sábado, 4 de novembro de 2017

A ESPERANÇA QUE MORRE

Por Maria Fernanda Arruda

Diz a voz popular que ‘de médico e louco cada uma tem um pouco’… E não posso deixar de dar minha opinião sobre a patologia que atingiu nosso país. Infelizmente estou tentando achar outros informes para amenizar os sintomas e pensar que pode haver salvação. Mas não consigo ver essa esperança.


Como esperar recuperação de um organismo atingido por falência múltipla de funções? A verminose é uma perigosa moléstia que por sua solércia faz pensar que tem cura fácil, mas não. Age pela via mais subreptícia, que é por meio dos intestinos e sabota organismos aparentemente fortes.


Como se fosse uma teníase que ganha dimensão dentro do campo intestinal e mesmo eliminada aparentemente volta a ressurgir e prejudicar o portador. Não há como ver nosso Brasil brasileiro senão com os efeitos dessa verminose perigosa que se mostra até letal! Em nossa sociedade os vermes estão tão numerosos que nem se podem disfarçar.


Há togados de diversos tamanhos (gordos, muito gordos, cabeludos e velhos), mas todos contribuindo dentro de sua natureza nefasta para deprimir, violentar e fustigar a saúde social. O que não fazem por si, fazem por seus criminosos protegidos, endinheirados como lhes convém, ainda que estupradores e exploradores sociopatas.


Como vermes que são, deram o golpe covarde valendo-se de ter abrigo intestino nas esferas governamentais. Valeram-se covardemente de suas funções para se vender a um país cúpido que nos quer como sempre quis, nos dominar.


Se a esfera judicial está podre e já deveria ser extirpada como um apêndice que de nada serve e ainda contamina com sua corrupção, as outras reservas vitais apresentam iguais sinais da patologia que atinge o todo. As fardas que se mostraram ineptas para ser vistas como defesa ou anticorpos úteis, continuam em sua inércia doentia.


Com essa situação somática, como esperar reação do todo social? Se não há força confiável, como se erguer um braço ou dar um passo? Estamos como confinados em uma UTI como enfermo que não mostra sinais vitais e fica aguardando óbito! Aproveitando-se da já fragilidade do organismo, mais males vem como sangue sugas a ganharem seus dividendos. E vemos empoleirados nos ministérios as figuras mais sórdidas da política de todos os tempos…


A impressão é de que nem um enfermeiro/a se abala em dar um banho que ao menos alivie o odor nauseabundo de tantos vermes. A situação da moléstia -tudo indica – se deu por indução criminosa de arma química ($$$) produzida nos EUA com o exato propósito de minar corpos que não tivessem defesa orgânica.


Viram que era bem esse caso quando experimentaram essa eventual resistência em 1964. Depois disso, com a tranquilidade de quem triunfou em suas experimentações foi fácil, muito fácil, tomar conta do bem desejado. Temos um Brasil já devorado pelos vermes antes de ser sepultado…


Que pena! Que angústia!



Maria Fernanda Arruda é escritora

terça-feira, 31 de outubro de 2017

OS MENINOS DA LAGOA


Então, o menino voltou-se para o velho médico que a vida inteira estudara as doenças e perguntou “tio, o que o senhor tem contra o câncer?”. O velho médico, suspirou e com toda a paciência explicou o quanto o câncer limitava a qualidade e o tempo de vida das pessoas.



Mas, o menino que tudo ouvia com olhar de esperto, não acreditava no que estudara o velho homem (pois a televisão dizia que câncer era bom) tornou a falar “Mas, tio, eu sou a favor do câncer”.



Diante da insistência burra e inocente, o médico suspirou e deu de ombros.



E o câncer tomou conta da pequena aldeia, que se chamava Hipocrisia, e só então o menino entendeu o quanto fora tolo, mas já era tarde. Mas não culpou a televisão, afinal, ele era esperto.



Resolveu então seguir a vida, sem pensar muito, afinal, havia outros meninos, os que moravam na beira da lagoa que viviam situações piores e com mais doenças para lhe servir de consolo.



O importante não era ter saúde, era ter menos chagas que seus vizinhos.



