segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DE OLHOS BEM ABERTOS


Por Jacques Gruman

Pessoas me perguntam sobre esquerda judaica ou judeus de esquerda. Algumas demonstram uma curiosidade legítima, enriquecedora. Perguntam para estabelecer um diálogo, para entender o Outro. Outras, no entanto, usam seu desconhecimento de maneira agressiva. Não perguntam, provocam. Não dialogam, tratam de impor conclusões sem dar chance a uma verdadeira interlocução. No fundo, não estão interessadas em ouvir. Usam a situação de crise recorrente no Oriente Médio para criminalizar todo o povo judeu. Uma artimanha viciosa, responsável por alguns dos mais terríveis banhos de sangue da História. Ignorância nunca deu bom caldo.

Para meus leitores sensíveis, passo algumas informações, que estão longe, muito longe de esgotar o assunto. É difícil entender a História da esquerda e dos movimentos democráticos do século XX sem estudar o papel que nela tiveram importantes segmentos judaicos. A primeira expressão organizada do movimento social-democrata russo foi um partido judaico: o Bund (União dos Operários Judeus da Lituânia, Polônia e Rússia), formado em 1897. Foi, até 1905, a maior organização operária da Rússia. Entre os delegados que fundaram o Partido Operário Social-Democrata Russo, mais tarde Partido Comunista, vários eram do Bund.

Incontáveis militantes e teóricos bolcheviques vieram dos shteitlach, pequenas aldeias da Europa Oriental, quase sempre com população majoritariamente judaica. Breve e triste parênteses: apesar desse protagonismo, os comunistas judeus da URSS não escaparam dos assassinatos stalinistas, entre os quais ficou tristemente célebre o Processo dos Médicos, nos anos 50. Durante a Segunda Guerra Mundial, com o massacre sistemático nos guetos e campos de extermínio, muitos judeus engajaram-se em destacamentos guerrilheiros, os partisans, lutando bravamente contra o nazifascismo. Uma história gloriosa, que o stalinismo tentou, sem sucesso, apagar.

Alguém já ouviu falar da Brigada Botwin? Formada por judeus de várias nacionalidades, integrou-se às Brigadas Internacionais que lutaram contra o fascismo na Espanha no final dos anos 30. Nos Estados Unidos, muitas vezes citados pelos anti-semitas como sede do “judaísmo internacional”, a participação judaica no movimento operário e na luta pelos direitos civis não pode ser subestimada. Em 1964, Martin Luther King disse: “A contribuição do povo judeu para a luta dos negros por liberdade é tão grande que não tenho condições de dimensioná-la”. O cantor negro Paul Robeson, perseguido pelo macarthismo, expressou sua proximidade com os judeus progressistas cantando, em 1949, num concerto em Moscou, o Hino dos Partisans.

Ainda no campo da luta contra o preconceito, é importante lembrar um judeu lituano, que imigrou jovem para a África do Sul. Me refiro a Joe Slovo. Colega de faculdade de Nelson Mandela, participou ativamente da criação do Conselho Nacional Africano, e seu partido, o PC da África do Sul, teve papel destacado no combate ao apartheid.

Há testemunhas de que, na Argentina, durante a ditadura militar, os presos políticos judeus eram torturados com especial sadismo. Existem registros da existência de suásticas nas câmaras de tortura. No Brasil, muitos voluntários judeus serviram na FEB. Tinham consciência de quem era o inimigo e da importância histórica de derrotá-lo. Mesmo antes da guerra, migrantes judeus estiveram engajados em lutas democráticas, às vezes sob risco de deportação. A polícia de Filinto Müller não dava trégua aos freqüentadores da Cozinha Operária, que funcionava na Praça Onze, no Rio de Janeiro. Depois de delações, vários deles foram mandados para a morte.

Sei o “problema” para os que têm sangue nos olhos é o Oriente Médio. “Olha só o que vocês estão fazendo lá!”, foi o que já ouvi de gente bem formada. Assim mesmo, vocês, sem distinções, como se os judeus fossem um corpo homogêneo. É o mesmo mecanismo psicopolítico que atribui a todo o povo judeu a culpa pela execução de Cristo.

