domingo, 10 de março de 2013

CUBA E SUA LUTA




Podemos discordar do regime político de Cuba, que se mantém sob o domínio de um partido único. Mas é preciso seguir o conselho de Spinoza: não lisonjear, não detestar, mas entender. Entender, ou procurar entender. A história de Cuba – como, de resto, de quase todo o arquipélago do Caribe e da América Latina – tem sido a de saqueio dos bens naturais e do trabalho dos nativos, em benefício dos colonizadores europeus, substituídos depois pelos anglo-saxões.

E, nessa crônica, destaca-se a resistência e a luta pela soberania de seu povo não só contra os dominadores estrangeiros, mas também contra seus vassalos internos.

Já se tornou lugar-comum lembrar que, sob os governos títeres, Havana se tornara o maior e mais procurado bordel norte-americano. A legislação, feita a propósito, era mais leniente, não só com o lenocínio, e também com o jogo, e os mais audazes gângsteres de Chicago e de Nova Iorque tinham ali seus negócios e seus retiros de lazer. E mais: as mestiças cubanas, com sua beleza e natural sensualidade, eram a atração irresistível para os entediados homens de negócios dos Estados Unidos.

A Revolução Cubana foi, em sua origem, o que os marxistas identificam como movimento pequeno burguês. Fidel e seus companheiros, no assalto ao Quartel Moncada – em 1953, já há quase 60 anos – pretendiam apenas derrocar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, que mantinha o país sob cruel regime policial, torturava os prisioneiros e submetia a imprensa a censura férrea. A corrupção grassava no Estado, dos contínuos aos ministros. O enriquecimento de Batista, de seus familiares e amigos, era do conhecimento da classe média, que deu apoio à tentativa insurrecional de Fidel, derrotada então, para converter-se em vitória menos de seis anos depois. Os ricos eram todos associados à exploração, direta ou indireta, da prostituição, disfarçada no turismo, e do trabalho brutal dos trabalhadores na indústria açucareira.

Foi a arrogância norte-americana, na defesa de suas empresas petrolíferas, que se negaram a aceitar as novas regras, que empurrou o advogado Fidel Castro e seus companheiros, nos dois primeiros anos da vitória do movimento, ao ensaio de socialismo. A partir de então, só restava à Ilha encampar as refinarias e aliar-se à União Soviética.

Os norte-americanos, sob o festejado Kennedy – que o reexame da História não deixa tão honrado assim –, insistiram nos erros. A tentativa de invasão de Cuba, pela Baía dos Porcos, com o fiasco conhecido, tornou a Ilha ainda mais dependente de Moscou, que se aproveitou do episódio para livrar-se de uma bateria norte-americana de foguetes com cargas atômicas instalada na Turquia, ao colocar seus mísseis a 100 milhas da Flórida, no território cubano.

A solução do conflito, que chegou a assustar o mundo com uma guerra atômica, foi negociada pelo hábil Mikoyan: Kruschev retirou os mísseis de Cuba, e os Estados Unidos desmantelaram sua bateria turca, ao mesmo tempo em que assumiram o compromisso de não invadir Cuba, mas mantiveram o bloqueio econômico e político contra Havana. Enfim, ganharam Moscou e Washington, com a proteção recíproca de seus espaços soberanos – e Cuba pagou a fatura com o bloqueio.

O malogro do socialismo cubano nasceu desse imbróglio de origem. Tal como ocorrera com a Rússia Imperial e com a China, em movimentos contemporâneos, o marxismo serviu como doutrina de empréstimo a uma revolução nacional. O nacionalismo esteve no âmago dos revolucionários cubanos, tal como estivera entre os social-democratas russos, chefiados por Lênin e os companheiros de Mao.

Os cubanos iniciaram reformas econômicas recentes, premidos, entre outras razões, pelo fim do sistema socialista. Ao mesmo tempo tomaram medidas liberalizantes, permitindo as viagens ao exterior de quem cumprir as normas habituais. É assim que visita o país a dissidente Yoani Sanchez (que mantém seu blog na internet de oposição ao governo cubano) e é reverenciada pelos setores de direita. Ocorre que ela não é tão perseguida em Havana como proclama e proclamam seus admiradores.

