terça-feira, 9 de outubro de 2012

NUNCA FALTARÃO ARGUMENTOS


Poderíamos dizer que a sociedade se divide em 3 grupos: A - os ricos, muito ricos e quase ricos; B – os medianos pra cima, os medianos pra baixo e os que se acham medianos e C – os pobres e miseráveis.

Já os partidos se dividem em 1 – Os que representam declaradamente os da A; 2 – Os que representam os da A, mas não assumem, adotando discurso do “momento político” e os ouvidos a atingir e 3 – os que desejam, realmente, representar os pobres e miseráveis, do seu jeito.

Claro que existem variações, pois “a política é dinâmica” e nada impede que um partido que comece sendo da categoria 3 sofra uma metamorfose e jogue o jogo do pessoal da categoria 2. Isso, aliás, é bem comum.

Mas, dentro desse jogo político e social as coisas decorrem de certa forma, muito simples. Assim:

- Os partidos ideológicos, aqueles, dos mais pobres já foram fortes em nosso país, mas suas lideranças foram assassinadas, desaparecidas e dizimadas. Hoje são chamados de nanico e são mesmo. Ninguém lembra que eles foram fortes, entusiasmaram e acalentaram os sonhos de milhões de pessoas porque isso nunca foi ensinado nas escolas, nunca apareceu em novelas e nenhum “formador de opinião” fala disso. Dessa forma, os jovens acham que isso nunca aconteceu e os velhos escondem essas memórias entre os seus fantasmas trancados no armário. Quando esses partidos não aceitam alianças com os partidos grandes, são chamados de sectários, radicais e que jamais terão governabilidade, pois, ninguém poderá governar sozinho. Quando eles fazem alianças são chamados de traidores, caricatos e que perderam a “pureza ideológica” e, na verdade, perdem mesmo.

- Os partidos maiores se dividem em siglas que afirmam representar todos a mesma coisa que na verdade é coisa nenhuma que não seja manter seus privilégios, seja como membro do andar de cima, seja como aliado dos interesses do pessoal do andar de cima de outros países, ditos, imperialistas.
O mais interessante é quando surge uma idéia nova, uma proposta mais popular.
Os medianos, por um dever moral, quase religioso, já que juram se preocupar com os pobres (coitadinhos, tão famintos), no início aceitam a idéia. Alguns até se entusiasmam e compram bandeiras e usam bótum e se filiam ao partido. É tão bonito ver a classe média com ares de pobre, com fotos de Tche, que, aliás, são chiquérrimas.

O problema é quando essas idéias ganham forma e pior, quando ganham espaços na vida política.

Quando os medianos vêem os pobres e miseráveis serem prioridade bate um arrepio em suas espinhas sociais. Longe de querer subir o que o mediano quer mesmo, como projeto oculto de vida, é não descer e se o pessoal de baixo sobe, isso de certa forma, acontece.

Então o desconforto origina as mais variadas justificativas para abandonar os "planos progressistas" e uma guinada para o conservadorismo.

Há os que dizem que eram daquele partido de esquerda e agora não são porque se decepcionaram (?) com suas alianças (e esse discurso é dos bons porque deixa no ar uma idéia de que é o verdadeiro revolucionário)ou então com suas lideranças. Mas tem também aqueles que só esperavam a oportunidade para bradar sua extraordinária cultura política dizendo que jamais foram enganados e que nunca caíram naquele conto do vigário porque, eles, logicamente, são mais inteligentes do que a maioria, ou são mais velhos e experientes e inclusive votaram no Jânios Quadros, pra tu ver como são avançados.

E, claro, tem os indignados que consideram toda vantagem aos miseráveis, uma medida populista e eleitoreira.

Escondem de si mesmo que ver pobre tendo um carro ou fazendo plano privado de saúde os ofende como uma bofetada.

Pergunte a uma mãe que dá sopa de papelão a seu filho faminto o que ela acha do populismo.

Pergunte a um pai que agora pode comprar remédios pra sua prole quando necessário e antes mendigava com a receita na mão, o que ele acha das medidas populistas.

Se era tão simples e tão barato cooptar o apoio dessa gente por que eles não o fizeram quando estavam no poder? Por que combater a miséria é medida demagógica? Mas que extraordinário senso de moral tem nossa gente!

Furar fila é malandragem, não observar leis de trânsito básicas é ser esperto, desobedecer regras de civilidade é jeitinho, tudo isso pode. Criar Bolsa Família não pode. É imoral.

Chaves, na Venezuela que alterou a Constituição do seu país forçando um investimento direto dos lucros da exportação do petróleo em atenção aos mais pobres, como construção da casa própria é chamado de populista.

Lula e seus programas sociais são populistas.

O conceito é falso, mas faz bem. Porque justifica a injustificável contrariedade dos medianos à algo que eles não conseguem assumir, o seu egoísmo.

Por que não se buscam justificativas para o fato de que, no país do 8º PIB do mundo, 10% da população concentre 48% da riqueza? Não será essa a maior imoralidade?

Quer saber, viva a demagogia e o populismo se ela secar uma só lágrima dos abandonados desse país!

Quem tem fome tem pressa.

Já, os medianos precisam de argumentos para humanizar seus preconceitos.

Diante de uma criança de barriga inchada ser contra o Fome Zero não é politicamente correto.

Sobre os olhos de quem nunca teve esperança, num país onde educação sempre foi para as elites, ser contra o Bolsa Escola exige argumentos.

Mas, que fiquem tranqüilos os medianos.

No mundo do capital que divide as criaturas em classes, nesse mundo que ter é mais importante que ser, nunca faltarão famintos, nem espoliados, mas também, jamais faltarão argumentos.

Até porque os críticos escrevem muito bem, e os conceitos, tal qual roupas elegantes e da moda, podem ser adaptados a qualquer necessidade.

Podemos dormir em paz com nossas consciências.

Prof. Péricles

Um comentário:

Anônimo disse...

Bravo Prof. Péricles! Deu direto nos dedos de alguns! Vou compartilhar no fb. Bjão! M.Ivony