Um dos seus vizinhos, que habitava a Lagoa havia chegado ao poder e isso sim, era intolerável.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam se alimentar bem, mas como até os meninos da lagoa comeriam bem, muitos preferiam comer capim, e diziam ser gostoso comer capim, pois ao menos haviam tirado um menino da lagoa do poder.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam ter orgulho de sua aldeia e de seu destino, mas, como isso poderia parecer obra de um menino da lagoa, preferiam viver como servos e vender suas riquezas aos esquisitos do norte, mais ricos, a quem invejavam e tentavam agradar.



Enquanto isso, o velho médico continuava lutando para acreditar nas velhas terapias.



O pior de tudo para ele e os outros que a tudo viam com o coração apertado, não era perder a esperança em hipocrisia.



Era perder a fé em seus meninos.




Prof. Péricles





sábado, 28 de outubro de 2017

O BRASIL DOS NAZISTAS

Por Kiko Nogueira



O jornal "O Tempo", de Minas Gerais, achou por bem dar espaço a um nazista defender suas “teorias”. Um bom espaço.


Faz sentido?


Faz, no novo normal brasileiro. Do repórter ao editor, passando pelos donos, ninguém questionou e a coisa simplesmente foi publicada.


Afinal, estamos em tempos de MBLs, Frotas, Bolsonaros e Felicianos evacuando um discurso fascista numa boa diariamente. Kataguiri, até ontem, era colunista da Folha de S.Paulo.


Hoje sua milícia ataca a “mídia de extrema esquerda”, que inclui a publicação dos Frias. Assim se legitimam as barbaridades.


A Lei 7.716/89 prevê no seu artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.


O parágrafo 1º prevê o crime de divulgação do nazismo, com 2 a 5 anos e multa. O Tempo deveria ser acionado e responder por isso.


Na matéria, ficamos conhecendo um tal Harryson Almeida Marson, de 29 anos. Ele participou de manifestações em favor do impeachment de Dilma e “é bastante ativo” nas redes sociais.


O Facebook censura fotos de mães amamentando e de quadros com nu, mas Marson pode postar suásticas à vontade.


Provavelmente assessorado por um advogado, a conversa dele é articulada. O que não significa nada - Goebbels também falava de maneira clara e calma quando queria.


Marson jamais vai admitir, por exemplo, que quer se livrar de gays, judeus, negros e quem não for ariano.


Prefere a distinção entre “um homossexual que faz influência nas pessoas com sua arte que jamais será esquecida e um homossexual que ilude a população com vitimismos utópicos e tenta influenciar o jovem a ser como ele”.


O Holocausto é um “holoconto” (“Não houve informação sobre extermínios maciços em Auschwitz”) e Hitler foi “um homem que trouxe prosperidade a um Estado amante de seu povo”. Ah, bom!


Em julho, ele já havia brilhado na Folha com uma camiseta do Pink Floyd, gente fina, revelando que é religioso, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.


Embora disfarçado, é ódio em estado puro, do tipo que nos transformou nessa cloaca. Os idiotas saíram do sofá, encontraram outros iguais a eles e estão nas ruas, nas escolas e nas portas dos museus.


O filósofo Karl Popper é autor da famoso paradoxo: a “tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”. Na Alemanha, por razões óbvias, esses monstros não têm vez.


Em agosto, dois turistas chineses foram presos quando faziam a saudação nazi em frente ao Reichstag, em Berlim.


Semanas mais tarde, um americano de 41 anos fez a mesma coisa em Dresden. Tomou um soco na cara de um pedestre e acabou respondendo a um processo por violar as leis locais.


No Brasil, eles ganham as páginas da imprensa.





sexta-feira, 27 de outubro de 2017

VITÓRIA DAS MULHERES


Por Railídia Carvalho


A ex-ministra da secretaria de políticas para mulheres no governo da presidenta Dilma Rousseff, Eleonora Menicucci não terá mais que pagar indenização de 10 mil reais ao ator Alexandre Frota. A decisão favorável à Eleonora foi divulgada nesta terça-feira (24) em São Paulo. “Essa vitória é das mulheres brasileiras porque foi com elas que eu aprendi a lutar”, declarou emocionada na saída do Fórum.


Durante a audiência, ocorreu ato na praça João Mendes em solidariedade à ex-ministra. Ao chegar ao Fórum, Frota se envolveu em discussão com as manifestantes e tentou agredi-las fisicamente, segundo relatos nas redes sociais.


