domingo, 9 de julho de 2017
O PAÍS DAS FARSAS
O descobrimento do Brasil foi uma farsa. Oficialmente foi um descobrimento casual, na prática foi um “achamento” proposital e organizado. Imagina Cabral com cara de tacho dizendo “Oh! Jesus! O que acabo de descobrir” e depois dando risada com os amigos dizendo “zoei de todo mundo o pá”!
A nossa “independência” também foi farsa. Vendida como um fato heroico que culminou com a romântica imagem de D. Pedro erguendo a espada contra todos e contra tudo, foi, na verdade, um grande acordo internacional, promovido pela Inglaterra e por nossas elites.
Só quem pagou mico, embora não fosse burro, foi D. João VI, que teve que deixar todo o conforto em Portugal para se mudar para o fim do mundo, que era aqui, abrir os portos rompendo o monopólio.
No Brasil Império as farsas foram abundantes.
A Guerra da Cisplatina que foi feita para ser perdida, a posse de um novo monarca de apenas cinco anos, assim como as leias abolicionistas que eram feitas para manter a escravidão, entre outras mentiras.
Já no nascimento da República tivemos um voto que se dizia universal, mas que excluía mulheres e pobres, ou seja, quase todo mundo e trinta anos de uma democracia mentirosa cujos votos eram tão direcionados que foram apelidados de voto de cabresto.
Já em 1930 a República Velha chega ao fim com uma revolução que não foi revolução e colocou no poder Getúlio Vargas que, por sua vez introduziu o Brasil no mundo industrial, porém, criando uma política sindical que castrava os próprios sindicatos.
O próprio Getúlio seria levado ao suicídio em agosto de 1954 vitimado por uma das maiores farsas de nossa história, o “Atentado da Rua Toneleros” onde se organizou um teatro que visava derrubar o presidente, mas que deu errado e acabou matando um aliado e deixando seu mentor, Carlos Lacerda, sem ter como explicar um tiro na perna com calibre diverso do agressor.
Mas, tudo bem, no país das farsas a verdade não vem ao caso.
No período militar enquanto o país mergulhava numa ditadura que rasgava a Constituição, governava por decreto, prendia, torturava e matava, os governantes e seus aliados divulgavam a ideia de que vivíamos em plena democracia. Brasil, Ame-o ou Deixe-o, como se as dificuldades fossem por culpa dos governados ou dos presos que, por sacanagem morriam durante as torturas só para deixar mal os governos dos generais.
O Brasil, portanto, tem largo know-how em criar mentiras. E viver farsas. Nosso povo já se acostumou.
Por isso, não deveria ser de surpreender ver um impeachment que teve êxito sem nenhum ilícito praticado pela autoridade. Ou um juiz que é visto aos abraços com políticos envolvidos e, mesmo assim, é levado à sério.
Deveria, mas felizmente ainda somos capazes de nos surpreender e indignar.
Esse país é o país das farsas.
Prof. Péricles
sábado, 8 de julho de 2017
O PAPELÃO DE AÉCIO
Nada do que aconteceu no Brasil, nos últimos dois anos e meio, estaria acontecendo se o candidato das elites e da militância cheirosa tivesse vencido as eleições.
Não haveria golpe, não haveria crise política, o Judiciário continuaria escondido sob o manto da falsa neutralidade, a imprensa noticiaria, dia após dia, incessantemente, o sucesso da grande virada ‘democrática’ que enterrava de vez a abominável era PT.
Não haveria sangria para estancar. As instituições estariam ‘funcionando’ a todo o vapor para restabelecer o engavetamento geral da república e, ao mesmo tempo, desencavar podres da administração petista, legitimando, por conseguinte, o mais completo desmonte do estado brasileiro.
Dilma não seria vítima de um golpe, mas apenas uma derrotada nas urnas. E é impossível imaginar a ‘ex-terrorista’ vindo a público para dizer que faria de tudo para que o Brasil fosse parado à força.
