domingo, 28 de dezembro de 2014

MÁSCARA NEGRA


“Quanto riso, oh, quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando
pelo amor da Colombina,
No meio da multidão”

Na marchinha do Carnaval de 1967 de autoria de Ké Kéti e Pereira Matos, Máscara Negra refere-se aos disfarces de carnaval, as máscaras que escondem sentimentos e que caem no final da grande festa.

Pois o ano de 2014 que está se encerrando funcionou, de certa forma, como um grande baile em que, ao final, muitas máscaras que compõem a mitologia que o brasileiro faz de si mesmo, se dissolveram.

A começar pelo mito do brasileiro patriota, que ama sua terra acima de qualquer coisa.

Foi ano de Copa do Mundo de futebol no Brasil e muitos desses “brasileiros patriotas” foram vistos torcendo contra a Copa do Mundo, que, por ser um evento internacional, representaria um enorme fiasco para a nação tupiniquim. Pior, muitos desses torceram contra uma das mais sagradas instituições do imaginário patriótico, a seleção canarinho, já que, imaginavam que a conquista do hexa favoreceria a reeleição do governo atual.

Outra máscara miseravelmente espezinhada foi a do sujeito liberal, sem preconceitos. “No Brasil”, dizem os hipócritas, “não existe racismo nem homofobia”.

Em busca de seus direitos políticos os grupos homoafetivos, negros, indígenas e quilombolas, entre outros, foram à luta e tiveram contra si candente e às vezes, grosseira manifestação reacionária. Alguns políticos no exercício de cargo eletivo e outros na condição de candidatos manifestaram sua reprovação à igualdade entre gêneros, o menosprezo a negros, índios, quilombolas, mulheres de pouca roupa ou ainda a oposição ferrenha às cotas raciais. Como que incentivados pelo despudor de seus representantes, muitos abandonaram o discurso politicamente correto e adotaram como canto de guerra as expressões mais chulas do ódio.

No grande baile de 2014, a galera que torceu contra a Copa e a que assumiu a postura do preconceito se juntou a outras legiões que foram desmascaradas, como a turma que apóia à ditadura militar e tudo aquilo que ela representa como seqüestro, estupro, torturas e mortes patrocinadas pelo estado.

Outro duro revés no nacionalismo foi a turma dos puxa-saco dos Estados Unidos que desde 1953 odeiam a Petrobras e entendem que quem sabe mesmo explorar nossas riquezas e ganhar dinheiro com elas são os norte-americanos, um povo que não conhece corrupção e que usa a “saudável” pena de morte contra bandido.

É claro que as máscaras nunca esconderam suficientemente esses sentimentos. A medonha face do reacionário sempre foi bem conhecida, mas, não deixou de ser um carnaval assistir a queda das máscaras negras.

2014, um ano para ficar na história como o ano das máscaras perdidas.

“Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô,
Que te abraçou e te beijou meu amor”

Prof. Péricles

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A HISTÓRIA DO ÓDIO NO BRASIL


Por Fred Di Giacomo

"Achamos que somos um bando de gente pacífica cercados por pessoas violentas”. A frase que bem define o brasileiro e o ódio no qual estamos imersos é do historiador Leandro Karnal.

A ideia de que nós, nossas famílias ou nossa cidade são um poço de civilidade em meio a um país bárbaro é comum no Brasil.

Nós odiamos e amamos com a mesma facilidade. Dizemos que “gostaríamos de morar num país civilizado como a Alemanha ou os Estados Unidos, mas que aqui no Brasil não dá para ser sério.” Queremos resolver tudo num passe de mágica.

Se o político é corrupto devemos tirar ele do poder à força, mas se vamos para rua e “fazemos balbúrdia” devemos ser espancados e se somos espancados indevidamente, o policial deve ser morto e assim seguimos nossa espiral de ódio e de comportamentos irracionais, pedindo que “cortem a cabeça dele, cortem a cabeça dele”, como a rainha louca de Alice no País das Maravilhas.

Ninguém para 5 segundos para pensar no que fala ou no que comenta na internet.

Grita-se muito alto e depois volta-se para a sala para comer o jantar. Pede-se para matar o menor infrator e depois gargalha-se com o humorístico da televisão. Não gostamos de refletir, não gostamos de lembrar em quem votamos na última eleição e não gostamos de procurar a saída que vai demorar mais tempo, mas será mais eficiente.

Somos uma grande família, onde todos se amam. Ou não?

Leandro Karnal diz que os livros de história brasileiros nunca usam o termo guerra civil em suas páginas. Preferimos dizer que guerras que duraram 10 anos (como a Farroupilha) foram revoltas. Foram “insurreições”. O termo “guerra civil” nos parece muito “exagerado”, muito “violento” para um povo tão “pacífico”.

A verdade é que nunca fomos pacíficos. A história do Brasil é marcada sempre por violência, torturas e conflitos. As decapitações que chocam nos presídios eram moda há séculos e foram aplicadas em praça pública para servir de exemplo nos casos de Tiradentes e Zumbi. As cabeças dos bandidos de Lampião ficaram expostas em museu por anos.

Em 30 anos, tivemos um crescimento de cerca de 502% na taxa de homicídios no Brasil. Só em 2012 os homicídios cresceram 8%. A maior parte dos comentários raivosos que se lê e se ouve prega que para resolver esse problema devemos empregar mais violência. Se você não concorda “deve adotar um bandido”.

Não existe a possibilidade de ser contra o bandido e contra a violência ao mesmo tempo. Na minha opinião, primeiro devemos entender a violência e depois vomitar quais seriam suas soluções.

Por exemplo, você sabia que ocorrem mais estupros do que homicídios no Brasil? E que existem mais mortes causadas pelo trânsito do Brasil do que por armas de fogo? Sim, nosso trânsito mata mais que um país em guerra. Isso não costuma gerar protestos revoltados na internet.

