quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

ISRAEL E O EMBAIXADOR DA DISCÓRDIA


Desde a Guerra dos Seis dias, em 1967, Israel ocupa a região da Faixa de Gaza e da Cisjordânia que, conforme a ONU ao criar o próprio estado de Israel em 1948, é território da Palestina independente.

Para solidificar a ocupação, Israel criou os nefastos “assentamentos” que são pequenas, mas confortáveis vilas habitadas apenas por judeus.

Isso define claramente a ocupação não como temporária, mas como colonial.

É claro que tal situação irrita profundamente os palestinos (imagine você se um estado estrangeiro ocupasse o Rio Grande do Sul e passasse a criar vilarejos lá pelos pampas).

Os assentamentos representam a maior dificuldade para qualquer processo de paz. É o estigma mais cruel do invasor e a humilhação maior  para os invadidos.

Com relação aos assentamentos observam-se diferentes olhares e consequentes ações por parte dos israelenses.

Há os que reconhecem que o primeiro passo para a paz deve ser dado por Israel com o fim dos assentamentos, como Itzak Rabbin primeiro-ministro assassinado por um jovem judeu ortodoxo na década de 90.

Tem os que reconhecem a arbitrariedade e não esquecem que uma moção da ONU determina a imediata desocupação dessas áreas (mas vetada pelos Estados Unidos), porém, por terem interesses diretos ou indiretos nos assentamentos, ou mesmo por medo de que isso fortaleça os palestinos recusa a idéia de avançar nesse sentido.

Há também israelenses que negam qualquer direito aos palestinos, não reconhecem os assentamentos como focos de crise e são contra qualquer medida séria que busque a solução do problema.

Entre esses últimos um sujeito bem conhecido é Dani Dayan.

Esse político nem chama a Faixa de gaza e a Cisjordania mas de Judéia e Samaria, os nomes bíblicos da região.

De fato, Dayan se declara abertamente contrário à solução de dois Estados, aprovada na ONU sendo totalmente contrário à existência de um Estado Palestino.

Na verdade, ele não acredita, nem apóia, qualquer solução pacífica para a questão e defende a dominação através da força, chegando a ameaçar, num passado recente, o próprio governo israelense contra qualquer concessão aos palestinos.

Pois agora, essa flor de criatura foi designada como embaixador de Israel no Brasil.

Detalhe: o procedimento usual entre todos os países é que o governo que indica um  novo embaixador consulte antes o governo que vai recebe-lo para evitar qualquer tipo de contrariedade com o nome indicado, e isso, Israel não fez, em mais uma demonstração de falta de ética e respeito às normas internacionais.

Só que o Brasil hoje, é governado por gente vertebrada que defende o processo de paz na região e o respeito aos palestinos, e, dessa forma, o Itamaraty recusou a imposição de Dani Dayan guela abaixo e já declarou que espera um embaixador que não represente a colonização da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.

Em resposta com o velho estilo truculento sionista, a vice-ministra das relações exteriores Tzipi Hotovely, ressaltou que Israel não enviará outro embaixador  e que seu país está “lidando com o caso de forma discreta, mas que adotará ferramentas alternativas públicas  para repreender o Brasil”.

Incentivado pela arrogância de seu governo o próprio Dayan fez questão de mostrar sua soberba em relação ao nosso país declarando que “Netanyahu não pressionou o governo brasileiro o suficiente para forçar a minha nomeação”, e complementou em entrevista ao jornal Haaretz: "Não sei se serei o embaixador no Brasil e, pessoalmente, não me importa muito. Aliás, isso tornaria as coisas muito mais fáceis para mim [não ir para o Brasil], mas estou lutando pelo próximo embaixador que venha a ser um colono".

Israel, mais uma vez, demonstra seu estilo grotesco, belicoso e autoritário de ver o mundo além do seu umbigo e suas relações políticas.

Que o povo brasileiro saiba reconhecer a grandeza do gesto de seu governo através do Ministério das Relações Exteriores que, certamente, deverá ser aplaudida pelas demais nações latino-americanas além de todas aquelas que respeitam as resoluções da ONU, a 4ª Convenção de Genebra e as decisões da Corte Internacional de Justiça, que asseguram a soberania das nações.


Prof. Péricles



segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CAFÉ FILHO EDIÇÃO 2015


Por Mário Augusto Jakobskind


A história do Brasil através dos tempos retorna algumas vezes de forma repetitiva, mas sempre como farsa. A história dos vices deve ser lembrada.

