quinta-feira, 10 de julho de 2014

O AMOR, A ALMA E O PRAZER


Filho de Vênus (deusa do amor) e de Marte (deus da guerra), Cupido era o deus do Amor e da paixão em Roma, equivalente a Eros, entre os gregos.

Júpiter (pai dos deuses), sabedor das perturbações que iria provocar, tentou obrigar Vênus a desfazer-se dele assim que nasceu. Para protegê-lo, a mãe escondeu-o num bosque, onde ele se alimentou com leite de animais selvagens.

Cupido encarnava a paixão e o amor em todas as suas manifestações. Era geralmente representado como um menino alado que carregava um arco e setas, sempre pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. Os ferimentos provocados pelas setas que atirava despertavam amor ou paixão nas suas vítimas.

Embora fosse algumas vezes apresentado como insensível e descuidado, Cupido, geralmente orientado por sua mãe Venus, muitas vezes provocava situações terríveis ao fazer despontar a paixão onde ela não poderia, ou deveria ocorrer.

Certo dia, Vênus estava admirando a terra quando avistou uma bela moça numa praia. Na verdade, mais que bela, era tão linda que abalava a própria hegemonia de Vênus entre as mais belas.

Essa moça se chamava Psiquê.

Contrariada, Vênus decidiu que ela, por castigo de tamanha beleza, iria se apaixonar e casar com o homem mais feio do mundo.

Chamou seu filho Cupido e pediu que este fosse, durante a noite, até a casa de Psiquê e lhe atingisse com sua flecha do amor.

Cupido obedeceu, mas ao ver Psiquê em sono profundo, bela, e totalmente nua, ficou perturbado, e se aproximou demais de sua “vítima”. Nesse instante a jovem se moveu no leito e acidentalmente bateu no braço de Cupido que disparando a flecha atingiu a si mesmo.

Cupido imediatamente sentiu um amor profundo por Psiquê.

Sem mais conseguir sossego, pois o amor desassossega, o jovem deus foi falar com Zéfiro, senhor do vento oeste e pediu para que transportasse Psique para os ares e a instalasse num palácio magnífico, onde era a casa de Cupido.

Quando a noite caiu, a moça ouviu uma voz misteriosa e doce: "Não se assuste, Psiquê, sou o dono desse palácio. Ofereço-lho como presente do nosso casamento, pois quero ser seu esposo. Tudo que está vendo lhe pertence. E tudo que deseja será concebido. Eu só lhe faço uma exigência: não tente ver-me. Só sob esta condição poderemos viver juntos e sermos felizes".

Todas as noites Cupido vinha ver Psiquê, mas numa forma invisível. A moça estava vivendo muito feliz naquele lindo palácio. Mas, sabemos como são as mulheres, a curiosidade cada vez mais tomava conta de sua vontade de conhecer o rosto do homem que a fazia tão feliz.

Certa noite, quando Cupido veio vê-la, eles encontraram-se e amaram-se profundamente, mas quando Cupido adormeceu Psiquê escondida e em silêncio pegou numa lamparina e acendeu-a, e quando ela viu o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros, ficou encantada. Mas num pequeno descuido deixou cair uma gota de óleo no braço do rapaz, que acordou assustado e, ao ver Psiquê, Cupido grita que o amor não sobrevive sem confiança e em seguida desaparece.

O encanto todo acabou, o palácio os jardins e tudo que havia em volta desapareceu, como por magia. Psiquê ficou sozinha e perdida num lugar árido, pedregoso e deserto.

Infeliz, Cupido foi para o Olimpo e suplicou a Júpiter que lhe permitisse uma nova chance e devolvesse a esposa amada.
A princípio Júpiter quis argumentou que o deus do amor não podia se unir a uma mortal, mas Cupido, em lágrimas tornou a suplicar que então, o deus dos deuses a tornasse imortal.

Júpiter, um conquistador incorrigível que, várias vezes havia pedido ajuda a Cupido em suas aventuras, acabou cedendo.
Psiquê foi transformada em imortal por Júpiter, tornando-se a alma humana.

Cupido e Psiquê, amor e alma, casaram-se e ainda vivem em amor eterno.

Tiveram em consequência desse amor, um filho, o prazer.

