terça-feira, 27 de março de 2012

ISRAEL E OS DIREITOS HUMANOS


Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia e Jerusalém oriental, territórios palestinos que se localizam na margem ocidental do rio Jordão e do Mar Morto. Desde então, o governo israelense colocou em prática uma política destinada a anexar a região a Israel. O projeto inclui a construção de um muro de quase 800 quilômetros de extensão e oito metros de altura, dentro da Palestina, com o objetivo de confiscar terras pertencentes a palestinos e erguer nelas colônias exclusivas para judeus.

O plano foi executado sem muita pressão internacional até 2004, quando o Tribunal Internacional de Justiça, órgão das Nações Unidas, considerou ilegais o confisco, o muro e as colônias, recomendando a destruição de tudo que fora construído, a devolução das terras aos palestinos e o pagamento de uma compensação financeira pelos prejuízos sofridos por eles.

Nada disso, porém, foi feito. Israel continuou erguendo o muro, as colônias, e tomando terras na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Entre 1967 e 2010 foram construídas 121 colônias, onde hoje vivem, ilegalmente, 600 mil judeus. Grande parte deles é ultranacionalista, considera que a Palestina pertence aos judeus e não aos palestinos e por isso procuram tirá-los de suas casas, atacando-os, roubando suas terras e fontes de água, destruindo suas plantações.

Diante da ofensiva israelense, o governo palestino decidiu ir à ONU, solicitar a formação de uma comissão internacional para investigar as atividades ilegais das colônias. A solicitação foi aprovada na quinta-feira, 22 de março, pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

As autoridades palestinas comemoraram. “Foi uma vitória não só nossa, mas também das leis internacionais”, saudou Saeb Erekat, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), representante dos palestinos em todas as instâncias internacionais. “Pedimos ao governo de Israel que suspenda todas as atividades relativas às colônias e dê uma chance às negociações de paz”, acrescentou ele. A Palestina afirma que só retornará às negociações quando os israelenses cancelarem a expansão das colônias.

Na segunda-feira, 26 de março, Israel deu o troco. Por decisão de Avigdor Lieberman, ministro de Relações Exteriores, rompeu com o Conselho de Direitos Humanos da ONU e orientou o embaixador de Israel em Genebra a nem mesmo atender os telefonemas do chefe da comissão.

O primeiro ministro Benjamin Netanyhau chamou o Conselho de “hipócrita”. “A maioria dos países do Conselho é contra Israel”, declarou o ministro.

Ambos estão certos. Só se esquecem de dizer que, se Israel respeitasse a Declaração de Direitos Humanos e o direito internacional, ninguém o condenaria. A verdade é que o país desconsidera a legislação internacional, age como quer, faz o que bem entende e não admite críticas por isso. Por esse motivo já foi considerado, pela Turquia, o “moleque” do mundo, aquele que não respeita nada e ninguém.

Laura Dupuy Lasserre, embaixadora do Uruguai na ONU e atual presidente do Conselho de Direitos Humanos, considerou “bastante infeliz” a decisão de Israel.

Israel também anunciou que não permitirá a entrada, em seu território, das milhares de pessoas de todo o mundo que irão se reunir em suas fronteiras em 30 de março, Dia da Terra Palestina, para tentar chegar a Jerusalém. Iniciativa de organizações internacionais de peso, a Marcha Global para Jerusalém tem os objetivos declarados de protestar contra a ocupação militar da Palestina e contra o que o governo israelense vem fazendo na cidade, em especial na parte oriental, considerada a capital do futuro Estado da Palestina.

O governo israelense pediu aos países vizinhos que a contenham em seus territórios, impedindo-a de chegar às fronteiras. Os participantes vêm anunciando há meses, desde o início da organização do evento, que a manifestação é pacífica e que não existe a intenção de confrontar o exército israelense. Agora, com as autoridades sionistas proibindo-lhes a entrada em Israel, as milhares de pessoas da marcha terão de apelar ao plano B: chegar o mais perto possível de Jerusalém. Isso significa deter a caminhada nos limites de Israel com Jordânia, Líbano e Egito.

As consequências podem ser imprevisíveis.


Baby Siqueira Abrão
Correspondente no Oriente Médio


domingo, 25 de março de 2012

CHICO ANÍSIO


Minha geração jamais esquecerá Chico Anísio.