Em 1954, por exemplo, quando da crise que resultou no suicídio do Presidente Getúlio Vargas, que como se sabe acabou o banquete golpista, o vice Café Filho, egresso das fileiras do partido de Ademar de Barros, o tal político conhecido como “roubou, mas fez”, acabou se aliando aos golpistas, traindo o titular do cargo e o Brasil.

Não durou muito tempo.

Na ocasião, Café Filho contava com o apoio ostensivo de uma mídia golpista, onde se destacava, além da Tribuna da Imprensa, o panfleto de Carlos Lacerda, o jornal O Globo, comandado pelo empresário Roberto Marinho.

Agora, em 2015, de novo surge um vice-presidente que já não esconde o desejo de ocupar o cargo no lugar da Presidente Dilma Rousseff. Trata-se de Michel Temer, considerado pelo agora pedetista Ciro Gomes como o “capitão do golpe”.

A imprensa nacional, de novo capitaneada por O Globo, passou a endeusar Temer, com matérias especiais sobre ele. E todas muito simpáticas ao vice-presidente, que passou a ser uma nova edição farsa de Café Filho.

Michel Temer dificilmente conseguiria chegar à Presidência numa eleição direta e por isso ele não se incomoda de coroar a sua carreira política ocupando o cargo máximo da nação brasileira através de um impedimento de Dilma Rousseff, impedimento, diga-se de passagem, sem base legal, a não ser pela investida de grupos que querem voltar a gerenciar o Estado brasileiro.

O “capitão do golpe” em outras ocasiões se alinhou com partidários do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quanto a isso não há dúvidas.

Conta-se até uma história nos bastidores políticos que quando remanescentes do PMDB fundaram o PSDB, Michel Temer queria aderir, mas foi aconselhado pelos próprios tucanos, entre os quais Mario Covas, a permanecer no PMDB, pois nesse partido poderia ser de utilidade para a nova sigla que estava sendo criada. Temer sem pestanejar obedeceu a “ordem” e durante todos os anos manteve-se fiel ao PSDB, mesmo sendo vice-presidente numa composição com o PT.

Neste momento novamente os partidos de direita como o PSDB e o DEM, incluído também o PPS, um agrupamento formado por ex-comunistas, que como todos ex de qualquer espécie acabam se tornando muito mais realistas do que o rei, voltaram às boas com Eduardo Cunha. O deputado Roberto Freire que o diga. E tudo em nome do “pragmatismo” político por ter Cunha aceito o ritual de uma nova forma de golpe de estado.

Eduardo Cunha joga todas as suas cartas, mesmo queimado, na ascensão de Michel Temer. O presidente da Câmara acredita que se tal acontecer, o amigo e correligionário vai tentar de todas as formas livrar a sua cara. Faz parte do jogo do PMDB. Cunha sabe perfeitamente que se a decisão sobre o seu futuro ficar na dependência apenas da Justiça, poderá perder as bocas. É o que pelo menos se espera.

Ele conta com os correligionários, haja vista à ação vergonhosa de alguns deles na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, que fazem o possível e impossível para livrar a cara de Cunha.

É neste quadro lamentável que vive o Brasil. Diariamente tem havido surpresas, muitas delas negativas, inclusive o não pronunciamento judicial imediato sobre a continuidade de Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados e até mesmo a sua prisão, já alardeada até pelo peemedebista Rena Calheiros, presidente do Senado.

Café Filho, ou melhor, Michel Temer aguarda com ansiedade o desenrolar dos acontecimentos e sem perder tempo já está pensando na formação de seu ministério para levar adiante o seu projeto Brasil, apoiado pelo PSDB. Tanto assim que nos bastidores já se fala até na indicação do senador José Serra, o tal político mencionado no site WikiLeaks como prestador de serviços às multinacionais petrolíferas, entre as quais a Chevron.

Aliás, vale uma pergunta que não quer calar: Serra seria Ministro de um governo brasileiro ou funcionário da Chevron?

Se o momento atual do Brasil é considerado ruim podem imaginar o que seria num governo de “união nacional” entre a facção golpista do PMDB, o PSDB, o DEM e o PPS?

Serra e outros do gênero, entre os quais Moreira Franco, o tal “gato angorá”, segundo Leonel Brizola, ocupariam grandes espaços para levar adiante um projeto que em pouco tempo levaria o Brasil para o abismo total.




Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil).




sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

BRIZOLA, HERÓI NACIONAL



Nasceu no Vilarejo de Cruzinha, hoje município de Carazinho em 22 de janeiro de 1922.

Chegava cedo no colégio trazendo os dois sapatos nas mãos e, só então, já no pátio, os colocava nos pés. Motivo: poupar as solas pois era o único par e sabe lá quando poderia ter outro.

Seu verdadeiro nome era Itagiba, mas, ao entrar na política adotou o nome de um líder maragato da Revolução Federalista de 1923, Leonel Rocha.

Rebelde desde criança, Itagiba nunca se conformou com a pobreza de tantos se comparada com os poucos que viviam em opulência.

Nunca aceitou ordens ou gritos como forma de coação.

Sabia pilotar aviões e era nas alturas que sentia-se senhor de si mesmo, o mais próximo que podia chegar daquilo que mais amava, a liberdade.

Com seu linguajar simples, mas reconhecido por todos e de um carisma extraordinário, tornou-se uma das mais importantes lideranças do PTB, partido político criado por Getúlio Vargas para unificar os movimentos trabalhistas.

Foi deputado estadual e governador do estado do Rio Grande do Sul nos difíceis anos 1961-1964, quando o país equilibrava-se entre a normalidade e o golpe.

Escreveu de forma heroica uma das páginas mais belas de nossa história, a “Campanha da Legalidade”, fazendo aquilo que todos queriam, mas que ninguém tinha coragem, enfrentar os militares e os golpistas que pregavam o golpe contra o presidente João Goulart.

Não há brasileiro vertebrado que não se identifique com imagem de Brizola acuado no bunker nos porões do Palácio Piratini, ameaçado de bombardeio, de prisão, de morte, falando nos microfones da Rádio Guaíba para o estado inteiro, conclamando pela resistência e desafiando todo o poder que lá fora, cercava a sede do governo gaúcho.

Foi Brizola que impediu o golpe em 1961 depois da renúncia de Jânio Quadros.

Foi de Brizola uma das poucas vozes a conclamar a resistência ao golpe em 1964.

Sozinho, com a desistência do próprio presidente, foi obrigado a se exilar no Uruguai e mais tarde nos Estados Unidos e em Portugal.

Teve que passar mais de 20 anos longe do Brasil, sem dúvida o maior sofrimento que poderia suportar.

Casado com a irmã de João Goulart ficou 10 anos, nesse período de exílio, sem conversar com o ex-presidente, indignado pela falta de luta do cunhado.

Mesmo no exílio, apoiou, fortaleceu e auxiliou como pode, os movimentos de resistência e de luta armada contra o regime militar.

Era o homem mais odiado pelos generais-presidentes e sua camarilha civil e militar. Jurado de morte e perseguido durante a “operação condor”.

Foi Presidente de Honra da Internacional Socialista e assistiu emocionado a Revolução dos Cravos em Portugal.

Ao retornar foi insistentemente prejudicado pelas associações Globo e filiadas.

Teve a sigla “PTB” sonegada pela Justiça Eleitoral e fundou o PDT.

Candidato ao governo do Rio de Janeiro teve que enfrentar a divulgação de pesquisas falsas e de uma tentativa de fraude nas contagens dos votos que tinha como executores a mídia golpista.

Foi o responsável por uma das maiores vergonhas da TV Globo, obrigada pela Justiça Eleitoral a divulgar, através da leitura de Cid Moreira em horário nobre do Jornal Nacional, uma nota em que Brizola relatava a fraude de que quase fora vítima e o papel nefasto da Globo contra ele.

Seu governo do Rio de Janeiro (foi o único político do Brasil a governar dois estados diferentes) foi boicotado diariamente, quando 80% do tempo do Jornal Nacional era de transmissão de notícias negativas, principalmente sobre a violência urbana, sendo a responsabilidade apontada sempre no governador.

Brizola foi candidato a presidência nas eleições de 1989 perdendo para a Lula a vaga para disputar o segundo turno contra Color por um fiapo de votos.

Foi ainda candidato a presidente em 1994 e a vice na chapa de Lula em 1998.

Leonel de Moura Brizola deveria ser eterno, mas a morte, inexorável, o atingiu em junho de 2004, vítima de problemas cardíacos.

