quarta-feira, 6 de maio de 2015
A MAIOR PERDA DE UM HOMEM
Eles se encontravam sempre no mesmo bar. E ha muitos anos.
Amigos de infância. Sobreviventes entre tantos que já haviam partido.
Naquele dia o assunto predominante, sem que ninguém soubesse como começara, descambou para perdas da vida.
Qual seria a maior perda de um homem durante a vida?
- Os cabelos, claro, dizia Lelo em baixo de sua reluzente careca de zero fio.
A coisa que mais faz sofrer um homem é perder seus cabelos.
- Isso eu não sei, disse Amaro, até porque não perdi nenhum, eles é que fugiram.
Vaias no bar. Piada velha era sempre vaiada.
E lá seguiram eles apontando suas dores.
- A maior perda de um homem, disse Rogério, é quando ele perde a condição física para o futebolzinho de fim de semana. Ah, que saudades que eu tenho das peladas aqui do bairro.
Cabeças gesticulando afirmativamente em concordância muda.
- Eu já acho, disse com voz estranhamente sinistra, o Varela, que a maior perda de um homem é aquela mesma que vocês estão pensando e com medo de falar. A perda da virilidade a b... mas não terminou... vais no bar.
Como sempre, os olhos acabaram chegando juntos ao Osvaldo.
Osvaldo, o pensador daquela turma desbocada.
- Então Osvaldo, disse alguém, qual é a maior perda de um homem? Cabelos, futebol, bixo solto ou o que?
Risadas nervosas.
Não, disse Osvaldo, nada disso.
- A maior perda de um homem está em casa.
Pintou aquele silêncio muito comum quando a turma é chamada ao assunto sério.
- Veja, quando somos pais jovens e nossos filhos crianças, eles nos olham com aqueles olhinhos vivos e cheios de admiração. Somos seus heróis. Somos super-homem, batman. Somos aquele capaz de resolver todos os problemas, saber todas as respostas, ensinar todas as brincadeiras. O olhar de nossos filhos brilham pois somos seus modelos.
Pausa para um gole na cerveja.
Quando eles crescem e se tornam adolescentes, o brilho ainda está lá, mas disfarçado. É preciso fazer algum esforço para encontra-lo. Ele está lá em algum lugar, mas começa a desaparecer.
Quando já são adultos, o brilho quase não é mais visto. Casam, tem filhos, ou não, mas, invariavelmente mais adultos e desparece o brilho definitivamente.
Eles se tornam nossos críticos. Se impacientam com nosso ritmo. Nos julgam com grande facilidade. De heróis nos tornamos filme antigo já visto e ultrapassado. Não dizemos mais nada interessante sem que antes passe pelo crivo da censura que eles impõem ao que dizemos...
De certa forma, o brilho da admiração é substituído pela preocupação, gentil, as vezes grata, mas sem o viço de outrora.
E, pra piorar eles não percebem que percebemos isso e nem tentam disfarçar.
Osvaldo levantou depois do último gole e diante do olhar envezado de cada amigo, disse com um suspiro: sim meus amigos, a maior perda de um homem é o brilho de admiração que ele perde dos olhos de seus filhos.
Prof. Péricles
sexta-feira, 1 de maio de 2015
AURORA
Em 1976, quando tinha 16 anos, Bernarda Gallardo, uma chilena de descendência italiana, foi estuprada. Ficou grávida.
Graças ao apoio da família e dos amigos, resolveu que teria o bebê, uma menina, que criou sozinha. Foi sua única filha.
Aos 43 anos de idade, achava que tinha saúde e condições materiais para criar outra criança. Entrou para a fila de adoção.
Em 4 de abril de 2003 leu em um jornal que o corpo de uma criança fora encontrado num lixão em Puerto Montt, no sul do país.
No Chile, o aborto é considerado crime em qualquer situação, mesmo em caso de estupro. A pena pode chegar até cinco anos de prisão. Muitas mulheres, protegidas pelo anonimato, simplesmente jogam os recém-nascidos nos lixões.
As estatísticas oficiais falam em 10 crianças/ano encontradas mortas em lixões, mas, é possível que o número seja muito maior já que os locais são fechados ao público e muitos corpos simplesmente jamais são encontrados.