Mas tampouco alivia as mortes por arma de fogo que também tem crescido ano a ano e se equiparam, entre 2004 e 2007, ao número de mortes em TODOS conflitos armados dos últimos anos.

E quem está morrendo? 93% dos mortos por armas de fogo no Brasil são homens e 67% são jovens. Aliás, morte por arma de fogo é a principal causa de mortalidade entre os jovens brasileiros.

Quanto à questão racial, morrem 133% mais negros do que brancos no Brasil. E mais: o número de brancos mortos entre 2002 e 2010 diminuiu 25%, ao contrário do número de negros que cresceu 35%.

É importante entender, no entanto, que essas mortes não são causadas apenas por bandidos em ações cotidianas. Um dado expressivo: no estado de São Paulo ocorreram 344 mortes por latrocínio (roubo seguido de morte) no ano de 2012. No mesmo ano, foram mortos 546 pessoas em confronto com a PM.

Esses números são altos, mas temos índices ainda mais altos de mortes por motivos fúteis (brigas de trânsito, conflitos amorosos, desentendimentos entre vizinhos, violências domésticas, brigas de rua, etc.). Entre 2011 e 2012, 80% dos homicídios do Estado de São Paulo teriam sido causados por esses motivos que não envolvem ação criminosa. Mortes que poderiam ter sido evitadas com menos ódio.

É importante lembrar que vivemos numa sociedade em que “quem não reage, rasteja”, mas geralmente a reação deve ser violenta. Se “mexeram com sua mina” você deve encher o cara de porrada, se xingaram seu filho na escola “ele deve aprender a se defender”, se falaram alto com você na briga de trânsito, você deve colocar “o babaca no seu lugar”. Quem não age violentamente é fraco, frouxo, otário. Legal é ser ou Zé Pequeno ou Capitão Nascimento.

Nossos heróis são viris e “esculacham”

Se tivesse nascido no Brasil, Gandhi não seria um homem sábio, mas um “bundão” ou um “otário”.

O discurso de ódio invade todos os lares e todos os segmentos. Agora que o gigante acordou e o Brasil resolveu deixar de ser “alienado” todo mundo odeia tudo.

O colunista da Veja odeia o âncora da Record que odeia o policial que odeia o manifestante que odeia o político que odeia o pastor que odeia o “marxista” que odeia o senhor “de bem” que fica em casa odiando o mundo inteiro em seus comentários nos portais da internet.

O discurso de ódio invade todos os lares e todos os segmentos.

Precisamos parar para respirar e pensar o que queremos e como queremos. Dialogar. Entender as vontades do outro. O Brasil vive um momento de efervescência, vamos usar essa energia para melhorar as coisas ou ficar nos matando com rojões, balas e bombas? Ou ficar prendendo trombadinhas no poste, torturando pedreiros e chacinando pessoas na periferia? Ou ficar pedindo bala na cabeça de políticos? Ficar desejando um novo câncer para o Reinaldo Azevedo ou para o Lula? Exigir a volta da ditadura? Ameaçar de morte quem faz uma piada que não gostamos?

Se a gente escutasse o que temos gritado, escrito e falado, perceberíamos como temos descido em direção às trevas interiores dos brasileiros às quais Nélson Rodrigues avisava que era melhor “não provocá-las. Ninguém sabe o que existe lá dentro.”

Será que não precisamos de mais inteligência e informação e menos ódio?

Quando vamos sair dessa infantilidade de “papai bate nele porque ele é mau” e vamos começar a agir como adultos? Quando vamos começar a assumir que, sim, somos um povo violento e que estamos cansados da violência? Que queremos sofrer menos violência e provocar menos violência?

Somos um povo tão religioso e cristão, mas que ignora intencionalmente diversos ensinamentos de Jesus Cristo. Não amamos ao nosso inimigo, não damos a outra face, não deixamos de apedrejar os pecadores. Esquecemos que a ira é um dos sete pecados capitais.

Gostamos de ficar presos na fantasia de que vivemos numa ilha de gente de bem cercada de violência e barbárie e que a única solução para nossos problemas é exterminar todos os outros que nos cercam e nos amedrontam.

Mas quando tudo for só pó e solidão, quem iremos culpar pelo ódio que ainda carregaremos dentro de nós.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

PAPAI NOEL E A COCA-COLA


Em meados do século IV, quando a Igreja começava a ficar realmente poderosa, uma coisa irritava profundamente seus líderes. A teimosia do povo em não abandonar as sacrílegas festas pagãs. Logo a Igreja percebeu que não adiantava nadar contra a maré. O povo curtia suas festas e ponto final. Era algo como o governo hoje querer acabar com o carnaval.

Foi então que os homens da Igreja tiveram uma idéia. Ao invés de combater as festas mundanas por que não trazê-las para a própria Igreja, alterando suas tendências heréticas e dessa forma, controlar melhor o alarido do populacho?

Alguém teve a idéia de aproveitar a farra do “Natalis Solis Invicti”.

“O Nascimento do Sol Invencível” era uma festa animada, em que se comemorava desde tempos imemoriais a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte. Muito popular caía sempre entre os dias 21 a 25 de dezembro.

O evento escolhido pela Igreja para ser comemorado nessa época foi o nascimento de Jesus, e o dia, que deveria ser fixo, o 25 de dezembro.

Pronto, nascia assim o natal, que se transformaria com o tempo na maior festa religiosa cristã.

O primeiro natal foi comemorado no ano 354 em Roma.

Cinco séculos depois os alemães introduziram a árvore natalina como uma das atrações do natal. Já o hábito da troca de cartões de natal nasceu na Inglaterra por volta do século XIX.

Já a lenda do Papai Noel, teve origem na Turquia, no mesmo século da introdução da festa em Roma. Nessa cidade vivia um homem da fé cristã, Nicolau Taumaturgo, que, pelo que diz a lenda, costumava doar parte de sua fortuna pessoal aos necessitados, geralmente, de forma anônima. Para a Igreja Católica, um santo, São Nicolau.