Mais uma vez a mitologia nos lembra sobre o que realmente importa em nós. A nossa porção divina, a alma, única capaz de reter aquilo que nunca morre.

É na eternidade da alma que o amor é possível. Apenas cultivando a nossa própria vida somos capazes de confiar nos sentimentos reais como o amor e não nos falsos reflexos da paixão.

Nossos castelos estão além das futilidades da existência e, nosso inferno, árido e perdido reside na nossa impaciência.

Ressalta ainda que o prazer é filho e conseqüência do amor e não a sua gênese.

Prof. Péricles

terça-feira, 8 de julho de 2014

INCÊNDIO EM SARAJEVO


Era um domingo de muito sol. As ruas da bela cidade de Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, estavam enfeitadas com bandeirinhas e cartazes coloridos. Pessoas se espremiam nas calçadas para assistir a passagem do comboio composto por cinco carros, onde ao centro, em um carro aberto, acenava para a multidão o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro ao trono da Áustria-Hungria e sua esposa, a duquesa Sofia. Era o dia 28 de junho de 1914, cem anos atrás.

Após a cerimônia de recepção na câmara municipal, seguem a marginal junto ao rio Miljacka.

Na mesma manhã, seis jovens estudantes sérvios, componentes da organização ultranacionalista, clandestina, “Mão Negra”, tinham se espalhado pelo trajeto provável (o trajeto oficial não havia sido divulgado) que seria seguido pelo comboio. O plano é simples, matar o arquiduque e após cometer suicídio para não ser capturado com vida e delatar a organização sob tortura.

O primeiro dos seis, Muhamed Mehmedbasic acredita que foi descoberto e está sendo vigiado, entra em pânico e desaparece na multidão, mas o segundo, Nedeliko Cabrinovic lança uma bomba sobre o carro de Francisco Ferdinando, mas não atinge o alvo, acertando o terceiro carro da comitiva, ferindo alguns, mas sem causar mortes.

O terceiro, o mais jovem de todos, Vaso Cubrilovic acovarda-se ao perceber a presença não prevista da duquesa. Mas tarde, no seu julgamento dirá que não atirou pois seria incapaz de matar uma mulher.

O quarto, Cvijetko Popovic, era míope e não conseguiu distinguir a figura do arquiduque entre as outras personalidades.

Já Gavrilo Princip que ficara numa rua em que a comitiva acabou não passando, ouviu a explosão e acreditou no sucesso da operação. Mas, conseguiu ver Cabrinovic preso em meio à confusão após a bomba e percebeu que algo havia dado errado.

O atentado fracassara. Mas, uma séria de fatos aleatórios acabaria interferindo no desfecho do drama.

Furioso com a tentativa de assassinato e se dizendo indignado pelo risco que a esposa correra o
arquiduque decide abreviar os planos, mas, sem cancelá-los para não parecer covarde. Assim, decide ir ao hospital visitar feridos, conforme planejado. Já a reunião com mulheres bósnias de que participaria Sofia é cancelada e ela decide acompanhar o marido na visita ao hospital.

Desta vez vão à alta velocidade, mas o motorista engana-se no caminho,
mete-se num beco, pára o carro (sem marcha atrás) e este tem de ser
empurrado para a estrada.

Nesse momento Gavrilo Princip está descendo a rua, furioso pelo plano, meticulosamente preparado ter dado errado. É de se imaginar sua surpresa ao ver o carro do arquiduque completamente indefeso e à sua mercê.

São 11 horas da manhã quando Gravilo, sem pestanejar aperta o gatilho várias vezes.
Em instantes arquiduque e duquesa estão mortos.

O assassino tenta o suicídio atirando contra si mesmo, mas é agarrado por uma multidão atraída pelos tiros.

O que os desatinados jovens queriam era causar uma forte comoção que revertesse em favor da causa da criação de uma “Grande Sérvia”. Pensavam que, a presença da Áustria nos Bálcãs, em auxílio de sua aliada, a Bósnia-Herzegovina, impedia que seu povo alcançasse plenamente a nacionalidade e a independência.

Jamais poderiam imaginar que um mês depois do atentado, a Áustria usasse o atentado de Sarajevo para declarar guerra à Sérvia. Eu a Rússia aliada da Sérvia declarasse guerra à Áustria. Eu alemães, ingleses e franceses acabassem, por força de alianças secretas, também declarando guerra e que, assim, a Europa e o mundo entrassem no maior pesadelo de todos os tempos, até então, a Grande Guerra, mais tarde chamada de A Primeira Guerra Mundial.