De lá para cá deixou um vazio que não esteve nem perto de ser suprido por qualquer político.

Agora, uma liderança que nunca negou a enorme admiração por ele, e que o designa como um de seus ídolos, a Presidente Dilma Rousseff, sancionou seu nome para ser incluído no “Livro dos Heróis da Pátria”.

O livro, com páginas de aço, fica exposto no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília e contém, nomes como de Tiradentes, Zumbi dos Palmares, D. Pedro I, Duque de Caxias, Santos Dumont, Chico Mendes, Getúlio Vargas, Anita Garibaldi.

A lei sancionada por Dilma em 29/12/2015, também altera o tempo necessário para que uma personalidade possa ser homenageada no Livro dos Heróis da Pátria após sua morte, de 50 para 10 anos.

Mas, não serão os anos que contarão a validade do herói para o imaginário popular e a saudade nacional.

Itagiba que lutou para que nenhuma criança precisasse chegar no colégio carregando nas mãos os sapatos, e que foi o criador da primeira experiência de reforma agrária do país, agora pertence à história.

Já a sua alma, sobrevoa os espaços da liberdade, assim como quando pilotava aviões sobre o Rio Grande amado e sonhava liderar o país nos caminhos da igualdade.


Prof. Péricles












terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RELEMBRANDO 2015, NACIONAIS

O ódio nas ruas

De certa forma, 2015 foi um ano perdido na economia nacional também como consequência de uma crise política que não permitiu medidas mais objetivas no enfrentamento das dificuldades econômicas.

A frágil e exígua democracia brasileira (dizem que ela existe) esteve por um tênue fio.

O fascismo representado em outros tempos com os integralistas de Carlos Lacerda retorna lépido e faceiro, vestido de CBF pedindo o fim da corrupção e o impeachment de uma presidente eleita por mais de 54 milhões de votos.

Mas se a “democracia” sobreviveu a ingenuidade dos que acreditavam num presidente do congresso ou num senador derrotado como paladinos da justiça, morreu.

A seguir as manchetes nacionais com jeito de conteúdo de prova de atualidades.

Sempre lembrando que processos ainda em andamento, como a questão do impeachment, não costumam cair em prova.

Ao começar 2015 o Brasil descobriu que em alguns lugares do mundo a pena de morte ainda existe. O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos foi fuzilado por tráfico de drogas na Indonésia, já que o presidente daquele país, Joko Widodo não tomou conhecimento dos insistentes pedidos do governo brasileiro de conceder clemência e alterar a pena para prisão.

Em fevereiro uma greve de estranhas origens sindicais promoveu bloqueios em estradas federais, sendo o estado do Rio Grande do Sul, o mais afetado, com 91 bloqueios.

Em março a Operação Lava a Jato passa a fazer parte do cotidiano do brasileiro, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski, deferiu 21 pedidos de abertura de inquéritos.

O Judiciário brasileiro levou uma pancada no seu ego quando em abril o juiz Flávio Roberto de Souza confessa que desviou cerca de R$ 1,14 milhão sob sua tutela, além de utilizar o veículo de luxo do empresário Eike Batista. Mas, o juiz foi exemplarmente punido com.. a aposentadoria.

O vergonhoso futebol brasileiro atingiu seu clímax de vexame internacional com a prisão do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, em maio, na Suíça.

A cota de fiascos nacionais cresceu em junho quando uma inexplicável missão diplomática, tendo o senador Aécio Neves (PSDB) à frente terminou de forma vexatória algumas horas depois de pousar no aeroporto da Venezuela, com as vaias de populares. Nossos heróis tentaram o papel de vítimas, mas, restou mesmo o papel de intrometidos e desajeitados.

O que não teve graça nenhuma foi um atentado a bomba contra o Instituto Lula, em julho, na Zona Sul da capital paulista. A bomba atirada de um carro em movimento causou apenas danos materiais, mas, serviu de alerta. A extrema direita em ascensão no país deve ser vista com seriedade e atenção.

O horror das chacinas voltou a assustar o Brasil em agosto quando 18 pessoas foram mortas nos municípios de Osasco e Barueri. O paulista sente-se cada vez mais desprotegido e acuado.

Uma anotação que não tem as características de de prova, mas que me obrigo a fazer por uma questão pessoal.

