sábado, 4 de fevereiro de 2012

O MUNDO DE PÉRICLES 3 - FINAL



O ano é 430 a.C.

Você chega desconfiado, vindo do norte. Atravessa a pé e sem problemas o pequeno rio Iliso e eu estou te esperando na outra margem.

Te convido a seguir comigo, e a passos lentos seguimos a pequena estradinha de chão batido.

À medida que caminhamos as casas vão se “apertando” num número cada vez maior de moradias.

Faz sol e calor.

Você acha bonita a moldura dos pequenos montes próximos à cidade e eu te “apresento” os montes Parnaso e Pantélico enquanto seguimos rumo oeste, em direção ao centro da cidade.

Você então acha curioso um grupo de pessoas que parecem atentas, ouvindo um homem que fala mansamente e gesticula com enérgica tranqüilidade. Mas, fala a verdade, sua atenção foi atraída pela roupa do indivíduo, não foi? Uma bata longa, suja e amarrotada. Eu te explico que esse homem, que tem agora 39 anos (e que morrerá com 70 em 399 aC) é Sócrates. Sua atenta platéia está doida para pegá-lo em contradição. Fazem parte de uma gangue chamada Sofistas e são filósofos e professores que atendem à domicílio, mediante pagamento, claro. Sócrates adora confundi-los na sua própria soberba e o diálogo entre eles merece uma parada, que se estenderia por algumas horas, se não tivéssemos pressa. Você faz uma careta e eu digo antes que complete, sim... fede. Sócrates tem o péssimo hábito de detestar banho, por isso, talvez esse seja o preço mais caro em poder usufruir de sua sabedoria.

Em pouco tempo a paisagem se altera. Estamos agora numa praça, bem no centro de um amontoado de casas. Pessoas andam pra lá e pra cá. Você nota discussões acaloradas em vários pontos diferentes. As pessoas parecem nervosas e gesticulam às vezes, apontando o dedo para algum lugar mais ao sul.

Diante de seu olhar de interrogação eu te explico que estamos no meu lugar preferido de Atenas, a Ágora. Um espaço público. Um espaço do cidadão e do exercício da cidadania. É aqui, nessa praça no ponto mais baixo do sítio da cidade que o cidadão discute, formula hipóteses, troca idéias, no exercício da tal democracia, coisa que nasceu aqui e que o mundo tentará imitar.

Explico que eles estão nervosos porque os espartanos estão organizando uma expedição contra a cidade na guerra declarada um ano antes e que chamamos “Guerras do Peloponeso”. O que farão nossos estrategos responsáveis por criar as estratégias? A culpa dessa ameaça não será de Péricles que, aproveitando os recursos da Liga de Delos construiu, entre outras coisas o Partenon? (e apontam seu dedo para a parte, mas elevada da cidade, onde está a Acrópole e o próprio Partenon, cuja construção se concluiu a apenas 8 anos, em 438 aC). Daqui sairão as principais argumentações para a reunião na Eclésia de daqui a pouco, quando Péricles fará seu célebre discurso (onde até as pedras chorarão).

Mas, eu o apresso, o tempo é curto e o fim de tarde já dá seus primeiros sinais. Temos que subir para a Acrópole. Não podemos perder o discurso de Péricles e a agitação política daquela Polis, que hoje, é o centro do mundo.

No caminho, o número de transeuntes vai aumentando (Atenas, eu lhe digo, tem hoje algo em torno de 200 mil habitantes).

Você esbarra, e pede desculpas, em Aristófanes, dramartugo genial, autor de “As Nuvens”. Você fica sem jeito e me pergunta por Platão, seu filósofo preferido, e explico que, apesar de Platão morrer com 80 anos, no momento ele tem apenas 2 e, portanto ainda deve estar olhando a parede da caverna.

Um homem dá uma gargalhada e, expansivo agita os braços como se fosse voar. Nós rimos e eu falo em seu ouvido que esse é Fídias, escultor, arquiteto e gênio, amigo de Péricles. Embora não tenha projetado o Partenon (Ictinos de Mileto e Calícrates foram os projetistas) a ele “A Morada das Virgens” deve a beleza de suas formas imortais.

A Eclésia cada vez se enche mais, e nós procuramos um bom ponto para sentar, você está com os olhos cheios de alegria e expectativa pelo grande encontro quando... começa a despertar.