Antes de comentar o assunto, dou a palavra e os gestos ao pianista e maestro Daniel Barenboim. Foi o criador, junto com o intelectual palestino Edward Said, da East-West Divan Orchestra, que reúne jovens músicos israelenses, palestinos e de vários países árabes. O projeto, inicialmente musical (embora com a intenção de aproximar gente que não costuma reconhecer o Outro), evoluiu. Barenboim acaba de anunciar a criação, em Berlim, de uma academia para músicos, que terá aulas de música, história e filosofia. Os formados devem integrar a orquestra. Sem deixar de condenar a ocupação de territórios palestinos, Barenboim, que tem passaporte israelense e palestino, trata de usar as ferramentas de que dispõe para abrir caminhos de entendimento.

Os judeus de esquerda e os que se identificam como humanistas têm lutado contínua e arduamente para que se chegue a um acordo de paz no Oriente Médio. Individual e institucionalmente. Em Israel, além das formas tradicionais de participação política (partidos, sindicatos), há muitos grupos que se organizam para viabilizar a solução de dois Estados, dois povos (cada vez mais difícil com o crescimento de correntes fundamentalistas).

Não raro, enfrentam, ao lado de palestinos, o exército de ocupação israelense. Um caso exemplar foi a aldeia de Budrus, documentado pela brasileira Julia Bacha em filme premiado em vários festivais. Em várias partes do mundo, setores das comunidades judaicas mandam sinais de crítica à brutalidade da ocupação israelense, de repúdio ao uso da violência (de ambos os lados) para resolver as disputas territoriais.

Citações a textos abjetos, como os Protocolos dos Sábios de Sião, aparecem em sites esquerdistas, o que é, no mínimo, escandaloso. Falar-se em “conspiração judaica mundial”, “judeus financistas que dominam o planeta”, é uma homenagem suja ao ditador nazista que levou à Segunda Guerra Mundial.

Termino com uma piada. Velhíssima. Autorizo meus leitores judeus a lançarem um herem por esse repeteco. Um náufrago judeu chega a uma ilha. Anos depois, é resgatado. O capitão do navio que o recolheu ficou intrigado. “Não consigo entender. Na ilha, você construiu duas sinagogas. Para quê? Você é um só!”. O judeu deu um sorriso irônico e respondeu: “É que eu só freqüento uma delas. Na outra, oy vey, não entro nem amarrado!”. Assim somos. Múltiplos, de direita e de esquerda, religiosos e ateus, interessantes e chatos, rígidos e flexíveis, nacionalistas e internacionalistas, do bem e do mal. Quem nos aponta o dedo e exige ordem unida, bem, esses convido a pegar um barco e dar um pulo na ilha do náufrago. A segunda sinagoga os espera.

Jacques Gruman
Engenheiro químico é militante internacionalista da esquerda judaica no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MUITO QUENTE, MUITO QUENTE


Tudo bem, já que o assunto são as armas químicas vamos falar de Kim Phuc.

Kim Phuc, você sabe quem é? É aquela menina que aparece correndo nua, aos prantos por uma estrada, em foto tirada em 8 de junho de 1972, durante a Guerra do Vietnã. Ao seu lado, à esquerda está Phan Thanh Phouc, seu irmão e à direita, de mãos dadas, dois primos, Ho Van Bon e Ho Thi Ting.

Além de Kim todas as crianças da foto estão chorando desesperadamente. Segundo testemunhas Kim gritava “muito quente, muito quente”. Atrás deles, aparece na foto, um pequeno grupo de soldados norte-americanos que parecem marchar tranquilamente com certo ar de comicidade.

Nós não podemos ver, mas, Kim está em chamas, sofrendo os efeitos do chamado “agente laranja” uma impiedosa arma química despejada por bombardeios norte-americanos cujo fogo é invisível aos olhos. É por isso que Kim está nua. Toda sua roupa já havia sido consumida pelas chamas.

Segundo estimativas, o glorioso exército defensor dos direitos humanos e da liberdade despejou 88,1 milhões de litros desse armamento químico durante a Guerra, entre 1962 e 1975.

Se o assunto é armas químicas vamos lembrar que Kim sofreu queimaduras de terceiro grau em 30% de seu corpo, passou 13 meses no hospital sofrendo dores atrozes e enxertos de pele, e que seu irmão Phan perdeu um olho e a sanidade.

Vamos falar sim. Vamos falar que mais de 400 mil pessoas morreram vítimas dos ataques químicos patrocinados pelos Estados Unidos e que cerca de 500 mil crianças nasceram com alguma deficiência física em função de complicações provocadas pelos seus gases tóxicos.

