sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

UM ILUSTRE DESCONHECIDO


O homem da Igreja vinha descendo a Av. Borges de Medeiros apressado, quando esbarrou num jovem que vinha em sentido contrário, sem pressa. Foi mais um daqueles “bailados” que fazem as pessoas que caminham de cabeça baixa no centro da cidade. Um vai pra lá outro também, trocam de rota juntos e bummm.


O homem da Igreja murmurou pra si mesmo um impropério, mas, já se aprumava para reiniciar sua maratona quando o jovem estendeu a mão e lhe fez parar.


- Oi, é você? Lembra de mim?


Infernos pensou o homem da Igreja, já não bastam os haitianos, os gays, negros e essa laia toda que a gente tem que suportar ainda me aparece um maluco.

- Sinto muito, amigo, mas creio que não te conheço.

Não acredito, disse sorridente, o jovem... Olha bem... não me conhece mesmo?

O homem já bastante impaciente respondeu que ele sentia muito, as pessoas que ficam na plateia e assistem seus discursos sempre lembram dele, claro, já que é um grande palestrante, mas ele, ali em cima, não tem como gravar a cara dos que estão lá embaixo.

Tentou ir embora, mas outra vez o jovem o impediu e, sem aviso começou a caminhar para trás... olha agora, assim distante, está lembrando agora? Caminhou mais um pouco e já quase na rua Salgado Filho tornou a falar e agora... me conhece?


O homem da Igreja arrumando a roupa amarrotada pelo choque resmungou que não e definitivamente não o conhecia, mas quando ergueu a cabeça o jovem estava novamente próximo, até quase encostar sua testa com a dele.


- Mas, o senhor fala que conhece minha vida, diz que sabe tudo o que eu disse e que explica minhas palavras para os que não me conhecem, que pensa em mim todos os dias e até fala comigo... você tem certeza que não me conhece?


Segurando-se na parede para não cair o homem da igreja balbuciou... Jesus!


Sim, sou eu mesmo, disse o jovem cabeludo.


- Mas senhor, gaguejou o homem num fiapo de voz, como poderia conhecê-lo se nunca te vi assim, de calça jeans e camiseta? Todos os livros lhe retratam com longa túnica e...


- Você sempre se prende à forma meu filho, e não ao conteúdo. Saiba que eu entro em sua Igreja todos os dias. Eu sou aquele menino faminto que você expulsou antes do culto de domingo, aquela menina negra, grávida, que você desdenhou de sua dor, eu caminho junto com os pequenos todas as horas de todos os dias. Ontem mesmo entrei ansioso acreditando que finalmente você me reconheceria sob o olhar daquele homem bem vestido que esconde por de trás da elegância uma depressão que o persegue e o levará ao suicídio, mas você não lhe deu ouvidos porque só pensava no tamanho do dízimo. Você foi surdo, não o ouviu enquanto ele pedia ajuda. Se você não o ouve jamais me ouvirá também.


- Perdoai-me senhor! Perdoai-me disse o homem em lágrimas para só então perceber que todos se riam dele, pois falava sozinho.



O BLOG DESEJA A TODOS UM FELIZ NATAL E QUE, FALEMOS MENOS E VIVAMOS MAIS O QUE ESSE ILUSTRE DESCONHECIDO NOS ENSINOU.


FELIZ NATAL!



Péricles Humberto Rocha

domingo, 19 de novembro de 2017

OBRIGADO A TER VERGONHA NA CARA



Por Cezar Britto

A nova legislação trabalhista brasileira, agora rebatizada de Consolidação das Lesões Trabalhistas, tornou-se uma das mais perversas do mundo, pois está centrada na compreensão de que o trabalho é “mero” custo de produção, uma “coisa” a ser apropriada pelo menor preço.


Ela nada mais é do que a cria nefasta do grupo patrimonialista que manda na política brasileira desde tempos imemoriais. Ou, em termos mais precisos e atuais, a legislação trabalhista é o produto final da “relação amorosa” do Congresso Nacional com o poder econômico financiador da imensa maioria dos parlamentares.


Não é preciso grande esforço reflexivo para se chegar a esta triste e óbvia compreensão, basta que se observe a composição do atual parlamento, como tem votado cada parlamentar e o seu relacionamento íntimo com as propostas impostas pelo governo representante dos patos amarelos, dos ruralistas desbotados e do capital multicolor.