Você resiste ao chamado impiedoso da matéria. Busca apoio na mão de Palas Atena, deusa da inteligência, mas seus olhos frios de estátua não se movem por ti. É hora de ir.

Porém, enquanto alma eterna e atemporal permaneço, entre ruínas e sonhos, e entre sonhos em ruínas. Entre os ideais antropocêntricos naquele que foi o nosso mais glorioso momento.

Eu fico e te espero, alma inquieta, porque um dia, com certeza nos encontraremos, no mundo de Péricles

Prof. Péricles


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O MUNDO DE PÉRICLES - 2



Péricles foi o grande articulador da união das pólis sob a Liga de Delos. A ele foi depositada a confiança das demais cidades-estados tornando-o líder da Liga.

Teoricamente a Liga de Delos visava preparar os gregos militar e financeiramente para um novo ataque persa, dando continuidade às Guerras Médicas. Como esse ataque jamais ocorreu, Péricles usando todo seu talento de oratória, convenceu os membros da Liga a permitir o uso dos recursos para restaurar Atenas, em teoria, a mais atingida das cidades quando da última expedição dos persas.

A partir de então, Atenas conhecerá um período de incomparável explendor. Péricles e o escultor Fídias, seu amigo, embelezarão a cidade e darão fundamentos à construções que sobreviverão aos tempos, inclusive, o Partenom.

Em pouco tempo Péricles estabelece uma unificação monetária de todas as cidades de Delos, tendo o Dracma (moeda ateniense) como moeda única.

Prédios foram reconstruídos e o Porto de Atenas quase totalmente reformado.

Tais fatos elevarão Atenas sobre todas as outras cidades estados, levando os historiadores a identificar esse momento como de um imperialismo ateniense.

Obviamente isso atraiu a fúria e a inconformidade de Esparta que, além de não aderir à Liga de Delos, criara a sua própria Liga de cidades aliadas, a Liga do Peloponeso.

As Guerras do peloponeso, que se estenderiam de 431 a 404 a.C. seria a ruína da civilização grega. O fim da independência de seus povos e de todas as pólis, debilitadas, enfraquecidas pela guerra e finalmente conquistadas por Alexandre da Macedônia. E essa triste guerra que pôs fim à democracia ateniense e ao mundo grego teve, como causa mais profunda, a rivalidade das duas ligas, Peloponeso X Delos.

Em 430 a.C. o exército espartano atacou a Ática, porém Péricles manteve sua estratégia inicial de evitar o confronto direto com o exército espartano. Buscando o combate onde Atenas era superior, no mar, liderou uma expedição naval para saquear a costa peloponésica, obrigando os espartanos a recuar.

No verão daquele mesmo ano, uma epidemia devastou a população ateniense. Provocava dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, febre, calafrio e manchas vermelhas. A maioria acredita tratar-se do Tifo, transmitida pelo piolho. O pânico embruteceu os cidadãos. A fome grassou pelo rompimento das rotas comerciais naturais. Inconformados com a penúria provocada pela epidemia, desencadeou-se uma onda de revolta entre a população contra Péricles.

Então, para se defender, Péricles pronunciou um discurso emocionado, histórico, e considerado uma oração monumental, da amargura de Péricles a ingratidão de seus compatriotas.

Sobre o estilo de vida de Atenas ele diria:

- "A liberdade que gozamos no nosso sistema de governo estende-se também para a nossa vida em sociedade. Nós não exercemos uma invejosa espionagem uns sobre os outros (...) embora toda esta liberalidade nas relações privadas não nos torne cidadãos que não respeitam as leis".
- "Na educação, enquanto nossos rivais são treinados desde o berço para a guerra, em Atenas vivemos exatamente como queremos, e, assim mesmo, estamos preparados sempre para enfrentar qualquer desafio".

- "Nós Atenienses somos capazes de opinar sobre todos os temas, e, ao invés de encararmos as discussões como um obstáculo para a ação, nós as consideramos como a preliminar indispensável para qualquer ação prudente e sábia".

- "Na generosidade também somos singulares. As amizades nós conquistamos fazendo favores e não os recebendo, e somente nós os atenienses, sem medo, outorgamos benefícios não por interesse e sim na expectativa da reciprocidade. Esta é a Atenas pela qual estes homens, na afirmação do seu desejo de não perdê-la, nobremente lutaram e morreram."

