Ela nasceu no ano 69 a.C. na cidade de Alexandria. Filha de Ptolomeu XII, rei de uma dinastia de reis gregos que Alexandre, da Macedônia, enfiara guela abaixo dos egípcios quando conquistou o país.
Enquanto seu pai e seus irmãos e irmãs (eram 5) disputavam o poder, literalmente, Cleópatra estudava. Aprendeu 7 idiomas, entre eles o egípcio (era a única da família real que falava a própria língua nacional) e se informou sobre o mundo em que vivia.
Irritado com seus filhos ambiciosos que tinham a mania de querer matá-lo, seu pai ordenou que seus dois preferidos, ela e o caçula, Ptolomeu XIII casassem para sucede-lo no trono. Cleópatra tinha então 18 anos, e seu irmão 15.
Aos 20 anos conheceu o bam-bam-bam de sua época, Júlio Cesar (militar e político romano) no famoso episódio do tapete. Segundo Plutarco na “Biografia dos Césares” Cleópatra mandara recado a Júlio Cesar dizendo que lhe daria um precioso tapete, como presente. Júlio Cesar não estava nem aí pra tapetes, mas, os escravos o levaram à sala do trono e ao ser desenrolado o tal tapete... Uauu! Cleopatra apareceu linda, pálida e vestida apenas de seus anéis (um em cada dedinho). Desconfiado, o veterano conquistador perguntou porque estava sendo tão fácil ao que ela, arrumando o anelzinho, teria respondido que não era “dessas”, ora bolas, mas coisa da maldita curiosidade feminina sobre as histórias que contavam sobre ele (diziam que Julinho era um amante insaciável e criativo que deixava a mulherada doida na hora do “ai meu Deus”). Júlio César, como todo homem que se acha, acreditou.
Depois daquela noite, Júlio Cesar nunca mais se livrou de Cleópatra.
Tornou-se seu amante provocando a fúria dos romanos (ele era casado e para os romanos, como hoje, não era necessário ser fiel, mas parecer fiel era excessial).
Em Junho de 47 a.C., aos 22 anos, Cleópatra deu à luz a Cesarion, filho de Júlio, que reconheceu a paternidade da criança.
Apesar do escândalo e do ódio que a relação produzia, o Egito continuava independente, mesmo com toda pressão do senado romano sobre Cesar.
Em 46 a.C., a convite de César, Cleópatra instala-se em Roma, com o filho, fixando residência próximo à casa da esposa de César (a terceira), Calpurnia. Isso, definitivamente era uma afronta ao povo romano que se compadecia do sofrimento da esposa, humilhada por aquela rainha estrangeira. Com certeza, se existisse uma “Caras” em Roma, o escândalo seria a capa da revista.
César, totalmente apaixonado (homem apaixonado adora fazer coisas idiotas) foi além, e ordenou que fosse colocada uma estátua de sua amada no templo da deusa Venus, a deusa do amor e da beleza da forma feminina. Blasfêmia, Blasfêmia! Bradavam as velhas fofoqueiras.
Então, a tragédia. César foi assassinado nas ecscadarias do Senado. O povo enfurecido procurava culpados e Cleópatra teve que fugir para não ser morta.
Em 42 a.C., Marco Antônio, o novo bam-bam-bam, exige conhecê-la pessoalmente (a história do tapete deixava ele doido). Cleópatra, então com 27 anos, mais bela que nunca, o encontrou na cidade de Tarso com grande pompa.
Depois daquele dia, Marco Antônio nunca mais se livrou de Cleópatra.
Passaram juntos o inverno de 42 a.C. em Alexandria. Ficou grávida pela segunda vez, e teve gêmeos: Cleópatra Selene e Alexandre Hélio.
Tentando pacificar os ânimos de Otávio, que disputava com ele o poder, e achando que uma simples aproximação familiar acalmaria o bundão (como Marco Antônio pensava ser Otávio), Marquinhos casou com a irmã deste (Otaviana, uma chata e excessivamente fofa), mas, num casamento formalmente político. Dizem de Antônio nem olhava para a esposa.
Em 37 a.C., Marco António pirou de vez. Mudou-se em definitivo para Alexandria passando a viver com Cleópatra (segundo alguns, como Suetônio, casaram-se secretamente). Definitivamente esse ato representaria seu fim político, pois perderia o que restava de apoio da opinião pública e daria a Otávio o discurso, não só de defensor de Roma contra o poder da megera, como também o discurso do irmão que defende a irmã traída e humilhada.
Então, Cleópatra deu à luz outro filho, o último, Ptolomeu Filadelfo.
Em 31 a.C, aos 38 anos, ainda batendo um bolão, após fragorosa derrota na batalha do Áccio para as forças de Otávio, Cleópatra, a última rainha do Egito foi morta. Deixava 4 filhos (um de Júlio Cesar e 3 de Marco Antônio) e uma lenda que jamais deixaria de crescer alimentada por escritores, historiadores e poetas.
Logo após a sua morte, Otávio decreta a invasão e o Egito, que perderia para sempre sua independência (esse Egito moderno, é árabe, é outro Egito).
Para muitos Cleópatra foi apenas uma mulher extremamente linda, sedutora, além de astuta e oportunista que usou o sexo em favor de seus interesses.
Para outros foi uma política e diplomata hábil, mulher inteligente, autora de livros sobre pesos e medidas, cosméticos e magia que, ao perceber antes dos outros que os destinos do mundo seriam ditados por Roma, usou sua inteligência, sua cultura e carisma para manter a independência de seu país.
Para Suetônio, que conviveu com ela, a única inverdade a seu respeito é sobre a extrema beleza, pois, segundo ele, Cleópatra tinha uma beleza comum, nada superior às mulheres de seu tempo (mas a gente nunca sabe se não era inveja do Suetônio). Também, segundo ele, Júlio Cesar e Marco Antônio foram seus únicos homens, desautorizando a imagem de libertina.
Ela conquistou os dois homens mais poderosos de seu tempo, e enquanto viveu o Egito manteve a independência.
