terça-feira, 4 de outubro de 2016
DIRETAS JÁ, OUTRA VEZ
Por Val Carvalho
Passados 32 anos dos grandes comícios das Diretas Já!, a maior mobilização popular que o país já viu, essa bandeira volta a empolgar a resistência democrática nas ruas do país. Por que, depois de tanto tempo, essa bandeira continua mobilizando o povo?
As esquerdas brasileiras, historicamente, não conseguiram elevar a consciência democrática do povo para além da defesa de eleições diretas para presidente. De fato, a eleição de presidentes nacionalistas ou de esquerda foi o caminho concreto que o povo trilhou para conquistar seus direitos
Nesse processo histórico, podemos mencionar a eleição de Vargas em 1950, a de JK em 1955 e a eleição do vice Goulart junto com o demagogo direitista Jânio Quadros, em 1960.
O golpe da implantação do parlamentarismo, depois da renúncia de Jânio em agosto de 1961, foi derrotado em janeiro de 1963 num plebiscito onde o povo votou majoritariamente pela volta do presidencialismo. Em novo plebiscito realizado em 1993, o povo voltou a apoiar amplamente o presidencialismo contra o parlamentarismo – o regime dos sonhos de uma direita sem votos.
Em 1984, após vinte anos de ditadura militar, o povo sai nas ruas com o movimento pelas Diretas-Já, e que levou à derrota do regime um ano mais tarde. Mas nas primeiras eleições diretas para presidente, em 1989, a base popular elege um “coronel” de Alagoas no lugar de Lula. Faltou-lhes para isso a conexão histórica com as lutas do passado e necessária experiência democrática para usar o voto direto como arma de classe.
O povo teve que passar pela experiência desastrosa de Collor, do impeachment deste, e dos governos excludentes de FHC para poder ver em Lula a retomada de sua luta histórica. A partir da eleição de Lula em 2002, não mais o abandonou, e reelegeu Lula e Dilma por mais três mandatos.
Mas, se os treze anos de governo petista foram plenos de conquistas sociais, não o foram de educação política das massas, o que as deixou a mercê das manipulações do monopólio midiático da direita.
Desse modo, o novo golpe das elites reacionárias enfrentou um governo sem defesas e um povo com baixo nível de organização.
Em decorrência disso, ao enfrentar o golpe e lutar contra a extinção de seus direitos, esse povo não vê outro caminho senão trilhar novamente a luta pela conquista de eleições direitas para presidente.
É a luta que corresponde ao nível de consciência política das amplas massas e a única maneira de se avaliar a correção de uma palavra de ordem.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.
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