Tanto assim é que, em momento delicado para a Ilha, quando só pessoas de confiança do regime viajavam para o exterior, ela viveu dois anos na Suíça, e voltou tranquilamente para Havana.

É seu direito dizer o que quiser, mas não podemos tolerar que exija do Brasil defender os direitos humanos, tal como ela os vê, em Cuba ou alhures. Um dos princípios históricos do Brasil é o da não interferência nos assuntos internos dos outros países.

O problema de Cuba é dos cubanos, que irão resolvê-lo, no dia em que não estiverem mais obrigados a se defender da intervenção dos estrangeiros, que vêm sofrendo desde que os espanhóis, ainda no século 16, ali se instalaram. Foram substituídos pelos Estados Unidos, depois da guerra vitoriosa de Washington contra o frágil governo da regente Maria Cristina, da Espanha. Enfim, o generoso povo cubano, tão parecido com o nosso, não teve, ainda, a oportunidade de realizar o seu próprio destino, sem as pressões dos colonizadores e seus sucessores.

Dispensamos os conselhos da senhora Sanchez. Aqui tratamos, prioritariamente, dos direitos humanos dos brasileiros, que são os de viver em paz, em paz educar-se e em paz trabalhar, e esses são os direitos de todos os povos do mundo. Ela, não sendo cidadã de nosso país, não deve, nem pode, exigir nada de nosso governo ou de nosso povo. Dispensamos seus avisos mal-educados e prepotentes, e esperamos que seja festejada pela direita de todos os países que visitará, à custa de seus patrocinadores – como o Instituto Millenium –, iludidos pelo seu falso prestígio entre os cubanos.

Por Mauro Santayana, via Jornal do Brasil

quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO CHAVES, NASCE O MITO



Gostaria de acreditar que enquanto a maioria absoluta dos venezuelanos chora copiosamente a “morte” de Hugo Rafael Chávez Frías não existe quem a esteja comemorando. Entretanto, não me iludo. Apesar de ser um homem de paz que nunca revidou com violência a violência que sofreu nos idos de abril de 2002, Chávez era odiado com fervor por uma minoria.

Seus inimigos não o combateram por seus defeitos, que, como qualquer ser humano, deveria ter muitos. Não, não. Ele foi combatido por suas qualidades, porque sua obra – que ultrapassou as fronteiras de seu país – tornou o mundo mais justo e a vida dos compatriotas desvalidos menos penosa.

Foi chamado de “ditador”, mas nenhum governante das três Américas jamais se apresentou tantas vezes ao voto popular limpo e inquestionável quanto ele. De 1999 até o ano passado, incontáveis foram as eleições que venceu sem que nunca um só questionamento à lisura dos processos eleitorais que lhe deram as vitórias tenha sido sequer levado a sério.

Chávez logrou fazer da Venezuela a campeã das Américas em redução da pobreza e da desigualdade social. Sua obra social, como não podia ser atacada por conta de êxitos como o de tornar o seu país o segundo da América Latina, ao lado de Cuba, a extirpar a chaga do analfabetismo, foi ignorada pela mídia internacional e até pela venezuelana.

Nunca me esquecerei de uma viagem que fiz à Venezuela em 2007, quando fui a um dos morros que cercam Caracas e, em visita ao uma unidade do programa social de Chávez que acabou com o analfabetismo, vi adolescentes e até adultos recém-alfabetizados estudando a constituição do país.

Mas a obra de Chávez extrapolou as fronteiras de seu país natal. A revolução bolivariana se espalhou pela América Latina. Sua influência mais forte tem sido sentida na Argentina, na Bolívia e no Equador, com um modelo revolucionário que reformou constituições e democratizou a comunicação de massas.

Perto da redução da pobreza, da miséria e da desigualdade que Chávez promoveu, a que conseguimos no Brasil, em comparação proporcional, não lhe chega nem aos pés. Isso porque, com risco da própria vida e sacrificando a paz pessoal, ele comprou brigas com poderes imensuráveis que, se não tivesse comprado, teria tido uma vida mais fácil no poder.

