domingo, 28 de setembro de 2014
REI MIDAS E A AMBIÇÃO
Quando bebê, aquele que viria ser o rei da Frigia, Midas, deu um grande susto em sua ama. Ao recolher o menino que tinha sido deixado ao sol, tomando sol, a pobre ama percebeu que havia um formigueiro subindo pelas pernas do bebê, carregando, cada formiga, um dourado grão de trigo. Uma a uma, cada formiga metia um grão dourado na boca do bebê, e depois voltava a descer pelo corpinho dele abaixo.
O pai de Midas ao saber do fato disse trata-se de um bom augúrio e consultar os adivinhos para eles decifrassem o que aquilo significava.
Os videntes, que conseguiam ver o futuro, concordaram com o pai de Midas. Era, de fato, um bom sinal. Trigo dourado queria dizer que vinha aí ouro verdadeiro. Um dia, Midas seria um homem muito rico.
Bem mais tarde, quando Midas já era adulto, encontrou Sileno, grande amigo do deus Dionísio, caído em seu jardim. Dionísio tinha feito daquelas suas festas terríveis, onde rolava muito sexo, droga e rock and roll Sileno bebera tanto que caira no jardim de Midas e não fora encontrado pelos amigos. Midas tratou de encaminhar o bebum, são e salvo, para a terra do Deus do vinho.
Dionísio ficou tão agradecido que se ofereceu para lhe conceder um desejo.
O rei pensou bastante e lembrou do presságio dos grão dourados de trigo.
Tomado pela ambição pediu para que tudo aquilo que ele tocasse se transformasse em ouro.
-Sorrindo francamente, Dionísio com enorme bafo de vinho perguntou se Midas tinha certeza do seu desejo, ao qual o rei respondeu que sim, sem pestanejar.
- Então, esta concedido - disse Dioniso.
Midas abaixou-se e agarrou num pequeno ramo. Mal as pontas dos seus dedos tocaram na madeira, ei-la transformada em ouro maciço. Depois experimentou com uma folha, um torrão de relva... uma maçã. Estava maravilhado.
Ao chegar ao palácio, tocou nas colunas de mármore e também elas se transformaram em ouro.
Maravilhado com a riqueza que seu toque produzia e por não precisar pagar imposto de renda, determinou que se fizesse um grande banquete para comemorar. Entretanto, o banquete se tornou uma crise de fome, pois sempre que tocava em qualquer alimento este se transformava em ouro e não tinha como comer uma peça fria do metal.
Até o vinho ao contato dos lábios se transformava em ouro maciço.
Pressionado pela fome e pelo mau humor, Midas passou a caminhar de um lado a outro pensando na situação. Nesse exato momento sua filha mais nova entrou correndo na sala e jogou-se aos seus braços.
Enorme pavor, a pobre criança imediatamente se tornou uma estátua de ouro!
Midas prostou-se ao solo, em lágrimas, gritou ao deus que o liberta-se da maldição.
- Imploro Dionísio, imploro que perdoe minha ambição desmedida!
O mais debochado dos deuses se materializou a sua frente, com um jeito de quem já estava mais pra lá do que pra cá, soltando uma sonora gargalhada.
-Muito bem – não deveria te ajudar, mas terei piedade de sua ingenuidade.
Seguindo as instruções do deus, Midas foi até a nascente do rio Pactolo - que brota das rochas e lavou as mãos.
E, de imediato, aconteceram duas coisas: libertou-se da maldição do seu toque dourada e as areias do leito do rio Pactolo ficaram de um lindo dourada e é por isso que ainda hoje são dessa cor.
Ao longo da história do Brasil, as classes dominantes acostumaram-se às políticas propícias a seus lucros. Como num toque de Midas todas as riquezas naturais do país sempre se transformaram em lucro, o seu lucro.
Até Getúlio Vargas até mesmo a água era bem a ser explorado pelo capital e não reconhecido como direito natural de todos.
O Petróleo só foi estatizado com a criação da Petrobrás depois de uma luta insana contra os defensores da exploração dessa riqueza pelo capital privado internacional.
Por isso a percepção de que a imensa fortuna que poderia brotar das profundezas do pré-sal lhe estão sendo negadas, provoca nos patrícios tupiniquins e seus sócios de outras fronteiras, dor maior que um formigueiro subindo pelas pernas.
Onde está Dionísio que não emerge do sono embriagado para sustentar os desejos de uma burguesia birrenta que não deseja o bem do país, mas apenas do seu próprio?
De certa forma, a perda da quarta eleição presidencial sucessiva, se configure como as águas do rio Pactolo escorrendo sobre os seus dedos, fazendo escapar por entre eles, o poder antigo, dos tempos em que suas mais infantis ambições eram atendidas.
Seria bom que, assim como o Rei Midas teve que abandonar sua ambição pela paz e sua filha, nossos bem nascidos abandonassem suas desmedidas ambições em nome do Brasil.
Prof. Péricles
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