E, enquanto os direitos dos trabalhadores estivessem sendo surrupiados, enquanto o patrimônio nacional estivesse sendo entregue e, por fim, quando a redução do estado chegasse ao tamanho que só cabem banqueiros e rentistas, a mídia estamparia em suas capas de jornais e revistas: ‘Este É Um País Que Vai Pra Frente’
Que crise não há e que a ‘liberdade’, antes negada pela ditadura bolivariana-petista, estava de volta ao país.
Aécio seria reeleito, em 2018, no primeiro turno, assim como foi FHC. (a história se repetiria).
Mas Aécio não se elegeu. Faltou muito pouco: Dilma 51,64% – Aécio 48,36.
E a votação fantástica que a direita conquistou, depois de tudo que os governos do PT fizeram desde 2003 só foi possível pela idiotização da opinião pública e pelo apoio de famosos que ilustram as telas da TV, dia sim, dia não, em horários bem nobres nos mais longínquos e modestos lares da população brasileira.
Associar a imagem de um artista famoso a uma campanha sempre deu certo, não?
No caso do Aécio, mesmo com o governo desastroso que ele fez em Minas, mesmo sendo oposição a um dos projetos mais eficazes contra a fome, a miséria e a desigualdade, mesmo contra todas as possibilidades reais, ele quase venceu, e nas urnas.
Quase venceu com o apoio da elite, da mídia e de artistas – roqueiros universitários e sertanejos ensino médio – que testemunharam em seu favor: “Quem conhece Aécio, confia”. Como quem diz: se eu, um rico e famoso confio, por que tu, pobre trabalhador, não iria confiar?
Isso, sem falar, é claro, que teríamos evitado a invasão dos médicos cubanos, da marinha boliviana e das tropas bolivarianas de Maduro.
Os símbolos são capazes de alterar a realidade e criar, no senso comum, uma ilusão coletiva a ponto de esquecerem a realidade de sua própria vida, que mudou pra melhor, em troca de um mundo de fantasias com direito a trama e roteiro escritos por quem sequer mora no Brasil.
Desconsiderar que essa simbologia nos agride diretamente é desconsiderar a luta histórica de classes. Como foi escrito, nalgum tempo remoto, por algum alemão incomodado com a exploração do capital.
PS: Enquanto escrevia este texto, ainda não havia sido noticiada a decisão de Marco Aurélio Mello sobre a volta de Aécio Neves ao Senado.
Por Fernando Brito
quinta-feira, 6 de julho de 2017
O PIOR LUGAR DO MUNDO PARA SE VIVER
Por Flávio Gomes
Lasciate ogni speranza voi ch'entrate.
O Brasil acabou de vez com a decisão do STF de reconduzir o criminoso Aécio Neves ao Senado. Assim como a de soltar o criminoso Não Sei o Quê Loures. Assim como a de não abrir imediatamente um processo contra o criminoso Michel Temer no momento em que apareceram as gravações dele negociando crimes com o pilantra Joesley, outro criminoso vagabundo, milionário vagabundo, exemplo mais bem acabado da elite econômica e industrial brasileira, composta por vagabundos -- para encontrá-los, todos, é só ir à Fiesp e ficar olhando quem entra no prédio pela garagem.
Dilma Rousseff foi expulsa da presidência por alocar verbas federais para programas sociais, tirando dinheiro do próprio governo daqui e colocando ali para entregar a quem mais precisava. Uma manobra fiscal, cujo único beneficiário era aquele coitado que recebe Bolsa Família. A isso se deu o nome de "pedalada". E foi o bastante para derrubá-la.
Movida pelo ódio aos pobres, a classe média brasileira atendeu de imediato ao chamado da mídia -- Veja, Folha, Estadão, Globo, O Globo e seus satélites, incluindo as patéticas emissoras de rádio -- e se vestiu de amarelo para ir às ruas louvar um pato inflável.
