sábado, 12 de janeiro de 2013

DIGA-ME COM QUEM ANDAS



Você conhece o “João de Barro”?

É um pássaro que faz uma verdadeira obra de engenharia a partir da argila.

Ele faz sua “casa” não de folhas e galhos, mas de barro, e com ela atrai a fêmea na época do acasalamento. Um verdadeiro artista da natureza.

Pois conheço um João de Barro que, apaixonado resolveu construir sua casa no poste mais central na praça central da cidade (sabe como são os João de Barro apaixonados, querem aparecer).

Negociou com o prefeito, explicando que dessa forma poderia fazer a casa de João de Barro mais vista da cidade.

O prefeito, de um partido conservador, aceitou os argumentos da ave, mas com condições. O João de Barro não poderia usar barro e sim areia fina, um material superfaturado que o prefeito queria vender e, claro, uma parte da verba da construção iria para ele, prefeito.

João de barro ficou triste, mas, pensou, melhor assim do que sem casa nenhuma. E topou a parceria.

Por falta de experiência nesse tipo de material João de Barro se confundiu todo e resolveu pedir uma consultoria com o engenheiro mais famoso da cidade.

O engenheiro explicou que poderia usar água para endurecer a areia, porém, teria que pagar um por fora ao jardineiro da praça central, o dono da mangueira municipal e, uma beira pra ele, engenheiro.

Nosso herói não encontrou outra solução. Sua vontade de construir a melhor casa de João de Barro da cidade era imensa, precisava conquistar não apenas uma parceira, mas a Joana de barro mais gata da floresta. Mais uma vez, topou o negócio. Então, negociou com o jardineiro, pagou unzinho por fora e teve sua areia fina umedecida.
A água, entretanto, era pouca, parte da areia virou barro, e outra não.

As pessoas que admiravam sua enorme habilidade natural para a engenharia e arquitetura, seu ideal instintivo de grande construtor, aos poucos iam se decepcionando e já não o chamava de João de barro e sim “João areia fina” além de não acreditavam em seus discursos explicativos.

De um jeito ou de outro a casa finalmente ficou pronta e João de Barro se pôs a cantar para atrair a fêmea, mas atraiu mesmo foi o fiscal da prefeitura que ameaçou autuá-lo por perturbação da ordem e desrespeito ao horário de silêncio.

- Mas com atrairei as fêmeas? perguntou o pobre e a resposta do fiscal foi “faça mímica", forme uma banda, invista na serenata ou simplesmente cale-se.

Quando o período de acasalamento começou a realidade de João de Barro era completamente diferente da que imaginara.

Ele que queria fazer a melhor casa de barro no poste mais central da praça central e atrair a mulherada, ou a passarada, e a Joana de Barro mais gata da floresta, era agora chamado de João areia-fina, tinha apenas uma meia casa grudada ao poste e chamava as fêmeas com mímica. Nenhuma delas o percebeu e ele ficou sozinho, iludido e com enorme sentimento de fracasso.

Ascendeu ao poste mais alto, mas para isso negociara todas as suas mais essenciais qualidades. Morreu solteiro.

Coisa muito semelhante acontece com os partidos que cultuam a chama da mudança e da justiça social, que atraem milhões para os seus sonhos, que prometem um governo diferente de tudo que já foi visto, íntegro e fiel.

São partidos cuja natureza social é latente e sua mais forte característica.
Para chegar ao poder, porém, necessitam da tal governabilidade que é como chamam a parceria entre partidos, independentemente dos sonhos ou interesses, para ter espaço na propaganda eleitoral e votos aliados no Congresso.

Em nome da tal governabilidade. Negociam tudo.

Assim como o João de Barro negociou até o barro, partidos ditos ideológicos, negociam até suas ideologias e quando percebem, estão no alto do poste mais alto, mas nus de seus antigos sonhos. Mantém a estrela, mas perdem seu brilho.

Quase nada resta do sonho original e o que representam é apenas uma pálida lembrança do que fora sua utopia um dia.

Aprendem tarde demais, como Fausto, que não é possível barganhar com o capeta depois de vender sua alma.

Hoje, entre um cafezinho e outro na lanchonete do Congresso, políticos outrora ligados à resistência democrática contra o autoritarismo, se acotovelam com coronéis desse mesmo poder que combatiam. Trocam afagos e planejam estratégias.

Diga-me com quem andas que te direi quem és.

De que vale governabilidade se o seu preço for esquecer os velhos princípios? Sempre chegará o dia em que as diferenças que antes demarcavam claramente diferentes visões darão lugar à semelhanças, conservadoras e corruptas.

De seus projetos de construção de uma sociedade mais justa, de seus desvarios adolescentes e de suas velhas utopias, quase nada resta, muito menos o canto que antes atraía os verdadeiros sonhadores.


Prof. Péricles

Um comentário:

Anônimo disse...

E assim governam com os mesmos Sarney's de sempre...