Papai Noel, você sabe, vive no Pólo Norte com Mamãe Noel. Fabrica brinquedos o ano todo em sua fábrica mágica auxiliado por inúmeros elfos e na noite de natal sobrevoa o mundo num trenó voador puxado por renas fantásticas.

Mas, a lenda não surgiu pronta. Ela foi se transformando com o tempo e muito do Papai Noel de hoje em dia devemos a Coca-Cola.

Antigamente, Papai Noel era representado com um semblante triste, mas propício a um santo do que aquele velhinho alegre que ri “ho-ho-ho”. Suas vestes eram escuras, próprias para alguém que vive na neve, geralmente verde-escuro.

Quem teve a idéia, pela primeira vez de um Papai Noel mais light e sorridente foi um cartunista alemão chamado Nast que, em 1886 desenhou papai Noel vestindo roupas vermelhas com detalhes brancos, cinta e botas pretas.

Pois, em 1931 a Coca-Cola utilizou a coincidência das cores do Papai Noel com sua própria logomarca e espalhou cartazes e outdoors com Papai Noel de Vermelho e tomando Coca-cola. Foi um enorme sucesso que atravessou fronteiras e mudaria para sempre a imagem do bom velhinho.

Até hoje Papai Noel anda por aí fantasiado de Coca-Cola.

Ainda hoje as crianças se encantam com a lenda. Adultos se esforçam para mante-la viva, todos se recordam de seu tempo, e poucos recordam daquele que, teoricamente deveria ser o mais lembrado, Jesus.

Talvez o marketing da Coca-Cola seja mais forte que o marketing da figura meiga de Jesus, afinal, em tempos de consumo onde faturar é lei, Papai Noel vende, Jesus não vende.

Provavelmente haveria espaço para a alegria infantil e para a reflexão necessária se houvesse entre as pessoas, essa vontade.

Refletir sobre a imortal filosofia de Jesus e sua moral revolucionária.

Não, ninguém quer estragar seus festejos, justos e merecidos que coroam um ano de trabalho que se encerra.

Nem se quer que entre o consumo de perus e castanhas se recorde que 12,9 milhões de crianças morrem a cada ano no Brasil, antes dos 5 anos de idade. Nem que 40% da população mundial vivem em situação de extrema pobreza e que 9% das crianças do mundo inteiro morrem de fome ou de doenças ligadas a miséria.

Isso talvez faça mal à digestão.

Mas, lembrando aquele aquém a festa deveria ser oferecida, reserve um espaço, um cantinho que seja, do seu tempo, para pensar sobre os abandonados da sorte, os entulhos do capitalismo.

Não se resolverá o problema das injustiças sociais e da miséria, mas, combatendo o “nem to aí” e domando seu egoísmo comprometendo-se a um ano de 2015 mais fraterno e comprometido, sua ceia ficará, com certeza, mais gostosa.

Não existe, nem existirá, tempero mais gostoso do que a solidariedade.

FELIZ NATAL!


Prof. Péricles


domingo, 21 de dezembro de 2014

CUBA ANTES DE FIDEL


O general e presidente do México, José de la Cruz Porfírio Diaz, certa vez disse, “Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".

Essa afirmação que hoje em dia é dito popular naquele país, cabe muito bem a Cuba.

A distância geográfica entre Cuba e a Flórida (EUA) é de cerca de 90 quilômetros, algo como a distância entre Poro Alegre e Osório, ou, uma freeway, como dizem os gaúchos.

A grande nação do norte sempre esteve muito íntima da história cubana e dela foi protagonista.

Cuba foi descoberta por Cristóvão Colombo, em 1492. Localiza-se no mar do Caribe, na América Central. Possui algo em torno de 111 mil km2, pouco mais que o tamanho de Santa Catarina e Pernambuco.

Desse pequeno território, apenas 27,63% é agriculturável.

Por 400 anos foi uma colônia espanhola. E teve uma complicada conquista de independência, que contou ao longo dos anos, com muitos heróis.

Em 1868 o rico latifundiário criolo (nativo filho de espanhóis), Carlos Manuel Céspedes, liderou a primeira Guerra de independência. Contando com apenas 200 homens, Céspedes obteve algumas vitórias iniciais e anunciou a liberdade de todos os escravos que se unissem ao exército revolucionário. Num segundo seu exército passou a contar com 12 mil homens.

Entretanto, a libertação dos escravos prejudicava os interesses dos outros latifundiários. Como sabemos a classe dominante não tem nenhum patriotismo quando seus interesses são atingidos e o heróico Céspedes acabou traído e derrotado na guerra que durou até 1878.

Outro herói cubano foi José Marti, um menino que com apenas 16 anos foi preso por fundar um jornal revolucionário, o “La Patria Libre”. Deportado, viveu em vários países e fundou um Partido para angariar recursos para promover uma nova luta pela independência.

Retornou a Cuba e deu início a segunda guerra de independência (1895-1898). José Marti morreu logo no primeiro mês do conflito.

No final da Guerra, considerando forte a possibilidade de não conseguir derrotar os espanhóis, os cubanos aceitaram o auxilio dos Estados Unidos, que, na época, se esforçavam para expulsar do continente os resquícios coloniais europeus que prejudicavam sua expansão imperialista.

Os Estados Unidos declararam guerra contra a Espanha originando a chamada “Guerra Hispano-Americana”.

Em 1898, a decadente Espanha é derrotada e abandona suas últimas colônias do continente (Cuba, Poro Rico) e os Estados Unidos ocupam Cuba de onde só se retiraram em 1902, depois que a Constituição Cubana é aprovada contendo a “Emenda Platt”, instrumento que reconhecia o direito dos Estados Unidos invadirem Cuba se seus interesses fossem ameaçados, de ditarem normas que considerassem de segurança nacional e ainda, reconhecia a posse de áreas cubanas como foi o caso da Base Militar de Guantánamo, que existe até hoje.