Ela morreu deixando mistérios e segredos, até porque
"depois de sua história, o Mundo nunca mais se livrou de Cleópatra"
Prof. Péricles
domingo, 8 de janeiro de 2012
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
VÍTIMAS DA DITADURA 6 - SOBREVIVENTES
Fui preso às seis e meia da manhã de 29 de setembro de 1969. Na época eu trabalhava no Jornal da Tarde, de São Paulo, cobrindo a área policial e naquela noite ficara até as quatro da madrugada conversando e bebendo com dois policiais - o escrivão Waldemar de Paula e o delegado Luiz Orsatti, ambos lotados no DOPS.
Cheguei em casa, um apartamento de terceiro andar na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias, às quatro e meia da manhã e, cansado e meio alto, fui me deitar no quarto do meu irmão Aton Fon Filho, que se encontrava viajando.
Dormi duas horas e acordei com algo frio encostado no nariz. Abri os olhos e o quarto estava cheio de homens armados de fuzis e metralhadoras. O objeto frio encostado no meu nariz era o cano de uma pistola calibre 45, empunhada pelo delegado Raul Nogueira - que eu já conhecia como integrante do grupo clandestino de extrema-direita Comando de Caça aos Comunistas, um policial que encontrava um estranho prazer em espancar estudantes.
Fui algemado, com as mãos à frente do corpo, e levado por dois policiais.
As mãos de Raul tremiam, não sei por que, mas na hora me pareceu medo. Ao nos aproximarmos do elevador, ele engatilhou a 45 e encostou-a na minha cabeça. Lembro perfeitamente de que senti medo - um arrepio que percorreu a espinha - e não reclamei porque um pensamento passou-me pela cabeça: "Diante de um covarde armado, o melhor é obedecer sem conversar". O outro policial também percebeu a situação. "Prá que isso, doutor?", ele chegou a perguntar. Raul Nogueira respondeu que "essa gente é muito perigosa, muito perigosa".
O carro estacionou no pátio dos fundos do 34° Distrito Policial e eu fui levado aos empurrões para a porta do pequeno prédio de três pavimentos onde funcionava a "Operação Bandeirantes". Eu ainda tinha alguma esperança de que aquela situação se esclarecesse rapidamente, mas ela se desvaneceu logo: "Esse é daqueles que não sabem de nada", explicou o delegado Raul "Careca" ao entregar-me a dois homens que esperavam na porta.
Fui levado para a câmara de torturas, no segundo andar, e durante três horas submetido a "pau-de-arara", espancamentos e choques elétricos. De tudo isto, lembro-me de que nada era mais terrível que os choques elétricos na cabeça, com um fio preso ao lóbulo da orelha e outro percorrendo os lábios, o pescoço ou o nariz. Esses
choques provocam uma contração tão forte dos músculos da face que a língua é mordida e estraçalhada pelos dentes. Fiquei vários dias sem poder comer, até que um enfermeiro do Exército obteve autorização para levar-me um pouco de gelo, que anestesiava momentaneamente a língua, permitindo que eu me alimentasse.
Fiquei 17 dias na "Operação Bandeirantes". A alimentação era levada do quartel da Polícia do Exército e servida uma vez por dia, à noite. Isto tem um motivo. Uma pessoa alimentada não pode ser pendurada no "pau-de-arara" ou submetida a choques elétricos, sob o risco de morrer de congestão. Então, nós éramos alimentados apenas à noite, para ficarmos disponíveis durante o dia para sermos torturados.
Lembro-me de que uma vez ganhei uma dúzia de pães do capitão Roberto ontuschka. Esse capitão Roberto era um homem estranho. Durante o dia, torturava-nos; à noite, descia aos xadrezes para distribuir bíblias e tentar salvar nossas almas. Uma noite, procuramos conversar com ele, pedindo-lhe que explicasse como podia um homem tão religioso torturar seus semelhantes. "Eu trago a palavra de Deus", ele explicou, "mas, para quem se recusa a ouvi-la, eu uso esta outra linguagem", disse,
apontando a pistola calibre 45 que trazia na cintura. Pedi-lhe pão e ele respondeu que só quando eu revelasse onde se encontrava meu irmão, a quem a "Operação Bandeirantes" procurava: "Acaso serei eu guardião do meu irmão?", respondi-lhe com as palavras do Gênese. Ele ficou muito satisfeito com a resposta e deu o pão.
Alguns de nós sequer sabiam por que estavam presos. Recordo de três casos extremos: Osvaldo, Pardal e um japonês. Pardal havia sido preso porque um de seus alunos, aborrecido com as notas baixas que recebia, o havia denunciado como comunista. O japonês fora preso na Faculdade de Economia da USP. Os homens da "Operação Bandeirantes" haviam tentado prender um grupo de estudantes, que fugiu. Só ficou na escola o japonesinho, que estava vendendo livros e não sabia o que acontecia.
O caso de Osvaldo talvez seja tragicômico. Ele embebedou-se em uma boate e foi preso. Acordou no xadrez da "Operação Bandeirantes" sem conseguir se lembrar por que fora preso. O agente que o detivera, provavelmente também bêbado, não conseguia lembrar-se por que o havia prendido. E durante um mês Osvaldo foi torturado para contar o motivo pelo qual havia ido parar na "Operação Bandeirantes".
Gasparzinho e o nissei Daniel haviam sido presos sob a acusação de envolvimento com o PC do B. Junto com eles havia sido detido um terceiro rapazinho. Os três eram quase meninos, nenhum chegara aos vinte anos. Na "Operação Bandeirantes", os policiais tentaram destruí-los moralmente, mandando que um torturasse o outro. Os três se recusaram e, por isso, foram condenados a ser torturados em conjunto. De volta à cela, os três, estropiados, contavam emocionados como haviam se sentido mais fortes para enfrentar o suplício vendo que o amigo se mantivera firme.