Crueldade, compromisso ou caridade – conforme o credo abraçado – é do Congresso Nacional a competência de cada parlamentar federal fazer nascer um direito para o trabalhador ou determinar a morte de outro considerado mais injusto. É dele a iniciativa ou aprovação final de todo projeto de lei destinado a criar, regulamentar ou disciplinar o direito ao trabalho digno, assumindo a política que André Rebouças definiu como Aviltar e minimizar o salário é reescravizar, ou o conceito de trabalho como honra em que, se ela, no dizer de Gonzaguinha, Se morre, se mata, não dá pra ser feliz.


Foram os parlamentares quem estabeleceram, por exemplo, a permissão de se demitir o trabalhador por justa causa quando comentem crimes, faltam ao trabalho, maculam a imagem da empresa ou desrespeitam o superior hierárquico. Também autorizaram a demissão imotivada, a quitação anual de direitos não pagos, a possibilidade de mulheres grávidas trabalharem em ambientes insalubres, a supressão de direitos fixados em lei, o não pagamento de horas extras trabalhadas, a quebra da isonomia, dentre outras lesões.


Enfim, tem sido o parlamento um dos protagonistas da política de retrocesso de direitos sociais, fazendo certeira, infelizmente, a constatação de José Lins do Rego: “O pior não é morrer de fome num deserto: é não ter o que comer na Terra Prometida”.


O Congresso Nacional apenas “esqueceu” de aplicar estas regras aos próprios parlamentares, praticando o vergonhoso lema do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Neste sentido, paradoxalmente, manteve intacto o “contrato de trabalho”, sem afastamento ou demissão por justa causa, do senador que o STF apontou como praticante de falta grave, no mesmo compasso em que se recusou suspender o contrato do dirigente presidencial acusado de chefe de quadrilha e obstrução à Justiça.


Continua-se pagando os vencimentos de parlamentares afastados, além de horas extras, diárias, liberações de emenda milionárias e mimos indenizatórios de esdrúxulas definições. E permanecem sem abrir processo disciplinar contra o “empregado do público” que, sem remorso, se apropria do patrimônio público. Quebram, assim, a regra simples tão bem sintetizada por Salvador Allende: Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos.


Talvez seja esta a grande oportunidade para se estabelecer uma nova regra de direito do trabalho ou direito administrativo, condição essencial para a tramitação de qualquer projeto de lei: direito à reciprocidade de tratamento. Destinar ao parlamentar o mesmo tratamento por ele fornecido ao cidadão, aos trabalhadores e aos servidores públicos. Aplicar no parlamento o que Gandhi chamou de o melhor argumento: o exemplo. Ou, na ausência, aprovar a proposta de Capistrano de Abreu para assim inscrever: Constituição Brasileira, artigo único: todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.



sábado, 18 de novembro de 2017

O CINISMO DA GLOBO


Por Kiko Nogueira



O empresário Alejandro Burzaco, um dos delatores do caso Fifa, acusou a Globo de ter pago propina por direitos de transmissão de competições ligadas à Conmebol, como Copa América, Libertadores e Sul-Americana.



Burzaco, que se entregou em 2015, disse que, por meio de sua empresa de marketing esportivo, subornava autoridades.



Segundo ele, Marcelo Campos Pinto, então diretor da área esportiva da Globo, se reuniu em 2012 num restaurante de Buenos Aires chamado Tomo Uno com Julio Grondona, presidente da AFA, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. No encontro, falaram de pagar 600 mil reais aos dois últimos.



Campos Pinto foi afastado da Globo três anos depois. Estava na casa desde 1994. Dava expediente na CBF e conduzia pessoalmente os contratos de mídia com as equipes nacionais.



Em 2011, com a implosão do Clube dos 13, conseguiu manter o futebol na Globo. A TV passou a ser a principal fonte de receita dos times.



No ano passado, segundo estudo do Itaú BBA, Globo e seus canais pagos injetaram R$ 1,210 bilhão nos 23 maiores deles, que arrecadaram R$ 3,113 bilhões no total.