E a Emenda Platt será usada sem pudor como ficou evidente dez anos depois, em 1912, quando os Estados Unidos invadiram a ilha para derrotar negros e pobres que se rebelavam contra as oligarquias e lutavam por um país mais justo.

Era apenas o início de uma longa história em que os Estados Unidos sempre considerarão Cuba uma espécie de seu "quintal".

Esse maquiavélico instrumento valerá até a Constituição liberal cubana de 1940, mas, antes, terá a garantia de proteção de seus interesses em um governo corrupto e aliado estabelecido no poder desde 1933, com o presidente Fulgêncio Batista.

Porém, Cuba já estava reduzida a um anexo de seu vizinho americano. As propriedades mais produtivas, as belas mansões de praia e praticamente todas as indústrias, pertenciam a cidadãos norte-americanos.

O inglês predominava sobre o espanhol e Cuba era chamada de “colônia de férias” pelos ricos e pela classe média dos Estados Unidos.

Diante da exploração de seu país de forma tão opressora em perfeita sintonia com um governo cooptado, a revolta não parava de crescer entre os nacionalistas cubanos, especialmente, entre a juventude, e dessa maneira a revolução socialista começou no movimento estudantil.

Um brilhante estudante de Direito chamado Fidel Alejandro Castro Ruiz, iria liderar esse movimento patriótico de rebeldia, e, da Serra Maestra, fazer nascer uma Cuba realmente livre e dos cubanos.

Mas isso... já é outra história.


Prof. Péricles
Texto dedicado a minha prima Silvia Gagliardi Rocha

sábado, 13 de dezembro de 2014

MEU BRASIL VARONIL


Ao longo da nossa história, o Brasil assistiu os mais horrendos massacres de brasileiros.

O crime dessa gente? Ser pobre e pretender uma vida mais digna dentro do seu próprio país.

O Brasil adora matar brasileiros e seu exército, se especializou em eliminar o “inimigo interno” da nação.

Entenda-se como “nação” a ordem dominante dos privilegiados. Das classes mais ricas e que detinham o poder econômico e político.

A Cabanagem, por exemplo, foi um movimento que aconteceu no Pará, entre 1835 e 1840. Foi uma típica revolta de pobre contra a sua própria miséria.

O nome do movimento vem dos seus protagonistas, gente miserável que habitava cabanas de palafitas, a beira dos rios e igarapés. O sentimento de abandono dos mestiços e índios foi o combustível que levou a tragédia.

Em meio ao abandono surge a idéia de independência de um país que não os enxergavam.

No início, os cabanos chegaram a tomar Belém e colocar um dos seus na presidência da província. Mas, o analfabetismo era um problema só superado pela desinformação e, aqueles brasileiros esfarrapados não sabiam o que fazer com o poder.

Contra a ousadia de gente tão “poderosa” o governo brasileiro usou a perícia de seu exército combinada até com forças mercenárias. O massacre foi imenso. Cerca de 40 mil mortos numa população de 100 mil habitantes, muitos, executados com as mãos amarradas.

A “paz” se impôs pelo sangue e pelo terror e o Brasil superou essa “grave ameaça” a sua integralidade territorial. A vida dos sobreviventes voltou à realidade das cabanas, da miséria e da malária.

Já em 1838 começava no Maranhão a “Balaiada”. Outro movimento de miseráveis revoltados contra o abandono do governo de seu país.

Seus líderes eram fazedores de balaios, artesão de mãos vazias e de estômagos famintos, Raimundo Jutaí, bandoleiro analfabeto e seus homens, Cosme Bento e um ex-escravo que comandava outros ex-escravos e escravos fugidos.

O maior crime dessa gente era ser contra o monopólio político de um pequeno grupo de fazendeiros que agiam como se fossem donos da província e das pessoas.

O governo brasileiros uniu o exército do Maranhão com exércitos de outras províncias sob o comando do heróico Luís Alves de Lima e Silva “o pacificador” que traria a paz dos cemitérios para a região.

A “guerra” terminaria em 1841 com mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos, a morte de seus sonhos e mais uma vitória do glorioso exército brasileiro e da elite local por ele protegida.

Os massacres de brasileiros parece não perturbar a consciência nacional. Heróis são tratados como criminosos e bandidos como heróis.

A alegação de que o que aconteceu nos anos de chumbo da Ditadura Militar foi uma guerra é, técnica, moral e politicamente, insustentável diante da lógica dos fatos.

Numa guerra se enfrentam dois exércitos profissionais cujo ofício último é a preparação de seus componentes para a guerra. Tais exércitos são mantidos pelos impostos pagos pelos contribuintes, dispõem de toda a informação e a mobilidade oficial de um órgão do estado.

Nada sequer semelhante se aplica aos grupos guerrilheiros que lutaram contras as forças repressivas civis e militares da ditadura.

Dizer que o que houve foi uma guerra é a mesma coisa que chamar os massacres da Cabanagem e a Balaiada de guerra.

O Brasil é um país que confunde sua elite com nação, pobres com inimigos e massacres com guerras.

Uma juventude inteira que ousou lutar contra o fascismo hoje, é lembrada pelos que jamais tiveram coragem para sair as tocas, como bandidos e assaltantes de bancos.

Falta apenas transformar torturadores em nome de rua.

Assim caminha a covardia nacional.



Prof. Péricles

EDUCAÇÃO DE SUPERMERCADO


Por Antonio Carlos Vieira

Quando ainda era estudante, a estrutura da educação pública e particular era muito diferente do que existe nos dias atuais. Naquela época só existia o chamado Ensino Regular alias, nem se usava esse nome, já que era o único modelo existente. Da época que era aluno, até o dia atual foram aparecendo algumas mudanças interessantes.