Dolorosamente, a morte física de Chávez será explorada de forma nauseabunda por multibilionários das mídias de ultradireita que infestam esta parte do mundo. Tentarão culpa-lo pela própria morte. Em lugar de destacarem sua obra, destacarão o processo sucessório na Venezuela.

A esses, digo que se antes tinham poucas chances de derrotar esse herói latino-americano, esse verdadeiro patrimônio da humanidade, agora suas chances são nulas, morreram fisicamente com ele, que acaba de renascer. Hugo Rafael Chávez Frias renasceu, chacais da miséria humana. Tornou-se um mito que os assombrará até o fim dos tempos.

Morto fisicamente, Chávez adquiriu poderes que nem todos os editoriais, colunas, telejornais ou reportagens mal-acabadas da Terra conseguirão equiparar. Sua verdadeira história só agora começará a ser contada às gerações futuras, mostrando que quando um homem devota sua vida ao bem comum como ele fez, torna-se imortal.

Descanse em paz, Hugo.

Por Eduardo Guimarães
Pátria Latina – 06/03/2013

segunda-feira, 4 de março de 2013

HABEMUS PAPAM



Estamos vivendo aquela expectativa natural, na escolha de um novo Papa.

Agora vem o isolamento, a espera, a nuvem negra quando ainda não escolheram, e branca quando já foi escolhido o novo Papa.

Muita gente anda dando seus “chutes” e fazendo suas apostas na nacionalidade do futuro Pontífice e eu entrei na onda.

Imagina, por exemplo, se o Papa for brasileiro.

Dezenas de brazucas enrolados na bandeira do Brasil, alguns segurando um cartaz “Eu Já Sabia”. Hino nacional brasileiro a todo pulmão na Praça de São Pedro.

Antes mesmo de receber o Anel do Pescador o novo papa aparece no programa “E Agora papa?”.

Aliás, a televisão iria protagonizar os momentos mais emocionantes.

Já pensou a Globo querendo adquirir os direitos exclusivos da Missa do Galo...

Xuxa fazendo carinha de sofrida cantando uma música emocionante (e irritante) acompanhada por um coral de crianças contra a pedofilia...

Pedro Bial promovendo o primeiro BBB direto da Basílica de São Pedro chamando os cardeais de “meus heróis”.

Na música, com certeza, apareceriam “As Papetes” nova banda de Funck composta de gostosas seminuas cantando “Excomunga, excomunga a Vagabunda”.

Claro que haveria o uso político do Papa brasileiro.

Os conservadores diriam que o Papa é a cara da tradicional família brasileira e dos valores cristãos contra esses “esquerdistas” admiradores de Cuba e de Chaves.

A galera progressista convidaria o companheiro Papa para distribuir pessoalmente os recursos da Bolsa Família entre os mais necessitados, com transmissão ao vivo, claro.

Com certeza não faltariam boatos de que o Papa iria virar símbolo de algum partido nanico.

Quer saber? Melhor não pensar nessa possibilidade. Um papa brasileiro não!!

Seria mais interessante que o novo Papa fosse da África. O candidato de Gana está bem cotado, mas isso não quer dizer muita coisa. Um Papa africano seria o primeiro Papa negro da história e isso daria voz a inúmeras comunidades que jamais passaram da sala de espera do Vaticano.

Um Papa do Líbano, único país majoritariamente católico do Oriente Médio ou do Egito copta, seria bem representativo.

Não sei... mas depois de dois papas não italianos, se fosse apostar eu apostaria que o próximo papa será da Itália.

Qualquer que seja a nacionalidade, que seja um Papa progressista, capaz de levar a Igreja pelos caminhos necessários da mudança, da modernidade e principalmente, da democratização.

Um Papa que faça a Igreja Católica ouvir o clamor de seus fiéis que esperam por novos ares em sua fé.

Mas um papa brasileiro não, por favor... Galvão Bueno narrando a via-sacra, Nãããão!