Bernarda, que aguardava na fila das doações, por uma criança que imaginava, seria bela e sadia, ficou profundamente tocada com a notícia.
Passou a chamar a pequena morta de “Aurora” e decidiu adota-la, para dar um enterro digno. Segundo ela, Aurora era um pequeno raio de luz que deveria mostrar que a escuridão não era a única possibilidade da existência.
No início, o juiz chegou a pensar que Bernarda fosse a mãe biológica de Aurora e que queria enterrar o corpo sentindo-se culpada após abandoná-la. Disse ele que era o caso mais estranho que ele já tinha visto em toda sua carreira. Na verdade, nem ele, nem ninguém jamais vira alguém querer adotar um bebê morto. Mas, diante dos fatos, acabou convencido do interesse humanitário de Bernarda.
Antes, os médicos, que no país andino preferem atestar que a criança morreu no parto, para proteger as mães vulneráveis (se um corpo não é reclamado por um membro familiar é classificado como dejeto humano e jogado fora com outros materiais hospitalares), precisaram provar para a justiça que o bebê chegou a viver fora do útero da mãe para que pudesse ser registrado como um ser humano e ter direito a ser enterrado.
Assim, o corpo de Aurora foi examinado e comprovada sua sobrevida.
Foram meses até conseguir todos os exames e vencer a burocracia, mas Bernarda finalmente teve permissão para levar o corpo de Aurora e enterrá-lo.
O caso de Bernarda e Aurora teve repercussão nacional e, atendendo pedido de Bernarda, cerca de quinhentas pessoas compareceram ao funeral.
Emocionada ela relata que parecia uma grande e feliz festa de aniversário, com adultos (inclusive o juiz do caso) e crianças que cantaram músicas religiosas e sorriram como se fosse a celebração da vida de Aurora, sua filha que ela jamais conheceu viva.
Em seu coração sofrido de mãe nasceu a esperança que com toda a discussão que o caso provocara o aborto e o abandono de crianças em lixões diminuísse no país.
Mas, no dia seguinte ao enterro de Aurora, outro bebê, desta vez um menino, foi achado morto no lixão. Bernarda ficou triste e chamou-o de Manuel.
Decidiu colocar cartazes nos lixões de Puerto Montt dizendo "Não jogue bebês no lixo", e lembrando que dois bebês haviam sido jogados ali em poucos meses - Aurora e Manuel.
Nos 12 anos que passaram desde o enterro de Aurora, Bernarda adotou e enterrou outras três crianças - Manuel, Victor e Cristobal.
No momento, ela está tentando fazer a mesma coisa com outra menina, Margarita.
A história de Bernarda inspirou um filme, Aurora, do diretor chileno Rodrigo Sepulveda que estreou no Chile, ano passado.
Com frequência, Bernarda visita os túmulos dos bebês e, às vezes, percebe que flores foram deixadas no local.
Para ela, podem ser as mães biológicas - que, agora, podem sofrer o luto sabendo que seus filhos estão descansando em paz.
Prof. Péricles
Fonte BBC Brasil.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
MAIS MÉDICOS
Por Frei Betto
O programa Mais Médicos conta, hoje, com 18.247 profissionais atuando em mais de 4 mil municípios do país. Neste ano, o número de brasileiros (as) a serem atendidos chegará a 63 milhões.
O atendimento dos médicos inscritos no programa chega a ser personalizado, segundo a metodologia do sistema Médico da Família, que permite ao profissional cuidar, não tanto da doença, e sim da prevenção.
A saúde é um direito e a sua progressiva mercantilização põe em risco a vida de inúmeras pessoas que não podem pagar pelo tratamento.
Pesquisa da UFMG-Ipespe constatou que 95% dos beneficiários entrevistados estão satisfeitos com a atuação dos médicos, dos quais 84% estão no Norte e Nordeste.
Naquelas regiões, 86% dos municípios têm ao menos 20% de sua população em situação de extrema pobreza.
Vale observar que, nas vagas disponibilizadas pelo programa, a prioridade cabe a médicos brasileiros. Como os que se inscreveram no Mais Médicos são insuficientes para atender a população, o governo destinou as demais vagas a brasileiros graduados no exterior e, em seguida, a médicos estrangeiros. Há profissionais de 50 nacionalidades atuando no Brasil.
