domingo, 25 de março de 2012
CHICO ANÍSIO
Minha geração jamais esquecerá Chico Anísio.
Acostumamos, desde jovens, a encontrar nele, ou melhor, neles, pois Chico Anísio era múltiplo, um pouco de alívio para nossas angústias a partir de seu humor diferenciado.
Muitas vezes a discussão da turma enquanto afastava a tensão, foi sobre um personagem novo, ou sobre a última piada do personagem preferido de cada um.
Definia-se politicamente como de um pensamento mais ao centro e partidariamente se considerava um militante do PMDB, embora, nunca tenha escondido sua admiração por Ciro Gomes, quando governador de seu estado, o Ceará.
Esse pensamento “moderado” fazia que suas críticas sociais não se caracterizassem pela denúncia ou pelo aprofundamento. Eram mais, deboches às vezes bem cínicos, mas de característica popular, desses que se ouve nas filas e nos bares.
Mas, cá pra nós, ninguém é obrigado ao humor engajado, pelo contrário, faz bem a diversidade, o humor compromissado apenas em fazer rir.
Sabemos todos que morrer é natural, e que isso acontece para qualquer um. O problema, é que sendo múltiplo, a morte não é apenas de Chico, mas dos 209 Chicos. Dos 209 personagens talentosamente criados por ele.
Fica difícil não imaginar o Professor Raimundo encerrando sua última aula e se retirando para sempre num Colégio vazio. Como não pensar em Seu Pantaleão contando sua última mentira apoiado por D. Terta. É quase impossível não imaginar o Coalhada finalmente desistindo de conseguir uma vaga em algum time de 5ª divisão, e desistindo do futebol.
O “profeta” costumava encerrar os programas de Chico Anísio com uma frase profunda e nada humorística, que às vezes nos pegava distraído e calava fundo na alma.
O Profeta deve estar dizendo agora, que é esse o final de espetáculo de todos nós e não esqueçamos que também interpretamos muitos personagens, todos os dias, ao longo da vida.
Desempenhamos o papel de filhos, de irmãos, de pai/mãe, de colegas, de amigos, de cidadão. E que fomos nós que escolhemos cada papel.
Que possamos viver de um jeito que ao fecharem-se as cortinas de nossas existências possamos ser aplaudidos por nossas atuações.
Apesar dos múltiplos disfarces, e do enorme talento, Chico Anisio jamais conseguiu esconder uma tristeza que bailava em seus olhos, que se escondia daqui e dali, mas sempre acabava visível. Essa tristeza real que era do artista, não dos personagens, era o único traço presente em todos os personagens.
São nossos segredos, sentimentos profundos muito além de qualquer maquiagem.
É no respeito a seus segredos e na admiração de sua essência, que aplaudimos sinceramente esse grande artista!
E na lembrança serena do profeta lhe desejamos boa viagem.
Prof. Péricles
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