Acostumamos, desde jovens, a encontrar nele, ou melhor, neles, pois Chico Anísio era múltiplo, um pouco de alívio para nossas angústias a partir de seu humor diferenciado.

Muitas vezes a discussão da turma enquanto afastava a tensão, foi sobre um personagem novo, ou sobre a última piada do personagem preferido de cada um.

Definia-se politicamente como de um pensamento mais ao centro e partidariamente se considerava um militante do PMDB, embora, nunca tenha escondido sua admiração por Ciro Gomes, quando governador de seu estado, o Ceará.

Esse pensamento “moderado” fazia que suas críticas sociais não se caracterizassem pela denúncia ou pelo aprofundamento. Eram mais, deboches às vezes bem cínicos, mas de característica popular, desses que se ouve nas filas e nos bares.

Mas, cá pra nós, ninguém é obrigado ao humor engajado, pelo contrário, faz bem a diversidade, o humor compromissado apenas em fazer rir.

Sabemos todos que morrer é natural, e que isso acontece para qualquer um. O problema, é que sendo múltiplo, a morte não é apenas de Chico, mas dos 209 Chicos. Dos 209 personagens talentosamente criados por ele.

Fica difícil não imaginar o Professor Raimundo encerrando sua última aula e se retirando para sempre num Colégio vazio. Como não pensar em Seu Pantaleão contando sua última mentira apoiado por D. Terta. É quase impossível não imaginar o Coalhada finalmente desistindo de conseguir uma vaga em algum time de 5ª divisão, e desistindo do futebol.

O “profeta” costumava encerrar os programas de Chico Anísio com uma frase profunda e nada humorística, que às vezes nos pegava distraído e calava fundo na alma.

O Profeta deve estar dizendo agora, que é esse o final de espetáculo de todos nós e não esqueçamos que também interpretamos muitos personagens, todos os dias, ao longo da vida.

Desempenhamos o papel de filhos, de irmãos, de pai/mãe, de colegas, de amigos, de cidadão. E que fomos nós que escolhemos cada papel.

Que possamos viver de um jeito que ao fecharem-se as cortinas de nossas existências possamos ser aplaudidos por nossas atuações.

Apesar dos múltiplos disfarces, e do enorme talento, Chico Anisio jamais conseguiu esconder uma tristeza que bailava em seus olhos, que se escondia daqui e dali, mas sempre acabava visível. Essa tristeza real que era do artista, não dos personagens, era o único traço presente em todos os personagens.

São nossos segredos, sentimentos profundos muito além de qualquer maquiagem.

É no respeito a seus segredos e na admiração de sua essência, que aplaudimos sinceramente esse grande artista!

E na lembrança serena do profeta lhe desejamos boa viagem.


Prof. Péricles

quinta-feira, 22 de março de 2012

NÃO É REVANCHISMO

O que os militares dessa geração pós golpe 1964 precisam enxergar é que
não há revanchismo nos trabalhos da Comissão da Verdade, nas denúncias
de tortura, assassinatos e nas várias ações para que a História de um
período brutal seja conhecida por todos os brasileiros.

Houve um golpe de estado em 1964, foi organizado e comandado por
potência estrangeira através de dois agentes, o embaixador Lincoln
Gordon e o general Vernon Walthers, contra um governo legítimo, dentro
de um processo maior, a guerra-fria. A máxima de Nixon “para onde se
inclinar o Brasil se inclinará a América Latina” foi dita anos depois,
mas não passou de uma constatação da realidade daquela época. E tanto é
assim que golpes semelhantes foram desfechados em países desta parte do
mundo, alguns, com níveis de estupidez absolutos. Caso da Argentina e do
Chile.

A ação dos governos gerados pelos golpes foi de caça pura e simples dos
adversários, inclusive e grande número de militares comprometidos com o
seu país. A forma de agir em momento algum fugiu do comando externo. O
que foi a Operação Condor? Uma aliança de governos golpistas do chamado
Cone Sul para promover o assassinato de líderes oposicionistas exilados
em qualquer parte do mundo. Orlando Letelier, ex-chanceler do governo de
Salvador Allende, foi morto em New York, onde ocupava um cargo de
funcionário nas Nações Unidas.

Os chamados projetos nacionais, ou seja, de busca do crescimento
econômico para esses países circunscreveram-se ao permitido por
Washington e às políticas de dominação impostas pelos EUA. Nada além
disso.