A demissão foi em consequência do caso Fifa, que já despontava no horizonte. Em nota divulgada na terça, no entanto, a Globo garante que “se surpreende com o relato envolvendo o ex-diretor Marcelo Campos Pinto”.



“A ser verdadeira a situação descrita, o Grupo Globo deseja esclarecer que Marcelo Campos Pinto, em apuração interna, assegurou que jamais negociou ou pagou propinas a quaisquer pessoas”.



Ah, tá! Resolvida a questão.



O cinismo do comunicado é digno do grupo. A relação promíscua de Campos Pinto com os ladrões era absolutamente desavergonhada e conhecida. Quando tornou-se insustentável - graças à Justiça americana -, ele dançou.



Em 2015, Campos Pinto fez um discurso na festa de encerramento do campeonato paulista.



É uma elegia à picaretagem, sem qualquer meio tom, orgulhosa. Foi proferido no início de maio, alguns dias antes de Marin ser preso na Suíça a mando do FBI.



No palco, foi introduzido por Tiago Leifert. Reinaldo Carneiro Bastos, sucessor de Marco Polo Del Nero como presidente da FPF, mereceu lágrimas e voz embargada.



A Justiça americana investiga 24 anos de roubalheira. A Copa do Mundo é transmitida pela TV Globo desde 1970.



domingo, 12 de novembro de 2017

O CORNO DA RUA



Por Mario Santayana​


Se, como dizia Von Klausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios, a missão do jornalismo deveria ser a de escrever a história enquanto ocorre e acontece. Isso se a mídia não estivesse, na maioria das vezes, a serviço de seus próprios interesses e de projetos de poder mendazes, hipócritas e manipuladores.

Só os ingênuos acreditam em imprensa isenta em uma sociedade capitalista – na qual ela defende o interesse de seus donos e anunciantes. E mais ainda em um país como o Brasil, em que praticamente inexistem meios de comunicação públicos, tampouco democráticos e de qualidade, como em outros lugares do mundo.

A “história oficial” que tenta contar a mídia brasileira hoje é a de que vivemos em um país subitamente assaltado, nos últimos 15 anos, por “quadrilhas” e governos populistas e incompetentes. E que tenta, por meio de uma justiça corajosa e impoluta, livrar-se desse flagelo “limpando” a ferro e fogo a nação. Enquanto isso, um governo, coitado, que não é perfeito, alçado ao poder pelas “circunstâncias”, tenta modernizar o Brasil com reformas inadiáveis para tirá-lo de uma terrível bancarrota em que o governo anterior o enfiou.

Mas a história real que ficará registrada nos livros do futuro falará de um Brasil que, no início do Século 21, chegou a sair da 14ª economia do mundo para sexta nos últimos 15 anos – e que ainda ocupa nono lugar entre as nações mais importantes do mundo. De uma nação que mais que triplicou seu PIB nesse período – sem aumentar a sua dívida pública, seus débitos com principais credores internacionais e quadruplicou sua renda per capita, além de economizar mais de US$ 340 bilhões em reservas internacionais.

Um país que cortou o número de pobres pela metade, quadruplicou o número de escolas técnicas federais, construiu quase 2 milhões de casas populares, com qualidade suficiente para atrair até mesmo o interesse de altos funcionários do Estado, como procuradores da República. Um país que tinha voltado a construir refinarias, navios, grandes usinas hidrelétricas, gigantescas plataformas de petróleo e descoberto, com tecnologia própria, abaixo do fundo do mar, a maior província petrolífera do mundo nos últimos 50 anos.

Que expandiu o crédito e o consumo, duplicou sua safra agrícola, projetou-se internacionalmente e forjou uma aliança geopolítica com potências espaciais e atômicas, como Índia, China e Rússia, montando um banco com a missão de transformar-se no embrião de uma alternativa ao sistema financeiro internacional.

Que estava construindo submersíveis – entre eles, o seu primeiro submarino nuclear – tanques, navios de patrulha, cargueiros aéreos, caças-bombardeiros, radares, novos mísseis ar-ar, sistemas de mísseis de saturação, uma nova família de rifles de assalto, para suas forças armadas, por meio de forte apoio governamental a grandes empresas de engenharia de capital majoritariamente nacional, integrando esses esforços com outros países, também do próprio continente, para fortalecer a defesa e a soberania regional contra eventuais agressões externas.