Os cubanos são cerca de 14 mil, presentes em 2.700 municípios. Em geral, os mais pobres e mais distantes dos grandes centros urbanos.
Os médicos cubanos trazem a experiência de solidariedade e cooperação internacionais, já que Cuba presta serviços médicos, hoje, em 67 países.
Até o governo dos EUA elogiou a atuação dos profissionais da ilha socialista no combate à epidemia de ebola na África.
Não são apenas médicos que o Brasil importa de Cuba. Além de medicamento para a hepatite B, desde o governo Collor nosso país compra a vacina de combate à meningite, única no mundo.
O projeto ora apresentado no Senado contra o Mais Médicos é um acinte a tantos brasileiros que, pela primeira vez, recebem atendimento domiciliar de saúde.
O direito à saúde está acima de ideologias. Partidarizar um programa que traz benefícios a quase 1/3 da população brasileira é um crime de lesa-pátria.
O programa, que este ano chegará a mais de 72% dos municípios do país, atende prefeituras de todos os partidos, inclusive 66% (452 cidades) das que são administradas pelo PSDB.
Cuba conta com 6,9 médicos por 1.000 habitantes, um dos maiores índices do mundo.
O Brasil, com 2/1.000; e os EUA, 3,2/1.000.
Com a reaproximação EUA-Cuba, milhões de estadunidenses estão de olho no chamado “turismo médico”, ou seja, a possibilidade de se tratarem em Cuba, já que nos EUA o acesso ao sistema médico-hospitalar é caro e difícil para quem não dispõe de recursos.
O convênio do Brasil com Cuba é monitorado pela OPAS (Organização Panamericana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) para as Américas.
A OPAS tem 110 anos de serviços prestados. E longa tradição de seriedade e qualidade.
terça-feira, 28 de abril de 2015
MARANHÃO HOMENAGEIA DEMOCRATAS, NÃO DITADORES
Por José Carlos Ruy *
Foi o que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB - ele é o primeiro governador comunista da história brasileira) acaba de demonstrar ao determinar a mudança nos nomes de escolas antes designadas com o nome de ditadores e personalidades da ditadura militar de 1964.
Flávio Dino expôs esse caráter no comentário sobre a mudança de nomes que publicou nas redes sociais. “Pronto, as nossas escolas não mais homenageiam ditadores que violaram a Constituição”, escreveu em seu perfil no Facebook.
A mudança foi publicada no Diário Oficial do Poder Executivo do Maranhão nesta terça-feira (dia 31) – e a escolha dessa data reforça o sentido da mudança. É a data em que o Brasil lembra os 51 anos do rompimento da legalidade democrática, a deposição de João Goulart da presidência da República e o início da ditadura millitar de 1964.
O governo do Maranhão, dirigido por Flávio Dino cumpre dessa maneira o que a lei determina, através do Decreto 30.618 de 02/01/ 2015; entre outras coisas ele proíbe que sejam usados, para designar bens públicos, nomes que constem no Relatório Final da Comissão da Verdade acusados de terem cometidos crimes de tortura, assassinatos de presos políticos e outras violações dos direitos humanos durante a ditadura militar.
A secretaria estadual de Educação do Estado do Maranhão relacionou dez escolas cujos nomes foram mudados e criou uma Comissão de Mudança de Nomes para, democraticamente, escolher os novos homenageados, que sejam personalidades que contribuíram com a construção da identidade educacional e cultural, nos níveis municipal, estadual ou federal e tenham reputação ilibada de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
Segundo Flávio Dino, “o relatório [da Comissão da Verdade] aponta graves infrações aos direitos humanos cometidos durante esse período e nomeia os responsáveis por esses crimes. O Estado do Maranhão não mais homenageará os responsáveis por crimes contra a humanidade”. Isso não é razoável, disse.
Flávio Dino tem razão. Além de todos os motivos políticos, convém ressaltar o caráter pedagógico – democraticamente pedagógico –de sua medida.
Escolhas desse tipo são reveladoras das opções políticas de quem as faz. Nas escolas do Maranhão onde ocorreu a mudança, seis tinham o nome do general Castelo Branco, o primeiro ditador de 1964; duas tinham o nome do segundo ditador, general Artur da Costa e Silva; e outras duas traziam o nome do terceiro general presidente, Emílio Garrastazu Médici.