No início de 429 a.C Péricles comandou o exército de Atenas em importantes vitórias no terreno militar. Porém, no outono desse mesmo ano, sofreria o golpe que lhe seria fatal e decisivo. Seus dois filhos (com a primeira esposa), Páralo e Xantipo, morrem, vítimas da epidemia.

Péricles jamais se recuperaria desse golpe e, em tempo meteórico desceria todos os degraus da dor, até a morte.

Passou a ter longos períodos de silêncio e crises compulsivas de choro. Nem mesmo Aspásia conseguia trazer de volta o equilíbrio. Tornou-se comum vê-lo à noite, perambulando entre os doentes terminais vítimas da epidemia.

No final de abril de 429 a.C. aos 66 anos, Péricles morreu, também vítima da peste, como parece ter sido sua vontade.

Com sua morte os destinos de Atenas e os rumos da Guerra do Peloponeso estavam definitivamente traçados, embora ainda durasse alguns anos.

Atenas, sem sua liderança, foi derrotada por Esparta, que seria derrotada por Tebas, que seria, assim como todo mundo grego, conquistada pelos Macedônios em 395 a.C.

O grande historiador grego, Tucídides, assim falou na oração fúnebre de Péricles:

“Pois os homens só podem suportar ouvir os outros sendo louvados enquanto podem persuadir a si mesmos acerca de sua própria habilidade de igualar os atos que estão sendo narrados. Uma vez que este ponto seja ultrapassado, surge a inveja, e com ela a incredulidade.”

Prof. Péricles

domingo, 29 de janeiro de 2012

EXPECTATIVAS PARA 2012 (África e Ásia)



ÁFRICA

- A questão do mais novo país do mundo, o SUDÃO DO SUL, deverá atrair a atenção, não só da UE e da ONU, como também, do conjunto das nações preocupadas com a questão dos direitos humanos. O Sudão do Sul tornou-se independente em 2011 após plebiscito para a separação ou não do mais extenso país africano, o Sudão (capital Cartum). Apesar de rico em petróleo o Sudão do Sul possui uma população em estado de miséria, com altos índices de analfabetismo (entre as mulheres 84%). Existe uma ancestral rivalidade de etnias tribais que já provocam intensos massacres. Promover a pacificação dessa jovem nação e a segurança de seu povo, especialmente, mulheres e crianças, será uma das missões humanitárias da ONU em 2012.

- Por falar em dramas humanos, a seca prolongada na região denominada de “Chifre da África”, somada às guerras civis e tribais da região, já fizeram a ONU declarar “estado de emergência de fome” e pode, se a situação não sofrer uma radical transformação, levar o mundo a assistir um autêntico holocausto, especialmente de crianças (segundo a FAO mais de 200 mil crianças sofrem subnutrição e correm perigo de morte). Etiópia, Somália, Djibout e Eritréia, são os países mais afetados. Quanto à Somália, acresce ainda a questão dos “piratas” e da violação de suas águas territoriais pelas nações mais ricas, particularmente, européias.

- A “Primavera Árabe” que já derrubou três governos na região (Tunísia, Egito e Líbia) pode sofrer uma 2ª versão no Egito, onde os militares que deveriam se contentar com o papel de governo provisório após a queda de Hosni Mubarak, parecem querer ficar mais tempo no poder.

ÁSIA

- a grande expectativa mundial, na região, para esse ano, é a respeito dos rumos que a Coréia do Norte, agora com novo governante, irá adotar. Se o novo mandatário Kin Jun-Il aproveitar o momento para uma reaproximação de seu país com a rica Coréia do Sul e com o Japão, especialmente, estará aberto o caminho para a esperada pacificação dessa tensa e polêmica região que, um dia, já foi apontada por Ronald Reagan como um dos eixos do mal. Caso a Coréia do Norte permanece isolada a tendência é de crescimento das tensões de fronteira e uma ameaça mundial representada pelo programa nuclear norte-coreano.

- a China e a Índia, países do BRIC de forte crescimento econômico, adotarão medidas de contenção do crédito reduzindo o crescimento econômico para acompanhar os rumos da crise financeira internacional ou, especialmente a China, continuará com o pé no acelerador, empurrando seus parceiros econômicos para um caminho cada vez mais indefinido? Essa pode ser a grande questão econômica de 2012.