Um Brasil que, por estar fazendo isso, sofreu, nos últimos quatro anos, um ataque coordenado, ideológico e canalha, de inimigos internos e externos. Primeiro, com a revelação do escândalo de espionagem do país, do governo e de empresas, que seriam “coincidentemente” acusados de corrupção por parte de governos estrangeiros.

Depois, por meio de um golpe iniciado com manifestações financiadas de fora do país, desde a época da Copa do Mundo, e de uma ampla campanha de sabotagem midiática e de operações de contrainformação permanentes, com o deslocamento para cá de embaixadores que estavam presentes quando do desfecho de golpes semelhantes e recentes em outros países sul-americanos, como o Paraguai, por exemplo.

Um golpe que, iniciado no ano de 2013, foi finalmente desfechado em 2016 para gáudio do que existe de pior na política brasileira e de nossos concorrentes internacionais. Concorrentes que, como vimos, pretendiam não apenas parar o Brasil no caminho que estava seguindo, de seu fortalecimento econômico, social e geopolítico, mas destruir a economia brasileira, para se apossar, por meio de uma segunda onda de destruição e de desnacionalização de nossas empresas, de nosso mercado interno e de nossos mais importantes ativos públicos e privados a preço de banana, colocando no poder “governos” de ocasião, entreguistas e dóceis às suas determinações e desejos.

Para fazer isso, os inimigos do Brasil agiram e continuam agindo na frente política e na econômica, sustentados por paradigmas tão falsos quanto mendazes. O principal deles, é o que reza que a corrupção é o maior problema brasileiro, e que trata-se, ela, de um fenômeno recente em nossa história, ou que alcançou supostamente “gigantescas” proporções a partir de chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder em janeiro de 2003.

Na economia, por outro lado, era e é preciso vender o peixe de que o país está quebrado, quando no grupo das 10 principais economias do mundo, pelo menos seis países – EUA, Japão, Reino Unido, França, Itália, Canadá – têm uma dívida pública maior que a nossa.

Precisam justificar um teto para os gastos do governo para os próximos 20 anos, dizendo que o Estado é superdimensionado e perdulário, quando os EUA, por exemplo, apenas na área de defesa, tem mais funcionários públicos do que o Brasil; quando eles se endividaram para se desenvolver e continuarão a se endividar – e a se armar – livremente, no futuro; enquanto nós estaremos sendo governados por imbecis ou espertalhões a serviço de terceiros, vide os mais de R$ 200 milhões recebidos pelo ministro da Fazenda no exterior nos últimos três anos – como se fôssemos uma mercearia, preocupados não com geopolítica, mas apenas, supostamente, com receitas e despesas, sendo condenados a subir no ringue da disputa em um mundo cada vez mais complexo e competitivo com um olho vendado e um braço e uma perna amarrados nas costas, com nações sem limite real de endividamento, que privilegiam a sua própria estratégia nacional no lugar dessa estúpida modalidade de austericídio.

Finalmente, precisam dizer que diante da supostamente calamitosa situação que o país vive, não há outra saída a não ser privatizar tudo – quando não entregar de mãos beijadas até mesmo a empresas estatais estrangeiras – nossas próprias estatais e seus ativos, na bacia das almas e a toque de caixa, porque elas trabalham mal, dão prejuízo; e servem como cabides de emprego – como se empresas privadas não fossem useiras e vezeiras em tráfico de influência e o genro do rei da Espanha, por exemplo – um ex-jogador de handebol – não tivesse ganhado milhares de euros por reunião, em escândalo conhecido, “pendurado” como membro do conselho de empresas “privatizadas” para capitais espanhóis por estas bandas.

Como seria possível para o governo Temer entregar o pré-sal por menos de R$ 20 bilhões, o controle da Eletrobras, a empresa líder de nossos sistema elétrico, por R$ 13 bilhões, e até a Casa da Moeda – país que repassa a terceiros o direito de imprimir o seu dinheiro não merece ser chamado de nação – se ele admitisse que tem, deixados pelo PT – que acusa de ter quebrado o país – mais de um trilhão de reais em caixa, à disposição do Banco Central, além de uma quantia superior ao que está querendo arrecadar com privatizações apenas nos cofres do BNDES?