No início, quando algum aluno não estava no mesmos nível que os demais colegas da mesma série, como por exemplo: enquanto a maioria já sabia ler sem soletrar as palavras e algum aluno estava fora deste padrão, ele era aconselhado a fazer banca e ter uma atenção maior dos professores, para que no final do ano ele passasse a ler sem a necessidade de soletrar as palavras. É claro que naquela época não existia tantos alunos por sala de aula e os professores tinham tempo de corrigir individualmente cada atividade dos alunos.

Com o passar do tempo, a profissão do professor passou a ser desvalorizada (o mesmo teve que passar a ter dois empregos para obter o sustento da família) e na maioria das vezes, houve um aumento no número de alunos por sala de aula. Isso impossibilitou a correção e a tomadas de lições individualizadas dos alunos. Como conseqüência, o número de alunos reprovados começaram a aumentar e ficarem atrasados e estudarem com idades consideradas fora do limites padrões para cada série escolar. Esta pequena mudança nesta falta de ajustamento dos alunos, fez surgir um exercito de alunos com idades um pouco elevadas para as série que estavam estudando. A escola passou a trabalhar como uma fábrica, se ensina determinado assunto, o aluno que aprendeu e acompanhou o desenvolvimento é aprovado para o ano letivo seguinte e os que não, eram reprovados e ficavam marcando passo na mesma série. O nome que dei a esse procedimento foi "Educação de Olaria". Você tem uma forma e sai batendo o barro para fazer o tijolo, os que saem torto (o aluno que não consegue acompanhar o assunto) é reciclado como um novo bolo de barro (reprovado) e é jogado na forma mais uma vez (repete a série) até que o tijolo saia na forma correta. Com o decorrer do tempo, os tijolos tortos passaram a aumentar de número e alguns passaram a não frequentar a escola.

Como fazer para que esses alunos passassem para a frente e desocupassem as salas de aulas para a chegadas de novos alunos? Muito simples, é só aplicar a dinâmica dos Supermercados. Quando uma mercadoria está encalhada é só fazer uma promoção, ou seja, foram criados os chamados pacotes (EJA, Acelera, Se liga, etc, “pague um semestre e leve dois”, ou seja, você estuda um semestre e está aprovado no correspondente a um ano letivo. Agora você tem garantido uma série anual pagando somente um semestre de estudo (antes para ser aprovado em uma série se estudava um ano). É claro que a idéia é fazer com que os alunos passem pelos bancos escolares o mais rápido possível para deixarem vagas para os novos alunos!

Atualmente, criou-se a chamada Avaliação de Desempenho. Só que uma Avaliação pode ser usada com várias finalidades e por motivos diversos. Sem falar que tem muita gente confundindo avaliação com normas de procedimentos e se criou uma tabela de normas (Tabela de preços existentes nos supermercados). Por quinze minutos de leitura em cada aula, o professor tem direito a um ponto, para cada debate em sala de aula, o professor tem direito a mais um ponto e assim vai. Dependendo como o professor cumpra as normas existentes nesta tabela, será considerado insuficiente ou não. Só que neste caso eles inverteram uma das regras do supermercado para incentivar os professores.

Nos supermercados, quando um funcionário é considerado bom, ele tem sua foto colocada em destaque dentro da instituição como colaborador do mês (isso para incentivar outros funcionários a trabalhar melhor) e no caso dos professores, será colocado em destaque os professores e alunos considerados insuficientes (ruins) e ficando as expostas e desmoralizados perante a instituição e comunidade freqüentadora da mesma, ou seja, em vez de criarem incentivos estão tentando desmoralizar os professores.

Para o futuro, está transitando no congresso, um projeto que amplia o número de 200 dias letivos para 220 dias! Quando resolveram que os supermercados iriam abrir aos domingos usaram de vários argumentos de melhoria (não consultaram os funcionários) e que os trabalhadores não seriam prejudicados e que seriam criados novos postos de trabalhos. Os trabalhadores passaram a trabalhar aos domingos sem terem um centavo a mais nos seus salários, as folgas estão sendo tiradas nos dias da semana (o chefe escolhe o dia), e não se tem notícia de se ter criado um único posto de trabalho por tal iniciativa. Os dias letivos serão aumentados em vinte dias, mas, os salários dos professores continuaram os mesmos!

O inconveniente, é que outrora foi aumentado os números de dias letivos e mesmo assim não houve melhoria de qualidade de ensino, pelos simples motivo: a educação só irá melhorar quando se mudarem a maneira, organização e estrutura, esquecerem que escola não é fábrica ou supermercado e houver os investimentos necessários para tal fim.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O PESCOÇO DO BRASIL


por: Saul Leblon

Negros desarmados mortos por policiais brancos compõem um postal da identidade norte-americana. São standarts, como as freeways, a CIA, a Coca-cola de uma sociedade plasmada pelo capitalismo mais exitoso do planeta. Nela, o condutor de um carro velho recebe, por definição, o carimbo de ‘looser’ (perdedor). Pela mesma razão que um negro pobre é suspeito e passível de ação policial, até prova em contrário.

O negro Eric Garner, vendedor ambulante em Nova Iorque, asmático, 43 anos, não teve tempo, nem ar, na semana passada, para provar quem era. Garner avisou ao policial que comprimia seu pescoço com uma chave de braço, que não estava conseguindo respirar. Fez isso 11 vezes. Até morrer.

Negros formam 13% da população norte-americana; representam mais de 40% da massa carcerária; algo como um milhão em um total de 2,5 milhões.

Prisões em massa e mortes, nada disso é novidade para eles nos EUA. A novidade diante da rotina são os protestos que ela vem provocando exatamente quando a recuperação econômica faz de 2014 ‘o melhor ano em termos de criação de empregos desde 1999’, garante o Wall Sreet Journal, desta 2ª feira.
Por que raios, então, Garner vendia cigarros ilegalmente nas ruas, como suspeitou a batida policial que o levou à morte?