E por falar nisso, lembrando governos que massacram seus povos, como se diz que AL-Assad faz na Síria com seu povo, lembremos da década de 50, dos negros pobres que habitavam St. Louis sendo informados que haveria testes militares envolvendo fumaças de iluminação, fumaças que seriam inofensivas, mas que, na verdade, um número sem precedentes de mortes por câncer numa mesma região. Mas eram negros e pobres...

Estava “Muito quente, muito quente” antes de morrer, em Hiroshima, Nagasaki, Vietnã, Iraque, Palestina, St Louis, onde milhões de pessoas pereceram vítimas de armas químicas e nucleares promovidas pelo “guardiães do bem” – as forças armadas dos Estados Unidos.

E, diante de tudo isso é de se perguntar: Que moral tem o governo da nação americana para se tornar juiz de outras nações?

Então, tudo bem, vamos falar de hipocrisia.


Prof. Péricles

terça-feira, 17 de setembro de 2013

UM HOMEM E A CRUZ DE TODOS


Com certeza o pai de Jean, foi seu primeiro modelo. Sr. Jean Jacques Dunant, comerciante, era membro do Conseil Représentatif, organismo da cidade de Genebra que cuidava de órfãos e ex-reclusos, mas, sua mãe Antoinette Dunant-Colladon, filha do Chefe do Hospital de Genebra e que trabalhava no setor de caridade, especialmente com pobres e doentes, também teve sua colaboração na formação da personalidade do jovem.

Uma das experiências que marcaram Jean ocorreu numa viagem que fez com seu pai para a França, quando foi testemunha involuntária de tortura de prisioneiros de guerra.

Essas imagens violentas e covardes jamais sairiam de sua mente.

Jean começou a vida adulta sendo um homem de negócios como seu pai, embora não tivesse talento nenhum para isso.

Corajoso como ninguém em sua cidade, e inconformado com as dificuldades nos negócios devido às guerras intermináveis, viajou para a Itália em junho de 1859, aos 31 anos, para falar pessoalmente com o Imperador francês Napoleão III, que comandava em pessoa suas tropas, aliadas da Itália, no esforço para expulsar os austríacos do solo italiano. Jean queria um encontro nem que fosse numa barraca de campanha para pedir ao imperador que amenizasse as medidas de guerra impostas à região. Essa loucura, facilmente poderia lhe custar a vida.

Desembarcou à tardinha na estação de Solferino e de carro alugado (já que ninguém seria louco suficiente para levá-lo), rumou para o campo de batalha, ante a estupefação das pessoas que viam naquilo um ato suicida.

Pior que isso aguardava Jean que, na noite daquele dia foi testemunha da terrível batalha de Solferino. Naquela única noite de 24 de junho de 1859, 40 mil soldados morreram ou ficaram gravemente feridos.

Ficou chocado com a dor, o silêncio dos mortos e os gritos alucinantes dos feridos. Percorreu a pé todo o campo de batalha e chorou compulsivamente vendo um jovem soldado morrer em seus braços.

Esqueceu completamente os objetivos comerciais de sua viagem e por vários dias peregrinou entre os acampamentos de feridos ajudando em tudo que pudesse. Presenciou amputações e cirurgias feitas sem qualquer anestesia num ciclo de dor interminável.

Desistiu do Imperador e voltou pra casa, em Genebra, e nunca mais seria o mesmo.

Passaria o resto da vida a se dedicar pelos fragilizados e feridos.

Em 1862 escreveu com recursos próprios “A Memory of Solferino” uma leitura candente das tristezas que assistiu.

Enviou cópias do livro para políticos e militares importantes em toda a Europa. Além das dores da guerra o livro também abordou vivamente, a necessidade de se criar uma entidade internacional, composta por voluntários, para colaborar na assistência médica dos feridos de guerra e de outras tragédias.

No terreno comercial, sua dedicação à causa dos desvalidos lhe tomou tanta atenção que acabou falindo. Na área das idéias, no entanto, foi um vencedor.

Ele e seu livro são considerados o marco da fundação da Cruz Vermelha Internacional, em 1863, organismo não governamental, internacional e composto por voluntários, de atuação destacada em todo o mundo.

O comitê que presidiu durante 46 anos, foi o responsável, ainda, pela criação da Convenção de Genebra que prevê a neutralidade do corpo médico durante as guerras e o cuidado e respeito aos feridos e prisioneiros de guerra.