Depois de 17 dias na "Operação Bandeirantes", fui transferido para o DOPS. Onde fiquei vinte dias e só fui torturado mais uma vez - duas horas de "pau-de-arara" e choques elétricos, comandados pelo delegado Roberto Guimarães e pelo investigador Moretto. Esta sessão de torturas aconteceu na véspera de minha transferência para o Presídio Tiradentes e, devido ao "pau-de-arara", fiquei com as pernas paralisadas alguns dias.
Fiquei mais quinze dias no Presídio Tiradentes, até à noite do dia 19 de novembro, quando fui levado de volta para o DOPS. Naquela noite mesmo fui colocado em liberdade. E lembro-me, ainda, das palavras de despedida do delegado que me libertou: "Que bela reportagem, se você pudesse escrever, hein?"
Antonio Carlos Fon
Antonio Carlos Fon nasceu em Salvador, Bahia. Começou no jornalismo em 1967, no jornal O Dia, de São Paulo, como repórter-policial. Daí transferiu-se para o Diário Popular e, mais tarde, Jornal da Tarde, onde trabalhou durante seis anos, sempre cobrindo a área policial.
Em 1974 transferiu-se para a revista Visão onde, durante um ano, cobriu as áreas de economia e política. Fez parte do grupo que lançou, em 1975, o jornal Aqui São Paulo, antes de se transferir para Veja, onde voltou a se dedicar à reportagem policial.
Cheguei em casa, um apartamento de terceiro andar na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias, às quatro e meia da manhã e, cansado e meio alto, fui me deitar no quarto do meu irmão Aton Fon Filho, que se encontrava viajando.
Dormi duas horas e acordei com algo frio encostado no nariz. Abri os olhos e o quarto estava cheio de homens armados de fuzis e metralhadoras. O objeto frio encostado no meu nariz era o cano de uma pistola calibre 45, empunhada pelo delegado Raul Nogueira - que eu já conhecia como integrante do grupo clandestino de extrema-direita Comando de Caça aos Comunistas, um policial que encontrava um estranho prazer em espancar estudantes.
Fui algemado, com as mãos à frente do corpo, e levado por dois policiais.
As mãos de Raul tremiam, não sei por que, mas na hora me pareceu medo. Ao nos aproximarmos do elevador, ele engatilhou a 45 e encostou-a na minha cabeça. Lembro perfeitamente de que senti medo - um arrepio que percorreu a espinha - e não reclamei porque um pensamento passou-me pela cabeça: "Diante de um covarde armado, o melhor é obedecer sem conversar". O outro policial também percebeu a situação. "Prá que isso, doutor?", ele chegou a perguntar. Raul Nogueira respondeu que "essa gente é muito perigosa, muito perigosa".
O carro estacionou no pátio dos fundos do 34° Distrito Policial e eu fui levado aos empurrões para a porta do pequeno prédio de três pavimentos onde funcionava a "Operação Bandeirantes". Eu ainda tinha alguma esperança de que aquela situação se esclarecesse rapidamente, mas ela se desvaneceu logo: "Esse é daqueles que não sabem de nada", explicou o delegado Raul "Careca" ao entregar-me a dois homens que esperavam na porta.
Fui levado para a câmara de torturas, no segundo andar, e durante três horas submetido a "pau-de-arara", espancamentos e choques elétricos. De tudo isto, lembro-me de que nada era mais terrível que os choques elétricos na cabeça, com um fio preso ao lóbulo da orelha e outro percorrendo os lábios, o pescoço ou o nariz. Esses
choques provocam uma contração tão forte dos músculos da face que a língua é mordida e estraçalhada pelos dentes. Fiquei vários dias sem poder comer, até que um enfermeiro do Exército obteve autorização para levar-me um pouco de gelo, que anestesiava momentaneamente a língua, permitindo que eu me alimentasse.
Fiquei 17 dias na "Operação Bandeirantes". A alimentação era levada do quartel da Polícia do Exército e servida uma vez por dia, à noite. Isto tem um motivo. Uma pessoa alimentada não pode ser pendurada no "pau-de-arara" ou submetida a choques elétricos, sob o risco de morrer de congestão. Então, nós éramos alimentados apenas à noite, para ficarmos disponíveis durante o dia para sermos torturados.
Lembro-me de que uma vez ganhei uma dúzia de pães do capitão Roberto ontuschka. Esse capitão Roberto era um homem estranho. Durante o dia, torturava-nos; à noite, descia aos xadrezes para distribuir bíblias e tentar salvar nossas almas. Uma noite, procuramos conversar com ele, pedindo-lhe que explicasse como podia um homem tão religioso torturar seus semelhantes. "Eu trago a palavra de Deus", ele explicou, "mas, para quem se recusa a ouvi-la, eu uso esta outra linguagem", disse,
apontando a pistola calibre 45 que trazia na cintura. Pedi-lhe pão e ele respondeu que só quando eu revelasse onde se encontrava meu irmão, a quem a "Operação Bandeirantes" procurava: "Acaso serei eu guardião do meu irmão?", respondi-lhe com as palavras do Gênese. Ele ficou muito satisfeito com a resposta e deu o pão.
Alguns de nós sequer sabiam por que estavam presos. Recordo de três casos extremos: Osvaldo, Pardal e um japonês. Pardal havia sido preso porque um de seus alunos, aborrecido com as notas baixas que recebia, o havia denunciado como comunista. O japonês fora preso na Faculdade de Economia da USP. Os homens da "Operação Bandeirantes" haviam tentado prender um grupo de estudantes, que fugiu. Só ficou na escola o japonesinho, que estava vendendo livros e não sabia o que acontecia.
O caso de Osvaldo talvez seja tragicômico. Ele embebedou-se em uma boate e foi preso. Acordou no xadrez da "Operação Bandeirantes" sem conseguir se lembrar por que fora preso. O agente que o detivera, provavelmente também bêbado, não conseguia lembrar-se por que o havia prendido. E durante um mês Osvaldo foi torturado para contar o motivo pelo qual havia ido parar na "Operação Bandeirantes".