Seis anos após o colapso de 2008, a lucratividade dos bancos norte-americanos registra recordes sobre recordes, trimestre após o outro. Em contrapartida, a subutilização da força de trabalho –indicador que soma emprego parcial e desistência de buscar vaga, como deve ter sido o caso de Garner - atinge assustadores 13%.

Na maior economia capitalista da terra, metade das vagas criadas no pós-crise é de tempo parcial, com salários depreciados.

O fato de os EUA terem um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre a natureza dessa chave de pescoço econômica, que joga milhões de Garners para o submundo dos loosers.

O conjunto sugere que a presidenta Dilma terá que analisar detidamente cada medida de aperto fiscal que lhe for apresentada pela nova equipe econômica.

Os sinais de alarme desta 2ª feira justificam a prontidão.

As exportações chinesas cresceram a metade do esperado em novembro (4,7% contra 8%); o PIB do Japão caiu mais que previsto no 2º trimestre e a possante máquina germânica rasteja tendo registrado uma expansão de apenas 0,2% em outubro. Tudo isso explica que o barril de petróleo custe hoje 40% menos e que as cotações das commodities agrícolas exportadas pelo Brasil valham, em média, 13% abaixo do patamar de 2013.

A sabedoria dos especialistas é insuficiente para conduzir um país a salvo por esse desfiladeiro emparedado entre a queda das cotações das commodities, de um lado, e a sinalização de alta dos juros, do outro.

O cerco conservador agora reflete o faro da matilha para um novo ciclo de vulnerabilidade da presa.

O caminho das pedras terá que ser modulado e ordenado pela mobilização e o engajamento dos principais interessados na preservação do rumo mais equitativo seguido até aqui: os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos do campo progressista.

O Brasil tem forças sociais estruturadas.

Suas centrais sindicais que, finalmente, se reuniram com a Presidenta Dilma, nesta 2ª feira, preservam certa capilaridade.

Nos últimos doze anos, o país foi dotado de sólidas políticas sociais, ademais de estruturas de Estado para ampliá-las.

O conjunto permite à Presidenta Dilma negociar rumos e metas do desenvolvimento com a sociedade, preservando-se o mercado de massa, mesmo em um intermezzo de reacomodação fiscal.

Há um requisito, porém: o timming das iniciativas de governo – de qualquer governo – faz enorme diferença.

Uma crise tem um tempo certo para ser derrotada, ou derrotará o governo, a produção, o emprego e os atores que vacilarem diante dela.

Nisso, sobretudo nisso, Franklin Roosevelt revelou-se o estadista cuja habilidade ainda tem lições a oferecer aos seus contemporâneos.

Em apenas uma semana após a sua posse, em 1933, ele tomou algumas decisões que não exorcizaram todos os demônios, mas foram afrontá-los em seu próprio campo.

Os tempos são outros; as agendas precisam ser renovadas, mas nada justifica ofuscar o componente de coragem do passado para dissimular a tibieza no presente.

A calibragem fina entre a barbárie e a emancipação de uma sociedade não está prevista nos manuais de economia.

Se não dilatar o espaço da política na condução da economia no seu segundo mandato, a presidenta Dilma corre o risco de acordar um dia com uma chave de braço atada ao pescoço do país.

E perder o que já tem.

Sem obter o que a ortodoxia lhe promete entregar.

Texto original: CARTA MAIOR

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

CONSUMINDO SUA ALMA




Quando surgiu, o capitalismo representava esperança.

Depois deuma vida miserável que se contam aos séculos, os pobres do período feudal viram nas mudanças que o comércio poderia trazer a grande chance de uma vida melhor.

Junto com a esperança, entre os séculos XII e XIV o mundo passou pelas dores do parto de um novo mundo.

As Cruzadas e seus absurdos desumanos, as infindáveis guerras feudais. A Inquisição assassina. A peste Negra. A fome.

Às dores do parto seguiu-se a alegria da infância do capitalismo, representada pela volta do comércio a longa distância, o surgimento dos bancos e seguradoras. As Letras de câmbios. Os cheques. E o Renascimento.

Ah! O renascimento! A ideia de um mundo mais humano, feito por humanos, fazendo renascer a crença no homem e na possibilidade de construir o seu destino.

Tudo indicava estar o mundo trilhando novos caminhos de paz e de felicidade. O trabalho servil foi abolido, o Rei unificou o estado e centralizou a promessa de prover o bem comum. Martinho Lutero e outros homens notáveis repensaram os velhos paradigmas de uma igreja coberta de corrupção. E finalmente, o ápice da fé num mundo novo: As grandes Navegações.

O mundo “cresceu em tamanho” como nunca. Novas terras. Novos continentes, culturas... riquezas.

Não se sabe ao certo quando a esperança desapareceu. Talvez tenha sido numa caravela que afundou em alguma tempestade noturna. Ou morreu náufraga em uma ilha perdida. O certo é que a esperança deu lugar à cobiça. As novas culturas foram esmagadas pelos interesses de exploração econômica. O holocausto indígena nas Américas foi o maior suplício já perpetrado racionalmente pelo homem.

Num último suspiro, a esperança ainda tentou voltar através das luzes dos iluministas. Mas, definitivamente morreu na Revolução francesa que fez nascer, não o mundo dos iguais, mas o mundo dos burgueses, que, definitivamente, já não eram tão iguais assim, ao trabalhador.

Este, o trabalhador, perdeu não só a esperança, mas também as ferramentas e o conhecimento do que produzia a partir da revolução industrial, que desarmou o artífice e o transformou em uma massa disforme que só servia ao trabalho duro, sujo e desesperado, talvez mais desesperado que o trabalho servil.

E a fraternidade foi guilhotinada, como Graco Babeuf e sua “Conspiração dos Iguais”.