Deixar de lado as atrocidades cometidas por militares como Curió (ficou
milionário achacando garimpeiros em Serra Pelada), Brilhante Ulstra e
outros tantos é macular a história das forças armadas brasileiras e
transformá-las, hoje, em cúmplices de um tempo sombrio, cruel e
antinacional.

Puro espírito de corpo sem sentido e sem razão de ser, pois acaba sendo
mancha. Inserir as forças armadas no processo de construção democrática e
popular do Brasil, isso sim, dá um desenho claro das obrigações de
garantir a soberania nacional e a integridade de nosso território.

Ou os militares da nova geração entendem que os golpistas de 1964,
notadamente os torturadores, os assassinos, os estupradores, são
criminosos e praticaram crimes imprescritíveis – já denunciados por
organizações internacionais -, ou essa mancha vai atravancar o
cumprimento do real papel de uma força armada nacional. Têm que
responder pelos seus crimes. Esses enxovalham inclusive as forças
armadas através do falso patriotismo, aquele que Samuel Johnson chama de
“último refúgio dos canalhas”. Foi a estupidez dita por um general num
programa de televisão que “tortura existe em qualquer época, até hoje”.

Nesta semana a jornalista Hildegard Angel enviou uma carta a um ato de
homenagem às vítimas da ditadura militar onde fala de justiça. Sua mãe
Zuzu Angel foi morta pela ditadura ao buscar o paradeiro de seu filho
Stuart Angel, também executado pela ditadura. O prestígio internacional
de Zuzu e a mobilização que promovia, estavam incomodando e trazendo
transtornos a um regime que usou o pretexto de restaurar “a ordem e a
democracia”, para derrubar um governo legítimo.

Um documento comovente e repleto de sensatez.


Laerte Braga

terça-feira, 20 de março de 2012

CARTA DE HILDEGARD ANGEL



Dia Internacional da Mulher
Prezadas pessoas aqui presentes,

(...)
Este ano serão, no dia 14 de abril, 36 anos de seu assassinato pela ditadura, crime comprovado em 1998 pelo Governo Brasileiro. Além das inúmeras e comoventes homenagens, esta foi a única resposta oficial que tivemos até hoje: a confirmação do que todos já suspeitávamos, de que a morte de minha mãe foi provocada. Mas... é muito pouco, vocês não acham?

Quem são esses indivíduos sem rosto, sem nome, sem coração e sem alma, que urdiram nas sombras a cilada que empreenderiam, na madrugada, contra a mulher corajosa e solitária, que guiava seu Karman Ghia com a mala do carro lotada com exemplares do livro do historiador Helio Silva, que trazia transcrita a carta de Alex Polari D'Alverga, testemunhando em detalhes a tortura, a morte, o suplício de meu irmão Stuart?

Os livros não eram encontrados nas livrarias e, com receio de que o que restava da edição fosse apreendido, ela adquiriu o que pôde e saiu distribuindo a quem encontrasse o documento sobre o martírio de seu filho, as atrocidades cometidas contra ele.

Eram os pedaços de seu "Tuti" que ela entregava, com uma dedicatória emocionada, às pessoas de seu querer bem. E também àquelas que sequer conhecia. Era sua forma de panfletar a sua História, a nossa História brasileira, a sua e a nossa Dor. Dor de ontem e dor de sempre, que ainda me oprime a alma e se reflete nas minhas juntas, impedindo-me de estar hoje aqui.

Em seu discurso comovente no palco do Teatro Casa Grande, na véspera do segundo turno, a então candidata Dilma Rousseff, com uma ênfase e uma emoção que superou todos os seus pronunciamentos de campanha, disse: "Nenhum país desenvolvido respeita país que não olha pelos seus pobres, nenhum!". Pois eu peço licença à nossa presidenta para acrescentar: "... e nenhum país desenvolvido, nenhum, respeita país que não olha pela sua História!".

Chega, estou cansada. Já houve tempo demais para rever esse passado horroroso, esclarecê-lo, lavar as feridas, conferir responsabilidades, punir culpados, sim! E até agora, nada!

(...)
A rua em que nasceu minha mãe, em sua Curvelo, passou a ter seu nome no mesmo mês de sua morte em 1976. Tive o prazer e a tristeza de ir inaugurá-la. Alguns anos depois, na mesma década, Zuzu virou rua em Belo Horizonte. Eu havia convidado um amigo de minha mãe, deputado cassado José Aparecido de Oliveira, e um amigo da família, o político também cassado Dalton Canabrava, para discursarem pelos Angel. Com esse gesto, pretendia dar voz a quem não a tinha naquele período militar, num evento oficial.