A condenação em primeira instância de Eleonora se baseou em crítica feita pela ex-ministra que condenou relato de Frota em programa de televisão em que o ator narra ter estuprado uma mãe de santo desmaiada.


Na ocasião, a ex-ministra criticou o conteúdo do relato e também o encontro entre Frota e o ministro da Educação, Mendonça Filho. "É um absurdo que uma pessoa que fez apologia ao estupro fosse ao ministro da Educação sugerir políticas para a nossa juventude", reiterou seu ponto de vista à TVT após saber da decisão da juíza que a condenava por danos morais.


De acordo com Eleonora, a decisão desta terça-feira condenou o estupro e absolveu as mulheres brasileiras. "Essa luta saiu de mim. É da sociedade brasileira, das mulheres brasileiras. É uma luta pela democracia, em favor da justiça social, dos direitos humanos das mulheres”, enfatizou em vídeo nas redes sociais.


Ela se declarou honrada de aos 73 anos ter enfrentado dois golpes em nome do compromisso com a luta das mulheres brasileiras.


“Aqui vai o meu mais profundo agradecimento a todas as mulheres, de todas as raças, de todas as matrizes religiosas, de todas as idades. Essa vitória é das mulheres brasileiras porque foi com elas que eu aprendi a lutar”, completou Eleonora.


A ex-ministra afirmou que se sentiu gratificada pelo ato de apoio que recebeu das mulheres durante a audiência. “Me senti reconhecida e mais comprometida ainda com a luta pela democracia, pelo retorno do estado de direito no nosso país”.


Segundo ela, a decisão impulsiona a luta contra o golpe que “tirou a primeira mulher presidenta eleita e reeleita do nosso pais e contra o crime de ódio que os golpistas instalaram no nosso pais”.


Na opinião da presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Santos, a decisão é a vitória da esperança considerando a postura do judiciário, que tem sido negativa em relação aos direitos das mulheres.


“O retrocesso não está só no quadro político nacional mas o retrocesso também está presente nas casas legislativas e, sobretudo, no judiciário”, argumentou Vanja.


Segundo a dirigente, a decisão que favoreceu a ex-ministra deixa uma esperança. “Quando vê uma vitória como essa da Eleonora a gente passa a acreditar que pode mudar, que tem jeito e que se esforçando cada vez mais e colocando as bandeiras na rua é possível combater esse quadro que está posto de retrocesso”.


Ela lembrou que o movimento não pode parar porque existem outros casos de misoginia ignorados pelo judiciário. Vanja citou o caso do ajudante de serviços gerais Diego Ferreira de Novais que após ejacular em uma mulher dentro de um ônibus em São Paulo foi solto pela justiça. Dias depois foi preso novamente por atacar outra passageira.


“Precisamos indicar a esses juízes que eles não podem legislar nas letras mortas. Existem convenções, tratados que não só a sociedade precisa estar inteirada mas também os juízes para julgar casos como esses”, cobrou Vanja.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

TUDO SOBRE CESARE BATTISTI - 2ª PARTE

Já no final de seu mandato (31/12/2010), o presidente Lula assinou um decreto recusando a extradição exigida pela Itália. Esse decreto foi aprovado pelo STF, por 6 votos a favor e apenas 3 contrários.



Solto em 2011, Cesare adquiriu o direito de ser residente permanente no Brasil, recebendo documentos normais de validade ilimitada. Até o dia de hoje, Cesare tem vivido dos direitos autorais de seus livros, especialmente dos que provém da França, eleva uma vida totalmente normal. Ele não registra qualquer irregularidade em território brasileiro, salvo uma multa por estacionamento incorreto (mas não por excesso de velocidade).



Tem um filho, Raul Battisti, com quatro anos de idade. Ele nem sempre pode vê-lo, pois no interior da São Paulo, onde a criança vive com sua mãe, Cesare sempre é provocado pela mídia local, por elementos da classe alta, por militantes de partidos de direita (como os tucanos) e, em alguns casos, pela polícia daquele município.



Cesare precisa tratamento médico regular por causa de sua hepatite, mas tem sofrido discriminação no hospital público de São José do Rio Preto.