Prof. Péricles




sábado, 2 de março de 2013

O TREM DAS ESTRELAS



Estavam todos suavemente acomodados. Alguns olhavam para o lado de fora como a catar recordações perdidas. Outros conversavam no balanço das horas.

Num espaço mais a frente aquele senhor muito magro, calvo, de óculos de lentes redondas, e de trajes longos, pacientemente falava a um grupinho, sobre a importância da não-agressão, mesmo quando se é agredido.

- “Principalmente nessas horas, dizia Gandhi, devemos manter a serenidade. Não é preciso aniquilar pela força com o invasor, basta não obedecê-lo para tornar inviável a dominação dos brutos”.

O que o senhor acha presidente? – alguém perguntou.

Lincoln, até então muito compenetrado, ajeitou a cartola, que mesmo assim permaneceu torta, e esfregando a barba respondeu:

- “Bem, no meu caso para manter a paz eu tive que ir a Guerra. Não se tratava de lutar contra a dominação e sim de impedir uma divisão. Também tive que trapacear para aprovar a 13ª Emenda, coisa que nosso Gandhi, claro que não concordaria, mas, às vezes é assim mesmo, temos que ter força para manter a paz”.

Ao ouvir essas palavras, um homem negro, o mais jovem do grupo, se aproximou e com um sorriso franco no rosto, Martim Luther King pôs um braço sobre os ombros de Lincoln, que acabara de silenciar, e complementou:

- “Verdade meu Presidente, às vezes é preciso pressionar, como fizemos com mais de 300 mil participantes na Marcha Sobre Washington, mas também concordo com nosso Mahatma quando afirma que a paz, a não-agressão também possui seus resultados inquestionáveis. Enfim, pela paz e pela liberdade temos todos nossas razões e nossos sonhos. Eu pelo menos tenho um sonho”. E todos riram gostosamente com a sacada do Pastor King.

Inclusive aqueles dois que não param de tagarelar, apontou o Gandhi negro.

Quem são perguntou alguém.

- Ithzak Rabin e Yasser Arafat.

- “Claro disse Lincoln, eles representavam dois povos que se odeiam visceralmente e estavam praticamente selando a paz quando foram assassinados. Talvez por isso não parem de falar ao infinito, sobre a violência que poderia ser evitada e como seria possível construir um Oriente Médio pacífico.”

Mais barulhento ainda é aquele grupo comenta um anjinho gorducho que estava calado... estão no fundo do vagão como se fossem clandestinos fazendo uma espécie de reunião.

- “E é uma Reunião disse Chico Mendes... são meus compatriotas do PCB – Partido Comunista Brasileiro... gente que sempre foi contra a luta armada e defendeu a luta política pacífica contra a Ditadura Militar brasileira, mas que foi impiedosamente perseguida e morta por uma tal de Operação Radar dos órgãos da Repressão.”

Puxa cochichou um anjinho com a asa amassada, todos nesse trem defendiam a paz e por isso foram mortos...

Sim, sussurrou outro anjo, com um colar de hippie, todos foram assassinados, todos vítimas da violência que combatiam.

É mesmo disse o asinha amassada. O mundo teima em matar os que defendem a paz. Eliminam a tiros e de todas as formas os pacíficos enquanto tornam heróis os agentes da guerra e da violência.

- "Sim, retornou o do colar de hippie, isso faz parte da estúpida história humana e de sua ânsia de exploração da própria espécie. Os que morrem dessa forma absurda acabam vindo pra cá, para esse trem da paz entre as estrelas para que continuem brilhando pois a mensagem da paz jamais acaba, ela apenas se transforma... A vitória da violência é apenas aparente, pois mesmo matando os homens jamais se matará a idéia e outros homens empunharam a bandeira... Mas o que é que você olha tanto criatura?"

Bem, fala o gorduchinho, sem virar o rosto, é que estou tentando lembrar de onde conheço o maquinista, aquele moço cabeludo e de barbas com aquelas enormes feridas nas mãos.

Passageiros Ilustres:

- Mohandas Karamchand Gandhi: Morto a tiros em 30 de janeiro de 1948 por um hindu radical. Gandhi fez uma revolução sem violência e libertou seu país, a Índia.