A isso chamou-se de movimento popular. "O povo resolveu tirar o PT do poder". Não foi o povo. Foi a classe média turbinada pelos desejos e ordens daqueles que, no fim das contas, são seus porta-vozes e grandes prejudicados por governos que distribuem renda -- sempre tiveram, e sempre quererão ter a maior fatia do bolo, se possível o bolo inteiro.
A classe média brasileira, composta pela pior espécie de gente que se possa imaginar, bateu panelas a cada pronunciamento de Dilma. Mandou-a tomar no cu aos gritos num estádio, vociferou palavras de ódio e misoginia. Pôde, sob o olhar deliciado de gente como ela -- os donos da mídia --, finalmente expressar sem pudor seu ódio de classes que faz escorrer baba pela boca.
Fora PT!, gritavam. Luladrão!, Dilmanta!, corruPTos!, berravam, urravam, relinchavam, e depois tiravam selfies ao lado de soldados do pelotão de choque da PM. E pediam a volta dos militares. E seus semelhantes, como Lobão, Danilo Gentili, Otávio Mesquita, Roger, Regina Duarte, alguns atores, muitos colunistas e radialistas, jornalistas globais, subiam em carros de som para repetir o mantra: Fora PT. Apareceram movimentos como Revoltados On Line e MBL e coisas do tipo. Deu-se voz a esses animais de sela relinchantes.
E o Brasil mostrou sua cara verdadeira. Um país de merda dirigido por uma elite de merda que, no fundo, é idêntica aos deputados que tiraram Dilma da presidência, é idêntica ao Aécio e sua mala de dinheiro, é idêntica aos ministros do STF que negam habeas corpus a uma mulher que furtou um ovo de Páscoa para dar ao seu filho, mas fazem elogios rasgados ao senador flagrado em gravação pedindo propina, indicando o primo para pegar uma mala de dinheiro, um filho da puta sem tamanho que, no fim das contas, fica livre porque é julgado por filhos da puta iguais a ele.
E você, que cada vez que o Lula aparecia na TV, ou a Dilma, ou um petista qualquer, batia panela na varanda gourmet do seu apartamento, ou buzinava na rua, é um filho da puta igual, porque você é um igual. Não se iluda: você que bateu panela é igual, idêntico ao Aécio, você colocaria 500 paus numa mala e entraria correndo num táxi, você ligaria para um juiz para armar alguma putaria se pudesse, você mandaria matar seu primo otário se ele fosse pego, você armaria uma conversa no porão da sua casa para tramar alguma roubalheira, você já deve ter feito coisa parecida, portanto não se revolte, não fique indignado, você pensa igual, age igual, é um bosta igual.
Hoje o copo d'água transbordou. Não se sabe mais o que é preciso fazer para ser preso no Brasil. Ou para perder a vergonha e renunciar a um cargo público quando se é flagrado cometendo crimes hediondos como desviar dinheiro que poderia estar melhorando a vida de miseráveis num país miserável. Essa elite brasileira que chutou o PT do governo não tem vergonha de ser o que é. Você, paneleiro, não tem vergonha de ser esse merda que é. Você gosta de ser assim, admira quem é assim, se orgulha de ser assim.
Se você não é preto, nem pobre, nem petista, fique tranquilo. Não será processado por nada, não será preso, sempre haverá alguém para bater panela por você. São tantos os absurdos, as decisões amorais, abjetas, obscenas, que partem do Judiciário e salvam gente do Legislativo, que é quase impossível listá-los.
São esses criminosos que legislam, e que estão arrebentando com os direitos dos trabalhadores e estuprando os mais frágeis na questão da Previdência. Esses filhos da puta nem cogitam mexer nas suas aposentadorias, nos "direitos adquiridos" de magistrados e militares, querem que se foda todo mundo.
