque de Holanda chama de “cordial” no sentido de ódio e preconceito, que vem do coração como a hospitalidade e simpatia. Em vez de cordial eu preferiria dizer que o povo brasileiro é passional.
O que se mostrou na última campanha eleitoral foi o “cordial-passional” tanto como ódio de classe (desprezo do pobre) como o de discriminação racial (nordestino e negro). Ser pobre, negro e nordestino implicava uma pecha negativa e aí o desejo absurdo de alguns de dividir o Brasil entre o Sul “rico” e o Nordeste “pobre”.
Esse ódio de classe se deriva do arquétipo da Casa Grande e da Senzala introjetada em altos setores sociais, bem expresso por uma madame rica de Salvador: ”os pobres não contentes com receber a bolsa família, querem ainda ter direitos”. Isso supõe a ideia de que se um dia foram escravos, deveriam continuar a fazer tudo de graça, como se não tivesse havido a abolição da escravatura.
Os homoafetivos e outros da LGBT são hostilizados até nos debates oficiais entre os candidatos, revelando uma intolerância “intolerável”.
Para entender um pouco mais profundamente a intolerância importa ir um pouco mais a fundo na questão. A realidade assim como nos é dada é contraditória em sua raiz; complexa, pois é convergência dos mais variados fatores; nela há caos originário e cosmos (ordem), há luzes e sombras, há o simbólico e o diabólico. Em si, não são defeitos de construção, mas a condição real de implenitude de tudo que existe no universo. Isso obriga a todos a conviver com as imperfeições e as diferenças. E a sermos tolerantes com os que não pensam e agem como nós.
Traduzindo numa linguagem mais direta: são polos opostos mas polos de uma mesma e única realidade dinâmica. Estas polaridades não podem ser suprimidas. Todo esforço de supressão termina no terror dos que presumem ter a verdade e a impõem aos demais. O excesso de verdade acaba sendo pior que o erro.
O que cada um (e a sociedade) deve sempre saber é distinguir um e outro polo e fazer a sua opção. O indicado é optar pelo polo de luz, do simbólico e do justo. Então o ser humano se revela um ser ético que se responsabiliza por seus atos e pelas consequências boas ou más que deles se derivam.
Alguém poderia pensar: mas então vale tudo? Não há mais diferença? Não se prega um vale tudo nem se borram as diferenças. Deve-se, sim, fazer distinções. O joio é joio e não trigo. O trigo é trigo, não joio. O torturador não pode ter o mesmo destino que sua vítima. O ser humano não pode igualar a ambos nem confundi-los. Deve discernir e optar pelo trigo, embora o joio continua existindo, mas sem ter a hegemonia.
Para fazer coexistir sem confundir estes dois princípios devemos alimentar em nós a tolerância. A tolerância é capacidade de manter, positivamente, a coexistência difícil e tensa dos dois polos, sabendo que eles se opõem mas que compõem a mesma e única realidade dinâmica. Impõe-se optar pelo polo luminoso e manter sob controle o sombrio.
O risco permanente é a intolerância. Ela reduz a realidade, pois assume apenas um polo e nega o outro. Coage a todos a assumir o seu polo e a anula o outro, como o faz de forma criminosa o Estado Islâmico e a Al Qaeda. O fundamentalismo e o dogmatismo tornam absoluta a sua verdade. Assim eles se condenam à intolerância e passam a não reconhecer e a respeitar a verdade do outro. O primeiro que fazem é suprimir a liberdade de opinião, o pluralismo e impor o pensamento único. Os atentados como o de Paris têm por base esta intolerância.
É imperioso evitar a tolerância passiva, aquela atitude de quem aceita a existência com o outro não porque o deseje e veja algum valor nisso, mas porque não o consegue evitar.
Há que se incentivar a tolerância ativa que consiste na coexistência, na atitude de quem positivamente convive com o outro porque tem respeito por ele e consegue ver os valores da diferença e assim pode se enriquecer.
A tolerância é antes de mais nada uma exigência ética. Ela representa o direito que cada pessoa possui de ser aquilo que é e de continuar a sê-lo. Esse direito foi expresso universalmente na regra de ouro “Não faças ao outro o que não queres que te façam a ti”. Ou formulado positivamente: ”Faça ao outro o que queres que te façam a ti”. Esse preceito é óbvio.
O núcleo de verdade contido na tolerância, no fundo, se resume nisso: cada pessoa tem direito de viver e de conviver no planeta Terra. Ela goza do direito de estar aqui com sua diferença específica em termos de visões de mundo, de crenças e de ideologias.
Essa é a grande dificuldade das sociedades europeias: a dificuldade de aceitar o outro, seja árabe, muçulmano ou turco e na sociedade brasileira, do afrodescendente, do nordestino e do indígena. As sociedades devem se organizar de tal maneira que todos possam, por direito, se sentir incluídos. Daí nasce a paz, que segundo a Carta da Terra, é” a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a Terra e com o Todo maior da qual somos parte”.
A natureza nos oferece a melhor lição: por mais diversos que sejam os seres, todos convivem, se interconectam e formam a complexidade do real e a esplêndida diversidade da vida.
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