A perseguição a Battisti é o que se chama uma vendeta. E ninguém deve ser preso, perseguido nem morto por causa de uma vingança. Isso é uma forma primitiva e bárbara de lidar com os problemas.



Cesare tem um filho brasileiro, menor de idade, de mãe brasileira. De acordo com o Estatuto do Estrangeiro, nenhuma pessoa que tenha um filho no Brasil pode ser expulsa, deportada ou extraditada. Nem mesmo a ditadura militar violou este princípio. Lembremos o caso de assaltante do trem-correio de Londres, Ronald Biggs, que aqui permaneceu a salvo quanto tempo quis e só saiu quando quis.



O decreto assinado por Lula no último dia do seu mandato está em plena vigência. Alguns decretos podem ser modificados, mas só durante os cinco anos seguintes; o decreto do Lula, contudo, está prestes a completar sete anos.



Além disto, de tal decreto decorreram direitos adquiridos. Portanto, ele não pode ser revogado, anulado nem modificado. Não poderia ser anulado nem mesmo pelo próprio Lula!



O que o governo brasileiro pretende fazer, de forma tortuosa e recorrendo a tratativas sigilosas, é ilegal: Cesare não é refugiado. Esta é uma mentira usada pela mídia, pelo governo e por alguns juízes. O refúgio de Cesare foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal. Desde junho de 2011, Cesare é um residente permanente, ou seja, imigrante. Ele é um estrangeiro com os mesmos direitos que tiveram os pais de Temer, de Dilma e de vários milhões de pais e avós de brasileiros.



A viagem a Bolívia não quebrou nenhuma relação de confiança, pois o Cesare tinha total direito de sair e entrar do país quantas vezes quisesse. É algo que todos nós, estrangeiros de nascença, sempre fizemos e fazemos. Aliás, os valores em dinheiro que os três amigos portavam, na casa de R$ 25 mil, eram inferiores ao teto permitido (R$ 10 mil cada).



Caso fosse aprovada, a extradição de Battisti arranharia profundamente nossa soberania. Pensem nisto: seria violar a vontade do ex-presidente e do plenário do STF, que referendou o decreto de Lula. E para quê? Apenas para obedecer ao embaixador italiano e às forças políticas que ele representa.



Devemos difundir estes pontos entre todas as pessoas conhecidas, grupos políticos, comunicadores, representantes populares, movimentos sociais, etc., tornando-os o mais conhecidos possível nas redes sociais e outros meios ao nosso alcance.





Carlos Lungarzo, professor, jurista, escritor, autor do livro Os Cenários Ocultos do Caso Battisti



domingo, 22 de outubro de 2017

TUDO SOBRE CESARE BATTISTI - 1ª PARTE

Durante a década de 1970, com cerca de 20 anos de idade, Cesare Battisti entrou nos grupos de esquerda que lutavam contra o fascismo em toda a Itália.



Depois do final da 2ª Guerra Mundial, os fascistas perderam o direito de usar seus símbolos, bandeira, escudos e a denominação Partido Fascista, mas eles continuaram tendo poder e fundaram novos partidos políticos nos quais não aparecia o nome fascista.



Seu escudo e outros símbolos foram levemente alterados, para evitar críticas. Porém, sua ideologia e suas tradições continuavam sendo tão fascistas como antes. Aliás, sua ação foi igual ou pior que a de antes da guerra.



Os novos fascistas (chamados neofascistas) queriam evitar o avanço da esquerda, que se tornou muito forte depois da guerra. Tinham o apoio dos grandes magnatas, dos altos escalões da polícia, dos chefes militares e da Igreja. Dispondo, ademais, de muito dinheiro, foram os que produziram os atuais partidos da direita italiana.



Durante algum tempo, os fascistas tiveram poucos representantes entre os juízes, mas, a partir de 1974, os velhos juízes conservadores e fascistas ficaram donos do espaço jurídico.



A política fascista consistia em atacar grupos de esquerda, trabalhadores, intelectuais, estudantes, favelados, etc., mas também realizaram numerosos atos terroristas. Esses atos foram chamados de estragos. Num prazo de 12 anos, os estragos fascistas deixaram centenas de mortos e milhares de feridos.