Claro que tem gente que aplaude. O projeto era tirar o PT, seguir ganhando dinheiro fácil com especulação, voltar à posição de superioridade sobre pobres diabos que trabalham de sol a sol e são escravizados por empresários milionários, sonegadores, vagabundos.
O Brasil é imoral demais, e aqueles que ainda têm algum resto de vontade de lutar por algo melhor estão cansados.
O povo, aquele que mais sofre, que está sendo atirado de volta ao lugar onde sempre esteve, à miséria, ao descaso, ao desalento, não tem forças para brigar e já nem compreende mais o que está acontecendo.
Isso aqui virou o pior lugar do mundo para se viver.
Flávio Gomes é jornalista do Fox Sports
Lasciate ogni speranza voi ch'entrate.
O Brasil acabou de vez com a decisão do STF de reconduzir o criminoso Aécio Neves ao Senado. Assim como a de soltar o criminoso Não Sei o Quê Loures. Assim como a de não abrir imediatamente um processo contra o criminoso Michel Temer no momento em que apareceram as gravações dele negociando crimes com o pilantra Joesley, outro criminoso vagabundo, milionário vagabundo, exemplo mais bem acabado da elite econômica e industrial brasileira, composta por vagabundos -- para encontrá-los, todos, é só ir à Fiesp e ficar olhando quem entra no prédio pela garagem.
Dilma Rousseff foi expulsa da presidência por alocar verbas federais para programas sociais, tirando dinheiro do próprio governo daqui e colocando ali para entregar a quem mais precisava. Uma manobra fiscal, cujo único beneficiário era aquele coitado que recebe Bolsa Família. A isso se deu o nome de "pedalada". E foi o bastante para derrubá-la.
Movida pelo ódio aos pobres, a classe média brasileira atendeu de imediato ao chamado da mídia -- Veja, Folha, Estadão, Globo, O Globo e seus satélites, incluindo as patéticas emissoras de rádio -- e se vestiu de amarelo para ir às ruas louvar um pato inflável.
A isso chamou-se de movimento popular. "O povo resolveu tirar o PT do poder". Não foi o povo. Foi a classe média turbinada pelos desejos e ordens daqueles que, no fim das contas, são seus porta-vozes e grandes prejudicados por governos que distribuem renda -- sempre tiveram, e sempre quererão ter a maior fatia do bolo, se possível o bolo inteiro.
A classe média brasileira, composta pela pior espécie de gente que se possa imaginar, bateu panelas a cada pronunciamento de Dilma. Mandou-a tomar no cu aos gritos num estádio, vociferou palavras de ódio e misoginia. Pôde, sob o olhar deliciado de gente como ela -- os donos da mídia --, finalmente expressar sem pudor seu ódio de classes que faz escorrer baba pela boca.
Fora PT!, gritavam. Luladrão!, Dilmanta!, corruPTos!, berravam, urravam, relinchavam, e depois tiravam selfies ao lado de soldados do pelotão de choque da PM. E pediam a volta dos militares. E seus semelhantes, como Lobão, Danilo Gentili, Otávio Mesquita, Roger, Regina Duarte, alguns atores, muitos colunistas e radialistas, jornalistas globais, subiam em carros de som para repetir o mantra: Fora PT. Apareceram movimentos como Revoltados On Line e MBL e coisas do tipo. Deu-se voz a esses animais de sela relinchantes.
E o Brasil mostrou sua cara verdadeira. Um país de merda dirigido por uma elite de merda que, no fundo, é idêntica aos deputados que tiraram Dilma da presidência, é idêntica ao Aécio e sua mala de dinheiro, é idêntica aos ministros do STF que negam habeas corpus a uma mulher que furtou um ovo de Páscoa para dar ao seu filho, mas fazem elogios rasgados ao senador flagrado em gravação pedindo propina, indicando o primo para pegar uma mala de dinheiro, um filho da puta sem tamanho que, no fim das contas, fica livre porque é julgado por filhos da puta iguais a ele.