Prof. Péricles

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

HERÓI AMERICANO


Entre 1999 e 2009, o então oficial do pelotão Charlie, terceiro grupo da força Seal da Marinha norte-americana, construiu para si uma temida reputação como o atirador mais letal da história da corporação.

Oficialmente, o Pentágono registra 150 mortes no seu nome – o que em si já representa um recorde em relação ao anterior, de 109, até então mantido por um atirador durante a Guerra do Vietnã.

Entretanto, Kyle afirma que sua contagem é maior. Só na segunda batalha de Fallujah, no fim de 2004, diz, tirou a vida de 40 inimigos.

"Adorei o que fiz. Ainda adoro. Se as circunstâncias fossem diferentes – se minha família não precisasse de mim – eu voltaria em um piscar de olhos", escreve o atirador. "Não estou mentindo nem exagerando quando digo que foi divertido."

Sua companhia Charlie foi uma das primeiras a desembarcar na Península de al-Faw no início da chamada Operação Liberdade, iniciada em 20 de março de 2003 pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.

No fim daquele mês, na área de Nasiyria, os oficiais Seal aguardavam em um povoado iraquiano a chegada dos marines, fuzileiros navais estadunidenses, que se aproximavam.

No topo de um edifício, Kyle conta que ele e outros integrantes de seu pelotão tinham como objetivo oferecer cobertura aos fuzileiros.

Quase todos os moradores se trancaram em suas casas, de onde assistiam a tudo por detrás das cortinas. Apenas uma mulher e uma ou outra criança se movimentavam na rua.

Quando os marines se encontravam a certa distância, a mulher tirou um objeto amarelado de sua bolsa e caminhou em direção aos militares. "É uma granada! Uma granada chinesa", disse o chefe de Kyle. "Atire." Ao vê-lo hesitar, o chefe repetiu: "Atire!"

Kyle puxou o gatilho duas vezes, a "primeira e única vez" em que matou uma pessoa no Iraque que não fosse homem e combatente.

"Era meu dever. Não me arrependo", escreve. "Meus tiros salvaram vários norte-americanos cujas vidas claramente valiam mais que o daquela mulher de alma distorcida. Posso me colocar diante de Deus com uma consciência limpa em relação ao meu trabalho."

Na 2ª Guerra Mundial, atiradores de elite eram considerados assassinos em série. O recordista mundial de mortes é um atirador finlandês que naquele conflito tirou 475 vidas russas durante a invasão da Finlândia pela então União Soviética.

O militar diz que sua fama de matador mais eficiente da história das Forças não é de grande importância. "O número não é importante para mim. Apenas queria ter matado mais gente. Não para poder me gabar, mas porque acho que o mundo é um lugar melhor sem selvagens à solta tirando vidas norte-americanas."

Reformado de sua função em 2009, ele hoje vive no Texas, onde é diretor de uma empresa que presta serviços para as Forças Armadas dos EUA, treinando atiradores de elite. É este tipo de pessoa que a política belicista dos Estados Unidos criou.


Com BBC

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

NOVA PRESIDENTA DA PETROBRÁS NASCEU EM UMA FAVELA


A nova presidenta da Petrobrás, Maria da Graça Foster, nasceu numa favela.

Sua infância foi vivida no Morro do Adeus, no Rio de Janeiro, que hoje integra o Complexo do Alemão.

Até os 12 anos, ela catou papel e lata na rua para custear os estudos, como narrou recentemente em entrevista ao jornal Valor.

Há mais de três década na Petrobrás Graça sucederá a José Sérgio Gabrielli, que dirigiu a estatal no ciclo mais importante desde sua criação, nos anos 50.

A mulher que assume esse patrimônio histórico sabe onde o Brasil grita e precisa ser ouvido.

O Brasil pobre hoje grita em ‘Pinheirinho’, por exemplo, a ocupação de quase seis mil pessoas, violentamente despejada neste domingo em São José dos Campos (SP). No momento em que a truculência do dinheiro e o menosprezo conservador pelos excluídos produz uma tríplice aliança entre o poder judicial paulista, o governo do Estado e a administração tucana de São José dos Campos, é valioso saber que dentro do governo existem olhos e ouvidos que sabem onde o Brasil grita.

Reverter o arrasa-terra em ‘Pinheirinho’ seria a melhor forma de o governo Dilma transformar a nomeação de Graça Foster mais do que numa boa notícia: um símbolo de seu mandato, em defesa das meninas pobres que ainda catam papel e lata nas ruas do país.

