quarta-feira, 21 de agosto de 2013

ACRE, O PREÇO DE UM CAVALO


No final do século XIX havia grande confusão acerca dos limites entre Brasil, Bolívia e Peru. Segundo se sabe, as demarcações, muitas vezes, eram feitas por cartógrafos que nunca sequer haviam estado na região. Terra quente e chuvosa onde predominava a floresta densa, habitada por índios de várias tribos e um e outro branco, as vezes boliviano, as vezes brasileiro.

Entretanto, o advento da indústria automobilística trouxe a necessidade da borracha para fazer os pneus e, como ainda não havia sido inventada a borracha sintética, o produto natural, vindo das seringueiras, tornou-se, em pouco tempo, um produto valioso e cobiçado.

Milhares de brasileiros vindos, especialmente do nordeste em busca de uma vida melhor, invadiram a região do atual acreana.

Segundo o próprio governo brasileiro, o Acre pertencia à Bolívia, mas, se fez de cego e surdo diante da crescente invasão.

Quando o governo boliviano percebeu a grana que estava em jogo, tentou marcar presença. Pobre e fragilizado por uma guerra, a Guerra do Chaco, contra o Paraguai pôde apenas fazer um péssimo negócio, trazendo um consórcio de empresas de capital inglês e americano para extrair a borracha, além de instalar uma base militar.

Porém, em todos aqueles anos de abandono por parte do governo da Bolívia, a região já “falava português” e os movimentos seguintes foram de instabilidade e troca de tiros em 1902, na chamada “questão acreana” em que os brasileiros foram liderados pelo gaúcho Plácido de Castro e os bolivianos levaram evidente desvantagem.

Foram então abertas negociações que terminariam com a assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903.

Muito menor que o Brasil, e muito mais pobre, a Bolívia foi prejudicada nesse Tratado. Por ele o Acre foi incorporado ao território brasileiro em troca de 2 milhões de libras (hoje seria algo em torno de 400 milhões de reais), algumas terras no Mato Grosso e a promessa da construção de uma estrada de ferro que auxiliaria o transporte de produtos bolivianos (a Bolívia não tem saída direta para o mar). O Brasil ainda pagou uma indenização de 110 mil libras esterlinas pela rescisão do contrato aos gringos do consórcio Bolivian Syndicate.

O presidente boliviano Evo Morales, costuma dizer que seu país deu o Acre, uma região 3 vezes maior que a Suíça, ao Brasil em troca de um cavalo. Realmente, ao final das negociações foi dado um belo cavalo brasileiro ao presidente Aniceto Arce. Comenta-se que preso ao lado inferior da sela, havia um maço de dinheiro ao nobre presidente, num evidente ato de corrupção.

O Tratado de Petrópolis teve seus documentos oficiais classificados como de segredo de estado, e mesmo hoje, 110 anos após sua assinatura, ainda é vedado aos historiadores e demais interessados.

Seria, segundo muitos, um dos motivos pelo qual o Itamarati é visceralmente contrário a Lei que atualmente tramita no Congresso, que acaba com o “sigilo eterno” dos documentos oficiais.

Certamente, neles poderíamos entender melhor as cláusulas não escritas que levaram a um dos negócios mais escusos da América Latina, e quanto, afinal “custou” aquele cavalo.

Prof. Péricles

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