E você, que cada vez que o Lula aparecia na TV, ou a Dilma, ou um petista qualquer, batia panela na varanda gourmet do seu apartamento, ou buzinava na rua, é um filho da puta igual, porque você é um igual. Não se iluda: você que bateu panela é igual, idêntico ao Aécio, você colocaria 500 paus numa mala e entraria correndo num táxi, você ligaria para um juiz para armar alguma putaria se pudesse, você mandaria matar seu primo otário se ele fosse pego, você armaria uma conversa no porão da sua casa para tramar alguma roubalheira, você já deve ter feito coisa parecida, portanto não se revolte, não fique indignado, você pensa igual, age igual, é um bosta igual.
Hoje o copo d'água transbordou. Não se sabe mais o que é preciso fazer para ser preso no Brasil. Ou para perder a vergonha e renunciar a um cargo público quando se é flagrado cometendo crimes hediondos como desviar dinheiro que poderia estar melhorando a vida de miseráveis num país miserável. Essa elite brasileira que chutou o PT do governo não tem vergonha de ser o que é. Você, paneleiro, não tem vergonha de ser esse merda que é. Você gosta de ser assim, admira quem é assim, se orgulha de ser assim.
Se você não é preto, nem pobre, nem petista, fique tranquilo. Não será processado por nada, não será preso, sempre haverá alguém para bater panela por você. São tantos os absurdos, as decisões amorais, abjetas, obscenas, que partem do Judiciário e salvam gente do Legislativo, que é quase impossível listá-los.
São esses criminosos que legislam, e que estão arrebentando com os direitos dos trabalhadores e estuprando os mais frágeis na questão da Previdência. Esses filhos da puta nem cogitam mexer nas suas aposentadorias, nos "direitos adquiridos" de magistrados e militares, querem que se foda todo mundo.
Claro que tem gente que aplaude. O projeto era tirar o PT, seguir ganhando dinheiro fácil com especulação, voltar à posição de superioridade sobre pobres diabos que trabalham de sol a sol e são escravizados por empresários milionários, sonegadores, vagabundos.
O Brasil é imoral demais, e aqueles que ainda têm algum resto de vontade de lutar por algo melhor estão cansados.
O povo, aquele que mais sofre, que está sendo atirado de volta ao lugar onde sempre esteve, à miséria, ao descaso, ao desalento, não tem forças para brigar e já nem compreende mais o que está acontecendo.
Isso aqui virou o pior lugar do mundo para se viver.
Flávio Gomes é jornalista do Fox Sports
quarta-feira, 5 de julho de 2017
PERSPECTIVAS DA INFÂNCIA BRASILEIRA
Por Heloisa Helena de Oliveira
Quando se pergunta o que a infância brasileira pode esperar para os próximos 15 anos, buscamos a resposta em 2012, na Rio+20, quando começaram as discussões para o acordo de metas da Organização das Nações Unidas, que iria suceder aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e cujo prazo de implementação termina agora em 2015.
Nesse período, houve um longo processo de negociações entre os países que, finalmente, culminou no recente anúncio na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, dos novos desafios mundiais para os próximos 15 anos, chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), abrangendo países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Partimos de uma bem-sucedida experiência brasileira no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), sendo reconhecidos como referência mundial em políticas de redução da fome e da miséria e da redução da mortalidade infantil, entre outras. Em 2007, o Brasil havia alcançado a meta do primeiro objetivo, reduzindo a pobreza extrema a um quarto do nível de 1990 –sendo que em 2012 havia 3,5% da população vivendo com menos de US$ 1,25 por dia– e erradicando a fome.
Já a meta de redução da mortalidade na infância (crianças de até 5 anos de idade) foi alcançada em 2011, atingindo a taxa de 17,7 óbitos por mil nascidos vivos. Para efeitos de comparação, em 1990 eram 53,7 óbitos por mil nascidos vivos. A ampliação do acesso à educação básica obrigatória e a ampliação da taxa de escolarização da população também apontam sucessos no cumprimento das metas dos ODM.