As classificações pessoais não mais se davam por nascimento e propriedade de terra, mas por classes sociais, onde o “ter”, muito mais do que o “ser” era balizador das diferenças.

Ao longo de 9 séculos o capitalismo trouxe promessas e forjou engodos.

O próprio conceito de democracia foi uma fraude, anunciando um governo de todos que jamais aconteceu, pois, na prática sempre representou os interesses econômicos dos poderosos, seus verdadeiros sócios no poder.

A independência misturada com livre iniciativa econômica. A igualdade social substituída pela concorrência. Liberdade confundida com liberal.

Se é verdade que foi a concorrência que impulsionou as transformações técnicas e científicas, não é menos verdade que ela se cristalizou nas almas das criaturas criando um mundo baseado na concorrência e nas aparências, pois no mundo onde ter vale mais do que ser, se representa e se vive de aparências.

O lucro tornou-se o Deus onipotente em todas as relações humanas e seu altar, algo etéreo definido como “mercado”, que pode ser uma rua ou mesmo o mundo inteiro. O Japão, ou teu próprio coração.

No gênese do capitalismo, a propriedade privada foi feita no primeiro dia e é o sopro de toda vida. Privatiza-se o lucro e socializa-se a dor.

E tudo se tornou consumo. O homem que a tudo consome e pelo consumo é consumido, gasta-se nos dias no trabalho árduo que não o enriquece, mas enriquece a quem detém os meios de produzir o lucro. E trabalhando não vê as pequenas coisas em sua volta que são grandes, como o sorriso do filho que não viu crescer porque estava trabalhando.

Todas as guerras se tornaram mercantis. Se antes se usava o nome de Deus para estimular os guerreiros à morte, agora se usa conceitos como pátria e nação.

O mundo progrediu materialmente como nunca antes na história humana.

A eletricidade iluminou o planeta. Os meios de transportes o tornaram menor. Os de comunicação nos aproximaram com a velocidade de um clic.

Somos hoje 7 bilhões de pessoas. Nunca fomos tão rapidamente informados. Nunca tivemos tantas ofertas tecnológicas.

Já fomos à lua, chegamos a Marte. Transplantamos órgãos e a expectativa da vida orgânica não para de crescer.

Mas a vida da alma não para de secar. E nunca, nem mesmo nos vazios desertos do período escravagista, ou nos perdidos feudos do senhor, nunca estivemos tão sós.

Mais de 15% da população mundial é dependente de alguma droga química. Mais de 20% sofre de depressão. Nunca o suicídio foi tão recorrente. Mas, no mundo do capital, tudo é produto, e tudo isso gera milhões em antidepressivos e em outras bengalas.
Guetos e favelas multiplicam-se, e a fome, a mais antiga das tragédias, ainda mata aos milhões.

Em vez de suprir as necessidades humanas, criam-se novas, todos os dias, porque a toda necessidade segue-se um produto a ser vendido e gerar lucros.

O capitalismo criou mercados. Diversificou produtos. Iluminou. Iludiu. Ruiu na crise de 1929 na Bolsa de Nova York mas se reergueu na Segunda Guerra Mundial, porque essa é sua lógica e seu segredo.

Lamenta-se as experiências de Mengele mas se usa o resultado de sua morbidez. Lamenta-se Yroshima e Nagasaki, mas graças a ela investiu-se milhões de bilhões em armamentos.

O capitalismo é o sistema que matou o feudalismo, prometeu paz e prosperidade, criou milagres, mas, em momento algum de nossa história foi capaz de criar uma sociedade justa.

E a quem duvida, basta abrir a janela, ou seus olhos, se necessário, o coração. Ouça as vozes dos miseráveis. Não se repugne com crianças remelentas debarriga inchada devermes e condenadas a morte, ou do corpo ou do espírito pelo abandono.

Não se assuste. Também se morre de solidão, talvez mais do que de câncer.

O capitalismo trouxe tudo, mas não trouxe nada.

E nós que consumimos tudo, nos consumimos aos poucos, perdemos tudo, ou perdemos nada, porque, na verdade, nunca tivemos.


Prof. Péricles
Para minha amiga Prof. Maria Alice


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

CONFIRMADO, PAPAI NOEL EXISTE



“Papai Noel,
Moro com minha vó e meu vô, meu pai faleceu quando eu tinha 4 anos gostaria de ganhar um boneco do Bem 10. Obrigado”

“Querido papai Noel meu nome é Giovani e eu tenho 10 anos e o meu sonho é ganhar os materiais escolares se você me der eu agradeço muito. Muito Obrigado”.

“Papai Noel, gostaria de ganhar para o meu filho de 10 meses uma galinha pintadinha de pelúcia. Pois estou desempregada no momento e não tenho condições de comprar esse presente para ele. Obrigada.”

“O Samuel tem atraso mental é como se ele tivesse 8 anos. Ele precisa de roupa ele é gordo usa roupa tamanho M adulto, calça chinelo 39, 40. Sou vizinha. Obrigado papai Noel.”

“Papai Noel minha casa pegou fogo e minhas coisas queimaram tudo. Moro com minha mãe numa casa emprestada. Por favor, Papai Noel queria uma bicicleta. Obrigada.”

“Oi Papai Noel, fui uma boa menina o ano todo agora espero ganhar uma bicicleta cor de rosa. Meu pai foi embora e minha mãe cuida de uma criança mais ganha muito pouco. Beijo”.

Milhares de cartas assim foram enviadas para os Correios.

Podemos ser o papai Noel, nesse natal.

É ali, na rua Sepúlveda, na Praça da Alfândega.

A entrada é por uma porta lateral que dá para um amplo salão, onde funcionários atenciosos encaminham os visitantes para cadeiras confortáveis. Eles trazem quantas cartas forem solicitadas e deixam sobre mesas para que, à vontade, seja feita a leitura e de acordo com as suas possibilidades, cada visitante escolha aquelas que serão atendidas.