Gasparzinho e o nissei Daniel haviam sido presos sob a acusação de envolvimento com o PC do B. Junto com eles havia sido detido um terceiro rapazinho. Os três eram quase meninos, nenhum chegara aos vinte anos. Na "Operação Bandeirantes", os policiais tentaram destruí-los moralmente, mandando que um torturasse o outro. Os três se recusaram e, por isso, foram condenados a ser torturados em conjunto. De volta à cela, os três, estropiados, contavam emocionados como haviam se sentido mais fortes para enfrentar o suplício vendo que o amigo se mantivera firme.
Depois de 17 dias na "Operação Bandeirantes", fui transferido para o DOPS. Onde fiquei vinte dias e só fui torturado mais uma vez - duas horas de "pau-de-arara" e choques elétricos, comandados pelo delegado Roberto Guimarães e pelo investigador Moretto. Esta sessão de torturas aconteceu na véspera de minha transferência para o Presídio Tiradentes e, devido ao "pau-de-arara", fiquei com as pernas paralisadas alguns dias.
Fiquei mais quinze dias no Presídio Tiradentes, até à noite do dia 19 de novembro, quando fui levado de volta para o DOPS. Naquela noite mesmo fui colocado em liberdade. E lembro-me, ainda, das palavras de despedida do delegado que me libertou: "Que bela reportagem, se você pudesse escrever, hein?"
Antonio Carlos Fon
Antonio Carlos Fon nasceu em Salvador, Bahia. Começou no jornalismo em 1967, no jornal O Dia, de São Paulo, como repórter-policial. Daí transferiu-se para o Diário Popular e, mais tarde, Jornal da Tarde, onde trabalhou durante seis anos, sempre cobrindo a área policial.
Em 1974 transferiu-se para a revista Visão onde, durante um ano, cobriu as áreas de economia e política. Fez parte do grupo que lançou, em 1975, o jornal Aqui São Paulo, antes de se transferir para Veja, onde voltou a se dedicar à reportagem policial.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
MARCO ANTONIO, O PEGADOR QUE FOI PEGO
Após a morte trágica de Júlio Cesar, no ano 43 a.C., assassinado nas escadarias do senado, Roma virou um pandemônio. Petrificados, os senadores que tramaram o assassinato de Cesar perceberam o gol contra que haviam cometido. Como única forma de pacificar a galera, restou aceitar a imposição de um Triunvirato (o segundo) que iria exercer funções de executivo por cinco anos (prorrogados por mais cinco), enquanto se providenciasse a pacificação dos romanos e a prisão dos assassinos e seus mandantes.
Os homens desse trio no poder, foram escolhidos através de acordos feitos às pressas e eram: Marco Antônio, Otávio e Lépido.
Tirando fora Lépido, que ali estava por consenso, mas sem nenhuma ambição política, Marco Antônio e Otávio, desde o primeiro dia disputaram entre si o poder. A idéia era fazer do trio um solo, e depois disso, engolir o senado tornando-se imperador. A disputa entre Marco Antônio e Otávio decidiria os futuros de Roma e do mundo, e contou com pitadas operescas e tragi-cômicas.
Marco Antônio era o cara.
Herói de guerra, cicatrizes de batalhas expostas, braço direito de Júlio Cesar, alto e forte, era uma espécie de ídolo entre a juventude. Solteirão, metido a cantor, Marco Antônio era pegador. Rico, muito rico, e famoso, era o melhor partido disponível pra mulherada do pedaço.
Otávio, sobrinho de Júlio Cesar, era quase o oposto. Muito jovem (tinha apenas 20 anos na época) baixo, precocemente calvo, nunca fora visto em batalha (coisa que para os romanos era como nunca ter jogado futebol pra nós), falava baixo e pausado. Todos diziam que estava ali só por causa do titio.
A disputa entre os dois parecia decidida mesmo antes de começar. Algo assim como uma corrida entre o Vettel e o Rubinho. Mas...
Mas, Marco Antônio cometeria dois erros que se revelariam fatais.
Primeiro, desdenhou da concorrência. Achava Otávio um bundão e jamais se preocupou como deveria com ele. Quem vê careca não vê coração e Otávio, por trás da fala mansa escondia uma enorme habilidade política.
Segundo, talvez pela própria soberba, Marquinhos acabou se enrabixando com Cleópatra, a rainha egípcia, coisinha linda da época e que por anos dominou o experiênte Júlio Cesar com quem tivera um filho. Marco Antônio misturou assuntos de estado com assuntos pessoais. Não deu a mínima para a opinião pública que detestava a união entre seu general romano e uma rainha estrangeira. Se achando garanhão invencível procurou Cleópatra em seu próprio território, a cama, e... sucumbiu aos seus encantos como gurizinho chorão.
Pobre Marco Antônio. Com certeza se chegassem de surpresa no Palácio de Cleópatra o encontrariam paparicando a moça, naquele perfeito papel de idiota que todo homem apaixonado adora fazer.
Enquanto o tempo passava e Marco Antônio chamava Cleópatra de minha tchutchuquinha, Otávio ardilosamente fazia aquilo que em Brasília é praxe: alianças, conluios, propinas, aliciamentos e muita corrupção.
Quando Marco Antônio percebeu (vai ver na beira do fogão fazendo uma papinha pra amada) já não possuía o apoio dos principais políticos e generais romanos. E quando tirou o avental recebeu a notícia que Otávio rumava para o Egito com a mais poderosa esquadra que o dinheiro poderia comprar.
Foi o fim do nosso herói. Numa só batalha, a Batalha do Actium, seus poucos navios somados aos frágeis navios egipcios, foram completamente derrotados.
Empreendeu então uma patética fuga, que terminaria num patético suicídio. (Quanto à Cleópatra esqueça aquela bobagem da serpente que Hollywood inventou. Ela foi assassinada mesmo, a mando de Otávio que, esperto, nem quis ver a doida ao vivo).
Otávio, seguindo seus planos cuidadosamente traçados, fechou o senado e se declarou Imperador, com o nome de Augusto, ou Otávio Augusto.
