sábado, 25 de abril de 2015

O PAÍS DAS MIL E UMA MENTIRAS



Pedro Álvares Cabral fez de conta que chegou aqui sem querer, e a Espanha fez de conta que acreditou.

A Igreja mentiu que negro não tinha alma para apoiar a escravidão africana que lhe proporcionava lucros, e o resto, disse amém.

Os donatários mentiram que tinham interesse em vir para o fim do mundo e colonizar a Terra.

O Branco mentiu aos índios que era amigo e os padres mentiram que salvariam suas almas.

Os bandeirantes fingiram não ter encontrado ouro nas matas.

Os inconfidentes mentiram que lutariam pela independência do Brasil até a morte, mas fizeram acordos.

Os acordos foram cumpridos e criaram um mártir.

A elite agrária mentiu que a nação precisava de um imperador, quando apenas queria, manter a escravidão. E o povo se vestiu de súdito.

D. Pedro mentiu para os ingleses que acabaria com a escravidão no máximo em cinco anos e assinou que faria isso, sem nunca realmente pensar em fazer.

Também disse publicamente que jamais pagaria pela independência, mais pagou.

Durante 50 anos governo e aristocracia rural mentiram que iriam acabar com a escravidão criando leis ridículas de tapeação: Lei Euzébio de Queirós, Lei Visconde do Rio Branco, Lei Saraiva-Cotegipe e finalmente uma Lei que mantinha a exclusão e a miséria, mas foi chamada de Áurea.

As autoridades enganaram o povo fazendo do Paraguai um perigo maior do que era e isso justificou o maior massacra entre povos da América Latina.

Os proclamadores da República mentiram que estavam criando uma nação soberana e ratificaram a dependência econômica e acordos comerciais espúrios.

A primeira Constituição Republicana definia o voto como universal, mas determinava que mulheres e analfabetos, a imensa maioria, não tinha direito a voto.

Na virada do século rotularam os miseráveis de Canudos de bandidos, e a Revolta da Vacina de coisa inconsequente como birra de criança.

Prometeram para João Cândido que ninguém seria punido na Revolta da Chibata e quase todos os líderes morreram na cadeia.

Combinaram dia e hora para a Revolta Tenentista, mas deixaram apenas 18 homens pendurados no pincel, e foram mortos, quase todos, nas areias de Copacabana.

Anunciaram a morte de um candidato a vice, João Pessoa, como crime político gerando uma comoção nacional quando, era apenas, um marido traído que se vingava dos chifres, e isso deu início a Revolução de 30.

Já a Revolução Constitucionalista Paulista de 1932 não era revolução, nem constitucionalista e muito menos só paulista.

Mentiram que o Brasil tinha que entrar numa guerra que não era sua, a Segunda Mundial, e jovens brasileiros morreram por causa estranha e seus corpos ainda jazem em solo italiano.

Disseram que Jango era comunista e corrupto e dizendo defender a democracia deram um golpe de morte na própria democracia.

Assim nasceu a Ditadura Militar, mimada pela hipocrisia dos que diziam defender Deus, a Pátria e a família. A Ditadura não teve Deus, apenas demônios, vendeu a pátria e dividiu a família estimulando a delação.

Golpistas, fascistas, reacionários fizeram uma Ditadura que se dizia revolução e se auto-intitulava de "Redentora".

Criaram um gigante de papel que finalmente despertava, montado em capitais estrangeiros. Brasil, ame-o ou deixe-o, mas matavam antes que houvesse uma escolha. Ninguém segura esse país rumo ao abismo. Pra frente Brasil, agora vai. E fomos todos para o buraco de uma década perdida.

O fim da ditadura e a volta a normalidade levou 10 anos, recheada por uma paz falsa, como o atentado do Rio-Centro, cuja bomba-neném explodiu no colo de um militar a paisana.

Por dez meses fizeram valer a fraude do Plano Cruzado para vencer as eleições constituintes de 1986, e depois anunciaram uma Constituinte independente e democrática, mas criaram o “centrão” unindo as forças conservadoras que barrou todos os avanços populares.

Mentiram ao fazer um sociólogo Ministro da Fazenda e pai de um plano que não era seu, apenas para, novamente, ganhar uma eleição, em 1994.

Brasil, uma história de mentiras só poderia mesmo gerar uma nação mentirosa, onde o racismo é tão violento como em qualquer outro lugar, mas escondido em nome do orgulho de uma terra multirracial.