(Carta Maior; 3ª feira; 24/01/ 2012)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O MUNDO DE PÉRICLES (01)

Dessa vez não era nenhum tipo de encenação. Seus gestos dramáticos eram realmente fruto de sua angústia vinda da face oculta do coração e não ensaiados como gostariam de supor seus detratores.

O público, tanto os admiradores como os inimigos, estava verdadeiramente hipnotizado, magnetizado sem poder desviar os olhos e a atenção daquele homem que falava na tribuna.

Péricles, o nobre, o mais brilhante político e militar de Atenas (a Nova York de sua época) bradava usando todo seu talento para defender... uma prostituta.

Aspásia, a prostituta, estava presente. E sua presença próxima a Péricles era algo que causava a mais exasperante curiosidade e admiração.

Aspásia de Mileto era a mais bela das prostitutas de Atenas. Para ser aceita no sindicato das prostitutas (sim, as prostitutas tinham sindicato, aliás, um dos mais organizados) a jovem ateniense tinha que ser linda, atualizada, boa ouvinte e boa de papo, além de boa de cama, pois não era pra qualquer uma transar profissionalmente com os homens mais inteligentes do mundo, pelo menos, do seu mundo.

Além de mais bela, Aspásia era também considerada a mais inteligente das prostitutas. Líder do sindicato durante a famosa greve sexual que acabara com as Guerras Médicas na sua primeira fase. Oficialmente, apenas conselheira e conversadora do grande orador.

Desde que Péricles se divorciara, formava com Aspásia o mais conhecido dos casais secretos de Atenas. O amor entre os dois era tão intenso, tão verdadeiro, que, provocava todo tipo de comentários e inveja. Ao contrário dos homens famosos e poderosos de seu tempo que consideravam fraqueza a demonstração de afeto, Péricles jamais negou que amava Aspásia.

O amor provoca ódios e o próprio filho de Péricles, Xantipo,ridicularizava a relação atacando o próprio pai por ser 26 anos mais velho que a amada.

Depois de atacarem Fídias e o filósofo Anaxágoras, seus melhores amigos, acusados de ateísmo, agora, as forças políticas adversárias de Péricles atacavam Aspásia, acusando-a de corromper as mulheres de Atenas com suas idéias de liberdade e de igualdade, inclusive, se rebelando contra a proibição das mulheres votarem na Eclésia. Se condenada, Aspásia seria, no mínimo, expulsa de Atenas para sempre.

Agora, todos assistiam o grande orador defendendo a amada com o talento que só Péricles tinha e só Péricles teve em todo o dourado século V a.C que mais tarde a história chamaria de “o século de Péricles”.

Foi então, ninguém sabe exatamente quando, mas juram que entre uma frase que falava de amor, que Péricles fez o impensável. O inimaginável. O inacreditável. Aquilo que jamais nenhum outro homem ousara fazer na tribuna exposta dos oradores...

Péricles chorou.

Seu choro foi profundo, vindo de alguma parte perdida da alma. Emergiu pela garganta impulsionado pela revolta dos inocentes e pelo hálito ardente dos apaixonados e materializou-se num som de inconfundível dor.

Diante dos mais cultos personagens de seu tempo. Diante de generais, sábios e políticos. Diante dos populares que apinhados assistiam o discurso, Péricles chorou. As lágrimas substituíram os argumentos.

Chorou de amor e de inconformidade com o espetáculo armado. De amor paternal ferido pelo deboche do próprio filho. Um choro de indolência, de cansaço, de rebeldia adolescente e do mais adulto e maduro amor que só um homem na casa dos cinquenta pode sentir.

Houve alguns segundos do mais absoluto silêncio que aquela assembléia jamais assistiu.

E, enquanto Aspásia também se entregava ao mais profundo pranto a Assembléia explodiu.

Viva Péricles! Viva Aspásia! Chega de acusações!

Péricles, o povo chora contigo!

Liberdade para Aspásia!

Dizem que até Xampito, o filho revoltado, abraçou o pai.

Aspásia foi absolvida. Os dois voltaram juntos para casa, aplaudidos de pé ao cruzarem a saída da grande praça.

O grande orador grego acabara de provar que as vezes, a verdade não precisa de palavras.


Prof. Péricles