Nos seus quase cinquenta anos de poder pacificou o Império Romano (ampliando o lucro dos poderosos oferecendo pão e circo à plebe).
Embelezou a capital. Centralizou o poder político e em seu tempo Roma conheceu um esplendor e uma paz nunca antes, nem depois, conhecida, a “Pax Romana”. Quando morreu, aos 77 anos, virou Deus, pelo menos, para os romanos.
Sem dúvidas, essa trágica história ensina muitas lições, como, por exemplo, jamais menosprezar o adversário, nunca se achar o cara acima da tragédia e sempre, mas sempre mesmo, respeitar o poder de uma mulher.
Prof. Péricles
Os homens desse trio no poder, foram escolhidos através de acordos feitos às pressas e eram: Marco Antônio, Otávio e Lépido.
Tirando fora Lépido, que ali estava por consenso, mas sem nenhuma ambição política, Marco Antônio e Otávio, desde o primeiro dia disputaram entre si o poder. A idéia era fazer do trio um solo, e depois disso, engolir o senado tornando-se imperador. A disputa entre Marco Antônio e Otávio decidiria os futuros de Roma e do mundo, e contou com pitadas operescas e tragi-cômicas.
Marco Antônio era o cara.
Herói de guerra, cicatrizes de batalhas expostas, braço direito de Júlio Cesar, alto e forte, era uma espécie de ídolo entre a juventude. Solteirão, metido a cantor, Marco Antônio era pegador. Rico, muito rico, e famoso, era o melhor partido disponível pra mulherada do pedaço.
Otávio, sobrinho de Júlio Cesar, era quase o oposto. Muito jovem (tinha apenas 20 anos na época) baixo, precocemente calvo, nunca fora visto em batalha (coisa que para os romanos era como nunca ter jogado futebol pra nós), falava baixo e pausado. Todos diziam que estava ali só por causa do titio.
A disputa entre os dois parecia decidida mesmo antes de começar. Algo assim como uma corrida entre o Vettel e o Rubinho. Mas...
Mas, Marco Antônio cometeria dois erros que se revelariam fatais.
Primeiro, desdenhou da concorrência. Achava Otávio um bundão e jamais se preocupou como deveria com ele. Quem vê careca não vê coração e Otávio, por trás da fala mansa escondia uma enorme habilidade política.
Segundo, talvez pela própria soberba, Marquinhos acabou se enrabixando com Cleópatra, a rainha egípcia, coisinha linda da época e que por anos dominou o experiênte Júlio Cesar com quem tivera um filho. Marco Antônio misturou assuntos de estado com assuntos pessoais. Não deu a mínima para a opinião pública que detestava a união entre seu general romano e uma rainha estrangeira. Se achando garanhão invencível procurou Cleópatra em seu próprio território, a cama, e... sucumbiu aos seus encantos como gurizinho chorão.
Pobre Marco Antônio. Com certeza se chegassem de surpresa no Palácio de Cleópatra o encontrariam paparicando a moça, naquele perfeito papel de idiota que todo homem apaixonado adora fazer.
Enquanto o tempo passava e Marco Antônio chamava Cleópatra de minha tchutchuquinha, Otávio ardilosamente fazia aquilo que em Brasília é praxe: alianças, conluios, propinas, aliciamentos e muita corrupção.
Quando Marco Antônio percebeu (vai ver na beira do fogão fazendo uma papinha pra amada) já não possuía o apoio dos principais políticos e generais romanos. E quando tirou o avental recebeu a notícia que Otávio rumava para o Egito com a mais poderosa esquadra que o dinheiro poderia comprar.
Foi o fim do nosso herói. Numa só batalha, a Batalha do Actium, seus poucos navios somados aos frágeis navios egipcios, foram completamente derrotados.
Empreendeu então uma patética fuga, que terminaria num patético suicídio. (Quanto à Cleópatra esqueça aquela bobagem da serpente que Hollywood inventou. Ela foi assassinada mesmo, a mando de Otávio que, esperto, nem quis ver a doida ao vivo).
Otávio, seguindo seus planos cuidadosamente traçados, fechou o senado e se declarou Imperador, com o nome de Augusto, ou Otávio Augusto.
Nos seus quase cinquenta anos de poder pacificou o Império Romano (ampliando o lucro dos poderosos oferecendo pão e circo à plebe).
Embelezou a capital. Centralizou o poder político e em seu tempo Roma conheceu um esplendor e uma paz nunca antes, nem depois, conhecida, a “Pax Romana”. Quando morreu, aos 77 anos, virou Deus, pelo menos, para os romanos.
Sem dúvidas, essa trágica história ensina muitas lições, como, por exemplo, jamais menosprezar o adversário, nunca se achar o cara acima da tragédia e sempre, mas sempre mesmo, respeitar o poder de uma mulher.
Prof. Péricles
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
FELIZ 2012
Foi mais um ano de profundas mudanças e de agravamentos no plano internacional e de afirmações no terreno nacional.
Estaremos iniciando o último ano do resto de nossas vidas, como alguns dizem que os Mais profetizaram?
Não sei, mas, realmente, coisas incríveis andam acontecendo.
A UE – União Européia – o mais sólido bloco econômico do pós-guerra, agoniza. Sua moeda única, o Euro está anêmica, perdendo força, e aparentemente não existe remédio para seu desbotamento. Sete chefes de estado perderam o emprego por causa da crise: Islândia, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia, Itália e Espanha.
A “patricinha” Noruega conheceu o terror através... de um norueguês. Não foi muçulmano nem latino, mas um típico cidadão nórdico que matou dezenas de pessoas por, adivinhe, xenofobia.
O Planeta atingiu 7 bilhões de habitantes. Nunca tantos moraram no mesmo orbe. Talvez seja a era dos encontros, ou reencontros.
Outra grande notícia de 2011 foi a consolidação da “Primavera Árabe”. Iniciada na Tunísia ganhou corpo na Praça Tahir, no Egito e se espalhou, por mil turbantes! Quatro governos decapitados: Tunísia, Egito, Iêmen e Líbia (com intromissão decisiva do ocidente) e mais dois no balança mais não cai: Irã e Síria.