No que será que pensaram os meninos de Sarajevo sobre uma guerra que matou mais de 10 milhões de pessoas. Eu pela primeira vez vitimou mais civis que militares, utilizou armas químicas, aviões e submarinos como armas letais?

Nunca saberemos se eles morreram se sentindo culpados da guerra ou se perceberam que todo o cenário já estava montado, aguardando apenas a ordem de ação.

Sabemos apenas que Gavrilo Princip, por ser menor, não pode ser condenado à morte e que acabou morrendo tuberculoso na prisão de Theresienstadt, em 1918, quatro anos depois do atentado de Sarajevo, e, curiosamente, poucos dias depois do fim da Grande Guerra.

Princip e seus amigos deveriam ouvir os conselhos dos mais velhos quando de que, criança que brinca com fogo, acaba se queimando. Nesse caso, o incêndio foi maior que toda a Europa.

Prof. Péricles

sábado, 5 de julho de 2014

O DONO DA VERDADE


Ser o dono geralmente representa, ter poder.

Alguns donos fazem parte inesquecível de nossas vidas... Por exemplo, o dono da bola no tempo em que, crianças, desejávamos passar o dia todo jogando futebol. Pois, o dono da bola era alguém poderoso. Às vezes sua chegada era precedida de uma espera torturante, quem sabe, deliberadamente provocada, pois não basta ter o poder, é necessário demonstrá-lo diante dos que não tem. A tortura podia ser longa até sua chegada, dele não, da bola que o trazia a reboque.

Não sei por que maldita tradição, geralmente o dono da bola era péssimo jogador, mas, sua titularidade no time era inquestionável. A bola, ou melhor, a posse dela, lhe conferia poder indiscutível. Isso, porém, não lhe assegurava popularidade, pois, apesar de garantir um lugar no time, não garantia, necessariamente, amigos.

O dono das mais difíceis figurinhas também.

Sempre havia aquele sortudo (aquele cujos pais podiam comprar quantidades maiores de envelopes) que tinha no bolso das calças as mais difíceis figuras para completar o álbum. O dono das figurinhas difíceis foi, para muitos, o primeiro exercício de diplomacia na vida, pois exigia negociação e alianças. Geralmente o dono das figurinhas difíceis compreendia que, o que para ele, era excedente, para outros era o essencial, e disso fazia um macabro jogo de poder. Talvez a maioria dos especuladores financeiros de hoje foram donos de figurinhas difíceis no passado.

E o dono do carro?

Quando jovens um carro e a maturidade era quase a mesma coisa. A turma ansiava sair à noite e mostrar sua incondicional rebeldia e independência, e nisso, nada mais decisivo e impactante na cabeça das meninas (ao menos no imaginário dos meninos) do que sair de carro. Disse sair e não exatamente ter um carro.

Quem tinha o carro, era quase uma lenda, por isso mesmo, tinha uma coleção de amigos que o capitalismo pode cooptar.

Mas, o mais indesejável dos donos, atravessa os tempos e pode estar ao seu lado a qualquer momento do dia. É o dono da verdade.

Sabe aquela pessoa que tem todas as respostas corretas? Que esteve em todos os lugares, falou com todas as pessoas e que nunca, jamais, de maneira alguma tem dúvidas? Aquela que não ouve sua argumentação, pois enquanto você fala está apenas pensando no que dirá em seguida para arrasar seja lá o que você estiver dizendo?

Pois é, o dono da verdade, sempre acompanhado de certezas inflexíveis.

Muitas vezes certezas nascidas no que disseram na televisão ou no “dizem por aí”.

O dono da verdade pode ser uma pessoa inteligente e articulada tornando às vezes incompreensível como possa ser tão obtuso.

A presunção, na maioria das vezes é a causa maior de suas convicções, mas, existem outras causas.

O fanatismo, por exemplo.

Quando em 1578 o rei português D. Sebastião, determinou a organização de uma expedição militar para invadir o norte da África e de lá expulsar os infiéis muçulmanos, não faltaram por parte de seus comandantes bons argumentos de que a missão estava condenada ao fracasso, visto ser o exército português inexperiente e frágil perante os exércitos inimigos.