A doutrina da viralatice, do mais abjeto e abnegado entreguismo, tomou conta das redes sociais e de sujeitos que desgraçadamente – para a nação – nasceram em solo brasileiro, e não tem pejo de pedir na internet ao governo Temer que entregue tudo, nosso petróleo, nossos minerais, nossas terras, nosso mercado, nossas empresas estatais aos gringos.

Já não basta o desprezo pelo PT e o Nordeste, ou – como se viu nas reações à morte da turista espanhola morta por um bloqueio da PM no Rio de Janeiro – a tudo que esteja ligado à periferia das grandes cidades. É preciso bradar, cinicamente, vestido de verde e amarelo, o ódio que ficou por tanto tempo represado, dentro dos pulmões de uma gente tão calhorda quanto desprezível, contra o próprio país e tudo que lembre nacionalismo, brasilidade, soberania, nestes tempos imbecis e vergonhosos que estamos vivendo.

A desculpa é sempre a mesma. As empresas estatais seriam – contradizendo o próprio discurso anticorrupção que está acabando com dezenas de empresas e grupos econômicos privados nacionais – mais “corruptas” e propícias à criação de “cabides de empregos” que as empresas privadas ou privatizadas, embora sujeitos que participaram diretamente da privatização da Telebras tenham pendurado depois durante anos seu paletó na cadeira de presidente de grandes grupos estrangeiros que retalharam entre si o mercado brasileiro de telefonia móvel e até mesmo o genro do Rei da Espanha, especialista em handebol, tenha participado da farra, ganhando milhares de euros para participar de reuniões do Conselho dessa mesma empresa na América Latina.



sábado, 4 de novembro de 2017

A ESPERANÇA QUE MORRE

Por Maria Fernanda Arruda

Diz a voz popular que ‘de médico e louco cada uma tem um pouco’… E não posso deixar de dar minha opinião sobre a patologia que atingiu nosso país. Infelizmente estou tentando achar outros informes para amenizar os sintomas e pensar que pode haver salvação. Mas não consigo ver essa esperança.


Como esperar recuperação de um organismo atingido por falência múltipla de funções? A verminose é uma perigosa moléstia que por sua solércia faz pensar que tem cura fácil, mas não. Age pela via mais subreptícia, que é por meio dos intestinos e sabota organismos aparentemente fortes.


Como se fosse uma teníase que ganha dimensão dentro do campo intestinal e mesmo eliminada aparentemente volta a ressurgir e prejudicar o portador. Não há como ver nosso Brasil brasileiro senão com os efeitos dessa verminose perigosa que se mostra até letal! Em nossa sociedade os vermes estão tão numerosos que nem se podem disfarçar.


Há togados de diversos tamanhos (gordos, muito gordos, cabeludos e velhos), mas todos contribuindo dentro de sua natureza nefasta para deprimir, violentar e fustigar a saúde social. O que não fazem por si, fazem por seus criminosos protegidos, endinheirados como lhes convém, ainda que estupradores e exploradores sociopatas.


Como vermes que são, deram o golpe covarde valendo-se de ter abrigo intestino nas esferas governamentais. Valeram-se covardemente de suas funções para se vender a um país cúpido que nos quer como sempre quis, nos dominar.


Se a esfera judicial está podre e já deveria ser extirpada como um apêndice que de nada serve e ainda contamina com sua corrupção, as outras reservas vitais apresentam iguais sinais da patologia que atinge o todo. As fardas que se mostraram ineptas para ser vistas como defesa ou anticorpos úteis, continuam em sua inércia doentia.


Com essa situação somática, como esperar reação do todo social? Se não há força confiável, como se erguer um braço ou dar um passo? Estamos como confinados em uma UTI como enfermo que não mostra sinais vitais e fica aguardando óbito! Aproveitando-se da já fragilidade do organismo, mais males vem como sangue sugas a ganharem seus dividendos. E vemos empoleirados nos ministérios as figuras mais sórdidas da política de todos os tempos…


A impressão é de que nem um enfermeiro/a se abala em dar um banho que ao menos alivie o odor nauseabundo de tantos vermes. A situação da moléstia -tudo indica – se deu por indução criminosa de arma química ($$$) produzida nos EUA com o exato propósito de minar corpos que não tivessem defesa orgânica.