Dois caminhos agora se abrem para os árabes: substituir seus ditadores e junto velhos dogmas escravizantes, como os que humilham a mulher, avançando no campo democrático e dos direitos humanos ou mergulhar ainda mais profundamente no fundamentalismo. Que a “Fraternidade Islâmica” do Egito vacile e que as mulheres sejam ágeis no mundo de Alá. Oremos, de preferência voltados para Meca.
Aqui seguimos redescobrindo nossa dignidade. Negamos, soberanamente, a extradição de Battisti e ampliamos o leque das parcerias comerciais. O Brasil descobriu que existe vida além dos Estados Unidos.
Informações da própria Europa acusam que nossa economia já é a 6ª do Mundo, superando a Grã-Bretanha. Agora só falta lutar para que tamanha riqueza seja melhor distribuída entre os brasileiros, pois não podemos esquecer que nossos pobres continuam tão pobres como os pobres de Serra Leoa, o menor PIB do mundo.
Iniciamos esse ano uma nova experiência criando esse Blog. Experiência humilde que tinha inicialmente a única pretensão de ser útil na complementação dos estudos dos nossos alunos.
Ao longo dos 9 meses de existência, porém, ele foi recebendo mais e mais visitantes de fora do espaço de aula. Acabou se espalhando e hoje, felizmente, faz parte dos “favoritos” de muita gente. Graças a vocês alguns de nossos textos já não nos pertencem, criando vida própria e fazendo parte do domínio público.
Se isso nos traz alegria e incentivo, traz também maior responsabilidade e intensifica nossa dedicação e comprometimento.
Agradecemos por todo o apoio. Agradecemos nossos alunos, colegas, amigos e amigas que nos prestigiaram.
Esperamos contar com todos em 2012, além de ampliar nossas amizades... em quanto houver tempo.
Assim como esperamos pelo fim da tortura no Brasil. Não da tortura dos porões da repressão, como nos tempos do AI-5, mas da tortura da fome, da miséria e do maior mal de todos os povos, a solidão.
Esperamos por um mundo melhor, por um Brasil melhor que melhore pelos méritos da participação de seu povo e não por “milagres” caídos do céu, pois, como diz Padre Quevedo, “isso nom ecxiste”.
Que os que venderam o Brasil por ninharias, em privatarias formuladas na calada da noite sejam reconhecidos e execrados como merecem.
E que o Grêmio volte a ser o grande campeão que sempre foi.
A todos, um brinde, e feliz 2012!
Prof. Péricles
Estaremos iniciando o último ano do resto de nossas vidas, como alguns dizem que os Mais profetizaram?
Não sei, mas, realmente, coisas incríveis andam acontecendo.
A UE – União Européia – o mais sólido bloco econômico do pós-guerra, agoniza. Sua moeda única, o Euro está anêmica, perdendo força, e aparentemente não existe remédio para seu desbotamento. Sete chefes de estado perderam o emprego por causa da crise: Islândia, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia, Itália e Espanha.
A “patricinha” Noruega conheceu o terror através... de um norueguês. Não foi muçulmano nem latino, mas um típico cidadão nórdico que matou dezenas de pessoas por, adivinhe, xenofobia.
O Planeta atingiu 7 bilhões de habitantes. Nunca tantos moraram no mesmo orbe. Talvez seja a era dos encontros, ou reencontros.
Outra grande notícia de 2011 foi a consolidação da “Primavera Árabe”. Iniciada na Tunísia ganhou corpo na Praça Tahir, no Egito e se espalhou, por mil turbantes! Quatro governos decapitados: Tunísia, Egito, Iêmen e Líbia (com intromissão decisiva do ocidente) e mais dois no balança mais não cai: Irã e Síria.
Dois caminhos agora se abrem para os árabes: substituir seus ditadores e junto velhos dogmas escravizantes, como os que humilham a mulher, avançando no campo democrático e dos direitos humanos ou mergulhar ainda mais profundamente no fundamentalismo. Que a “Fraternidade Islâmica” do Egito vacile e que as mulheres sejam ágeis no mundo de Alá. Oremos, de preferência voltados para Meca.
Aqui seguimos redescobrindo nossa dignidade. Negamos, soberanamente, a extradição de Battisti e ampliamos o leque das parcerias comerciais. O Brasil descobriu que existe vida além dos Estados Unidos.
Informações da própria Europa acusam que nossa economia já é a 6ª do Mundo, superando a Grã-Bretanha. Agora só falta lutar para que tamanha riqueza seja melhor distribuída entre os brasileiros, pois não podemos esquecer que nossos pobres continuam tão pobres como os pobres de Serra Leoa, o menor PIB do mundo.
Iniciamos esse ano uma nova experiência criando esse Blog. Experiência humilde que tinha inicialmente a única pretensão de ser útil na complementação dos estudos dos nossos alunos.
Ao longo dos 9 meses de existência, porém, ele foi recebendo mais e mais visitantes de fora do espaço de aula. Acabou se espalhando e hoje, felizmente, faz parte dos “favoritos” de muita gente. Graças a vocês alguns de nossos textos já não nos pertencem, criando vida própria e fazendo parte do domínio público.
Se isso nos traz alegria e incentivo, traz também maior responsabilidade e intensifica nossa dedicação e comprometimento.
Agradecemos por todo o apoio. Agradecemos nossos alunos, colegas, amigos e amigas que nos prestigiaram.
Esperamos contar com todos em 2012, além de ampliar nossas amizades... em quanto houver tempo.
Assim como esperamos pelo fim da tortura no Brasil. Não da tortura dos porões da repressão, como nos tempos do AI-5, mas da tortura da fome, da miséria e do maior mal de todos os povos, a solidão.
Esperamos por um mundo melhor, por um Brasil melhor que melhore pelos méritos da participação de seu povo e não por “milagres” caídos do céu, pois, como diz Padre Quevedo, “isso nom ecxiste”.