Todas as cartas são numeradas e cada um leva as que escolheram. O correio fica com o nome e o número da carta. Ali mesmo serão recebidos os presentes até o dia 13. O Correio faz o resto.

Simples e fácil. Porém, de um significado imensurável para cada remetente.

Vamos lá. Mexa-se.

Finalmente, depois de tanto tempo achando que foi enganado pelos pais, você pode descobrir que Papai Noel existe sim... é você.

Não há dinheiro que pague um sorriso de uma criança.

Prof. Péricles

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O CONFLITO É A SOLUÇÃO?




Por Max Diniz Cruzeiro


Seres humanos são por natureza complexos e quando planejam realizar uma necessidade e este desejo é satisfeito, logo procuram outra ocupação mental para ajustar a mente a uma insaciedade em ocupar o intelecto pela busca de algo que ainda não detém.

Portanto a natureza egoísta do homem é geradora de problemas. Os problemas por sua vez desencadeiam conflitos. Os conflitos são a principal forma de entretenimento que a grande maioria dos seres humanos ocupa seu espaço interior na formação do pensamento cotidiano.

A questão é saber por que a orientação da ocupação da reflexão mental deve estar embasada dentro desta métrica que distancia o homem da realidade que o cerca para fazer com que ele se detenha mais vezes sobre a construção de um projeto de vida idealizado?

Será mesmo que a semântica na elaboração do conflito induz a uma solução para algo que o indivíduo dependa para sua sobrevivência?

Não existiria outro molde de conduta mais célere e inteligente que a indução de estados cada vez mais alterados geradores de estresse e tensão para aproximar os pensamentos vitais e mais importantes que extraímos da mente pelos processos de alocação mnemônica?

A busca incessante por algo exterior toma parte de nosso tempo indefinidamente enquanto vivemos e os alicerces de uma vida acabam por se confundirem com a apropriação do que agregamos em termos de elementos da natureza que conseguimos aproximar de nós na projeção de nossas vidas.

A oportunidade de um estado psíquico de mudança que um objeto ou ação possa promover dentro de nós geralmente é observada como uma metalinguagem que ao acessar nosso inconsciente vasculha as entranhas de nossa psique para encontrar aquelas informações que poderiam ser mais bem desenvolvidas. Como resultado canalizamos para dentro do intelecto, tais dados, de forma a gerar uma retenção de nossa habilidade em satisfazer um anseio de que tais informações possam migrar nosso consciente para zonas de conforto mais prolixas em que o ganho de escala interior é percebido quando a sensação despertada prolifera um bem-estar capaz de provocar um relaxamento corpóreo, em que um estado alterado nobre de consciência gera estímulos de prazer que são distribuídos na forma de um orgasmo neural.

Quando um indivíduo gera um problema, ele está dizendo ao cérebro que aqueles elementos despertos em seu consciente encapsulados na mente necessitam ser satisfeitos para que as informações vitais que eles coordenam sejam encaixadas para que possam compor estruturas cognitivas na forma de circuitos que permitam o desenvolvimento deste ser humano.

É uma forma inteligente do organismo de se condicionar a desencadear reações que venha a necessitar quando satisfeitas algumas estruturas de comandos que fazem parte de um processo volitivo em que coordenamos como nosso corpo deverá reagir diante das transformações do ambiente sobre nós mesmos.

Uma vez que o “problema” é formado no intelecto. Então surge o paradoxo do conflito. Em que o indivíduo se condiciona a tentar juntar as peças do grande quebra-cabeça que conseguiu colocar em sua fronte para fazer dele um instrumento para perseguir como um “objetivo hipotético” de satisfazer uma “equação” que permita encaixar todas as peças até encontrar a solução desejada.

Enquanto a solução para um problema não é encontrada, a situação que surge é de formação de um caos sistêmico em que o pensamento semântico é gerado concomitantemente e continuamente, a fim de buscar aquelas informações necessárias para que a zona de conflito fique cada vez mais diluída para que as peças possam ser fusionadas.

E o que seria a solução para o conflito já que este é a solução para o problema?

A solução para o conflito é a satisfação de uma métrica, que se baseia em uma implementação para a realização de uma manifestação de uma vontade definida e própria de um indivíduo. Nós condicionamos a desencadear reações apenas quando um conflito nos faz mover dentro de uma escala de motivação que nos unem a um evento neural que gere um circuito biológico como consequência vital para nossos atos e ações cotidianas.

A internalização do que conseguimos transmutar de energia para nossos corpos na forma de aprendizado que se incorpora a nossa estrutura de DNA na forma de encapsulamento de dados dentro do código genético é a grande resultante deste mecanismo de acoplamento de informações.

O problema uma vez gerado não pode ser fonte de sofrimento do indivíduo quando ele se utiliza deste recurso cognitivo para transmutar elementos para a formação de uma estrutura “espiritual” que quiçá venha a se perpetuar após a morte.

Nem sempre o conflito é uma fonte geradora de sofrimento. Convém lembrar que a condução não refletida de forma correta de nossa vontade sobre os aspectos que coordenamos internamente são responsáveis pela absorção equivocada dos sinais que não são convertidos em elementos essenciais que fusionem as partes ou peças do grande quebra-cabeça esboçado acima.

O sofrimento na forma de externalizar algo árduo, punitivo, taxativo, proibitivo,... além de causar males para o organismo por produzir abortos da natureza, são excitatórios de estados alterados de consciência que nos afastam cada vez mais de nossos reais desejos e expectativas de realizações.

Então, seria mesmo o conflito a solução para o problema? Ou a forma de bem gerir a necessidade do problema, o elemento iniciador da volição de nossos estados mentais, para a geração de soluções-circuitos que integrem e fusionem nossa essência as verdadeiras coisas que nos movimentam?

Neurocientista Clínico
Psicopedagogo Clínico