Morreu em setembro um dos meus ídolos dos tempos de formação no curso de história, o grande historiador, escrito e professor Joel Rufino dos Santos. Autor de mais de 50 livros de ficção e não-ficção, Rufino escrevia para adultos, jovens e crianças, ganhou alguns prêmios por sua literatura. Foi uma das cabeças iluminadas na área do ensino de história no período da ditadura militar, quando foi preso e torturado. Foi-se o professor, mas ficou sua obra e sua mensagem de coragem na forma de reinterpretar a história do Brasil.

O Brasil manteve sua tradição de atenção aos refugiados políticos. Em outubro o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Refugiados (ACNUR) considerou o Brasil um dos mais importantes países para o acolhimento de imigrantes e refugiados. Existem atualmente, 8,4 mil refugiados legalizados no país.

Em novembro (dia 5) ocorreu o maior incidente ambiental da história do Brasil. O rompimento de barragens da mineradora Samarco. O mar de lama desapareceu com a cidade de Mariana (MG) e seguiu num rastro de destruição até desembocar no mar, no estado do Espírito Santo. Os efeitos nocivos ao meio-ambiente ainda são desconhecidos em sua total profundidade.

O ano termina com um alarme sanitário. Com o aumento de casos de microcefalia no país, relacionados ao vírus zika, a coordenadora do ambulatório de microcefalia do Hospital Oswaldo Cruz, Regina Coeli, recomendou que grávidas usem repelentes para evitar que sejam picadas pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus. O país redobra sua guerra contra o mosquito.


Prof. Péricles

domingo, 27 de dezembro de 2015

RELEMBRANDO 2015, INTERNACIONAIS

Seguir em Frente é Preciso

O ano de 2015 foi um ano tenso em vários sentidos no cenário internacional.

O conflito da Síria continua sendo uma das maiores ameaças à paz mundial e com a entrada efetiva da Rússia no palco das ações militares, tudo ficou mais complicado.

A crise continua atingindo as economias com efeito global, a China diminuiu drasticamente suas taxas de crescimento e os próximos movimentos desse estranho gigante é aguardado com ansiedade.

Diante disso parece não haver dúvidas de que estamos próximos de grandes mudanças geopolítica.

Um fenômeno interessante e perigoso parece ter passado à margem da observação da mídia: o crescimento assustador da produção de material bélico nuclear. Ao que tudo indica, será necessário que os povos pressionem seus governos para que a paz continue sendo o primeiro objetivo de cada nação.

Apesar disso, velhos problemas como o conflito palestino-israelense continuam a fazer vítimas diárias, agora com a Intifada das Facas.

Governos progressistas de esquerda, como na Venezuela, Bolívia, Brasil e até Argentina onde o candidato de Cristina Kirshner foi derrotado nas urnas, estão descobrindo que as políticas de programas sociais são insuficientes para se manter no poder se não forem acompanhadas de reformas estruturais profundas, como reforma agrária e reforma urbana, e a discussão emprego/capital, entre outras.

A Europa revive como um velho filme já assistido, a multiplicação de organizações de extrema-direita. O fascismo continua a ter sua força junto aos desempregados pela crise econômica mundial. Os partidos radicais na França, Grécia, Áustria, Portugal e Hungria, principalmente, cresceram muito entre os eleitores desses países.

Quem paga mais diretamente pelo crescimento da xenofobia, são os imigrantes e os refugiado das zonas de guerra, cuja situação alarmante chocou o mundo em 2015. O corpo de uma criança morta quando, levada por seus país tentava chegar à Europa, poderia ser escolhida como a imagem do ano.

Foram muitos fatos marcantes, mas, para efeito meramente de escolha visando a atualização e futuras provas de concursos, escolhemos as seguintes manchetes internacionais de 2015 como manchetes que não podem ser esquecidas, por possuírem a “cara” da maioria das bancas examinadoras:

Em janeiro doze pessoas, incluindo dois policiais foram mortas em um ataque a tiros no prédio onde está instalado o semanário Charlie Hebdo, em Paris. O semanário é odiado pelos muçulmanos do mundo inteiro devido as piadas, consideradas agressivas contra o profeta Maomé.

O presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, anunciou, em fevereiro, a detenção dos donos de uma grande rede varejista do país, acusados de, deliberadamente provocar filas e desabastecimento com o objetivo de indispor a população contra o governo.