Elas trazem agora o nome de personalidades democráticas – entre elas o educador Paulo Freire e o poeta Viníciu de Moraes. Trazem, agora, nomes de brasileiros que contribuiram para a construção da democracia e, longe de homenagear ditadores, honram aqueles que lutaram pela democracia e pelo bem estar dos brasileiros.
São nomes que as crianças e também os cidadãos do Maranhão aprenderão a amar cada vez mais, e não a temer, como ocorria com os nomes dos ditadores. Este é o sentido pedagógico mais profundo da alteração feita no Maranhão. E também o exemplo que o novo governador dá para o Brasil!
José Carlos Ruy é Jornalista, é da Comissão Editorial da revista Princípios.
domingo, 26 de abril de 2015
TRAGÉDIA NO MEDITERRÂNEO
De onde vem esses corpos que boiam nas águas como peixes mortos, inchados?
De onde surgem tantas manchas escuras nas águas. De todos os tamanhos e idades, homens, mulheres, velhos, crianças?
Mais de 900 mortos em naufrágio nas águas frias do Mediterrâneo, na noite de 20 de abril.
Pensem nas crianças que mesmo nas maiores dificuldades buscam por brinquedos no uso da imaginação que liberta. Estão mortos como seus sonhos.
Como previam os piores pesadelos de seus pais.
De onde vem tantos mortos? Tantos corpos em vão?
Eles vêm da África. Fugindo das guerras. Fugindo da fome.
Buscam na Europa algum tipo de esperança.
Enfrentam viagens impossíveis, em barcos velhos e ilegais.
Balançam com a fúria das ondas e o rangido do casco é como música macabra.
Mesmo com todos os perigos, enrolam seus trapos, abraçam suas crianças e partem.
Diz Netuno, o Deus dos mares, que a maior da ironia é que causa e consequência habitam na mesma geografia.
Mais de dois séculos de colonização violenta e arbitrária, espoliando na condição de metrópole povos pacíficos e indefesos, fizeram da Europa a causa de toda dor.
Foi a Europa, não Deus ou o destino que jogaram esses milhões de sombras, nas águas frias do Mediterrâneo.
As autoridades italianas disseram que o pior desastre com migrantes no Mediterrâneo, que causou a morte de cerca de 900 pessoas culpa do capitão e à sobrelotação do navio. Disseram que o barco colidiu com um cargueiro de bandeira portuguesa, e que após a colisão a imperícia do comandante e o pânico generalizado condenou a nau a um fim inevitável no fundo do Mediterrâneo.
As autoridades europeias, lideradas pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) querem criar uma política que represente uma reação mais humana ao êxodo de pessoas que viajam pelo mar da África e da Ásia para a Europa sem piorar a crise estimulando mais pessoas a partirem.
Mas, ainda ontem uma operação naval italiana no sul do Mediterrâneo, conhecida como “Mare Nostrum”, foi cancelada por causa do custo e da oposição interna aos resgates marítimos, que poderiam encorajar a imigração.
Mentem as autoridades. Mentem os bem trajados âncoras televisivos. Mentem todos aqueles que sonegam a verdadeira informação: a culpa da tragédia é da Europa que como vampiro sugou as riquezas e as esperanças dos povos dominados.
Omitem que batem as portas na cara dos imigrantes que, atualmente só encontram socorro nos portos da Itália.
Isso não começou hoje. É um pesadelo fomentado pela violência de dois séculos.
Netuno sabe. A Europa sabe.
Perguntem a ela nas noites sem lua, quantos corpos já engoliu.
Prof. Péricles
sábado, 25 de abril de 2015
O PAÍS DAS MIL E UMA MENTIRAS
Pedro Álvares Cabral fez de conta que chegou aqui sem querer, e a Espanha fez de conta que acreditou.
A Igreja mentiu que negro não tinha alma para apoiar a escravidão africana que lhe proporcionava lucros, e o resto, disse amém.
Os donatários mentiram que tinham interesse em vir para o fim do mundo e colonizar a Terra.
O Branco mentiu aos índios que era amigo e os padres mentiram que salvariam suas almas.
Os bandeirantes fingiram não ter encontrado ouro nas matas.
Os inconfidentes mentiram que lutariam pela independência do Brasil até a morte, mas fizeram acordos.
