quarta-feira, 6 de julho de 2016

REFÚGIOS


Há ocasiões em que o mais desejado mesmo é um refúgio.

Um lugar para se esconder e se sentir protegido. Para recobrar as forças, entender melhor o que está acontecendo.

Ou simplesmente parar, como aqueles refúgios da autoestrada que por um tempo nos tiram do maior movimento.

Quando crianças muitas vezes o refúgio para tantas descobertas diárias, e que muitas vezes nos assustam, é a mãe.

Nada se equivale ao olhar protetor da mãe, ou seu sopro salvador para aliviar nossas dores.

O grupo de amigos são refúgios evidentes na adolescência, principalmente quando nos sentimos incompreendidos em casa, o que é comum nessa fase da vida.

E também na adolescência usamos os filmes, os livros, a própria televisão para viajar em fantasias.

As mulheres amadas são refúgios primorosos.

Nas primeiras experiências amorosas, aquelas em que guardamos até os cheiros e sabores do dia, criamos o lastro que nos leva ao porto seguro, ou ao olho do furacão.

Nos concedemos perder entre vales e montanhas, escorregar pelas laderas e buscar o controle em curvas que nos servem de desafio e afirmação.

Quem poderia imaginar que viveríamos tempos em que a cidadania procura seu refúgio?

Mesmo distante simplesmente não entendemos onde tudo isso nos levará.

Listas e delações indicam nomes repetidamente que simplesmente são postos de lado sem investigação enquanto outros são perseguidos de acordo com os desejos de quem tem o poder.

Onde está a justiça, aquela que sempre acreditamos?

Uma presidente é afastada sem cometer ou ser acusada de qualquer ilícito e nem imaginamos por onde anda a democracia pela qual tantos de nós dedicou a juventude e seus melhores sonhos.

Onde anda o caráter e a vergonha na cara do povo brasileiro, esse mesmo povo que sempre se acreditou generoso e bom?

As coisas acontecem, mas não são divulgadas na mídia que tem o poder onipresente de forma opiniões e teria o dever da isenção.

Ao contrário, os telejornais abandonaram qualquer disfarce e simplesmente assumiram a postura de esconder coisas e salientar outras conforme a necessidade da ocasião.

Onde fica o direito à informação? A ética?

O que aconteceu com a gente para ficarmos assim, divididos entre canalhas que invejam as melhorias das classes mais pobres e os covardes que permitem massacres públicos, só faltando a fogueira da Inquisição?

De que filme de terror brotaram tantos brasileiros com ódios fascistas e fanatismo religioso?

Quando foi que começamos a permitir a defesa pública da homofobia e do racismo?

Em que momento nos tornamos tão ignóbeis?

Não sei qual será o refúgio da cidadania violada.

Na verdade, nem ao menos sei qual será meu refúgio.

Talvez o tempo das lutas por democracia e pela construção de utopias de igualdade já tenham se tornado lenda e muitos até duvidem de sua existência.

Quem sabe já não exista tempo para a fraternidade e o respeito pela verdade.

Assim como o refúgio na mulher amada, ou a própria mulher amada, já não exista mais.




Prof. Péricles

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