Jean-Henri Dunant recebeu o primeiro prêmio Nobel da Paz em 1901. Quando seu nome foi anunciado, a platéia de pé, aplaudiu a ele e a Cruz Vermelha por muitos minutos, em momento de grande emoção.

Nove anos depois, envelhecido, pobre e sozinho, de forma silenciosa se isolou na cidade de Heiden, na Suíça, vindo a falecer, no hospital dessa vila em 1910, aos 82 anos.

Definitivamente, um péssimo homem de negócios, capaz de gastar todo o recurso financeiro de estadias e viagens no tratamento de doentes que não poderiam lhe restituir o dinheiro. Mas, com certeza, um espírito iluminado que nos deixou como herança uma Instituição reconhecida e respeitada internacionalmente por seus trabalhos humanitários.

Hoje, até mesmo no Oriente não cristão, temos filias da Cruz Vermelha, na versão “Crescente Vermelha”.

E tudo isso começou, numa viagem de um jovem cabeça dura, interrompida pela crueza da guerra.

Prof. Péricles






sábado, 14 de setembro de 2013

FESTA NO OLIMPO


Numa dessas noites em que fantasias e realidades fazem folias no coração, um sonho mítico se apossou da alma.

Subia um monte, de pedras irregulares e de cores variadas, quando fui atraído pela mais bela voz já ouvida por qualquer mortal. Seguindo aquela voz maviosa cheguei até uma moça lindíssima, sentada a uma pedra e de posse do sorriso mais puro.

Ela me disse se chamar Calíope, uma das nove filhas de Zeus denominadas de Musas.

As musas (de onde deriva a palavra Museu) eram entidades invisíveis aos olhos dos mortais que inspiravam os homens ao gosto e prática das artes e do conhecimento. Calíope, a musa da Bela voz, inspirava a prática da eloqüência.

Ela me indicou uma estrada e sua firmeza foi tão eloqüente, que só se poderia obedecer e prosseguir.

Próximo ao pico do monte, havia um castelo. Em sua soleira duas irmãs de Calíope, Euterpe inspiradora da música e Clio, a senhora dos historiadores. Ambas se afastaram para que eu pudesse entrar.

Dentro do Castelo, um verdadeiro seminário de seres celestiais: vi uma ninfa, jovem que espalhava a alegria e a felicidade conversando com Hércules, herói eterno e descrente; vi sereias e centauros além da Medusa, nervosa, escovando seus cabelos de serpentes.

Num canto, Atena, a Deusa da Sabedoria, acalmava uma discussão entre Ares, deus da guerra irrequieto e Hefesto, divindade do fogo.

Ouvi Cronos, que nunca gostou de perder tempo, chamando a atenção de Hermes, o mais rápido dos mensageiros que, segundo Cronos, havia se atrasado para a festa.

Maravilhado com toda aquela visão extraordinária, nem percebi a chegada de um senhor barbudo e de olhos grandes que se aproximou de mim com uma taça na mão.

- Linda essa decoração, não acha? Foi feita pelo próprio Apolo, deus das artes, disse apontando para a abóbada mais formosa, amparada por pilares de cores múltiplas e tranqüilas. Linda sim, pensei, mas ainda em construção...

Lendo meus pensamentos ele continuou:

- Aqui no Olimpo não temos pressa de acabar qualquer coisa porque somos eternos, como você bem sabe, e estamos sempre em construção, como todos os homens, disse, enquanto levava a taça à boca.

Mas, isso é uma loucura falei... o Olimpo não existe... vocês não existem.

O barbudo deu uma risada tão saborosa quanto seu vinho.

- Não existimos? Tem certeza?

Claro, vocês são apenas mitos e...

- E o que são mitos? São mentiras?

Não, não são mentiras, mas...

- Mitos não existem?

Sim, existem, mas...

- Mitos, meu pobre rapaz, são as únicas verdades do infinito. São o que de você sobrevive ao tempo e à sua morte.

Abri a boca, mas achei que qualquer coisa que eu dissesse seria ridícula.

O senhor barbudo percebendo minha hesitação bateu gentilmente em meus ombros, sorveu mais um gole da taça que jamais seca, e concluiu...

- Mito é tudo que você cria para suportar a vida e para se convencer que realmente é diferente de todos os outros, é único e melhor.