O maior perigo de conviver com as mentiras é acabar se acostumando com elas e o mais grave, gostando de ser enganado.

Deixa-se de ser vítimas para ser mansos.

O perigo é achar que quem mora lá no morro já vive pertinho do céu e por isso não é necessário lutar por um Brasil mais justo.

A história do Brasil não deve ser apagada por ser mentirosa, mas recontada, com suas mentiras entendendo-se quem as criou e com que objetivos.

A história não se repete, mas as mentiras sim.


Prof. Péricles

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PONTO DEUS



por Leonardo Boff


Uma frente avançada das ciências, hoje, é constituída pelo estudo do cérebro e de suas múltiplas inteligências. Alcançaram-se resultados relevantes, também para a religião e a espiritualidade.

Enfatizam-se três tipos de inteligência. A primeira é a inteligência intelectual, o famoso QI (Quociente de Inteligência), ao qual se deu tanta importância em todo o século XX. É a inteligência analítica pela qual elaboramos conceitos e fazemos ciência. Com ela organizamos o mundo e solucionamos problemas objetivos.

A segunda é a inteligência emocional, popularizada especialmente pelo psicólogo e neurocientista de Harvard David Goleman, com seu conhecido livro A Inteligência emocional (QE = Quociente Emocional). Empiricamente mostrou o que era convicção de toda uma tradição de pensadores, desde Platão, passando por Santo Agostinho e culminando em Freud: a estrutura de base do ser humano não é razão (logos) mas é emoção (pathos).

Somos, primariamente, seres de paixão, empatia e compaixão, e só em seguida, de razão. Quando combinamos QI com QE conseguimos nos mobilizar a nós e a outros.

A terceira é a inteligência espiritual. A prova empírica de sua existência deriva de pesquisas muito recentes, dos últimos 10 anos, feitas por neurólogos, neuropsicólogos, neurolingüistas e técnicos em magnetoencefalografia (que estudam os campos magnéticos e elétricos do cérebro).

Segundo esses cientistas, existe em nós, cientificamente verificável, um outro tipo de inteligência, pela qual não só captamos fatos, idéias e emoções, mas percebemos os contextos maiores de nossa vida, totalidades significativas, e nos faz sentir inseridos no Todo. Ela nos torna sensíveis a valores, a questões ligadas a Deus e à transcendência. É chamada de inteligência espiritual (QEs = Quociente espiritual), porque é próprio da espiritualidade captar totalidades e se orientar por visões transcendentais.

Sua base empírica reside na biologia dos neurônios. Verificou-se cientificamente que a experiência unificadora se origina de oscilações neurais a 40 herz, especialmente localizada nos lobos temporais. Desencadeia-se, então, uma experiência de exaltação e de intensa alegria como se estivéssemos diante de uma Presença viva.

Ou inversamente, sempre que se abordam temas religiosos, Deus ou valores que concernem o sentido profundo das coisas, não superficialmente mas num envolvimento sincero, produz-se igual excitação de 40 herz.

Por essa razão, neurobiólogos como Persinger, Ramachandran e a física quântica Danah Zohar batizaram essa região dos lobos temporais de 'o ponto Deus'.

Se assim é, podemos dizer em termos do processo evolucionário: o universo evoluiu, em bilhões de anos, até produzir no cérebro o instrumento que capacita o ser humano perceber a Presença de Deus, que sempre estava lá embora não percebível conscientemente.

A existência desse 'ponto Deus' representa uma vantagem evolutiva de nossa espécie homo. Ela constitui uma referência de sentido para nossa vida. A espiritualidade pertence ao humano e não é monopólio das religiões. Antes, as religiões são uma das expressões desse 'ponto Deus'.



Sobre o Autor
Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1970. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959.

É doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos oprimidos e marginalizados e dos Direitos Humanos.

De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Neste período, fez parte da coordenação da publicação da coleção "Teologia e Libertação" e da edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista Eclesiástica Brasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da Revista Internacional Concilium (1970-1995).

É autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida nos principais idiomas modernos.

terça-feira, 21 de abril de 2015

AS PEQUENAS PEÇAS DE AUSCHWITZ



Meu nome é Oskar Gröning, tenho 93 anos.

Perdi minha mãe muito cedo, com apenas 4 anos de idade.

Meu pai me criou sozinho.