Em março o mundo ficou traumatizado ao saber que um Airbus 320, com 150 pessoas, entre tripulantes e passageiros, que caiu nos Alpes franceses sem deixar sobreviventes, foi derrubado deliberadamente pelo copiloto Andreas Lubitz, aparentemente numa crise depressiva.

Foi um fato histórico notável quando Barack Obama e Raúl Castro, mandatários dos Estados Unidos e Cuba, se cumprimentaram e trocaram algumas palavras na noite de 17 de abril. Foi o ponta pé inicial de uma série de medidas que reaproximaram os dois países depois de 52 anos de mútuo afastamento.

O mundo respirou aliviado quando em maio, o representante da Organização Mundial da Saúde, Alex Gasarira anunciou a erradicação do vírus ebola na Libéria. Até então foram 4mil e 700 mortos oficialmente reconhecidos como vítimas da doença mais temida do mundo.

Para provar que o horror do racismo não morreu, ocorreu um atentado à Igreja mais antiga da congregação afro-americana, na cidade de Charleston, na Carolina do Sul. Nove pessoas (seis mulheres e três homens) incluindo o reverendo Clement Pinckney, morreram, em junho.

Uma doce ilusão ou um blefe? Em julho, incentivados pelo novo governo de esquerda do país, os gregos foram as urnas para responder a um referendo, onde o “não” para as medidas exigidas pela Alemanha para um novo empréstimo, venceu com larga margem. Infelizmente isso não foi o suficiente e o governo grego, pressionado pelos credores, teve que recuar.

Em agosto, Alexis Tsipras, premiê da Grécia, renunciou e antecipou eleições. Ele voltaria a vencer nas urnas, mas a Grécia já estava irremediavelmente comprometida com os credores.

Quase que uma crise de fronteira leva dois países sul-americanos, Venezuela e Colômbia, a uma guerra, em setembro. A crise se agravou devido a denúncia da Venezuela da entrada no país de produtos ilegais colombianos, com a conivência destes. Conversações no Equador aproximaram os presidentes Nicolás Maduro e Juan Manuel Santos e a pacificação foi alcançada.

O Rio Grande do Sul, que ainda não se recuperou do trauma da boate Kiss, em Santa Maria, relembrou o caso em outubro quando um incêndio na Romênia, em situação muito parecida com a Kiss, deixou 27 pessoas mortas e 184 feridas.

Em novembro o terror chegou forte na França. O grupo Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade por ataques que mataram 127 pessoas em Paris. O presidente francês, François Hollande, afirmou que os ataques que incluíram, pela primeira vez em solo europeu, homens-bombas e que aconteceram simultaneamente em várias partes da cidade, Estádio de Futebol, Casa de Espetáculos (Bataclan) e bares noturnos, foi um ato de guerra.

Em dezembro uma boa notícia. A plenária da COP-21, a cúpula do clima de Paris, aprovou o primeiro acordo de extensão global para frear as emissões de gases do efeito estufa e enfrentar as causas e consequências do aquecimento global. Embora tímido, é o principal passo dado nesse sentido desde o Protocolo de Kioto assinado na década de 90.


Prof. Péricles

sábado, 26 de dezembro de 2015

A INTIFADA DAS FACAS

A Terceira Intifada

Dois meninos, um de 12 e outro de 13 anos, aproximam-se lentamente de um homem fardado com as roupas de segurança do bonde que atravessa a cidade de Jerusalém.

Há muito medo em seus olhos, mas, outros sentimentos também se sobressaem.

Ódio, rancor, vergonha e medo, principalmente, muito medo.

Ao chegarem ao alcance de um golpe, ambos retiram facas que estavam escondidas em suas vestes surradas de palestinos pobres.

O ataque é rápido e amador, mas suficientemente forte para atingir o homem que estava totalmente desprevenido. Seus gritos foram ao mesmo de tempo de dor e de susto.

Ele cai mesmo tentando permanecer de pé, enquanto os meninos correm com as facas ensanguentadas. Mas, não chegam a se distanciar 100 metros e são atingidos por uma saraivada de balas que partem de uma submetralhadora automática de um soldado israelense.

Gente se aglomera, ambulâncias, gritos, mas, o pior já havia acontecido e ninguém poderia mudar os fatos. Um homem e duas crianças estão mortas. São agora apenas um número a ser acrescentado nas estatísticas da “Intifada das Facas”.

Intifada (revolta) é o nome popular das insurreições palestinas contra Israel, que ocupa a Faixa de Gaza e Cisjordânia desde 1967.