Como D. Sebastião era o dono da verdade e de convicções nascidas do fanatismo religioso, mesmo sendo um homem culto e bem informado, empreendeu a fatídica expedição, totalmente destruída na batalha de Alcácer-quibir. Ele e todos os seus soldados perderam a vida e Portugal a independência.

Fanatismo produz arrogâncias, autoritarismos e donos da verdade, não necessariamente nessa ordem.

Destruidor de qualquer rodinha de amigos desconhece, o dono da verdade que, muitas vezes, é melhor estar com a paz do que estar com a razão, que, aliás, não precisa se impor pois a humildade da verdade se impõe por si.

E, como diria o sábio grego, melhor seria não esquecer que a gente só sabe, com relativa certeza, que nada sabe.


Prof. Péricles









sexta-feira, 4 de julho de 2014

DEMOCRACIA QUE SE VOLTA CONTRA O POVO


Por: Leonardo Boff


Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais ligados ao status quo de viés conservador se levantou furiosamente contra o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social. O decreto não inova em nada nem introduz novos itens de participação social.

Apenas procura ordenar os movimentos sociais existentes, alguns vindos dos anos 30 do século passado, mas que nos últimos anos se multiplicaram exponencialmente a ponto de Noam Chomsky e Vandana Shiva considerarem o Brasil o país no mundo com mais movimentos organizados e de todo tipo.

O Decreto reconhece esta realidade e a estimula para que enriqueça o tipo de democracia representativa vigente com um elemento novo que é a democracia participativa. Esta não tem poder de decisão apenas de consulta, de informação, de troca e de sugestão para os problemas locais e nacionais.

Portanto, aqueles analistas que afirmam, ao arrepio do texto do Decreto, que a presença dos movimentos sociais tiram o poder de decisão do governo, do parlamento e do poder público laboram em erro ou acusam de má fé. E o fazem não sem razão. Estão acostumados a se mover dentro de um tipo de democracia de baixíssima intensidade, de costas para a sociedade e livre de qualquer controle social.

Valho-me das palavras de um sociólogo e pedagogo da Universidade de Brasília, Pedro Demo, que considero uma das mentes mais brilhantes e menos aproveitadas de nosso país. Em sua Introdução à sociologia (2002) diz enfaticamente ”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político (com raras exceções) é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaziguados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima… Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação “(p.330.333). Não faz uma caricatura de nossa democracia, mas, uma descrição real daquilo que ela sempre foi em nossa história. Em grande parte possui o caráter de uma farsa. Hoje chegou, em alguns aspectos, a níveis de escárnio.

Mas ela pode ser melhorada e enriquecida com a energia acumulada pelas centenas de movimentos sociais e pela sociedade organizada que estão revitalizando as bases do país e que não aceitam mais esse tipo de Brasil. Por força da verdade, importa reconhecer, que, entre acertos e erros, ele ganhou outra configuração a partir do momento em que outro sujeito histórico, vindo da grande tribulação, chegou à Presidência da República. Agora esses atores sociais querem completar esta obra de magnitude histórica com mais participação. E eles têm direito a isso, pois a democracia é um modo de viver e de organizar a vida social sempre em aberto – democracia sem fim – no dizer do sociólogo português Boaventura de Souza Santos.

Quem conhece a vasta obra de Norberto Bobbio um dos maiores teóricos da democracia no século XX, sabe das infindas discussões que cercam este tema, desde o tempo dos gregos que, por primeiro, a formularam. Mas deixando de lado este exitante debate, podemos afirmar que o ato de votar não é o ponto de chegada ou o ponto final da democracia como querem os liberais. É um patamar que permite outros níveis de realização do verdadeiro sentido de toda a política: realizar o bem comum através da vontade geral que se expressa por representantes eleitos e pela participação da sociedade organizada. Dito de outra forma: é criar as condições para o desenvolvimento integral das capacidades essenciais de todos os membros da sociedade.

Os movimentos sociais e a sociedade organizada podem contribuir poderosamente para essa democracia substancial. Especialmente agora que devido à gravidade da situação global do sistema-vida e do sistema-Terra se busca de um caminho melhor para o Brasil e para o mundo. Com sua ciência de experiências feita, com as formas de sobrevivência que desenvolveram em 500 anos de marginalização, com suas tecnologias sociais e com seus inventos, com suas formas próprias de produzir, distribuir e consumir, em fim, tudo aquilo que possa contribuir na invenção de outro tipo de Brasil no qual todos possam caber, a natureza inteira incluída.