- Mortais criam mitos todos os dias para se justificarem em suas pequenezas, em suas insanidades e fraquezas. Criam mitos para preencher os vazios de tudo aquilo que não faz sentido e explicar porque seu amor é tão frágil, sua paixão tão curta e sua juventude tão velha...

Enquanto Helena, a mais bela, trazia num pote o néctar dos deuses, a ambrosia, e a oferecia as divindades, Zeus foi se afastando de mim com um sorriso cansado, porém eterno dizendo: E você diz que nós não existimos? Ou será que quem não existe é você? O que seria você sem seus mitos de infância, de adolescência, de crença e de preconceitos? Seria, talvez, muito menos real do que nós, os deuses do Olimpo.

E enquanto despertava amparado por Morfeu, o deus dos sonhos, navegando em águas revoltas do universo de Posseidon, trazia na mente a pergunta que agora me inquieta: afinal, temos uma história real, ou nossa realidade são apenas mitos que criamos?

Despertei ainda ouvindo distante a voz do deus dos deuses: “Nós somos aquilo que acreditamos ser. Somos o mito que escolhemos”.



Prof. Péricles


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

ESTADOS UNIDOS INIMIGOS DA HUMANIDADE


Por Messias Pontes


Ontem completou 24 anos que os marines dos Estados Unidos invadiram a pequenina Honduras; hoje (11/setembro) completa exatamente 40 anos que o governo democrático e popular do Chile foi deposto e seu presidente Salvador Alende assassinado dentro do Palácio de la Moneda através de um golpe de Estado patrocinado pelo imperialismo ianque, em que dezenas de milhares de democratas foram presos ilegalmente, torturados e mortos. Tudo em nome da democracia.

As violações do imperio do Norte aos direitos humanos e à soberania das nações acontecem diariamente até mesmo contra países amigos, como é o caso do Brasil, da Alemanha, da França e até mesmo do Reino Unido. E a arapongagem não é só contra presidentes, ministros e seus auxiliares como aconteceu com a presidente Dilma Rousseff e seus assessores. É também contra empresas concorrentes como a Petrobras, fato agora revelado mas que desde o governo Getúlio Vagas, na década de 1950, já se suspeitava.

Cai por terra, definitivamente, a deslavada mentira do presidente Obama de que a espionaram da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) era para proteger os norte-americanos e demais povos contra o terrorismo. Por acaso a Petrobras é uma organização terrorista? O fato mereceu mais uma vez o repúdio da presidente Dilma – que teve violado os seus e-mails e suas conversas telefônicas com seus ministros e auxiliares, que denunciou que na realidade os Estados Unidos estão de olho no nosso pré-sal.

Em nota da Presidência, Dilma Rousseff afirmou que, “se confirmado os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos”. Já foi dito por ex-presidente e ministros norte-americanos, mais de uma vez, que os Estados Unidos não têm amigos, mas sim interesses.

Tão logo o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou em 2007 a descoberta de petróleo e gás na camada pré-sal entre Santa Catarina e o Espírito Santo, uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, o governo norte-americano reativou a sua IV Frota naval e passou a navegar em toda a América do Sul, numa ameaça velada de que poderia usá-la quando lhe aprouvesse. A espionagem à Petrobras objetiva obter informações sigilosas da nossa maior empresa, desrespeitando agressivamente a nossa soberania.

Lamentável é que diante de fatos tão graves, como a violação aos direitos humanos e à soberania nacional, ainda tem jornalista amestrado, o que existe de pior na categoria, como o sabujo Adriano Pires, da Globonews, para defender e justificar a espionagem ianque. Pior ainda é tachar de xenófobo os que condenam o “erro” do governo americano. Por acaso espionagem é erro ou crime?

Colonistas e amestrados como Merval Pereira, Arnaldo Jabor, William Waac, todos da Globo, e mais o racista Bóris Casoy, José Nêumanne Pinto e muitos outros perderam completamente o pouco de credibilidade que tinham, pois está claro como a lux do dia que os Estados Unidos são inimigos jurados da humanidade.



Messias Pontes é membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB.

domingo, 8 de setembro de 2013

SOMOS PARAFUSOS


Dizem que “o trabalho dignifica o homem”. Partindo dessa premissa o homem só é digno quando trabalha, ou mesmo quem trabalha, depende do tipo de trabalho para ser digno?

A idéia do trabalho como identidade do homem surgiu na Idade Moderna, especialmente após a Revolução Industrial no século XVIII.