- Abraham Lincoln: Morto com um tiro na cabeça por um ator e espião confederado em 14 de abril de 1865. Presidente que estancou a violência da escravidão nos EUA.

- Martim Luther King: Morto a tiros em 04 de abril de 1968 quando se encontrava na sacada de seu quarto de hotel por um racista fanático, em Memphis. Na luta pelo fim da segregação racial em seu país, King superou os líderes que defendiam o uso da violência.

- Itzak Rabin: herói de guerra e premiê israelense assassinado por um radical de direita contrário à paz com os palestinos, no dia 4 de novembro de 1995, minutos antes participara de um comício pela paz na Praça dos Reis, em Israel.

- Yasser Arafat: Líder maior do povo palestino, junto com Rabin ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1994. Morto em 11 de Novembro de 2004, sabe-se hoje, em decorrência de anos de contínuo envenenamento realizado pelos serviços secretos israelenses.

- Francisco Alves Mendes Filho (Chico Mendes): ativista que lutava pela preservação da floresta Amazônica e pela manutenção da paz entre seringueiros e grileiros no Acre, morto em 22 de dezembro de 1988, com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa.

Prof. Péricles

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

EU TENHO UM SONHO




A situação racial nos Estados Unidos permaneceu uma chaga aberta por muitas décadas desde a guerra da secessão e o fim da escravidão, especialmente nos estados do sul. Nesses estados a derrota militar acompanhada da derrocada econômica e fim abrupto do seu modo de vida reverteram num grande ódio dos brancos para com os negros.

De certa forma, na mente do cidadão médio do sul dos Estados Unidos, tudo havia sido culpa dos negros. Toda sua tragédia pessoal e econômica era culpa do fim da escravidão.

O ódio daí resultante, fez crescer uma legislação injusta e violenta, um verdadeiro apartheid nas Américas.

Devido à aprovação da 13ª Emenda, era impossível manter a escravidão nos antigos estados da Confederação, mas graças ao federalismo, que desde a criação dos Estados Unidos, predominou na relação entre os estados, várias Leis injustas e agressivas puderam ser aprovadas.

Assim, por exemplo: no Alabama era proibido aos negros sentar nos bancos da frente dos ônibus; no Arkansas crianças negras não podiam estudar nas melhores escolas, reservadas apenas às estudantes brancos; no Mississipi negros não podiam utilizar bebedouros públicos, reservados apenas aos brancos e havia calçadas permitidas o trânsito apenas de brancos, e muitas outras leis segregacionistas.

A luta pela igualdade e pelo fim das leis segregacionistas no país que sempre se propõem a ensinar democracia ao mundo foi árdua e dolorosa. Chamamos de Movimento dos Direitos Civis e se estende do período de 1954 a 1980.

Envolveu rebeliões populares, crises, mortes e atentados, particularmente entre 1955 e 1968.

Nesse momento mais difícil dois caminhos se apresentaram aos negros em busca dos seus direitos: o caminho do confronto e da violência, proposto por grupos como Black Power e líderes como Malcolm X e o caminho da luta através da resistência pacífica, liderado por Martim Luther King.

Chamado por muitos de “O Gandhi Negro”, Martin Luther King, Jr. Era um Pastor Protestante (batista) tornou-se ativista político e uma das maiores lideranças na luta dos negros que ele defendia fosse feita com a não violência e amor ao próximo.

Em 28 de agosto de 1963, cerca de 300 mil pessoas, negras e brancas vindas de todas as partes dos Estados Unidos realizaram a chamada “Marcha Sobre Washington” para pressionar com propósitos de integração racial, direito de moradia digna, pleno emprego, direito ao voto e educação integrada.

Nesse dia, Martim Luther King pronunciou um dos mais belos discursos da história que foi denominado de "I Have a Dream" (eu tenho um sonho). Reproduzimos a seguir trechos desse discurso extraordinário:




"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra (Lincoln), assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. (...)

Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. (...) não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. (...)

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. (...)

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! (...)