Viram que era bem esse caso quando experimentaram essa eventual resistência em 1964. Depois disso, com a tranquilidade de quem triunfou em suas experimentações foi fácil, muito fácil, tomar conta do bem desejado. Temos um Brasil já devorado pelos vermes antes de ser sepultado…


Que pena! Que angústia!



Maria Fernanda Arruda é escritora

terça-feira, 31 de outubro de 2017

OS MENINOS DA LAGOA


Então, o menino voltou-se para o velho médico que a vida inteira estudara as doenças e perguntou “tio, o que o senhor tem contra o câncer?”. O velho médico, suspirou e com toda a paciência explicou o quanto o câncer limitava a qualidade e o tempo de vida das pessoas.



Mas, o menino que tudo ouvia com olhar de esperto, não acreditava no que estudara o velho homem (pois a televisão dizia que câncer era bom) tornou a falar “Mas, tio, eu sou a favor do câncer”.



Diante da insistência burra e inocente, o médico suspirou e deu de ombros.



E o câncer tomou conta da pequena aldeia, que se chamava Hipocrisia, e só então o menino entendeu o quanto fora tolo, mas já era tarde. Mas não culpou a televisão, afinal, ele era esperto.



Resolveu então seguir a vida, sem pensar muito, afinal, havia outros meninos, os que moravam na beira da lagoa que viviam situações piores e com mais doenças para lhe servir de consolo.



O importante não era ter saúde, era ter menos chagas que seus vizinhos.



Um dos seus vizinhos, que habitava a Lagoa havia chegado ao poder e isso sim, era intolerável.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam se alimentar bem, mas como até os meninos da lagoa comeriam bem, muitos preferiam comer capim, e diziam ser gostoso comer capim, pois ao menos haviam tirado um menino da lagoa do poder.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam ter orgulho de sua aldeia e de seu destino, mas, como isso poderia parecer obra de um menino da lagoa, preferiam viver como servos e vender suas riquezas aos esquisitos do norte, mais ricos, a quem invejavam e tentavam agradar.



Enquanto isso, o velho médico continuava lutando para acreditar nas velhas terapias.



O pior de tudo para ele e os outros que a tudo viam com o coração apertado, não era perder a esperança em hipocrisia.



Era perder a fé em seus meninos.




Prof. Péricles





sábado, 28 de outubro de 2017

O BRASIL DOS NAZISTAS

Por Kiko Nogueira



O jornal "O Tempo", de Minas Gerais, achou por bem dar espaço a um nazista defender suas “teorias”. Um bom espaço.


Faz sentido?


Faz, no novo normal brasileiro. Do repórter ao editor, passando pelos donos, ninguém questionou e a coisa simplesmente foi publicada.


Afinal, estamos em tempos de MBLs, Frotas, Bolsonaros e Felicianos evacuando um discurso fascista numa boa diariamente. Kataguiri, até ontem, era colunista da Folha de S.Paulo.


Hoje sua milícia ataca a “mídia de extrema esquerda”, que inclui a publicação dos Frias. Assim se legitimam as barbaridades.


A Lei 7.716/89 prevê no seu artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.


O parágrafo 1º prevê o crime de divulgação do nazismo, com 2 a 5 anos e multa. O Tempo deveria ser acionado e responder por isso.


Na matéria, ficamos conhecendo um tal Harryson Almeida Marson, de 29 anos. Ele participou de manifestações em favor do impeachment de Dilma e “é bastante ativo” nas redes sociais.


O Facebook censura fotos de mães amamentando e de quadros com nu, mas Marson pode postar suásticas à vontade.


Provavelmente assessorado por um advogado, a conversa dele é articulada. O que não significa nada - Goebbels também falava de maneira clara e calma quando queria.


Marson jamais vai admitir, por exemplo, que quer se livrar de gays, judeus, negros e quem não for ariano.


Prefere a distinção entre “um homossexual que faz influência nas pessoas com sua arte que jamais será esquecida e um homossexual que ilude a população com vitimismos utópicos e tenta influenciar o jovem a ser como ele”.


O Holocausto é um “holoconto” (“Não houve informação sobre extermínios maciços em Auschwitz”) e Hitler foi “um homem que trouxe prosperidade a um Estado amante de seu povo”. Ah, bom!