Que os que venderam o Brasil por ninharias, em privatarias formuladas na calada da noite sejam reconhecidos e execrados como merecem.
E que o Grêmio volte a ser o grande campeão que sempre foi.
A todos, um brinde, e feliz 2012!
Prof. Péricles
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
O REI DO SERTÃO
Pernambucano, ele nasceu em 4 de junho de 1898 na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, no nordeste semiárido e semiárida seria sua alma durante toda a vida.
Dizem que quando ele nasceu nenhuma ave do céu cantou em respeitoso silêncio, pelo nascimento de um Rei.
Sempre chamou a atenção seu estranho gosto pela leitura. Afinal, o que lê um menino condenado pela condição de pobre no sertão nordestino? Seria ele um feiticeiro? Teria poderes no olhar para juntar as letras e entender o que diziam?
Até os 21 anos de idade seus óculos eram citados como uma estravagância... “coisa de quem sabe ler”, cochichavam.
Naquelas terras onde o ódio deixa rastro no chão abrasado e onde a propriedade, por menor que seja, é dádiva e também tragédia por atrair a cobiça, sua família travava uma disputa angustiante com outras famílias locais, tidas como honradas.
Onde a Casa Grande dita as normas e a Senzala ainda vive nas almas, seu pai acabou morto em confronto com a polícia, a soldo das famílias honradas, em 1919.
Virgulino não teve tempo de chorar, pois no sertão a seca as vezes é nos olhos. Jurou vingança com a mesma serenidade com que virava uma página de seus livros.
E a vingança não tardou.
O jovem menino de pele queimada de sol, queimaria a bala, um a um os assassinos de seu pai. Não houve tocaia, armamento, bandoleiro ou suborno que aplacasse sua fúria. Da família rival sobreviveram apenas as mulheres e crianças, junto com os que nada tinham a ver com a pendenga.
Virou lenda. Mas teve que fugir.
Nos 19 anos seguintes (até os 40 anos de idade), o menino leitor se tornaria Lampião. Junto com seu bando viveria em nomadismo pelas estradas e picadas do sertão. Superando o sol impassível e os espinhos da caatinga perambulou pela pobreza de sete estados do Brasil, dos anos 20 e 30. Terra de abandonados e, miseráveis que não possuindo nem o direito de ter heróis de forma clandestina fariam daquele cangaceiro de pele rachada e pobre como eles mesmos, o seu herói, seu super-homem.
Lampião virou mito. Foi rei, mas, além disso, foi herói. Um herói transfigurado como fora Batista Campos no Pará ou Raimundo Jutai, o Cara Preta, no Maranhão, um século antes, no imaginário de um povo sofrido, só compreendido pelo carcará.
Foi um dos maiores estrategistas de combate do Brasil. Líder natural, disciplinador e leal a seus homens e seus juramentos, Lampião usou e abusou das táticas de guerrilha para desmoralizar o exército brasileiro.
Até os coronéis à ele se curvariam, e o próprio poder público o requereu para combater a Coluna Prestes, outro expoente da guerrilha.
Sua namorada, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, foi sua rainha. Assim como as demais mulheres do grupo, participou de muitas das ações do bando. Maria Bonita, Maria mulher, Maria como tantas Marias do Brasil.
Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Há ainda a informação controversa de que eles tiveram mais dois filhos: os gêmeos Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, mas nunca foi comprovada a veracidade da informação.
Calcula-se que por volta das 5:15 da manhã, do dia 28 de julho de 1938, quando despertavam para um novo dia, Lampião, Maria Bonita e seu bando foram covardemente massacrados pelos macacos (policiais), na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Não houve nenhuma possibilidade de resistência e quase todos morreram sem nem tocar em suas armas.
Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida (seria degolada, ainda viva).
Para os poderosos herdeiros das Casas Grandes nordestinas, Lampião foi o terror.
Para os historiadores é símbolo do chamado “Banditismo Social” característico da América Latina na primeira metade do século. Um banditismo que mistura questões de latifúndio com ausência do estado e situação de abandono nas camadas mais pobres.
Para o povo ele é apenas o Capitão Virgulino, o Lampião. Rebelde e Robin Hood. Mas sempre e simplesmente Virgulino, um pobre menino que sabia ler.
Prof. Péricles
Dizem que quando ele nasceu nenhuma ave do céu cantou em respeitoso silêncio, pelo nascimento de um Rei.
Sempre chamou a atenção seu estranho gosto pela leitura. Afinal, o que lê um menino condenado pela condição de pobre no sertão nordestino? Seria ele um feiticeiro? Teria poderes no olhar para juntar as letras e entender o que diziam?
Até os 21 anos de idade seus óculos eram citados como uma estravagância... “coisa de quem sabe ler”, cochichavam.
Naquelas terras onde o ódio deixa rastro no chão abrasado e onde a propriedade, por menor que seja, é dádiva e também tragédia por atrair a cobiça, sua família travava uma disputa angustiante com outras famílias locais, tidas como honradas.
Onde a Casa Grande dita as normas e a Senzala ainda vive nas almas, seu pai acabou morto em confronto com a polícia, a soldo das famílias honradas, em 1919.
Virgulino não teve tempo de chorar, pois no sertão a seca as vezes é nos olhos. Jurou vingança com a mesma serenidade com que virava uma página de seus livros.
E a vingança não tardou.
O jovem menino de pele queimada de sol, queimaria a bala, um a um os assassinos de seu pai. Não houve tocaia, armamento, bandoleiro ou suborno que aplacasse sua fúria. Da família rival sobreviveram apenas as mulheres e crianças, junto com os que nada tinham a ver com a pendenga.
Virou lenda. Mas teve que fugir.
Nos 19 anos seguintes (até os 40 anos de idade), o menino leitor se tornaria Lampião. Junto com seu bando viveria em nomadismo pelas estradas e picadas do sertão. Superando o sol impassível e os espinhos da caatinga perambulou pela pobreza de sete estados do Brasil, dos anos 20 e 30. Terra de abandonados e, miseráveis que não possuindo nem o direito de ter heróis de forma clandestina fariam daquele cangaceiro de pele rachada e pobre como eles mesmos, o seu herói, seu super-homem.