Uma democracia que se nega a esta colaboração é uma democracia que se volta contra o povo e, no termo, contra a vida. Daí a importância de secundarmos o Decreto presidencial sobre a Política Nacional de Participação Social, tão irrefutavelmente explicada em entrevista na TV e em O Globo (16 de junho de 2014) pelo Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência Gilberto Carvalho.


Leonardo Boff é teólogo e escritor.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

CANDIDATO GUERRILHEIRO ALOYSIO


Por: Juremir Machado da Silva

Nas redes sociais, nas últimas eleições, apoiadores do tucano José Serra bombardeavam a candidata petista Dilma Rousseff por ela ter sido guerrilheira durante a ditadura militar brasileira que atolou o país no obscurantismo a partir de 1964. A escolha por Aécio Neves de Aloysio Nunes Ferreira para seu vice enterra um dos argumentos mais usados pela direita mais extrema em relação a quem participou da luta armada contra terrorismo de Estado.

Aloysio Nunes Ferreira é conhecido como o “motorista de Marighella”. O vice de Aécio participou com Carlos Marighella, executado pelos militares em 1969, da Ação Libertadora Nacional. Aloysio tem uma biografia de guerrilheiro de linha de frente. Não ficou nos bastidores. Fez bem.

Em “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, Mario Magalhães apresenta Aloysio portando uma carabina e dirigindo o carro usado por seus companheiros para fugir depois do assalto ao trem-pagador Santos-Jundiaí em agosto de 1968. Cena de filme. Coube a Aloysio a tarefa delicada de levar o dinheiro arrecadado.

Dois meses depois, em outubro de 1968, Aloysio participou de outro assalto, o ataque ao carro-forte da Massey Ferguson. Melhor não contar com ela para financiamento de campanha. Aloysio exilou-se em Paris. Na volta ao Brasil, passou pelo PCB e pelo PMDB até achar seu galho no PSDB.

Em 2003, quando Dilma assessorava Lula, a revista Veja disparou: “O cérebro do roubo ao cofre – com passado pouco conhecido, a ministra envolveu-se em ações espetaculares de guerrilha”. Dilma teria concebido o roubo do cofre do governador paulista Adhemar de Barros.

Como é sabido que Dilma não pegou em armas, Veja encontrou um jeito de comprometê-la um pouco mais, o depoimento do ex-sargento e ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, o “Leo”, “que ajudou o capitão Carlos Lamarca a roubar uma Kombi carregada de fuzis de dentro de um quartel do Exército, em Osasco”. Segundo Leo, “a Dilma era tão importante que não podia ir para a linha de frente. Ela tinha tanta informação que sua prisão colocaria em risco toda a organização. Era o cérebro da ação”. Será que Veja relembrará agora esse passado guerrilheiro de Aloysio?

Estou ansioso pelos textos dos lacerdinhas da mídia central Rodrigo Constantino, Lobão, Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli e Olavo de Carvalho sobre esse passado belicoso do candidato tucano. O PSDB deixou correr a baba contra a “terrorista” Dilma.

A guerra de guerrilhas está empatada. Não condeno Aloysio nem Dilma. Intuo que a ala udenista que apoia Aécio ficará constrangida e triste por não poder se deliciar com a baixaria que mais a satisfaz. O guerrilheiro Aloysio tinha por codinome Mateus. Fugiu para Paris com passaporte falso. Manteve estreita amizade com Fidel Castro, tendo sido levado pelo ditador, em 2001, até o avião no aeroporto de Havana. Arranjou campo de treinamento para guerrilheiros na Argélia. Fez o que considerava necessário para combater a ditadura. O que vão dizer agora? Mateus, primeiro os teus? Ou os dos outros?