Em julho, ele já havia brilhado na Folha com uma camiseta do Pink Floyd, gente fina, revelando que é religioso, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.


Embora disfarçado, é ódio em estado puro, do tipo que nos transformou nessa cloaca. Os idiotas saíram do sofá, encontraram outros iguais a eles e estão nas ruas, nas escolas e nas portas dos museus.


O filósofo Karl Popper é autor da famoso paradoxo: a “tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”. Na Alemanha, por razões óbvias, esses monstros não têm vez.


Em agosto, dois turistas chineses foram presos quando faziam a saudação nazi em frente ao Reichstag, em Berlim.


Semanas mais tarde, um americano de 41 anos fez a mesma coisa em Dresden. Tomou um soco na cara de um pedestre e acabou respondendo a um processo por violar as leis locais.


No Brasil, eles ganham as páginas da imprensa.





sexta-feira, 27 de outubro de 2017

VITÓRIA DAS MULHERES


Por Railídia Carvalho


A ex-ministra da secretaria de políticas para mulheres no governo da presidenta Dilma Rousseff, Eleonora Menicucci não terá mais que pagar indenização de 10 mil reais ao ator Alexandre Frota. A decisão favorável à Eleonora foi divulgada nesta terça-feira (24) em São Paulo. “Essa vitória é das mulheres brasileiras porque foi com elas que eu aprendi a lutar”, declarou emocionada na saída do Fórum.


Durante a audiência, ocorreu ato na praça João Mendes em solidariedade à ex-ministra. Ao chegar ao Fórum, Frota se envolveu em discussão com as manifestantes e tentou agredi-las fisicamente, segundo relatos nas redes sociais.


A condenação em primeira instância de Eleonora se baseou em crítica feita pela ex-ministra que condenou relato de Frota em programa de televisão em que o ator narra ter estuprado uma mãe de santo desmaiada.


Na ocasião, a ex-ministra criticou o conteúdo do relato e também o encontro entre Frota e o ministro da Educação, Mendonça Filho. "É um absurdo que uma pessoa que fez apologia ao estupro fosse ao ministro da Educação sugerir políticas para a nossa juventude", reiterou seu ponto de vista à TVT após saber da decisão da juíza que a condenava por danos morais.


De acordo com Eleonora, a decisão desta terça-feira condenou o estupro e absolveu as mulheres brasileiras. "Essa luta saiu de mim. É da sociedade brasileira, das mulheres brasileiras. É uma luta pela democracia, em favor da justiça social, dos direitos humanos das mulheres”, enfatizou em vídeo nas redes sociais.


Ela se declarou honrada de aos 73 anos ter enfrentado dois golpes em nome do compromisso com a luta das mulheres brasileiras.


“Aqui vai o meu mais profundo agradecimento a todas as mulheres, de todas as raças, de todas as matrizes religiosas, de todas as idades. Essa vitória é das mulheres brasileiras porque foi com elas que eu aprendi a lutar”, completou Eleonora.


A ex-ministra afirmou que se sentiu gratificada pelo ato de apoio que recebeu das mulheres durante a audiência. “Me senti reconhecida e mais comprometida ainda com a luta pela democracia, pelo retorno do estado de direito no nosso país”.


Segundo ela, a decisão impulsiona a luta contra o golpe que “tirou a primeira mulher presidenta eleita e reeleita do nosso pais e contra o crime de ódio que os golpistas instalaram no nosso pais”.


Na opinião da presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Santos, a decisão é a vitória da esperança considerando a postura do judiciário, que tem sido negativa em relação aos direitos das mulheres.


“O retrocesso não está só no quadro político nacional mas o retrocesso também está presente nas casas legislativas e, sobretudo, no judiciário”, argumentou Vanja.


Segundo a dirigente, a decisão que favoreceu a ex-ministra deixa uma esperança. “Quando vê uma vitória como essa da Eleonora a gente passa a acreditar que pode mudar, que tem jeito e que se esforçando cada vez mais e colocando as bandeiras na rua é possível combater esse quadro que está posto de retrocesso”.