Apesar disso, o acesso à educação infantil para crianças de 0 a 3 anos de idade ainda precisa ser priorizado nas políticas públicas, considerando que a taxa de cobertura por creche é de apenas 22,6%, segundo os últimos dados disponíveis, de 2012. A proposta é que esse percentual chegue a 50% de cobertura até 2024, de acordo com o Plano Nacional de Educação.
Em resumo, o Brasil cumpriu 6 dos 7 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Somente não cumprirá a meta de redução da mortalidade materna, que permanece sendo um desafio a ser enfrentado em nosso país, no período futuro.
Olhando para o que está acordado com a ONU para os próximos 15 anos, chegamos, então, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que entram em vigor a partir de 01 de janeiro de 2016, com a proposta de ambiciosos 17 objetivos e 169 metas que devem ser alcançadas até 2030. É a renovação da esperança e do compromisso de consolidar e avançar nos progressos alcançados pelos ODM e superar os desafios que persistem na realidade dos diferentes países.
Desses objetivos, 10 deles estão relacionados com crianças e adolescentes. E, para que possamos responsabilizar o governo brasileiro a implementar as políticas e realizar os investimentos necessários até 2030, precisamos estar preparados para monitorar e acompanhar os avanços.
Nesse sentido, dispomos agora de um novo recurso que reúne informações de diversas fontes sobre a infância, organizadas por temas em um único espaço virtual, o Observatório da Criança e do Adolescente. O portal vai permitir o acesso a diversos dados sobre a criança e adolescência que podem ser acompanhados, compartilhados e colocados na pauta política como desafios relacionados à infância.
É importante lembrar que não é possível falar em desenvolvimento e futuro de uma nação sem enfatizar para quem é esse futuro, ou seja, voltado às crianças e aos adolescentes.
Desafios a serem enfrentados pelo Brasil para o cumprimento dos ODS
• Violência contra crianças e adolescentes
18% das mortes por homicídios vitimaram pessoas entre 0 e 19 anos.
Em 2013, o Disque 100 recebeu mais de 252 mil denúncias de violações de direitos contra crianças e adolescentes em todo o País.
• Educação
As taxas de distorção série-idade no Brasil ocorrem, principalmente, no Ensino Médio (29,5%), contra a taxa de 21% no Ensino Fundamental.
• Moradia e a questão urbana
No Brasil há mais de 3,2 milhões de domicílios localizados em favelas, com aproximadamente 11,4 milhões de pessoas vivendo nessas condições, sendo que dessas, 3,9 milhões estão na faixa etária entre 0 e 17 anos.
• Desigualdade
A região Norte é a que apresenta o maior percentual da população de crianças e adolescentes. É também a região com os piores índices de saneamento básico e esgotamento sanitário.
domingo, 2 de julho de 2017
A MISSA, O PADRE E A FAMÍLIA
Por Maria Lúcia Dahl,
Fui a missa outro dia, perto da minha casa, e um padre que eu nunca tinha visto antes, me perguntou se eu era a Maria Lucia Dahl. Fiquei espantada, respondi que sim, e ele, o padre principal da igreja, começou a contar para um outro padre mais moço, que tinha visto todos os meus filmes e novelas.
Fiquei pasma e ele me disse que era uma alegria enorme que eu estivesse ali na sua paróquia.
Senti-me super-feliz, achando que poderia ser uma mensagem de Deus, e no final da missa, o padre pediu pras pessoas esperarem que ele queria apresentar uma pessoa que ele muito estimava e que estava contente por ela ter escolhido a sua igreja entre tantas outras. Então, fui até perto do altar onde ele estava junto com o padre jovem e ele me apresentou como uma ótima atriz, escritora e jornalista.
Fiquei impressionada com o que estava acontecendo por que não sou nenhuma estrela da capa de Caras e por isso agradeci a Deus como se estivesse sendo abençoada.
