Em meados da década de 80, após a grande crise que pôs fim ao Império soviético, a grande onda geopolítica foi o neoliberalismo. Como fogo em mata seca parecia incontido e predominou no mundo inteiro. No Brasil, Fernando Color de Melo representava o “novo”, ou seja, o projeto neoliberal.
Na década seguinte, após a derrocada do neoliberalismo que, além de não trazer a prosperidade prometida ainda jogou a maior parte da população do planeta à uma situação de desespero, tivemos a “onda rosa”. Governos com uma visão mais à esquerda, ou, pelo menos, de uma visão econômica que defendia uma maior participação do estado na economia e na solução dos graves problemas sociais.
Essa onda que nunca deixou de ser rosa para ser vermelha, não radicalizou as ações para diminuir as distâncias entre os mais ricos e os imensamente mais pobres e também se desfez na areia.
Nos anos dois mil, governos de matizes mais populares e progressistas tornaram-se os principais protagonistas de uma nova geopolítica que colocou a direita nas cordas, principalmente após a crise política do império norte-americano que para se justificar passou por cima da ONU e atacou o Oriente Médio, e a crise econômica que começaria no setor imobiliário dos Estados Unidos.
Na América do Sul a chegada de Lula ao poder, a revolução bolivariana de Hugo Chaves na Venezuela e governos mais à esquerda na Argentina, Peru, Uruguai e Equador, são desse período.
O momento atual é de um retorno das ideias mais conservadores e o ressurgimento do neoliberalismo com novas cores.
Em alguns lugares esse retorno ocorreu graças as urnas, como a vitória dos Conservadores que derrotaram os Trabalhistas na Inglaterra. Em outros países onde as medidas sociais dos governos progressistas impediram a volta da direita por via eleitoral a própria democracia anda ameaçada.
Mas, as ameaças à democracia chegam com novidades, não de origem, mas, em protagonismos.
É o caso do Brasil do impeachment mais trapalhão e inusitado da história, da presidenta Dilma Rousseff, sem nenhum cometimento de ilícito, delineando um tipo de golpe jurídico-midiático-parlamentar até então desconhecido por nós.
Nesse contexto também se destaca a participação direta das Igrejas pentecostais e neopentecostais nas disputas político-eleitorais.
Crescendo de forma extraordinária o número de fiéis nesses cultos, muitos deles importados dos Estados Unidos e seus pastores eletrônicos, e valorizando a influência de seus líderes, bispos e pastores com seus discursos persuasivos, essas entidades desceram do púlpito para atuar diretamente na política nacional.
Em sua maioria esmagadora o pensamento defendido por esses novos agentes políticos é o velho discurso moralista e reacionário, com pitadas preocupantes de exclusão, sendo perceptível a forte tendência anticomunista, como uma autêntica volta ao passado.
Sua atuação se dá exatamente nos setores mais fragilizados e distantes do conhecimento formal, onde a mistura fé/política deixa de ser questionada e passa batida.
Dessa forma, vivemos dias loucos em que, qualquer um que não esteja comprometido com o pensamento fanatizado custa a acreditar no que vê, ouve e lê.
Com a cara mais deslavada do mundo um pastor de renome nacional aparece em vídeo orientando os fiéis que, ao descobrirem ilícitos praticados por seus pastores, não interfiram nem protestem e apenas mudem de pastor.
Outros, sem nenhum constrangimento utilizam apelos fortemente homofóbicos e incentivam atitudes de intolerância de seus fiéis, criando organismos claramente fascistas como uma tal “brigada do altar”.
E, em meio a tudo isso, o chamamento direitista radical e práticas de verdadeiros estelionatos morais e religiosos.
Exigem direito de expressão mas negam o mesmo direito aos seus fiéis e opositores.
Exigem o fim da corrupção, mas, alguns de seus líderes a praticam com uma desenvoltura assustadora.
A democracia brasileira está sim ameaçada, não apenas na forma, mas em seu conteúdo, em seus pilares, como o laicismo, garantido desde a primeira Constituição Republicana, em 1891.
Quem já contava com uma bancada no Legislativo agora elege seus representantes para cargos executivos, como é o caso da prefeitura do Rio de Janeiro, uma das mais importantes cidades brasileiras.
O Brasil marcha, cada vez mais, para a formação de uma espécie de “bolsão fundamentalista” que ameaça crescer e criar um abismo entre os que praticam esses cultos e os não praticantes.
Torna-se claro que não se trata de atos pontuais, mas de um novo ator político, cada vez mais definidor da realidade nacional e constituinte de uma nova era política.
Torna-se claro que não se trata de atos pontuais, mas de um novo ator político, cada vez mais definidor da realidade nacional e constituinte de uma nova era política.
Sem pessimismos, a história já mostrou onde isso vai parar, se não for enfrentado e detido, e não é nada bom para o país e para a imensa maioria das pessoas.
Prof. Péricles
Prof. Péricles
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