sexta-feira, 26 de setembro de 2014
CHOVE SOBRE SANTIAGO
Salvador Allende Gossens era médico.
E também, um visionário.
Aos 62 anos foi o primeiro socialista-marxista eleito democraticamente, presidente de um país, o Chile, pelo partido de que foi um dos fundadores, o Partido Socialista.
O fato de um socialista chegar ao poder de forma democrática, pelas urnas, trouxe esperanças para todos que acreditavam na construção de sociedades mais justas, sem recorrer à violência dos embates revolucionários.
Mas, Allende não se iludia, e mesmo antes da posse alertava seus seguidores “A história, disse ele, já nos mostrou que os grupos ultra-revolucionários não desistem do poder e lutam para conquistá-lo, de todas as formas e, se necessário, sem escrúpulos”.
Tinha razão.
Nos dois anos, 8 meses e 23 dias que governou o Chile, empreendeu medidas que buscaram a inclusão dos mais pobres, acesso a terra e relações de trabalho mais humanas.
As empresas estrangeiras, especialmente norte-americanas e seus aliados não se conformavam com as medidas que dificultavam a remessa dos lucros para o país de origem. A CIA traçou os planos para o golpe militar.
Allende foi traído pelo chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet, em quem confiava como um amigo leal.
Ele que acreditava ser possível transformar o mundo de forma pacífica, sem violência,
foi morto defendendo seu governo sob bombardeio intenso ao Palácio La Moneda no dia 11 de setembro de 1973.
Em 4 de setembro de 1972 denunciou na ONU a ingerência norte-americana que buscava criar um caos político no país, além de fazer de tudo para desestabilizar sua economia. A ONU não o ouviu e a ordem democrática definhou entre o dia 4 e o fatídico 11 de setembro.
A organização de extrema-direita “País e Liberdade” empreendeu uma onda de violência. Isolado pelos americanos, faltava comida. Os caminhoneiros, financiados pela CIA, pararam o país.
Poucos minutos depois das 9 horas da fria manhã de 11 de Setembro de 1973, o presidente anunciou em cadeia de rádio, para todo o país, que não aceitava as pressões para que renunciasse ao cargo.
“(.) Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens hão-de superar este momento cinza e amargo em que a tradição pretende impor-se. Prossigam vocês, sabendo que, bem antes que o previsto, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o Povo! Viva os Trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a deslealdade, a covardia e a traição."
Minutos depois as comunicações de rádio dos militares anunciavam que “chove sobre Santiago”. Era a senha para o golpe assassino.
As dramáticas cenas do bombardeio ao Palácio Presidencial podem ser vistas pelo yotube, e ainda hoje, impressionam pela violência desatinada.
Allende e todos os seus colaboradores morreram resistindo ao ataque.
Liderada por Augusto Pinochet iniciava-se a mais sangrenta ditadura militar daqueles anos de chumbo e horror na América Latina.
Trinta mil pessoas foram assassinadas e mais de cem mil pessoas presas e torturadas. Até mesmo o estádio nacional de futebol de Santiago foi usado como imenso presídio e muitos foram vistos ali pela última vez.
As embaixadas de inúmeros países lotaram de gente desesperada buscando escapar da sanha assassina (inclusive refugiados brasileiros da ditadura militar).
Até o prédio da Cruz Vermelha foi usado como amparo para os perseguidos.
Foram 17 longos anos que durou a ditadura de Pinochet. A reforma agrária foi abandonada e o Chile voltou a ser servil aos interesses dos Estados Unidos e seu capital.
Pinochet? Morreu em Dezembro de 2006 sem nunca ter sido julgado pelos seus crimes. Mas dizem que é visto frequentemente, no inferno.
Prof. Péricles
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