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

Martim Luther King foi assassinado com um tiro de rifle disparado por um racista fanático, na noite de 4 de abril de 1968. Tinha 39 anos. Segundo alguns anjos, ele continua sonhando por nós, num mundo mais justo e livre.

Prof. Péricles

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

LINCOLN




A proclamação de independência dos Estados Unidos da América do Norte, de 04 de julho de 1789, é uma ode à liberdade.

Escrita em sua maior parte pelo iluminista Thomas Jefferson, a declaração enaltece o direito dos livres e se rebela contra a servidão a que a Inglaterra e suas Leis Intoleráveis queriam submeter os americanos.

Tudo muito bonito. Porém, muito hipócrita.

A hipocrisia está na raiz da visão de mundo livre que eles defendiam simplesmente porque mantinha a escravidão negra no novo país (os Estados Unidos assim como o Brasil recebeu grande quantidade de mão de obra escrava africana para trabalhar principalmente nas áreas rurais).

Os “heróis da liberdade” eram também proprietários de escravos e por isso, bem, esquece isso de abolição.

As conseqüências dessa deliberada covardia seriam nefastas.

Ao longo dos anos seguintes, os Estados Unidos ampliaram drasticamente seu território com as Guerras contra o México e a Marcha para o Oeste.

O capital acumulado (apenas Estados Unidos pode criar um mercado próprio ao longo no colonialismo), o crescimento populacional e a política externa fizeram nascer uma pujante indústria na região e com isso surgiram “dois Estados Unidos”.

Um era composto pelos estados do sul, onde a economia era basicamente agrária, quase um plantation como no Brasil, sustentada pela mão-de-obra escrava.

Outro era formado pelos estados do norte, em avassalador processo industrial, precisando cada vez mais de consumidores e de assalariados para mover a engrenagem.

O resultado foi uma guerra terrível, a Guerra de Secessão, entre os do norte (chamados de União, capital Washington) e os do Sul (chamados de Confederados, capital Richmond, Virginia) que sangrou esse país entre 1860 e 1865.

O presidente da união era Abraham Lincoln, político do Partido Republicano que desde o início de sua carreira posicionara-se a favor da abolição da escravatura.

Em 1863, aproveitando que a sorte da guerra começava a lhe sorrir, Lincoln proclamou o fim da escravidão nos estados do norte e áreas conquistadas do inimigo.

Seu temor, porém, era que os estados do sul vendo-se militarmente perdidos, negociassem a paz impondo a manutenção da escravidão nos seus territórios como condição.

Para acabar com essa possibilidade Lincoln propõem uma mudança na Constituição norte-americana, a 13ª Emenda, que decretaria o fim da escravidão em todo o território nacional.

A corrida desesperada pela aprovação dessa emenda na Câmara de Deputados, nos quatro últimos meses da guerra é retratada no Filme “Lincoln”.

Dirigido por Steven Spielberg com uma interpretação extraordinária, quase mediúnica de Daniel Day-Lewis, no papel principal, o filme narra a guerra de bastidores entre os homens do presidente que tentam convencer deputados a apoiar a aprovação da Emenda, e os contrários ao fim da escravidão.

O filme não se dedica a falar da Guerra de Secessão, atendo-se basicamente a aprovação da Emenda.

Interessante reparar que, de forma sutil, o cineasta que utilizou como roteiro o Livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln de Doris Kearns Goodwin, mostra que para a aprovação da Emenda Lincoln, não titubeia em recorrer a um mensalão, para “convencer os indecisos”.

Os esforços do presidente e de seu mensalão atingem pleno sucesso em sessão parlamentar de janeiro de 1865.

Vale à pena conferir no cinema.

Quanto ao presidente Lincoln, após a vitória, deu andamento a medidas que buscavam a emancipação dos negros recém libertos visando integrá-los plenamente ao mercado de trabalho e a vida civil da nação (coisa que nunca aconteceu no Brasil). Mas, infelizmente suas medidas e idéias acabaram silenciadas pela ignorância e violência que o atingiram em 14 de abril daquele ano de 1865, quando foi assassinado a tiros nas dependências do Teatro Ford.


Prof. Péricles