Os acordos foram cumpridos e criaram um mártir.
A elite agrária mentiu que a nação precisava de um imperador, quando apenas queria, manter a escravidão. E o povo se vestiu de súdito.
D. Pedro mentiu para os ingleses que acabaria com a escravidão no máximo em cinco anos e assinou que faria isso, sem nunca realmente pensar em fazer.
Também disse publicamente que jamais pagaria pela independência, mais pagou.
Durante 50 anos governo e aristocracia rural mentiram que iriam acabar com a escravidão criando leis ridículas de tapeação: Lei Euzébio de Queirós, Lei Visconde do Rio Branco, Lei Saraiva-Cotegipe e finalmente uma Lei que mantinha a exclusão e a miséria, mas foi chamada de Áurea.
As autoridades enganaram o povo fazendo do Paraguai um perigo maior do que era e isso justificou o maior massacra entre povos da América Latina.
Os proclamadores da República mentiram que estavam criando uma nação soberana e ratificaram a dependência econômica e acordos comerciais espúrios.
A primeira Constituição Republicana definia o voto como universal, mas determinava que mulheres e analfabetos, a imensa maioria, não tinha direito a voto.
Na virada do século rotularam os miseráveis de Canudos de bandidos, e a Revolta da Vacina de coisa inconsequente como birra de criança.
Prometeram para João Cândido que ninguém seria punido na Revolta da Chibata e quase todos os líderes morreram na cadeia.
Combinaram dia e hora para a Revolta Tenentista, mas deixaram apenas 18 homens pendurados no pincel, e foram mortos, quase todos, nas areias de Copacabana.
Anunciaram a morte de um candidato a vice, João Pessoa, como crime político gerando uma comoção nacional quando, era apenas, um marido traído que se vingava dos chifres, e isso deu início a Revolução de 30.
Já a Revolução Constitucionalista Paulista de 1932 não era revolução, nem constitucionalista e muito menos só paulista.
Mentiram que o Brasil tinha que entrar numa guerra que não era sua, a Segunda Mundial, e jovens brasileiros morreram por causa estranha e seus corpos ainda jazem em solo italiano.
Disseram que Jango era comunista e corrupto e dizendo defender a democracia deram um golpe de morte na própria democracia.
Assim nasceu a Ditadura Militar, mimada pela hipocrisia dos que diziam defender Deus, a Pátria e a família. A Ditadura não teve Deus, apenas demônios, vendeu a pátria e dividiu a família estimulando a delação.
Golpistas, fascistas, reacionários fizeram uma Ditadura que se dizia revolução e se auto-intitulava de "Redentora".
Criaram um gigante de papel que finalmente despertava, montado em capitais estrangeiros. Brasil, ame-o ou deixe-o, mas matavam antes que houvesse uma escolha. Ninguém segura esse país rumo ao abismo. Pra frente Brasil, agora vai. E fomos todos para o buraco de uma década perdida.
O fim da ditadura e a volta a normalidade levou 10 anos, recheada por uma paz falsa, como o atentado do Rio-Centro, cuja bomba-neném explodiu no colo de um militar a paisana.
Por dez meses fizeram valer a fraude do Plano Cruzado para vencer as eleições constituintes de 1986, e depois anunciaram uma Constituinte independente e democrática, mas criaram o “centrão” unindo as forças conservadoras que barrou todos os avanços populares.
Mentiram ao fazer um sociólogo Ministro da Fazenda e pai de um plano que não era seu, apenas para, novamente, ganhar uma eleição, em 1994.
Brasil, uma história de mentiras só poderia mesmo gerar uma nação mentirosa, onde o racismo é tão violento como em qualquer outro lugar, mas escondido em nome do orgulho de uma terra multirracial.
O maior perigo de conviver com as mentiras é acabar se acostumando com elas e o mais grave, gostando de ser enganado.
Deixa-se de ser vítimas para ser mansos.
O perigo é achar que quem mora lá no morro já vive pertinho do céu e por isso não é necessário lutar por um Brasil mais justo.
A história do Brasil não deve ser apagada por ser mentirosa, mas recontada, com suas mentiras entendendo-se quem as criou e com que objetivos.
A história não se repete, mas as mentiras sim.
Prof. Péricles
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