No dia da inauguração, houve um grande temporal. O bairro Mangabeiras ainda era novo e a rua sem asfalto. A solenidade precisou ser no salão da Prefeitura. E pela primeira vez, desde a "fechadura", aquela casa se abriu para ouvir os políticos da oposição falarem...

Vieram muitas outras homenagens sucessivas à minha mãe, inúmeras, incontáveis, mesmo naqueles nebulosos anos 70 e, depois, nos 80. Para tanto, era usado o eufemismo da "grande costureira". Ninguém se referia à "grande mãe". Ninguém falava o subtexto. Mas todos pensavam. Todos sabiam. Bastava isso.

Com o passar dos anos e das homenagens, Zuzu, perdoem-me o humor torto, tornou-se uma espécie de "Elvis" brasileiro: não morreu. Hoje, há quem me chame de Zuzu. Há também quem ingenuamente me pergunte se eu sou a mãe da Zuzu Angel.

Ela dá nome a escolas, creches, centros comunitários, oficinas de costura, tem um Instituto que a celebra e batiza um dos mais importantes túneis do Rio de Janeiro, que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca, em cuja saída há um belo monumento, a figura de uma mulher forte, com o punho cerrado cortando o vento, representando Zuzu e sua luta.

(...)
... Tudo isso me dá a certeza, o alento e o conforto: se não for pelas vias da Política e das leis, não se preocupem. A Justiça imperiosa será e já está sendo feita, contada e escrita, através de nossos artistas. A Cultura brasileira está dando conta do recado de, como eu disse no início desta mensagem comprida, "olhar pela nossa História".

Muito obrigada.

Hildegard Angel
De: Rede Castorphoto

domingo, 18 de março de 2012

EU A MATEI, FOI INCRÍVEL

Lembra como fez?

- Claro, eu a esfaqueei e depois cortei a garganta... foi incrível.

Mas, afinal de contas, por que você a matou?

- Porque eu queria saber qual a sensação. O que eu sentiria matando, entende?

E...

- A experiência de matar é muito agradável. Logo que passa a sensação de “oh meu Deus, eu não posso fazer isso” se sente um prazer enorme.

O que fez depois?

- Pensei “agora estou tipo nervosa e tremendo, tenho que me acalmar. Tenho que ir para a igreja agora (risos, muitos risos)




A adolescente norte-americana Alyssa Bustamante, de 18 anos (15 na época do crime), que confessou ter matado a vizinha de 9 anos foi condenada nesta quarta-feira (7 de março) à prisão perpétua nos Estados Unidos. O crime aconteceu na cidade de Jefferson City, no estado do Missouri, em outubro de 2009.

Os advogados de Bustamante alegaram que a adolescente sofria de depressão há anos e que o uso do antidepressivo Prozac a deixou mais propensa à violência. Eles ainda alegaram que ela teria tentado suicídio por overdose de analgésicos. No entanto, os promotores afirmaram que Bustamente teria premeditado o crime, já que ela cavou duas sepulturas com vários dias de antecedência. A jovem enterrou o corpo de Elizabeth em uma cova rasa, sob um monte de folhas em uma floresta perto do seu bairro.

Momentos antes da sentença ser decretada, Bustamante levantou-se da cadeira e virou-se para a família de Elizabeth. "Eu sei que palavras nunca vão ser suficientes e nunca vão conseguir descrever exatamente quanto me sinto horrível por tudo isso", disse a adolescente diante dos pais e irmãos de Elizabeth. "Se eu pudesse dar minha vida para ter ela de volta, eu daria. Desculpa", completou.

A mãe da vítima, Patty Preiss, que no primeiro dia de julgamento classificou Bustamante de "monstro", ouviu o pedido de desculpas em silêncio.



Casos como esses, deveriam levar a humanidade a uma pausa para meditação: afinal de contas, que tipo de sociedade criamos? Que tipo de consciências estamos formando?

Somos hoje 7 bilhões de pessoas no mundo. Nunca teve tanta gente habitando o planeta, mas nunca, se sofreu tanto de solidão.