Inicialmente as Intifadas parecem ingênuas e fadadas ao fracasso, visto que, são impulsionadas por populares contra um exército profissional e bem armado pelos Estados Unidos. Porém o seu peso político é grande e capaz de deixar Israel em situação politicamente delicada.

Essa seria a terceira Intifada.

A primeira Intifada iniciou em 9 de dezembro de 1987, com a população palestina atirando paus e pedras contra blindados e militares israelenses. É por isso denominada de a “Intifada das Pedras”.

Para Israel a Intifada teve um alto custo político, pois tornaram-se comuns fotos e filmes mostrando crianças e mulheres palestinas jogando pedras contra um inimigo infinitamente superior.

A Segunda Intifada ocorreu a partir de setembro de 2000 até o início de 2005.

Em 28 de setembro de 2000, Ariel Sharon, na época apenas um parlamentar do Likud (partido radical israelense) e figura profundamente odiada pelos palestinos que o acusam de ser o líder militar dos ataques criminosos a dois campos de refugiados (Sabrah e Shatila) que mataram cerca de 5 mil mulheres e crianças, visitou, protegido por enorme aparato de segurança, a Esplanada das Mesquitas, local de oração dos muçulmanos, na região do Monte do Templo, em Jerusalém.

A visita de um assassino de seu povo provocou a fúria dos palestinos que viram nesse ato uma provocação e desrespeito.

De fato, muito difícil acreditar que não tenha se tratado de uma atitude planejada pelo Likud que buscava frear o processo de paz iniciado em 1995 por Yitzhak Rabin (que foi assassinado por um judeu radical). Todos sabiam, ou podiam imaginar, o quanto aquela visita iria revoltar um povo que ainda guardava bem na lembrança seus mortos de Sabrah e Shatila.

Após a partida de Ariel Sharon, violentos confrontos opõem palestinos e israelenses junto ao Muro das Lamentações. Sete palestinos são mortos e centenas são feridos. Era o início da segunda Intifada que iria matar centenas de pessoas e principalmente, matar o próprio processo de paz que parecia irreversível.

A atual Intifada se destaca por envolver jovens e até crianças palestinas armadas com simples facas e que atacam não alvos militares, mas cidadãos judeus, indistintamente.

Suas causas estão no ódio, na falta de esperança do povo palestino em uma solução aos seus problemas e principalmente, pela falta de perspectiva de que Israel desocupe os territórios invadidos.

Uma situação caótica provocando situações aberrantes como em 2 de novembro quando um jovem palestino de 19 anos saiu correndo com uma faca no centro da cidade de Rishon (perto de Tel Aviv) e feriu três pessoas, entre elas uma mulher de 80 anos.

Desacordada, a senhora ficou com o corpo atravessado na calçada. Dezenas de israelenses que estavam no local saíram correndo atrás do palestino e muitos simplesmente pisotearam a vítima, causando indignação na família.

A cena da correria atrás do palestino e da senhora de 80 anos sendo pisoteada na calçada sem ser atendida durante longos minutos chocou o país que assistiu a tudo nos telejornais noturnos.

Esses ataques podem ocorrer em qualquer lugar e em qualquer momento, o que cria uma situação de histeria coletiva, que é usada e estimulada pelos radicais interessados no crescimento da violência.

Líderes políticos de Israel exortam a população a sair as ruas armada e alguns pedem que a polícia atire para matar em qualquer suspeito.

Nessa onda de loucura, um judeu, Slincha Hodotov, foi morto por outros judeus que o confundiram com um “terrorista”. Um refugiado da Eritréia, Haftom Zarhum, foi linchado depois de ser acusado de ser cúmplice de “terroristas”.

Os cidadãos israelenses, tanto árabes como judeus, viraram reféns do medo, que dita seus hábitos no cotidiano.

O medo e o ódio inverteram a ordem de vítima e algoz, o que é muito comum naquelas terras, tendo os israelenses matado mais palestinos do que o contrário.

Atualmente a contagem oficial é de 19 mortos entre judeus e 172 palestinos.

Infelizmente enquanto o governo israelense não voltar a ouvir a voz de Rabin que ensinava que a paz necessita de concessões de ambos os lados, é provável que outras e intermináveis Intifadas aconteçam no rastro dolorido da Intifada das Pedras e da Intifada das Facas.

Intifada das Pedras





Prof. Péricles