Roteiro para um filme de terror brasileiro.
O ano é 2024.
A questão israelense continua grave, aliás, mais um massacre de palestinos foi recentemente perpetrado, mas não vem ao caso.
Na rádio o funk do MC Doidão está bombando, maior sucesso. Por sua completa inutilidade as letras foram abolidas da música.
O país, vive tempos de muita paz.
Nada de protestos nem de greves. Contestações e sindicatos estão proibidos.
Nas grandes cidades, uma multidão de zumbis carrega suas sombras.
A turba arrasta seus pés ao caminhar para o trabalho. São 10 horas por dia de segunda a sábado, com possibilidades de ser chamado aos domingos.
Câmeras do grande irmão Coxinha no alto dos postes, observam tudo e sempre que detectam algum zumbi se escorando na parede acionam o alerta... plim-plim...plim-plim... e o zumbi se recupera e segue seu caminho rumo ao trabalho ordeiro de cordeiro.
No centro da cidade ainda restam vestígios da grande fogueira que queimou a última bruxa, uma mulher que se atrevia a clamar por igualdade salarial entre homens e mulheres e ousou pedir respeito aos direitos femininos. Maldita! Foi execrada e estuprada por três fãs do mito antes de ser queimada. Afinal, ela pediu com aquelas roupinhas curtas.
Periodicamente, grandes telões são ligados e neles surge a cara conhecida de um apresentador de telejornal. Durante alguns minutos os zumbis olham para a imagem do apresentador e aparentemente escutam as notícias do momento dizendo que tudo foi culpa do PT e que fora do neoliberalismo não há salvação.
Nos colégios professores zumbis numa escola sem opinião ensinam histórias em que seres demoníacos como Paulo Freire, Lula, Getúlio Vargas, Brizola, Fidel Castro, Hugo Chaves, entre outros, ameaçaram um dia a instalação do paraíso na terra que hoje eles vivem.
Fala-se também na maravilha de viver num país sem funcionários públicos, os verdadeiros culpados do grande surto da corrupção que varreu o país por décadas. Afinal, para que funcionários públicos se nenhum bem mais era público desde a grande privatização do ano anterior?
Nada de empresas públicas. Tudo em nome do Tio San, dos filhos da burguesia e do espírito do capital.
Também não existe mais sistema de saúde. Numa terra de zumbis ordeiros ficar doente é crime e mesmo um zumbi pode adquirir um plano de saúde privado.
Um mundo sem doentes e sem gays, lésbicas nem outras loucuras como negros metidos a besta pensando em fazer curso superior.
À noite, após o trabalho de 10 horas, antes de voltar para a cripta, os zumbis se reúnem nos grandes templos, onde pastores explicam que a zumbizisse é vontade do senhor e que todos devem estar atentos às ameaças dos comunistas, anarquistas e esquerdistas em geral que comem criancinhas e no passado só criavam coisas inúteis como utopias de igualdade e fraternidade e outras coisas impossíveis.
Depois do culto que termina com o hino dos Estados Unidos, a turma segue seu caminho silencioso, arrastando seus pés numa procissão de zumbis, com um sorriso bestial no rosto.
Prof. Péricles
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