terça-feira, 7 de maio de 2013
O SEGREDO DA ESFINGE
Em primeiro lugar não vamos confundir esfinges: a esfinge dos egípcios era uma criatura mística, confiável, guardiã, ancestral, respeitável, geralmente representada com um corpo de leão e uma cabeça humana. Era adorada pelo povo.
Nosso assunto, entretanto refere-se à esfinge grega.
Acreditava-se que foram os deuses Hera e Ares os responsáveis por trazer a esfinge da Etiópia, sua terra natal, para a cidade de Tebas, na Grécia. Era um ser mitológico que guardava a entrada da cidade. A todo viajante que por ali passasse ela formulava uma charada, um enigma. Somente a quem respondesse corretamente seria permitido a passagem. Todos os que tinham a má sorte de topar com ela, não desvendavam o enigma e acabavam inapelavelmente devorados.
Pernas de leão, asa de um grande pássaro e o rosto de uma mulher, a Esfinge era o terror de todos os viajantes.
Finalmente, depois de fazer muitas vítimas, a Esfinge se deu mal quando se encontrou com Édipo que respondeu corretamente a pergunta. Desesperada, ela se jogou num precipício desaparecendo para sempre. Édipo, portanto, livrou Tebas e o mundo da horrenda ameaça.
E qual era afinal o enigma? Simples. Responda você antes de continuar a leitura:
“Que criatura anda com quatro pernas pela manhã, com duas pernas à tarde e três pernas ao anoitecer?”
Resposta: o homem, ser que engatinha na infância (manhã), caminha como bípede na idade adulta (tarde) e usa uma bengala para caminhar na velhice (anoitecer).
Esse relato, imortalizado na tragédia por Sófocles, está tão cheio de significados, que permite inúmeras livres interpretações.
Por exemplo, a Esfinge, um verdadeiro pesadelo para os tebanos foi um desagradável “presente” dos deuses Hera e Ares. Talvez porque não devamos esperar apenas coisas boas vindas do alto, pois as desgraças também podem brotar de onde esperamos apenas bons milagres.
A figura da esfinge é muito singular. Pernas de leão, representando a força estranha e veloz das desgraças que podem nos alcançar, asa de um pássaro grande e desconhecido, como o destino ao qual não temos controle e pode nos levar para o imprevisto e principalmente, rosto de mulher. Será que os gregos se referiam à mulher como o maior de todos os enigmas? Estariam nos dizendo que não há no mundo ser mais misterioso que a mulher? Parece indiscutível que a esfinge era um ser feminino.
Édipo é um ser que vem de longe, como longínqua às vezes nos parece qualquer esperança, mas que pode, com esforço, se tornar a realidade vitoriosa. Édipo tentava fugir de seu destino e a fuga muitas vezes nos leva a incômodos ainda piores. Além disso, o complexo de Édipo definido na modernidade encontra nele o seu exemplo.
E, finalmente, o enigma. Nada de seres da fértil imaginação. Nada de perguntas matemáticas ou astronômicas, o homem, simplesmente o homem como resposta.
O mito de Édipo e a Esfinge contêm em toda sua extensão, uma visão antropocêntrica dos nossos medos e fracassos que habitam em nós mesmos.
Todos os problemas estão em nós assim como todas as soluções.
Quantas esfinges encontramos no longo caminho da vida? Quantos enigmas nos indicam a necessária viagem para o interior de nós mesmos, para o inferno incandescente de nossos remorsos e para os cemitérios das opções corretas que deixamos morrer enquanto escolhíamos as opções erradas?
Somos seres de fases, criança, adulto, velhice, cuja maior riqueza é o conhecimento evolutivo. Aprendemos a andar e andamos aprendendo sempre.
Podemos ser os devorados pelas esfinges de nossos medos, mas podemos ser Édipos, e a escolha será sempre nossa.
Quantas vezes fomos Édipo? Quantas vezes escolhemos o caminho mais longo para evitar a esfinge?
O segredo da Esfinge encerra uma verdade suprema: “homem, conhece-te a ti mesmo para seguir o teu caminho”.
Prof. Péricles
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4 comentários:
V.I.T.R.I.O.L. Resume boa parte da charada!
Parabéns Primo!
V.I.T.R.I.O.L. Resume boa parte da charada!
Parabéns Primo!
Como sempre: Magnífico! Texto muito bom! É de pensarmos e repensarmos nossas atitudes frente a Esfinge. Gostei, muito! Grande abraço Prof. Péricles!
Maria Ivony
Bah, texto show ... me identifiquei com algo que tá acontecendo comigo nesse exato momento ...e essas palavras me ajudaram ... obrigada amigo e Parabéns pelo texto e o blog!
Abraço!
Cris.
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