sábado, 26 de dezembro de 2015

A INTIFADA DAS FACAS

A Terceira Intifada

Dois meninos, um de 12 e outro de 13 anos, aproximam-se lentamente de um homem fardado com as roupas de segurança do bonde que atravessa a cidade de Jerusalém.

Há muito medo em seus olhos, mas, outros sentimentos também se sobressaem.

Ódio, rancor, vergonha e medo, principalmente, muito medo.

Ao chegarem ao alcance de um golpe, ambos retiram facas que estavam escondidas em suas vestes surradas de palestinos pobres.

O ataque é rápido e amador, mas suficientemente forte para atingir o homem que estava totalmente desprevenido. Seus gritos foram ao mesmo de tempo de dor e de susto.

Ele cai mesmo tentando permanecer de pé, enquanto os meninos correm com as facas ensanguentadas. Mas, não chegam a se distanciar 100 metros e são atingidos por uma saraivada de balas que partem de uma submetralhadora automática de um soldado israelense.

Gente se aglomera, ambulâncias, gritos, mas, o pior já havia acontecido e ninguém poderia mudar os fatos. Um homem e duas crianças estão mortas. São agora apenas um número a ser acrescentado nas estatísticas da “Intifada das Facas”.

Intifada (revolta) é o nome popular das insurreições palestinas contra Israel, que ocupa a Faixa de Gaza e Cisjordânia desde 1967.

Inicialmente as Intifadas parecem ingênuas e fadadas ao fracasso, visto que, são impulsionadas por populares contra um exército profissional e bem armado pelos Estados Unidos. Porém o seu peso político é grande e capaz de deixar Israel em situação politicamente delicada.

Essa seria a terceira Intifada.

A primeira Intifada iniciou em 9 de dezembro de 1987, com a população palestina atirando paus e pedras contra blindados e militares israelenses. É por isso denominada de a “Intifada das Pedras”.

Para Israel a Intifada teve um alto custo político, pois tornaram-se comuns fotos e filmes mostrando crianças e mulheres palestinas jogando pedras contra um inimigo infinitamente superior.

A Segunda Intifada ocorreu a partir de setembro de 2000 até o início de 2005.

Em 28 de setembro de 2000, Ariel Sharon, na época apenas um parlamentar do Likud (partido radical israelense) e figura profundamente odiada pelos palestinos que o acusam de ser o líder militar dos ataques criminosos a dois campos de refugiados (Sabrah e Shatila) que mataram cerca de 5 mil mulheres e crianças, visitou, protegido por enorme aparato de segurança, a Esplanada das Mesquitas, local de oração dos muçulmanos, na região do Monte do Templo, em Jerusalém.

A visita de um assassino de seu povo provocou a fúria dos palestinos que viram nesse ato uma provocação e desrespeito.

De fato, muito difícil acreditar que não tenha se tratado de uma atitude planejada pelo Likud que buscava frear o processo de paz iniciado em 1995 por Yitzhak Rabin (que foi assassinado por um judeu radical). Todos sabiam, ou podiam imaginar, o quanto aquela visita iria revoltar um povo que ainda guardava bem na lembrança seus mortos de Sabrah e Shatila.

Após a partida de Ariel Sharon, violentos confrontos opõem palestinos e israelenses junto ao Muro das Lamentações. Sete palestinos são mortos e centenas são feridos. Era o início da segunda Intifada que iria matar centenas de pessoas e principalmente, matar o próprio processo de paz que parecia irreversível.

A atual Intifada se destaca por envolver jovens e até crianças palestinas armadas com simples facas e que atacam não alvos militares, mas cidadãos judeus, indistintamente.

Suas causas estão no ódio, na falta de esperança do povo palestino em uma solução aos seus problemas e principalmente, pela falta de perspectiva de que Israel desocupe os territórios invadidos.

Uma situação caótica provocando situações aberrantes como em 2 de novembro quando um jovem palestino de 19 anos saiu correndo com uma faca no centro da cidade de Rishon (perto de Tel Aviv) e feriu três pessoas, entre elas uma mulher de 80 anos.

Desacordada, a senhora ficou com o corpo atravessado na calçada. Dezenas de israelenses que estavam no local saíram correndo atrás do palestino e muitos simplesmente pisotearam a vítima, causando indignação na família.

A cena da correria atrás do palestino e da senhora de 80 anos sendo pisoteada na calçada sem ser atendida durante longos minutos chocou o país que assistiu a tudo nos telejornais noturnos.

Esses ataques podem ocorrer em qualquer lugar e em qualquer momento, o que cria uma situação de histeria coletiva, que é usada e estimulada pelos radicais interessados no crescimento da violência.

Líderes políticos de Israel exortam a população a sair as ruas armada e alguns pedem que a polícia atire para matar em qualquer suspeito.

Nessa onda de loucura, um judeu, Slincha Hodotov, foi morto por outros judeus que o confundiram com um “terrorista”. Um refugiado da Eritréia, Haftom Zarhum, foi linchado depois de ser acusado de ser cúmplice de “terroristas”.

Os cidadãos israelenses, tanto árabes como judeus, viraram reféns do medo, que dita seus hábitos no cotidiano.

O medo e o ódio inverteram a ordem de vítima e algoz, o que é muito comum naquelas terras, tendo os israelenses matado mais palestinos do que o contrário.

Atualmente a contagem oficial é de 19 mortos entre judeus e 172 palestinos.

Infelizmente enquanto o governo israelense não voltar a ouvir a voz de Rabin que ensinava que a paz necessita de concessões de ambos os lados, é provável que outras e intermináveis Intifadas aconteçam no rastro dolorido da Intifada das Pedras e da Intifada das Facas.

Intifada das Pedras





Prof. Péricles

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