Era um nacionalista fanático que não se conformava com a derrota da Alemanha na I Guerra Mundial. Dizia que o país fora traído pelos judeus e que eles eram os responsáveis por nossa ruína.

Meu pai, entrou num grupo paramilitar, o “Der Stahlhelm” que era de um anti-semitismo tão latente que seu lema era “E quando o sangue judeu correr pelas nossas facas, tudo ficará bem novamente”.

Desde que me conheço por gente aprendi a odiar os judeus.

Eu era fascinado por música. E por fardas também. Por isso, ainda muito jovem me aliste nas SS, a tropa de elite do Partido Nazista.

Tinha apenas 18 anos quando a Segunda Guerra Mundial começou e aos 21 cheguei em missão administrativa a Auschwitz, o maior dos campos de concentração, localizado no sul da Polônia ocupada pelo Terceiro Reich.

Trabalhei lá de 1942 até 1944.

Minha tarefa era recolher e enviar para Berlin o dinheiro dos prisioneiros. Mais tarde passei também a recolher as bagagens dos recém-chegados para que os seguintes não a vissem e não se apercebessem imediatamente do destino.

Sou, portanto, um dos que chamam de “executores” e graças ao negacionismo que a Alemanha desenvolveu, negando-se a reconhecer a culpa dos cúmplices, preferindo julgar como criminosos apenas os mandantes e dirigentes, nunca fui julgado por meus atos.

De fato, não fui responsável direto pela execução de ninguém. Mas tenho e assumo minha parcela de culpa.

Eu só percebi a real extensão da tragédia, numa ocasião em que me aproximei da área das câmaras de gás. Vi e ouvi coisas e gritos que mesmo hoje, 70 anos depois, ainda me perseguem à noite. Acordo muitas vezes com os gritos tão vivos que chego a pensar que as vítimas estão dentro do meu quarto.

Eu juro que acreditava em Hitler e em meu pai quando diziam que era dever da Alemanha destruir o judaísmo. Foi isso e acreditar que assistíamos a uma guerra limpa, de métodos avançados, que me manteve em pé, cumprindo minha missão.

Eu estava lá. Era uma pequena peça da engrenagem, um insignificante parafuso. Mas estava lá. Se se considerar isso culpa, sou culpado

Hoje, sinto uma dor que me queima a alma e gostaria muito de pedir perdão ao povo judeu, aos seus mortos, aos seus filhos. Acho que devo sim ser julgado e punido assim como todos que apenas cumpriam funções menores, mas estavam cientes do massacre.

Meu nome é Oskar Gröning e me chamam de “o contabilista de Auschwitz”.

Ao longo de décadas, Gröning respondeu apenas perante a sua consciência. Porém, ao contrário da maioria, nunca escondeu sua responsabilidade.

Depois de décadas sem que fosse abordado pela justiça, o julgamento tornou-se possível com a jurisprudência criada pela condenação, em 2011, a cinco anos de prisão, de John Demjanjuk, antigo guarda do campo de Sobibor. Foi a primeira vez que a justiça alemã condenou alguém por cumplicidade. Antes, só tinha havido condenações de dirigentes, em Nuremberg, e, depois, de comprovadamente envolvidos no extermínio.

Por motivos "legais e de prova", as acusações que o levam ao tribunal de Luneburgo, Sul de Hamburgo, dizem apenas respeito a dois meses do seu tempo de Auschwitz, na Polónia ocupada: de Maio a Julho de 1944, o período da Operação Hungria, quando chegaram "cerca de 425 mil pessoas", 300 mil das quais foram mortas nas câmaras de gás.

De certa forma, seu julgamento será também o julgamento da própria Alemanha e da postura de minimizar os crimes do nazismo, esquecendo as pequenas peças da monstruosa engrenagem responsável pelo massacre premeditado de milhões de criaturas.


Prof. Péricles


Fontes:
Jornal Hannoverische Zeitung
BBC News.
Die Welt
Huffington Post
Diário Bild



segunda-feira, 20 de abril de 2015

DA ARTE DE NASCER E VIVER



Por Annibal Augusto Gama

Você está instalado confortavelmente no ventre da mãe, que lhe provém de tudo, no morno entorno do útero, e ainda assim, de vez em quando lhe dá uns coices.

Você começou de um ovo, com a união do espermatozóide com o óvulo. A princípio, era uma coisa insignificante, e chegou a ser quase um peixe, com guelras. Foi evoluindo para a forma humana, enquanto a barriga da mãe também estufava cada vez mais.