Os grupos de jovens que lutavam contra o fascismo eram muitos. Houve na Itália dos anos 70 mais de 100 grupos de esquerda (refiro-me aos grupos que lutavam pelos direitos dos trabalhadores, não àqueles que queriam tomar o poder político, como as Brigadas Vermelhas).



Battisti entrou num grupo chamado Proletários Armados para o Comunismo, que atuava na região norte da Itália. Apesar de estarem armados, os PAC somente atuavam em defesa própria.



Os PAC pertenciam a uma tendência ampla, chamada Autonomia, que lutava contra a opressão do Estado. Tal tendência reuniu muitos jovens independentes, além de antigos militantes do Partido Comunista Italiano, que abandonam esta agremiação quando ela guinou à direita, após 1974, na esperança de compartilhar o poder com a Democracia Cristã.



Os PAC tinham um compromisso de não usar violência letal, mas apenas a necessária para neutralizar torturadores, terroristas de Estado e semelhantes. No entanto, em 1978, um grupo de cerca de 20 militantes dos PAC decidiu mudar de filosofia, executando um torturador da polícia (Santoro), e dois membros de grupos terroristas fascistas (Sabbadin e Torregiani). Também mataram um motorista da polícia, sobre cuja participação em tortura não havia nenhuma prova. Essas são as quatro vítimas das que falam os italianos. 



Battisti e vários outros membros do PAC se manifestaram contra esta política, e foram se afastando do grupo. No entanto, Cesare era muito conhecido pelos juízes, promotores e policiais, por tratar-se de um dos mais ativos na denúncia de torturas, do papel da máfia, e dos crimes cometidos pela polícia contra cidadãos pobres (pancadas, estupros, fuzilamentos sumáriso, etc.)



As quatro mortes atribuídas a Battisti tiveram como autores outros membros dos PAC, que foram condenados e cumpriram suas penas há alguns anos. Cesare foi alvo de delatores premiados, que o acusaram de participação e até de ter planejado os quatro crimes. O principal deles, Pietro Mutti (que os juízes chamavam carinhosamente de Pierino) parece ter tido toda sua pena perdoada.



Cesare foi condenado a duas penas de prisão perpétua em julgamentos marcados por todo tipo de ilegalidades:

1. Ele não estava presente no julgamento. Encontrava-se exilado, e havia casado com uma moça francesa, da qual tem hoje duas filhas adultas;

2. Ele não teve advogados verdadeiros. Os advogados foram impostos pelos juízes;

3. Não houve provas nem testemunhas reais que declarassem contra ele. Os autos mencionam depoentes quaisquer, apenas pelo sobrenome. É como se, no Brasil, falassem que elas são Silva, Barbosa, Almeida, etc.;

4. As únicas denúncias contra ele provieram de delatores premiados, que obtiveram grandes reduções de suas penas;5. Duas procurações usadas no julgamento como se fossem de Battisti não passavam de falsificações.


Durante seu exílio na França, Cesare trabalhou como zelador de prédios e restaurantes, bem como em diversos empregos, todos legais. No final dos anos 80 começou a ter sucesso como romancista, tendo hoje publicados cerca de 20 títulos, deles, três no Brasil, além de um novo em via de publicação, sobre a região de Cananeia, no litoral Sul paulista.



Cesare chegou ao Brasil em 2005, e foi capturado pela polícia em 2007, por ordem da Itália. Esteve quatro anos na prisão da Papuda, em Brasília, sendo alvo dos ataques da mídia, dos partidos de direita e de pessoas pagas pela Itália. Seu julgamento foi influenciado pela embaixada italiana e ao menos quatro dos juízes mantinham relações amistosas com os diplomatas.



A petição por sua liberdade em 2009 conseguiu milhares de assinaturas. Cesare teve muito apoio de sindicatos, partidos de esquerda e de centro-esquerda, ONGs de direitos humanos, de advogados e jornalistas, bem como de todos os movimentos sociais. O PT aprovou uma moção oficial apoiando sua libertação em 2009.



Já no final de seu mandato (31/12/2010), o presidente Lula assinou um decreto recusando a extradição exigida pela Itália. Esse decreto foi aprovado pelo STF, por 6 votos a favor e apenas 3 contrários.



Por Carlos Lungarzo, professor, jurista, escritor, autor do livro Os Cenários Ocultos do Caso Battisti