sábado, 21 de junho de 2014

ALGUMA CHANCE


Quem sabe a verdade mesmo, é que nascemos num mundo torto? Talvez, não exatamente torto, mas, fora de foco.

Vivemos as conseqüências de um mundo que buscou no comércio das coisas promover a circulação das riquezas e a felicidades das pessoas, mas que, ao mesmo tempo, sempre buscou concentrar as riquezas e junto com a riqueza de alguns, promoveu a misérias da maioria.

Um mundo em que a industrialização permitiu fazer mais rápido e muito mais e por isso lucrar indefinidamente, elevando ao infinito a possibilidade de enriquecer. E foi essa possibilidade que a tudo transformou em mercado e a todos nomeou consumidores.

Por mais maluco que pareça foi o direito e a valorização da liberdade burguesa, expressa a partir da Revolução Francesa, que nos escravizou, pois ao mesmo tempo em que nos libertou da tirania dos soberanos e nos privilégios do berço nos acorrentou às aparências e ao etéreo poder do dinheiro.

Enquanto valorizou-se a privacidade e o individualismo criou-se o império do egoísmo onde desde criança se aprende a competir e a ser melhor do que o outro para o resto de nossas vidas.

É triste reconhecer que escolhemos viver assim. Lutamos para viver assim.

Pesaroso concluir a democracia existe apenas enquanto metáfora para justificar a dominação das elites.

Vivemos num mundo de 7 bilhões de pessoas. Graças à internet nunca fomos tão próximos, mas, também, nunca estivemos tão sozinhos.

Enquanto vivenciamos os prazeres que a informatização pode dar nos perdemos em comunidades fictícias, nos embrenhamos numa floresta de virtualidades que fazem com que essa seja também a era do antidepressivo e do estres.

Estimativas humildes apontam que 10% dos habitantes do planeta desenvolvem dependência química e 20% sofrem de depressão.

Num mundo desequilibrado usamos bengalas para nos equilibrar e essas bengalas são tão variáveis quanto nossas dores. E as dores, podem ser as mesmas, mas o sofrimento não.

Cada um sofre do seu jeito. A dor é coletiva, mas o sofrimento é individual.

Francamente, sejamos sinceros, a dor que entra só entra porque encontra vazios e se nosso problema é ter tantos vazios talvez seja possível buscar soluções preenchendo esses vazios com outras coisas.

E para fazer isso precisamos mudar o foco.
É necessário repensar sem medo. Viajar para os porões mais sombrios de nossa alma, onde escondemos tudo aquilo que não queremos admitir. Olhar para dentro de nós mesmos, da vida e da sociedade que construímos.

Temos que repensar valores. Preservar os tesouros que conquistamos e não temer abrir mão do que não funciona.

Faz-se urgente uma cirurgia social que ampute todos os preconceitos e idéias radicais de superioridade, de raça, de verdadeiro, de nacional, de posse, de ser melhor que a concorrência. Essas coisas já nos levaram aos mais horrendos holocaustos.

Mais do que faturar temos que valorizar o humano. Mas do que defender a propriedade privada temos que valorizar a construção coletiva. Mas do que selecionar temos que incluir.

Nós só teremos alguma chance de ser feliz se não tivermos medo de construir uma sociedade mais justa.

Caso contrário, nossos vazios continuarão sendo preenchidos pelas drogas e pelas mentiras e nossa felicidade apenas virtual.


Prof. Péricles







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