Lampião virou mito. Foi rei, mas, além disso, foi herói. Um herói transfigurado como fora Batista Campos no Pará ou Raimundo Jutai, o Cara Preta, no Maranhão, um século antes, no imaginário de um povo sofrido, só compreendido pelo carcará.
Foi um dos maiores estrategistas de combate do Brasil. Líder natural, disciplinador e leal a seus homens e seus juramentos, Lampião usou e abusou das táticas de guerrilha para desmoralizar o exército brasileiro.
Até os coronéis à ele se curvariam, e o próprio poder público o requereu para combater a Coluna Prestes, outro expoente da guerrilha.
Sua namorada, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, foi sua rainha. Assim como as demais mulheres do grupo, participou de muitas das ações do bando. Maria Bonita, Maria mulher, Maria como tantas Marias do Brasil.
Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Há ainda a informação controversa de que eles tiveram mais dois filhos: os gêmeos Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, mas nunca foi comprovada a veracidade da informação.
Calcula-se que por volta das 5:15 da manhã, do dia 28 de julho de 1938, quando despertavam para um novo dia, Lampião, Maria Bonita e seu bando foram covardemente massacrados pelos macacos (policiais), na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Não houve nenhuma possibilidade de resistência e quase todos morreram sem nem tocar em suas armas.
Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida (seria degolada, ainda viva).
Para os poderosos herdeiros das Casas Grandes nordestinas, Lampião foi o terror.
Para os historiadores é símbolo do chamado “Banditismo Social” característico da América Latina na primeira metade do século. Um banditismo que mistura questões de latifúndio com ausência do estado e situação de abandono nas camadas mais pobres.
Para o povo ele é apenas o Capitão Virgulino, o Lampião. Rebelde e Robin Hood. Mas sempre e simplesmente Virgulino, um pobre menino que sabia ler.
Prof. Péricles
sábado, 24 de dezembro de 2011
AUTO DE NATAL
Vocês conhecem Jesus cristo,
Aquele que nasceu na manjedoura
De um acampamento palestino
De um assentamento do MST
Conviveu com os pobres,
Os fracos, desesperados e suicidas
E viveu toda a sua vida
Correndo sério risco?
Pois ele está aqui, agora, entre nós
Para mais uma vivencia sobre sua palavra e luz
Humanista, humanitária, humanizadora
Com seu olhar atento, atencioso, acalentador
Na construção de tantos bairros libertos
E suas populações libertas da miséria.
(...)
Um cristo dos direitos humanos
Cristo de um povo atento
Mesmo errante
Povo que se achou no meio de suas lutas
Um povo de luta
Contra suas misérias, vaidades, hipocrisias
E calamidades sociais.
Venham, venham ver
O cristo que voltou!
O cristo resistente que, em verdade
Nunca saiu daqui
Nunca nos abandonou
Nunca morreu
Nunca se evaporou.
(...)
Este é o seu reino:
Um cristo sem igrejas
Sem templos, seitas, bolsa de valores
Do livre comércio da fé
Um cristo das ruas
Amigo das Marias Nuas
Sem propriedade de ninguém.
(...)
Cristo somos todos nós!
Negros e brancos
Índios e ciganos
Palestinos e judeus
Comunistas e socialistas
De povos em fé
Na sua busca pela liberdade
Na construção das democracias
Cristo pobre
Cristo miserável
Morando, vivendo e morrendo
Nas favelas do mundo
Faminto, subnutrido
Desempregado e sem teto
Indignado com as balas perdidas
(...)
Um cristo revoltado
Um cristo palestino
Um pobre cristo menino
Sem pão, sem terra
E sem liberdade.
É este o Cristo que nos ensinaram
E que levamos com o nosso coração aberto
Para nossas vidas famintas
Nossas famílias aflitas
Nossa esperança em luta
Contra todas as injustiças
Pedro Osmar
Poeta, músico e dramaturgo
_______________________________________________
Cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro
Aquele que nasceu na manjedoura
De um acampamento palestino
De um assentamento do MST
Conviveu com os pobres,
Os fracos, desesperados e suicidas
E viveu toda a sua vida
Correndo sério risco?
Pois ele está aqui, agora, entre nós
Para mais uma vivencia sobre sua palavra e luz
Humanista, humanitária, humanizadora
Com seu olhar atento, atencioso, acalentador
Na construção de tantos bairros libertos
E suas populações libertas da miséria.
(...)
Um cristo dos direitos humanos
Cristo de um povo atento
Mesmo errante
Povo que se achou no meio de suas lutas
Um povo de luta
Contra suas misérias, vaidades, hipocrisias
E calamidades sociais.
Venham, venham ver
O cristo que voltou!
O cristo resistente que, em verdade
Nunca saiu daqui
Nunca nos abandonou
Nunca morreu
Nunca se evaporou.
(...)
Este é o seu reino:
Um cristo sem igrejas
Sem templos, seitas, bolsa de valores
Do livre comércio da fé
Um cristo das ruas
Amigo das Marias Nuas
Sem propriedade de ninguém.
(...)
Cristo somos todos nós!
Negros e brancos
Índios e ciganos
Palestinos e judeus
Comunistas e socialistas
De povos em fé
Na sua busca pela liberdade
Na construção das democracias
Cristo pobre
Cristo miserável
Morando, vivendo e morrendo
Nas favelas do mundo
Faminto, subnutrido
Desempregado e sem teto
Indignado com as balas perdidas
(...)
Um cristo revoltado
Um cristo palestino
Um pobre cristo menino
Sem pão, sem terra
E sem liberdade.
É este o Cristo que nos ensinaram
E que levamos com o nosso coração aberto
Para nossas vidas famintas
Nossas famílias aflitas
Nossa esperança em luta
Contra todas as injustiças
Pedro Osmar
Poeta, músico e dramaturgo
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