Até que nove meses depois (ou menos, para alguns apressadinhos), começaram em torno de você uns empurrões para botá-lo para fora, quando não sabia ainda que havia um fora, mas só um dentro. Os empurrões tornaram-se insuportáveis, até que você botou a cabeça para fora, e alguém o agarrou pelo pescoço e pelos ombros e o arrancou do lugar onde você estava antes tão bem.

Este parteiro, ou parteira, ainda por cima, segurando-o pelos pés, dá-lhe umas palmadas na bunda, para que você chore e respire. Foi a primeira agressão que você sofreu, das muitas que receberá ainda durante o resto da vida. Cortaram-lhe então o cordão umbilical e o amarraram, para que você se desligasse de sua mãe, que estava inundada de suor e gemia. Limpado, foi embrulhado e posto nos braços da mãe, que logo lhe ofereceria os seios túrgidos, para que você mamasse.

Mais alguns dias, e você já mama com furor, o leite escorrendo da boca, e ainda dá umas cabeçadas naqueles seios, para que saia mais leite. Depois, outra palmadinha nas costas, e você arrota. É um menino! Ou é uma menina! Gritaram as pessoas em torno. E você quase imediatamente recebe um nome que não escolheu, e tão desastrosamente às vezes escolhido, que você o carregará com vergonha pelos anos a fora.

Principia então suportar a burocracia em que estará envolvido durante anos e anos: você vai ser registrado no Cartório das Pessoas Naturais, e batizado numa igreja e numa religião de que nunca ouviu falar.

Ainda bem que, nos primeiros meses, você apenas mame, dorme, chore e desperte. E começa então a enxergar. Vê vultos ao seu redor, e que logo se delinearão, e você reconhece primeiramente a sua mãe, pelo seu cheiro, e pelo calor de seu corpo.

Escuta barulhos, estouros e, para acalmá-lo, metem-lhe um bico de borracha na boca, até, que já mais crescidinho, retiram-lhe o bico, e você vai aprendendo confusamente que a vida é uma negação das coisas de que gostava.

As pessoas então começam a ensiná-lo a falar a sua língua, as palavras. Você aprende o alemão, o francês, o italiano, ou o português, conforme o lugar em que nasceu. Aprende também palavrões, mas imediatamente o repreendem ou lhe dão palmadas, se os repetir.

Você já se arrasta pelo chão e, logo mais, começará a ficar de pé, como os outros.

Enquanto isso, inábil, leva tombos.

Já enxerga, fora, as árvores, os passarinhos; vê a chuva que cai; sente o calorão do Verão e o frio do Inverno. Vestem-no de roupa.

Familiariza-se com os bichos, com o cachorro, com o gato, com as galinhas e com o galo. Também, já está comendo, às colheiradas, papinhas, pois o leite dos seios da mãe vai sendo cortado. Recebe presentes, como o ursinho de pelúcia. Recebe também beliscões inexplicáveis. É-lhe imposto saber que existem regras a ser observadas, e que você não o fez. É proibido mijar na cama.

Alguns anos a mais, você é levado à escola, para aprender besteiras. Mais tarde ainda, ouvirá falar do Binômio de Newton, e da hipotenusa. E terá de se defender dos meninos mais crescidos, que o agridem.

Já então, sabe ler e escrever, e escreve nos muros.

De calças compridas, admoestam-no de que é preciso trabalhar, para viver. E se você recalcitra, exclamam: “Vá trabalhar, vagabundo!” E chegam a botá-lo para fora de casa.

Terá então sabido que existe o sexo. Que você tem um pênis ou uma vagina. Que há o tal de orgasmo, e que é assim também que se fazem os filhos.

Você encontrou uma sociedade já constituída, e um Estado. Está sujeito a ele, à polícia, ao patrão. A ordem é obedecer.

Há também o pecado e outras restrições. Ameaçam-no com o inferno. E há doenças inevitáveis, e o envelhecimento.

E você afinal morre, sem ter aprendido muito bem esta dura arte de viver.




sábado, 18 de abril de 2015

HITLER, O VERDADEIRO FINAL



A verdade.

Hitler apercebeu-se da derrota iminente e engendrou um plano de fuga aproveitando-se de um acordo celebrado com os Estados Unidos para facilitar a saída dos cientistas americanos que estavam ao serviço do nazismo.