Ela lembrou que o movimento não pode parar porque existem outros casos de misoginia ignorados pelo judiciário. Vanja citou o caso do ajudante de serviços gerais Diego Ferreira de Novais que após ejacular em uma mulher dentro de um ônibus em São Paulo foi solto pela justiça. Dias depois foi preso novamente por atacar outra passageira.


“Precisamos indicar a esses juízes que eles não podem legislar nas letras mortas. Existem convenções, tratados que não só a sociedade precisa estar inteirada mas também os juízes para julgar casos como esses”, cobrou Vanja.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

TUDO SOBRE CESARE BATTISTI - 2ª PARTE

Já no final de seu mandato (31/12/2010), o presidente Lula assinou um decreto recusando a extradição exigida pela Itália. Esse decreto foi aprovado pelo STF, por 6 votos a favor e apenas 3 contrários.



Solto em 2011, Cesare adquiriu o direito de ser residente permanente no Brasil, recebendo documentos normais de validade ilimitada. Até o dia de hoje, Cesare tem vivido dos direitos autorais de seus livros, especialmente dos que provém da França, eleva uma vida totalmente normal. Ele não registra qualquer irregularidade em território brasileiro, salvo uma multa por estacionamento incorreto (mas não por excesso de velocidade).



Tem um filho, Raul Battisti, com quatro anos de idade. Ele nem sempre pode vê-lo, pois no interior da São Paulo, onde a criança vive com sua mãe, Cesare sempre é provocado pela mídia local, por elementos da classe alta, por militantes de partidos de direita (como os tucanos) e, em alguns casos, pela polícia daquele município.



Cesare precisa tratamento médico regular por causa de sua hepatite, mas tem sofrido discriminação no hospital público de São José do Rio Preto.



A perseguição a Battisti é o que se chama uma vendeta. E ninguém deve ser preso, perseguido nem morto por causa de uma vingança. Isso é uma forma primitiva e bárbara de lidar com os problemas.



Cesare tem um filho brasileiro, menor de idade, de mãe brasileira. De acordo com o Estatuto do Estrangeiro, nenhuma pessoa que tenha um filho no Brasil pode ser expulsa, deportada ou extraditada. Nem mesmo a ditadura militar violou este princípio. Lembremos o caso de assaltante do trem-correio de Londres, Ronald Biggs, que aqui permaneceu a salvo quanto tempo quis e só saiu quando quis.



O decreto assinado por Lula no último dia do seu mandato está em plena vigência. Alguns decretos podem ser modificados, mas só durante os cinco anos seguintes; o decreto do Lula, contudo, está prestes a completar sete anos.



Além disto, de tal decreto decorreram direitos adquiridos. Portanto, ele não pode ser revogado, anulado nem modificado. Não poderia ser anulado nem mesmo pelo próprio Lula!



O que o governo brasileiro pretende fazer, de forma tortuosa e recorrendo a tratativas sigilosas, é ilegal: Cesare não é refugiado. Esta é uma mentira usada pela mídia, pelo governo e por alguns juízes. O refúgio de Cesare foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal. Desde junho de 2011, Cesare é um residente permanente, ou seja, imigrante. Ele é um estrangeiro com os mesmos direitos que tiveram os pais de Temer, de Dilma e de vários milhões de pais e avós de brasileiros.



A viagem a Bolívia não quebrou nenhuma relação de confiança, pois o Cesare tinha total direito de sair e entrar do país quantas vezes quisesse. É algo que todos nós, estrangeiros de nascença, sempre fizemos e fazemos. Aliás, os valores em dinheiro que os três amigos portavam, na casa de R$ 25 mil, eram inferiores ao teto permitido (R$ 10 mil cada).



Caso fosse aprovada, a extradição de Battisti arranharia profundamente nossa soberania. Pensem nisto: seria violar a vontade do ex-presidente e do plenário do STF, que referendou o decreto de Lula. E para quê? Apenas para obedecer ao embaixador italiano e às forças políticas que ele representa.



Devemos difundir estes pontos entre todas as pessoas conhecidas, grupos políticos, comunicadores, representantes populares, movimentos sociais, etc., tornando-os o mais conhecidos possível nas redes sociais e outros meios ao nosso alcance.





Carlos Lungarzo, professor, jurista, escritor, autor do livro Os Cenários Ocultos do Caso Battisti