domingo, 4 de maio de 2014

UM PAÍS DE DOIS CORAÇÕES


O grupo que tomou o poder à força na Ucrânia foi saldado no Ocidente como legítimos representantes dos desejos democráticos de seu povo.
Consta que, revoltados com as decisões do governo de fortalecer os laços com Moscou e se afastar da EU (União Européia), saíram às ruas em protestos, enfrentaram a repressão, e, finalmente, derrubaram os dirigentes e tomaram o poder.
Além dessa história não parecer nada democrática, o que mais assusta é a análise que se pode fazer dos elementos que compõem esse “grupo democrático”.
Trata-se de grupos políticos como o grupo Pravy Sektor (Setor da Direita), que curte a cartilha nazista e é bastante chegado em conceitos e preconceitos que já deveriam estar enterrados nos escombros da II Guerra Mundial.
Galera que adora por a culpa de suas dificuldades nos outros, especialmente se esses outros forem judeus, negros, eslavo, latinos, etc.
Além da natural intolerância que caracteriza o pensamento radical da extrema direita, causa temor pensar na segurança (ou insegurança) das minorias envolvidas nessa crise, que ameaça aumentar e ganhar contornos de guerra separatista.
Nos últimos dias, vários folhetos foram distribuídos por homens mascarados nas saídas das sinagogas de Donetsk, cidade localizada no coração do conflito, meio do caminho entre o leste e o oeste. A mensagem dizia para os judeus se registrarem e pagarem um imposto exclusivo por sua segurança, ou então, deixar o país.
São 15 ml judeus que agora se sentem ameaçados e temerosos. Geralmente, os piores efeitos do ódio são contra eles.
A Ucrânia é um país de coração dividido.

Sua porção leste (incluindo a Criméia) é povoada majoritariamente por russos ou descendentes de russos. Pra esse lado do país a Europa significa muito pouco, até porque, os europeus através da UE pouco, ou nada fizeram desde a crise da União Soviética, para se aproximar da Ucrânia. Para o pessoal do leste, também geograficamente mais distante da Europa, a Rússia é seu porto seguro, a pátria mãe, e o aliado econômico que jamais negou auxílio em sua crescente crise financeira.

Já sua metade oeste sonha fazer parte da União Européia, e, de um jeito disfarçado aspira um dia, separar-se dos “irmãos do leste” e manter uma boa distância da Rússia, que por eles é vista como o antigo império opressor dos tempos comunistas.

Nesse mal estar crescente, de um país dividido e sem governo legítimo, a maior ameaça é que o leste queira seguir a Criméia e, separar-se da Ucrânia. Uma guerra de secessão seria inevitável e as conseqüências poderiam extrapolar fronteiras e esfacelar as relações entre Estados Unidos e a Rússia.

Aliás, parece que só agora o governo de Washington está percebendo a real importância de um país e uma população que sempre desprezou.

O cenário é sombrio, e os tambores que se ouve, não são de paz.

Prof. Péricles

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