sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
O REI BONZINHO E A MULHERADA DO MAL
Pálido, suando embaixo de seu turbante, o Grã-Mufti (autoridade religiosa máxima) bradou “é como abrir as portas ao mal”.
O religioso se referia às eleições para conselhos locais, realizados no sábado (12/12), e que, pela primeira vez contou com o voto e a candidatura de mulheres.
Na Arábia Saudita as mulheres não podem dirigir, e o “guardião” de uma mulher, que pode ser o pai, o marido, irmão ou mesmo o filho, pode impedi-la de viajar para o exterior, se casar, trabalhar, estudar e fazer certas cirurgias estéticas.
Aliás, foi com extrema irritação que as autoridades do país reconheceram, recentemente, um fenômeno noturno: o grande número de mulheres que dirigiam (um crime) automóveis durante a madrugada, indo para lugar nenhum, apenas, para satisfazer o desejo de motorista.
A Arábia Saudita é o maior produtor de petróleo do mundo. Terra em que nasceu e viveu o profeta Maomé e onde está a cidade sagrada de Meca. É governada pela família real Al Saud como uma monarquia de forte conotação absolutista.
A democracia não tem permissão para existir e os direitos humanos são rotineiramente desprezados, mas, ao contrário de outros governos locais que foram atacados pelos defensores da liberdade, OTAN/Estados Unidos, a família Saud dorme em berço esplêndido, dá as cartas e joga de mão, já que é a maior aliada dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Seu governo é constantemente apontado pelos palestinos e iranianos como responsável pela desunião de seus povos na região, e, inclusive, de apoio a Israel nos intermináveis conflitos militares.
As eleições de sábado, com a participação feminina, ocorreram por vontade e “bondade” do rei Abdullah que as anunciara em 2011, e aconteceram mesmo com a morte do rei em janeiro desse ano (2015).
Além das mulheres poderem votar a magnificência do rei Abdullah ainda incentivou para que mais algumas vagas nas universidades sejam abertas para as mulheres, tadinhas.
Embora a mulherada tenha participado com grande afinco nas eleições (e isso é mais do que compreensível) elas foram muito chatas. Isso porque não existem partidos políticos no país (o rei é o partido único) e as leis impedem debates públicos sobre política e restringem importantes temas locais de interesse da população.
Dá para entender porque apenas 1,48 milhão dos 20 milhões de sauditas se registraram para votar nesta eleição, incluindo 131 mil mulheres.
Na terra do petróleo que enriquece meia dúzia de famílias, mas que mantém na miséria grande parte da população, não se discute política nas ruas nem se estuda nas escolas.
E agradeça a Alá que elas existam além, claro, da clemência e modernidade de seu rei, o amigo número um dos Estados Unidos.
Prof. Péricles
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