Hitler se mudou para Espanha e depois para a região argentina da Patagônia, onde ficou com a companheira Eva Braun num submarino protegido pelo presidente da Argentina e pelo ministro da guerra do país naquela época.

Depois, quando Juan Perón chegou ao poder e durante os dois primeiros mandatos do argentino, Hitler passou a esconder-se numa fazenda em Bariloche com o nome Adolf Schütelmayor. Mas esta fazenda foi destruída, o que obrigou Hitler a refugiar-se no Paraguai, então sob a alçada do ditador Alfredo Stroessner.

Quando morreu, o corpo foi enterrado num bunker.

O ditador tinha ligações com o ocultismo e com entidades internacionais que o guiaram durante a guerra.

Hitler não pertencia diretamente às sociedades ligadas à ciência do oculto, como a Thule. Mas muitos membros do seu governo faziam parte desse universo. Eles não tomaram a guerra como uma contenda entre duas partes, mas como um grande episódio de transmutação da humanidade".

A sociedade Thule dedicou-se ao estudo das raízes alemãs e apoiou o Partido Trabalhista Alemão, mas dissolveu-se quando Hitler chegou ao poder. Ainda assim, estas relações estão por trás da sobrevivência do ditador a muitos dos atentados, sorte que muitos dizem ter sido um "pacto com o diabo".

Esta é a teoria de Abel Basti, um escritor e jornalista argentino que se tem dedicado a criar a série histórica “O homem que venceu a morte”, centrada na figura de Hitler no final da II Guerra Mundial.

Para realizar esta série, Abel Basti estudou muitas obras não ficcionais sobre o dirigente nazi. Segundo o escritor, Hitler considerava-se um ser divino. Algo que está espelhado no comentário que o ditador proferiu em 1925:

"A obra que Cristo começou e não pode acabar, eu - Adolf Hitler - vou levá-la a seu termo".


Prof. Péricles

quinta-feira, 16 de abril de 2015

MORTE, UM CASO DE VITÓRIA



Por Liszt Rangel

Apesar de fazer muito tempo... Eu nunca mais esqueci de dona Juliete, 68. Ela chegou e se apresentou após uma palestra. Pelos olhinhos inquietantes, estava querendo muito falar. Mas depois que começou a sua narrativa, o seu rosto pesou e foi visível a sua tristeza. Fora diagnosticada com câncer na tireoide, um tumor do tamanho de um pequeno limão. Os médicos não lhe deram mais do que entre 4 e 8 meses, após tratamento. Foi aí que ela me perguntou:

- Que faço?
Eu lhe respondi: - o melhor!
Ela me disse: - Não sei o que é o melhor?
Eu lhe esclareci: - Aquilo que nos faz bem, que nos deixa leves, livres...
- Mas não há mais tempo, - obtemperou ela.
Eu lhe respondi sorrindo, para provocá-la (sim, porque, muitas vezes, as pessoas precisam ser provocadas através de um choque), - A senhora ainda tem quatro meses, e eu posso ter apenas doze horas!
- Como assim? - indagou ela.
- Posso sair daqui e sofrer um acidente de carro ou infarto, esclareci.
- Meu Deus, que horror! Falou ela
- A diferença entre nós dois, dona Juliete, é que a senhora já comprou o bilhete do trem e daqui há quatro meses se o trem não atrasar, a senhora vai viajar. Quanto a mim... não sei quando vou, serei pego de surpresa e isto não é bom, porque chegamos na estação sem mala alguma.

Ela pôs-se a chorar. Quando parou, disse-me que tinha duas grandes mágoas da vida.

"Eis o problema, - pensei comigo - guardamos comida podre na geladeira e depois perguntamos porque adoecemos. É claro comemos coisas estragas por muito tempo, o que há de se esperar?"

Então, perguntei:

- Quais mágoas?

A primeira foi relacionada ao marido que a traía com a sua melhor amiga! Durou mais de 30 anos.

A segunda mágoa era da filha que a maltratava em casa...