Se as estatísticas indicam que 10% da população (algo em torno de 700 milhões ou 4 brasis) desenvolvem dependência química e buscam nas drogas o prazer que lhes falta na alma, e se mais de 20% sofre de depressão crônica, algo, definitivamente, está errado no mundo que criamos.

Desde a Revolução industrial a quase trezentos anos, a produção de bens não pára de crescer. Somos seres consumidores. Consumimos tudo, até, e principalmente, o desnecessário, de tal forma que criamos do nada, novas necessidades, a todo instante e frustrações quando essas necessidades não são saciadas. .

Somos capazes de ir a Marte, realizar transplantes e criar computadores. Mas ainda somos incapazes de ouvir a dor de uma criança se ela nos for desconhecida.

O caso de uma adolescente que mata uma criança menor apenas para saciar a curiosidade do que sentiria ao matar, é um crime de todos nós.


Prof. Péricles


quarta-feira, 14 de março de 2012

NÃO MEXA COM A DILMA

A revista americana “Newsweek” chega às bancas esta semana com a presidente Dilma Rousseff na capa. Uma foto de Dilma ilustra a reportagem de capa, intitulada “Onde as mulheres estão vencendo”. A edição americana da revista diz que Dilma “está na área” e ressalta que a presidente será a primeira mulher a abrir a Assembléia Geral da ONU, em Nova York, na quarta-feira. Na edição internacional, a “Newsweek” chama a presidente de “Dilma Dinamite”.

Na entrevista à “Newsweek”, Dilma falou sobre Brasil, economia mundial, pobreza e corrupção. Fez questão de exaltar a solidez da economia brasileira e a capacidade do país de combater uma crise mundial. “Sabemos que não somos uma ilha. A Grécia não pode pagar seu socorro. A Espanha está em apuros, assim como a Itália. Os EUA não estão crescendo. Isso tem um impacto negativo nos resto do mundo”, disse a presidente. “Você sabe a diferença entre o Brasil e o resto do mundo? Temos todos os instrumentos intactos para combater o crescimento lento ou mesmo a estagnação da economia mundial”. Segundo ela, “ainda podemos cortar juros”.

“Somos uma grande economia, rica em recursos e com um mercado interno enorme”, continua Dilma. “Graças às nossas políticas sociais, tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza e as colocamos na classe média desde 2003. É o equivalente a uma Argentina. A demanda doméstica ficou tão reprimida por tanto tempo que temos um imenso potencial de crescimento. Temos um boom da construção, mas não uma bolha. Esse mercado interno nos permitirá acelerar o crescimento”.

Dilma afirmou ainda que é preciso profissionalizar e reformar o serviço público, “promovendo as pessoas com base no mérito”.

Dentro do especial das mulheres, a reportagem-perfil sobre a presidente (“Não mexa com a Dilma”), que tratou de seu governo e de sua trajetória pessoal, começa com uma história da corrida eleitoral. Entrevistada pela “Newsweek” em Brasília, Dilma contou que foi abordada por uma menina, curiosamente chamada Vitória, em um aeroporto, e ela lhe perguntou: “Uma mulher pode ser presidente”? E Dilma respondeu que sim.

A presidente contou que, quando era criança, queria ser bailarina ou bombeira, e acredita que a pergunta da menina mostra sinais de progresso. A revista diz que um terço do gabinete de Dilma é de mulheres. E lembra que 20 mulheres comandam Estados hoje, sendo quatro das Américas - além de Dilma, há Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica) e Kamla Persad-Bissessar (Trinidad e Tobago).

A revista publicou elogios dos empresariados. O empresário Eike Batista disse que Dilma gosta de eficiência: “Trabalhar é seu hobby”. O publicitário Nizan Guanaes acredita: “O país sente que há alguém no comando”. E disse que “nosso homem do ano é uma mulher”.

Segundo a reportagem, Dilma se levanta cedo para caminhar nos jardins do Alvorada, devora um resumo das notícias em seu iPad e está em seu escritório às 9h15, onde fica até as 21h. Para a “Newsweek”, a presidente, embora não perca a chance de enaltecer seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não é a inocente política que os rivais pintavam.

Dilma disse à revista que nunca usou armas na militância - embora fosse boa em limpá-las - porque era muito míope para atirar. A “Newsweek” contou em detalhes a trajetória revolucionária da presidente, sua prisão e a tortura a que foi submetida.