Agradeci a todos e fui pra casa muito feliz , me sentindo menos sozinha, pois minha filha e meu neto caçula foram para S. Paulo e o meu neto mais velho, de quinze anos, alem de estar indo morar em Los Angeles, passa as 24 horas que deveria estar na minha casa, no apartamento da namorada ou com uma turma de vários amigos.
Sabia que chegava uma hora em que filhos e netos nos abandonam para viver suas próprias vidas, mas não que hoje em dia isso começasse quando eles têm 15 anos. E tem mais: quando ele fica comigo sozinho, (o que é uma raridade), se tranca no quarto jogando no computador ou vendo televisão.
Papo comigo, não existe mais. Quando vou visita-lo nos seus aposentos, está sempre ocupado com centenas de mensagens em toda parte e de todo jeito o que o faz me dizer sobre a nossa conversa combinada: “Vó, agora estou ocupado. Espera só um instantinho”.
Instantinho esse, que depois que as férias começaram nunca mais voltou, esperando as corridas de bicicleta, o futebol na TV, a praia no Arpoador e outras que tiram completamente o tempo do pobre instantinho que esperava pra voltar.
Então me dei conta de que não era mais aquela pessoa que convivia com netos, filha e que apesar dos amigos e do companheiro, graças a Deus, não me reconhecia nesse novo papel de atriz solitária, pois família faz parte da nossa alma, então compreendi por que fiquei tão feliz quando o padre percebeu que essa pessoa triste de agora ainda era eu.
Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa e29 peças teatrais. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil.
sábado, 1 de julho de 2017
MILHO PARA AS GALINHAS
Talvez o melhor mesmo, fosse esquecer.
Esquecer daquela mulher fantástica que você deixou passar por sua vida e ir embora para algum ponto distante deixando apenas o suor e o desejo.
Esquecer da última trovoada que te pegou sem guarda-chuva e do dia ensolarado que te surpreendeu de mau humor.
Deixar pra lá as incoerências do teu sentir e do teu agir que normalmente te deixam sem jeito, embora ninguém perceba.
Talvez o melhor fosse olhar aqueles olhos intensos e apenas observar o jeito malicioso de ajeitar os cabelos. E só isso já bastaria pelo resto do tempo que se perde por não observar direito.
Ou, quem sabe, sufocar o riso que teimoso incomoda quando percebe a ironia de quem te chama para o amor com um simples sorriso.
Sei lá, ultimamente não tem valido à pena as coisas mais sérias, aquelas que um dia foram catalogadas como ideais.
A descrença em seu próprio povo dói mais do que martelada no dedo.
Traído por sua gente, traição que expos a fragilidade de teus raciocínios.
É o que deve ter sentido o povo judeu ao perceber que seus vizinhos, aqueles mesmos que conversavam na fila do pão, apoiavam os abusos do nazismo.
Ou silenciavam.
As vezes o silêncio pode doer mais do que uma punhalada.
Até é possível continuar vivendo junto, mas nunca mais será a mesma coisa.
Deixa pra lá. Toma mais um mate que de amargo basta a vida.
Estende teus olhos sobre as gotas geladas do último sereno.
Não importa o que se diga, ou o que se faça num país dominado por mugidos.
Os golpes já foram dados e todos eles te acertaram em cheio.
Acertaram tuas utopias, tuas fantasias, tuas inocências.
O Brasil nunca mais será o mesmo nos teus planos.
Que planos?
Toma mais um mate e esquece.
Ou faça como o passarinho diante do vento forte, que se encolhe e se prende ao galho pois sabe que o vento forte vai passar um dia. E passa, toda tempestade termina.
Puxa um banco e senta na soleira de tua porta, e espera.
Enquanto joga o milho para as galinhas, o tempo passa e a gente envelhece.
Assim como toda verdade cabe na palma da tua mão.
Prof. Péricles
Prof. Péricles
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