Eu fiquei calado, pensando o que diria àquela mulher que podia ser minha mãe. Sabe, não é fácil falar a quem está perdendo na vida, porém admito que o pior é não mostrar ao outro o quanto ele está perdendo, o desafio é maior, é tentar apresentar a ele uma nova perspectiva de vitória, aprender a se tornar melhor com a dor ao invés de arrastar toda a família para uma crise existencial e repetitiva de doenças. Para mim, é tudo ou nada! Não aceito pessoas indiferentes! Como diria o estranho Paulo de Tarso, "quente ou frio, nunca morno!" Então, não dá para ficar assistindo e ainda aplaudindo o espetáculo do horror! Ela estava doente e não importava agora a origem de sua dor, apesar de haver a possibilidade na mágoa, na simbologia do "nó preso na garganta" estar relacionada à doença. Segundo, a psicossomática esta energia retida, traumatiza o corpo, adoece e pode matar!

Então, tomei coragem e lhe perguntei: - a senhora acredita em algo em sua vida? Ela me disse que sim, que acreditava em uma vida além da morte. As pessoas precisam ser respeitas em suas crenças e convicções, até porque muitas vezes foi nelas que elas se agarraram e até se alienaram.

Aproveitando esta deixa, falei:

- Bem, para a senhora, se a vida continua o que nos interessa agora e no além não é porque a senhora sofre, mas como a senhora vai enfrentar a dor e a morte. Porque sejamos honestos dona Juliete, aqui ou acolá a senhora deve se preocupar com o COMO e não com o porquê. Se eu e a senhora vamos morrer, então como ficaremos no mundo dos mortos é o que nos interessa. A senhora não acha? Ela balançou positivamente a cabeça...

Agora foi a vez dela me perguntar:

- E como devo então me livrar deste peso da mágoa?

- Primeiramente, respondi-lhe, dialogue com quem lhe magoou. Exponha a quem lhe fez mal, suas queixas para dar ao outro a oportunidade de seu arrependimento e de sua tranquilidade ao abrir-se para o perdão. Caso ele não lhe perdoe, o problema será dele, mas a senhora seguirá mais leve. É preciso se perdoar, dar-se uma chance de verdade para ser feliz e não aquela pela metade em que se fica sabotando.

Ela então, me deixou em uma encruzilhada ao me dizer:

- Mas meu marido já morreu!

- Então, se a senhora sabe que a morte não existe, está na hora das preces e orações que a senhora faz, e nelas começar a dialogar com ele, não ruminando o passado, mas tentando uma reconciliação, um diálogo honesto, com seu coração transparente.

Este é um grande problema que temos. Maliciosos, não somos mais como as crianças, transparentes. Estamos acostumados a ser vistos com crítica e com isso, passamos a representar. Então, lhe dei um reforço na ação:
- Converse com seu Antônio, dona Juliete, pois será melhor que a senhora fale com ele agora do que após a morte. E ele se apresentar na estação para receber a senhora descendo do trem...?

Ela sorriu e me disse, Deus me livre...

Porém ela prometeu se esforçar... Iria dialogar com a filha problemática, falar-lhe das mágoas..., ou seja, ela iria libertar-se das amarras do ressentimento. E eu fiquei torcendo por ela. Porque torcer pela vitória do outro, é torcer pela nossa, pois ele em sua capacidade de superação pode nos ensinar e muito.

Porém dona Juliete, sumiu...

Cinco meses depois ela entrou no salão em que eu acabara de realizar uma palestra. Tomei um grande susto, pois já havia passado o prazo de validade de vida dela e eu a estava vendo. Apavorei-me, achando que ela tinha vindo me cobrar algo do além...

Ela me abraçou e me disse bem feliz, o tumor sumiu! Os exames mostram isso.

Eu chorei ao seu lado. Nos abraçamos demoradamente... E antes que ela se fosse, me disse que havia ficado livre das mágoas, e que agora eram apenas cicatrizes da vida. Então, eu lhe disse:

- Certa feita eu conheci um médico que escreveu um livro maravilhoso e gostaria de lhe dar de presente.

Eu lhe ofereci o livro do Dr. Marco Aurélio, intitulado, "Quem ama não adoece".

Mas na saída lhe disse:

O Dr. Marco Aurélio, adoeceu e morreu, viu dona Juliete!

Ambos sorrimos. Acho que sorrimos do inevitável. A morte! Às vezes é bom dar uma gargalhada para ela... mostrar-lhe que ela não nos assusta.

Quase dois anos depois, recebi a notícia da morte de dona Juliete. Foi dormindo, uma parada cardíaca. Ela se foi e nunca mais a esqueci. Para mim, ela venceu não apenas a doença, mas a morte, pois tornou mais bela e digna a sua vida e tornou tranquilo o seu morrer!

Dona Juliete antes de curar o corpo, curou a alma...