Com máquinas cada vez melhores e mais rápidas, a produção não parava de crescer e, ao ser vendida, enriquecer os donos das máquinas. Quanto mais e melhor o homem trabalhasse a máquina, maior a produção e maior o lucro. Simples assim surgiu a necessidade do trabalho cada vez mais rápido, adaptado e eficiente.

Enquanto à máquina se conserta, se melhora e se supera, o homem que move a máquina precisa de conceitos e de valores que lhe movam os braços e o destino. A fábrica passou a ser o destino do homem de bem.

Da mesma forma se organizava a sociedade. A cidade deve repetir a eficiência e a praticidade de uma fábrica. Na verdade, as cidades cresceram em torno das fábricas e por elas são determinadas.

As velhas cidades feudais, muito mais pouso de ventura dos homens que trabalhavam no campo, deram lugar às cidades industriais, onde cada um deveria funcionar como um parafuso, necessário, mas, anônimo que teoricamente tem como recompensa uma cidade perfeita de moradia, onde polícia, bombeiro, governo, transeunte, estudante, ambulância, e motorista, tudo e todos ocupam lugares específicos e pré-determinados.

Como uma fábrica.

O bom funcionamento dos serviços tornam-se fundamental para o consumo do que foi produzido e dessa forma a eficiência do comércio, transporte, etc, se valorizam como parte da própria produção.

Hoje, no mundo, a maioria da população vive em cidade e trabalha nos serviços.

Assim nasce a idéia de que o trabalho dignifica o homem assim como o bom comportamento social, carteira assinada e ficha limpa na polícia dignificam o indivíduo.

O trabalho que na verdade serve para o enriquecimento dos donos das máquinas, dos impressos, das finanças, torna-se um elemento essencial para que o cidadão se sinta parte da máquina. Parte de algo, que na verdade, não lhe pertence, pois a fábrica não é sua assim como nenhuma empresa, da mesma forma que a cidade não é sua, mas do “Estado”, um senhor invisível, patrão de todos.

O ócio é defino como algo “perdido” porque, em teoria inútil, e inútil por não produzir nada. Com o poderoso auxílio da Igreja, tornou-se sinônimo de pecado, vagabundagem pelo seu descompromisso social.

No início do século XX o fordismo deu ares de série ao ser humano, que mais que um nome passa a ser um número. Mecânico, condicionado, hipnótico, reproduz gestos e funções se fundindo com a própria máquina. Charles Chaplin em seu “Tempos Modernos” imortalizou com maestria essas mudanças.

Após a Segunda Guerra Mundial e o medo dos capitalistas diante da sociedade socialista soviética (vai que dá certo?) criaram leis para tornar o capitalismo “mais bonzinho”. Foram então criadas e fortalecidas as pensões e as aposentadorias. Fortaleceu-se dentro de certos limites o poder sindical e até caixinhas de som foram instaladas nas repartições para “humanizar” o trabalho.

Então combinamos assim: num dia útil ao lucro, de 24 horas, trabalhamos 9. Outras 8 horas a gente dorme, restando 7 horas para a vida, mas que na verdade funcionam como horas de manutenção para manter o trabalhador apto ao trabalho do dia seguinte.

Ah sim, existe o domingo, tempo em que exercemos o nosso lado ocioso e ao qual se denomina de “repouso remunerado”, ou seja, você deveria estar trabalhando, mas está repousando e o patrão bonzinho não te desconta. E você ainda reclama?

Trabalha-se muito para o sistema, para o capital, para os outros.

Para o sistema somos parafusos, anônimos, nunca lembrados pela individualidade, mas pela praticidade.

E quando tudo isso acabar e o corpo ressecar quando cada nome sair da lista dos produtivos e entrar na lista dos “improdutivos” aposentados e o pagamento de sua desvalia estiver sendo questionada como “dívida pública”, talvez, então se entenda que o trabalho de toda uma vida não dignificou o homem mas o matou com falsa dignidade.

Não é o trabalho aos outros que dignifica o homem, mas a qualidade de sua vida.

O homem que com suas próprias mãos plantou um só pé de alface para o consumo de seus filhos foi mais produtivo do que aquele que passou a vida fazendo partes de um todo que jamais foi seu.

Estamos muito mais perto da vida no ócio do que no trabalho capitalista.

E vivemos pouco, muito pouco e bem menos do que deveríamos viver.

Prof. Péricles