A coordenação da campanha tucana será feita por José Agripino, do DEM, aquele mesmo que perguntou a Dilma se ela mentira sob tortura. O lacerdão Agripino coordenando a campanha do guerrilheiro terrorista Aloysio Nunes. Uau!

domingo, 29 de junho de 2014

ASSANGE, DOIS ANOS DE CONFINAMENTO



Por Mário Augusto Jakobskind


Quando o mundo inteiro reverencia o ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden, muito justamente, por sinal, por se tratar de um herói da humanidade, outro herói da humanidade, Julian Assange, responsável pelo site WikiLeaks vem sendo esquecido. Praticamente saiu do foco midiático

Assange acabou de completar dois anos, na quinta–feira (19/06), de confinamento na representação diplomática do Equador em Londres, uma pequena sala. Está impedido de tomar sol e está sujeito a doenças a que ficam sujeitas pessoas nessa situação.

Na quinta-feira última mesmo, Assange assegurou que manterá a promessa de seguir divulgando ao mundo toda a informação em seu poder sobre a atuação e operação dos Estados Unidos e seus aliados.

Como se não bastasse todo esse infortúnio, por pressão do Departamento de Estado norte-americano, Assange está sendo impedido de receber doações através de cartões de crédito que o site WikiLeaks recebia de diversas partes do mundo. Ou seja, além de impedido de sair do local onde se encontra, porque se o fizer será preso pelas forças policiais britânicas acantonadas na saída da representação diplomática equatoriana em Londres, as pressões econômicas aumentam a cada dia.

A Grã Bretanha obedece fielmente, como um cão de guarda, os interesses norte-americanos e não dá tréguas na vigilância a Assange. Também não divulga o custo financeiro representado pela a prontidão policial.

E tudo isso acontece sob quase total silêncio dos grandes meios de comunicação ocidentais, que sempre se dizem não apenas interessados em oferecer informações aos seus leitores, telespectadores e ouvintes, como se apresentam como defensores incondicionais da liberdade de expressão e de imprensa.

A pressão, criminosa, dos Estados Unidos contra Assange, não resta dúvida, é atentatória à liberdade de expressão, e não pode continuar sendo silenciada. É preciso que os espaços midiáticos em todo mundo abandonem a desinformação sobre a real situação em que se encontra o herói da humanidade Julian Assange.

Louve-se o governo do Equador, que em nenhum momento deixou de oferecer ajuda a Assange. Claro que tudo isso tem um custo financeiro. O governo de Rafael Correa arca com esse custo e está mostrando ao mundo que acima de tudo leva em conta a questão humanitária.

Se algo de grave acontecer a Julian Assange, a responsabilidade é do Presidente Barack Obama e dos serviços de inteligência norte-americanos. Não se exclui também a responsabilidade do cão de guarda britânico, o Primeiro-Ministro David Cameron, que ordena o cerco policial à representação diplomática do Equador.

No Brasil, Assange recebeu homenagem do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, com a Medalha Chico Mendes de Direitos Humanos. No ano passado, a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também homenageou o responsável pelo site WikiLeaks com a concessão de uma Medalha de Direitos Humanos. E todas essas homenagens foram omitidas pela grande mídia brasileira.

O GTNM-RJ e a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI somam-se a outras entidades de várias partes do mundo que exigem dos governos dos Estados Unidos e da Grã Bretanha que terminem com o cerco autoritário a que está sendo submetido o herói da humanidade Julian Assange e permitam que ele siga imediatamente rumo ao Equador.

As duas entidades também apelam aos meios de comunicação e agência internacionais de notícias a romperem o vergonhoso silêncio sobre o cerco criminoso a que está sendo submetido Julian Assange.

Além de Assange, outro herói da humanidade, Edward Snowden terá seu asilo na Rússia expirado em agosto. Em recente entrevista para a Globo News, o ex-agente da CIA manifestou o desejo de conseguir asilo político no Brasil. Disse que tinha feito um pedido nesse sentido quando ainda se encontrava no aeroporto de Moscou, O governo brasileiro negou ter recebido o pedido. Agora, para esclarecer em definitivo com quem está a verdade, Snowden deveria fazer um outro pedido formal ao governo brasileiro. Se não houver resposta e for dito que não houve nenhuma solicitação se saberá quem mente. Se o governo brasileiro conceder o visto, estará tudo esclarecido. Mas se negar estará na prática dando sinal de fraqueza, o que se espera não aconteça.

Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos não deixando que a questão seja esquecida, como tem sido em relação ao herói da humanidade Julian Assange.


Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil); preside a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI.